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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

segunda-feira, 14 de maio de 2007

dos sentidos baixos

Ditadura da visão:
desmerecendo até o tato
Desmandos d'audição:
matam paladar e olfato

Poética e Flagelo

Lucas C. Lisboa

D'uma pura displicência
falhas crassas n'estrutura
mal-acabada indolência
n'uma débil estrutrura

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Literatura Crítica

Lucas C. Lisboa

Então Bilac é poeta
mas o Quintana também
Digo, pois nada contesta,
um sinceríssimo amem

quinta-feira, 26 de abril de 2007

do Perfume amado

Lucas C. Lisboa

Um sorriso desabrochou dos lábios de Flëur, não sorria mais assim, pelo menos não desde que voltara para casa. Sorrira pelo perfume do frasco que se espatifara ao chão.

O derrubara do alto da estante quando pegou, para lhe trazer o sono perdido em algum canto da noite naquele quarto, um livro de poesia. Nem se lembrava mais que ele o havia deixado ali, afinal, três longos anos já tinham se passado desde então.

Ajoelhou-se ao chão e, afectuosamente, recolheu todos os cacos, até os mais pequeninos, depositando-os em suas mãos. Recolhidos todos levou a mão ao rosto para tal fragrância melhor sentir.

Os pedaços de vidro beijou, lembrando-se dos dias que beijava o corpo exalando aquele tão caro e doloroso odor... Não sentiu novamente o calor de sua pele, mas, sim o sabor do sangue de seus lábios feridos.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Pois para ele o Sol sempre nascia

Lucas C. Lisboa

Fiel à sua palha, teceu fios d'ouro. Mas quando a agulha lhe espetou o dedo ele quebrou sua roca.

Notou, depois da fúria e da dor, que seu novelo jazia,já de bom tamanho e grossura, ao lado de sua fiadeira agora aos pedaços.

Pegou do chão o novelo e, com agulhas de tricô, fez para si um agasalho aureo. Vestido o sueter perecebeu que ele não o aqueceria... Mas, brilhava como o sol.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Noli me tangere

Lucas C. Lisboa

Descido ao reino dos mortos;
duplamente mortal eu sou:
a descobrir o que já sabia,
me negando o último abraço...

Ela irá não mais me tocar,
essa falta sinto tanto hoje...
quanto quando se deu fato:
três anos que não se apagam.

Atormenta o riso dessas moiras
que venceram o desafio

Ao redor, ninguém mais se lembra
não se vêem vitmas nem vilões

Pois me lembro todos os detalhes
Do que foi tragédia e comédia

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Modernosidade

Lucas C. Lisboa

Sou um anacrônico:
São as velas que iluminam
quando eu digito...

domingo, 15 de abril de 2007

Enfim a sua carta

Lucas C. Lisboa

Alice, do corte o sangue pulsa e goteja
formando tantas manchas negras ao carpete
Sabe que sangra apenas porque o deseja
do mesmo modo são as lágrimas que verte

Olhar não desvie, ao menos hoje, me veja!
Sua boca, por obsérquio, não a deixe inerte.
Quando claramente meu semblante esbraveja
algumas mágoas que meus demônios diverte.

Neste momento do mais puro nervosismo
A caneta à mão, por pressionar, estoura
sujando meus dedos, escorrendo ao pulso

Por um sórdido gargalhar vindo do abismo
de sua palma o fino corte d'uma tesoura
que transgrediu à carne num pequeno impulso

Casulo em chamas

Lucas C. Lisboa

O beijo da crisálida infecunda
corrói e fere alguma boca imunda
por essa sua acidez tão febril
vai causar um morticínio senil

Mariposa de aspereza profunda
de cancros e chagas a tez inunda
quelíceras ávidas e olhar vil
provocam dor e pesadelos mil

Arsênico nas páginas da bula
d'um elixir de Ambrósia destilada
Bater de asas ao papel repousou

Esse veneno que aos olhos pula
Morte que faz-se calma e aguardada
Do gargalhar mudo que findou

Bom dia, tarde, noite

Lucas C. Lisboa

Como vai meu caro?
à pé, de trem ou dirigível:
tanto fez ou faz...

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Antologia

Lucas C. Lisboa

meus Amores de museu
são Segredos pra Ninguém
são guardados dentro d'Eu
conservados muito bem

terça-feira, 10 de abril de 2007

Estesia

Lucas C. Lisboa

Sou poeta dos prazeres,
exulto mil dos quereres...
Servo fiel de todos ritos:
são minha fé, são meus mitos!

Por quaisquer que sejam eles;
delícias, fortes quereres...
malfadados ou bem quistos
Belos ou mesmo Malditos

Tato meu assaz refinado,
corpo qualquer me tocar.

Mesmo Olfato viciado,
ainda capaz de inebriar...

Paladar mais delicado,
por um sigelo versejar!

sábado, 7 de abril de 2007

Réquiem

Lucas C. Lisboa


Audiræ sorve, um gole generoso do capuccino, enquanto seus olhos adquirem um brilho avermelhado por se atentar ao ocaso, deveras singular, que presencia.

O sol, talvez numa desesperada e última tentativa, sangra copiosa e rubramente rajando os céus e avançando sobre as brumas da cidade abaixo.

As brumas, reagindo co'a fria descrença da morte, se limita a deixá-lo passar por pequenos rasgos deixando que as cores dos casarões apareçam pelos instantes de calor.

Sorrindo alcança uma fina caixa metálica à jaqueta, os dedos percorrem a superfície e numa carícia, mais profunda e firme, lhe abre e a leva aos lábios.

Fechando-a busca n'outro bolso a embalagem de madeira, da haste retirada faz surgir o fogo, oferecendo uma singela contribuição ao labor do sol.

Ascende o cigarro de seus lábios e após uma tragada, longa e áspera, por suas narinas aspira em sua contribuição às nebulosas brumas.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Penteadeira

Lucas C. Lisboa

Trancou-se no quarto
e refletiu, refletiu...
tornando-se espelho.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Enamorado

Lucas C. Lisboa

Fitei o céu d'uma lua quase inexistente
Cogitando estrelas que na mão caberiam
Para entregá-las como singelo presente
Agrado onde diversas cores se veriam

Contigo até comunguei por um deus ausente
Crendo de coração que seus anjos existiam
Por dias a fio teci alegrias habilmente
pensando que outros tão melhores viriam

Hoje encostado ao canto e talvez perdido
em meio à poeira antiga estão teus sentimentos
Eu já sei que tu não tens mais como mentir

Não duvido de teus olhos neste pedido
e na sinceridade de teus argumentos
Apenas já não mais posso teus nãos ouvir

sexta-feira, 30 de março de 2007

Subjugo

Lucas C. Lisboa

Ela, muitissimo bem amarrada, geme
rio quando num arranhão seu seio lhe firo
Do abuso ao corpo, desejo lhe consome
Co'a chama d'uma vela lhe bem eu miro

Ao jugo do meu prazer submissa prefiro
em cada tocar mais rijo seu corpo freme
A cera mui cálida e, sua pele admiro
por minhas levíssimas carícias se treme

O seu suor se mistura às pedras de gelo
Derretidas pelo seu dorso em marcas profundas
Degusto do mais gélido à sua espinha

Seu "não" tenta afastar as culpas mais imundas
Mas minhas mãos lhe apoderam tal erva daninha
Em brasa à pele cravando esse meu selo

sexta-feira, 23 de março de 2007

Dura lex sed lex

Lucas C. Lisboa

Pois quem viola a lei
da gravidade é punido
muito gravemente

INRI

Lucas C. Lisboa

Cruz, simbolo fálico
encravado na mãe terra
com todo cuidado

Fumando Espero

Lucas C. Lisboa


Um Golpe de Sorte,
por três tragos ainda espero...
Minha tal consorte.

Modernosidade

Lucas C. Lisboa

Poesia Moderna
parece não passar d'uma
enorme baderna

segunda-feira, 19 de março de 2007

Humanidades

Lucas C. Lisboa

Pois nada é tão errado
que não se possa acertar

Pois nada é tão sagrado
que não se possa gozar

Pois nada é tão acertado
que não se possa errar

Pois nada é tão gozado
que não se possa rezar

quarta-feira, 14 de março de 2007

Luzes da Modernidade

Lucas C. Lisboa

São belos os Anjos
a cavalgar Pedras lustrosas
ao redor da Lâmpada

sexta-feira, 9 de março de 2007

O Convento

Lucas C. Lisboa


Primeiro, a Irmã Cristina, numa madrugada de quinta feira, gritou ecoando por todo o convento de Nossa Senhora dos Peregrinos e desde então se calou de tudo, inclusive do porque fora encontrada desnuda em seu leito.

Na mesma semana, em seu sétimo dia, Irmã Amélia (que chegara ao convento a pouco mais de mês depois que seu marido morrera num trágico acidente de trem) teve febre e delirou por uma noite inteira antes de também se calar.

Irmã Josina, que estava prostrada ao leito desde o inverno passado quando caíra da escada, acordou, mas sequer um gemido ou lamento ressoou.

Pouco a Pouco cada um dos viventes daquele convento se calou e em duas semanas só restara a Madre Superiora e o Padre ainda fazendo uso de suas vozes.

Na sexta feira seguinte, a Madre Superiora, já desesperada com aquela enfermidade, aos berros inutilmente conclamou suas pupilas a falarem, mas foi tão inútil que ela mesma perdeu a sua.

E na manhã seguinte a missa fora rezada pelo Padre, mas seus lábios não se moveram, no entanto todas as freiras se prostraram rezaram e depois comungaram tudo sem que sequer o farfalhar de tantas narinas fosse escutado.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Canção de ninar

Lucas C. Lisboa

Venham repousar
todos os anjos caídos
ao teu ímpio leito

Da insignificância

Lucas C. Lisboa

Pois eu nunca mais
cederei outro cigarro
pra quem nega trago

da Poetisa

Lucas C. Lisboa

Pois eu só me fodo
com as coisas que mais gosto
Sexo e Poesia

O Palco

Lucas C. Lisboa

Todas as Tragédias
são na verdade comédias
que não gargalharam

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

do décimo andar

Lucas C. Lisboa

e de qual altura
caiu esse tão belo vaso
que não tem remendo?

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Obsessão

Lucas C. Lisboa

Não me interesso por nada menos que tudo.
Pois é, mesmo que lhe pareça maior absurdo...
Saiba: de modo algum tal o seria pra mim;
mesmo quando pouco resta raspo até fim.

Quando qualquer grito é vazio ou mudo
e ao som mais refinado se faz tão surdo...
Serão nossos retratos rasgados assim
e a navalha equilibra-se entre não e sim!

Pois eu já mandei jogar minhas cartas fora...
(mas guardo muitas em um suspiro de dor)

Quase ri de mim quando você foi embora...
(e dizia eu:"Pois irei contigo onde for")

Estranho como lhe quero bem mais agora...
(se antes tinha sonhos, hoje tenho horror)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Conto de Fadas

Lucas C. Lisboa

E com mero beijo;
a Princesa acorda quem
um dia veio salvá-la.