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sexta-feira, 9 de março de 2007

O Convento

Lucas C. Lisboa


Primeiro, a Irmã Cristina, numa madrugada de quinta feira, gritou ecoando por todo o convento de Nossa Senhora dos Peregrinos e desde então se calou de tudo, inclusive do porque fora encontrada desnuda em seu leito.

Na mesma semana, em seu sétimo dia, Irmã Amélia (que chegara ao convento a pouco mais de mês depois que seu marido morrera num trágico acidente de trem) teve febre e delirou por uma noite inteira antes de também se calar.

Irmã Josina, que estava prostrada ao leito desde o inverno passado quando caíra da escada, acordou, mas sequer um gemido ou lamento ressoou.

Pouco a Pouco cada um dos viventes daquele convento se calou e em duas semanas só restara a Madre Superiora e o Padre ainda fazendo uso de suas vozes.

Na sexta feira seguinte, a Madre Superiora, já desesperada com aquela enfermidade, aos berros inutilmente conclamou suas pupilas a falarem, mas foi tão inútil que ela mesma perdeu a sua.

E na manhã seguinte a missa fora rezada pelo Padre, mas seus lábios não se moveram, no entanto todas as freiras se prostraram rezaram e depois comungaram tudo sem que sequer o farfalhar de tantas narinas fosse escutado.

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