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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O parnaso contra ataca II

Lucas C. Lisboa

Que se exploda o politicamente correto!
enfiar no papa um dedo no seu santo reto!
Já cansei do lirismo assim tão comedido,
que liberto não tem nada mais de atrevido!

Convenhamos que nada de errado ou certo...
há na vã poesia de tal falso liberto!
Nesse seu versejar velho e tão combalido,
falta d'algo mais velho pra ser revivido!

faça-me algum soneto...não és capaz?
versos seus tortos eu faço tão bem e assaz...
mais cuidadosamente sonoro e pungente!

Eu sei, sou dessa vil pretensão tão tamanha...
que sequer vai sonhar sua pequena e má sanha!
Pois acusa retrógrado? Sou exatamente!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O Parnaso contra ataca

Lucas C. Lisboa

Eu digo adeus à poesia de gaveta
com tantos dos seus versos tão disformes
Todo meu versejar não é gorjeta
Para que viva dentro dos conformes

Porque não há metro que lhes perverta
meus sentimentos vívidos e enormes
é natural que nas regras me verta
d'algum pensamento que encha ou entorne

Quero ver se tua tão vã liberdade
me provoca a menor saciedade
ou mesmo umas migalhas d'alegria

Diga-me pois onde está teu prazer
que ali também irei lhe perverter
pelo som da mais bela simetria

domingo, 18 de maio de 2008

Goticismo

Lucas C. Lisboa

Dulcíssima solidão
tão doce como um limão
que cultivo com carinho
no prazer de estar sozinho

terça-feira, 13 de maio de 2008

O Reinado

Lucas C. Lisboa

A perda do reino foi demais para o príncipe. Passava seus dias planejando como reorganizaria suas tropas leais, invadiria o castelo e derrubaria o usurpador de seu trono.

Tomava notas de todas as suas estratégias num pequeno caderno vermelho: cada movimento de seu exército que conseguisse reunir um destacamento inteiro ou senão uma tropa minguada.

Descreveu como se esconderiam nas montanhas escarpadas ao leste do palácio real, para depois descerem margeando o rio até os portões da cidade ou como atacariam durante a lua nova para que a escuridão lhes servisse de abrigo.

Escreveu também da honra e glória dos vencedores, todo o ouro e títulos que daria aqueles que se continuaram ao seu lado, mas, também descreveu nos pormenores da humilhante vergonha daqueles que derrotara com suas estratégias, inteligência e artimanhas.

Contou como tendo conquistado de volta o castelo; contou dos grandes bailes, onde as damas e cavalheiros do mais alto berço de todo o continente seriam convidadas, e dos festejos, enormes com banquetes de manadas e bandos inteiros abatidos para saciar a fome de todo o reino, em honra de sua vitória (comemorações que seriam repetidas, sempre à data da última batalha de reconquista, ano após ano) e então governou, no caderno vermelho, com justiça fazendo seu reino prosperar e crescer.

A intriga da corte lhe divertiria, jogando com as nobres damas e imponentes cavalheiros seus boatos, amores e influências. Mantendo-se sempre no poder com mão firme e gentil. Mas também seria ele protetor e financiador de poetas, músicos, escultures e pintores que lhe fariam enormes homenagens. Ele teria seu busto esculpido, pintado e descrito em todas as formas de artes.

Mas depois de alguns anos sentiria-se só e tomaria como sua rainha a princesa mais bela do Reino do Oriente e assim forjar uma nova e forte aliança que combateria os povos bárbaros que habitavam as terras ao sul.

Novamente se preparava para a guerra. Já não era mais tão novo para ir à frente de seu exército, mas agora contava com uma vasta experiência e muitos homens e recursos dispostos e leais à sua coroa.

Entre uma conquista e outra, sua rainha lhe daria herdeiros legítimos que seriam educados pelos melhores padres e cavalheiros de toda a corte. Bem versados nas letras, na fé e na espada, com o passar dos anos estariam lá ao seu lado para lhe auxiliar em suas batalhas e em seu governar.

Tão bons filhos que fariam, com sua sabedoria e força, com que o Reino se tornasse enfim um Império temido e respeitado até nas mais longínquas terras. Junto com eles ergueria um novo Palácio com a mais bela vista de todo o novo Império, construído para caber toda a sua grandeza, teria o melhor mármore vindo das terras onde o sol era mais vermelho, as tapeçarias importadas de todo os mares, salões onde mesmo gigantes se sentiriam confortáveis.

Mas ele saberia que os anos não lhe poupariam para sempre e, já idoso, entenderia que seu fim se aproximara passando então seus últimos meses garantindo que todas as conquistas de sua vida vitoriosa não se desfizessem em meio a intrigas e desavenças.

Seria no meio da primavera, sua estação favorita, que daria seu último suspiro e os funerais durariam até as portas do verão. Reis, príncipes, Xeiques, Aristocratas, Poetas e até a Santa Majestade prestariam sobre seu túmulo homenagens e honrarias, pois seria um homem de fé, um aliado valoroso e um inimigo terrível.

As histórias de seu reinado, suas batalhas e festejos jamais seriam esquecidos para sua glória.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Lições II

Lucas C. Lisboa

Saiba, por que nem tudo são espinhos...
há, sempre, ferrões nos seus bons caminhos!
Porque, afinal, nem tudo é tristeza,
sobra também muita fome e pobreza!

Aprenda: nem tudo são descaminhos
que também há os tantos vícios dos vinhos!
Porque nem tudo no mundo é impureza:
há sortida vilania e malvadeza!

Menina, são mazelas da virtude!
Tão próprias de quem somente o bem faz.

Disto de quem bebe à própria saúde...
Para gozar como melhor lhe apraz!

Dos que infligem tormentos amiúde!
Sem dar sequer um momento de paz!

domingo, 27 de abril de 2008

Alegria

Lucas C. Lisboa

Bom dia luz do dia!
Bom dia raio de sol!
Boníssimo dia...
minha cara mia!

Está assim feliz?
Não, é só lirismo.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Menino mau

Lucas C. Lisboa

Se metade disso fosse verdade...
e largue mão dessa porca vaidade!
Já que você não passa d'um cordeiro,
fingindo ser um ouriço-cacheiro!

Vista suas calças já chegou a idade...
não é nem capaz da menor maldade!
Tema vilania d'um cão perdigueiro,
que depois da sova volta cabreiro!

Sua mordida mais forte é só carinho...
tem na sua boca veneno inocente,
que nem sabe como acertar um bom bote!

Agora vá brincar com seu carrinho...
e deixe para quem sabe realmente,
usar uma lingua como chicote!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sonetilho


Lucas C. Lisboa

Quando o sol nascer do norte
e ninguém temer a morte...
Brindaremos às estrelas,
sem o medo de perdê-las!

O veneno fará forte,
no prazer de cada corte!
pintadas nas aquarelas,
feiúras tornadas belas...

serão sanhas revividas
pruma talentosa gralha
que compõe canções queridas!

São roseiras na muralha
de carnes apodrecidas!
(ou qualquer coisa que valha)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Fétidas Flores

Lucas C. Lisboa

Não são flores d'alma que presto:
são de sangue e carne, eu atesto.
Fazendo dos teus olhos vítimas,
das perversões minhas mais intimas!

Eu vomito verso indigesto,
o pior do lixo e do resto...
a seco engolido co'as lágrimas,
secreções, loucuras e lástimas!

Leitor pois não me leia incauto;
lhe pegarei em sobressalto...
em seu misto d'asco e desejo!

Sei q'estas palavras imundas,
atiçam vontades profundas...
que dentro de ti antevejo!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Conto de Fadas

Lucas C. Lisboa

Carrego uma flor entre os dentes
Para saltar a sua janela
de minha doce cinderela
presa na torre por correntes

Algemada fica tão bela
encanta sábios e videntes
aguça os desejos ardentes
coberta co'a cera de vela

Atiça as formas nada esquálidas
os meus ardorosos carinhos

Adorna-lhe as lágrimas cálidas
entre os seios a rosa de espinhos

Ela, rainha das minhas fadas
no calabouço do meu ninho

segunda-feira, 24 de março de 2008

Seriado

Lucas C. Lisboa

minha vida é reprisada
como na televisão
o canal não muda nada
é a mesma programação

quinta-feira, 20 de março de 2008

Enlace perfeito

Lucas C. Lisboa

Caros Augusto e Florbela
são meu par mais que perfeito
para os quais eu não aceito
qualquer que seja a querela

quarta-feira, 19 de março de 2008

O Ritmo

Lucas C. Lisboa

O ritmo é um dos elementos fundamentais para a eufonia (eu=verdadeiro/belo/certo, fonia=som) de um poema. Na poesia clássica o ritmo se "afina" a partir de duas características simples: o metro e a tonicidade.

O metro define de forma geral o tempo dos versos, é através dele que se têm os intervalos regulares de um poema, seria o ritmo geral que se mantém ao longo de todo o poema.

Entende-se por metro o número de sílabas fonéticas de um verso contadas até a última tônica. A sílaba poética (ou fonética) se distingue da sílaba gramatical por se basear não nas regras gramaticais, mas no som das palavras.

Cada sílaba poética corresponde a um som, por isso, ocorrem distinções da gramatical, podendo ocorrer o fenômeno da Elisão quando sílabas, gramaticalmente diferentes, se tornam um mesmo som ou o caso da separação de uma mesma sílaba gramatical em mais de uma sílaba poética por formar mais de um som distinto.

Já a regularidade tônica de um poema, que é definida pela alternância entre as tônicas e as átonas, define o ritmo específico do verso.

Na língua portuguesa o metro prepondera sobre a regularidade tônica. Servindo como auxiliar na hora de definir o poema como de ritmo ascendente (quando o verso começa com sílaba átona) ou descendente (quando o verso começa com silaba tônica).

Exemplo:

EU

Eu/sou_a/ pe/na/do/po/eta (7 silabas fônicas)

sou/um/tor/to_em/li/nha/reta (7 silabas fônicas)

Sou/chi/co/te/ do/ca/rrasco (7 silabas fônicas)

Sou/ pra/zer/ en/quan/to_um/asco (7 silabas fônicas)

No exemplo acima temos uma trova de metro heptassílabo, pode-se notar a contagem silábica até a última silaba tônica. No primeiro verso vemos tanto o caso da elisão em: “/sou_a/” e também um caso de separação de uma silaba gramatical em duas fonéticas em: “/ po/eta”.

Todos os versos são de tonalidade ascendente como se pode perceber pelo negrito que marca as tônicas.


sexta-feira, 7 de março de 2008

meu anjo

Lucas C. Lisboa

eu lhe escrevo este poema
com uma formosa pena
d'um cativo anjo arrancada
que jaz em minha morada

e não há culpa q'eu tema
nem tenho nenhuma pena
da sua asa delicada
pelos versos depenada

suas lágrimas são a tinta
que mancham o meu papel

Seu copioso pranto encanta
tal canto de menestrel

Sua tristeza faz q'eu sinta
um gostoso drink de fel

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Lições

Lucas C. Lisboa

Muito brincaram comigo,
até que aprendi a brincar...
Na vida se chicoteia
ou se deixa chicotear!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A Fama

Lucas C. Lisboa

Apareci no jornal
e não foi na policial!
Foi nota de rodapé...
mas era trova de pé!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Oportunismo

Lucas C. Lisboa

quando na sarjeta
se confunda com mendigo
e ganhe a gorjeta

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Eu

Lucas C. Lisboa

Eu sou a pena do poeta
sou um torto em linha reta
Sou chicote do carrasco
Sou prazer enquanto asco

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Homo imbobile


Lucas C. Lisboa

O velho inventor fascinou-se com aquele humano que se fazia de estátua, ninguém percebia quando levemente respirava. Um olhar mais atento até veria, de relance, o seu sorrateiro piscar de olhos.


Num estalo lhe viera a inspiração, e meses à fio trabalhou em seu mais novo projeto. Moldando-o à imagem e semelhança do homem. Tinha olhos verdes, uma leve barba por fazer, traços suaves e cabelos cacheados. Sua voz era aveludada como o melhor narrador de histórias infantis. Andava com graça e leveza.


Mas seu verdadeiro propósito era ali ficar como uma estátua, deixando de quando em quando parecer que respirava e piscar os olhos quando ninguém mais estivesse vendo. O velho passava oras à fio admirando o seu próprio homem-estátua.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ecos d'um palhaço trágico

Lucas C. Lisboa

Tudo que se esperava daquele palhaço suicida é que sua última gargalhada, depois do salto, ecoasse cada vez mais distante, até o retumbante soluço final.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A quanto tempo nao sentia,

O gosto do meu próprio sangue sangrando
calmamente a dor verdadeira esvaindo
Faz tempo, muito tempo...
Mas hoje preciso senti-lo,

Sentir que ainda estou vivo!
Sentir na pele o que me rasga por dentro.
Hoje é dia de sentir.
Sentir tudo que há de mais terrível.

Para que eu possa me esquecer
esquecer de mim mesmo.
Esquecer que existo.

Pois me venham as laminas, os ácidos,
velas, torturas e loucuras.

Se nada opera efeito,
operar-me-ei cada defeito.

Fatais, fatais vaticinios,
frutos desses meus desatinos,
de meus sonhos irrealizados,
de meus porões mal assombrados.

Cercado, por todos os lados...

Será defeito?
Talvez só tenha me restado
um único jeito...
De tornar-me perfeito.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Infância

Lucas C. Lisboa

Eu, pequeno garotinho
tão novo dizia poetar:
"cala boca cachorrinho,
deixa luquinhas passar!"

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

a barca estígia II

Lucas C. Lisboa

remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos restos desprezados
amargando prantos encarcerados

remam em seu rancor plo rio d'orrores
aprisionados pelas mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobr'eterno repouso dos finados

remam mortos, agora penitentes
sofrem por seus viveres indecentes

pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando plos vivos esquecidos

remam sofridos na barca da morte
praguejam por tamanha sua má sorte

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A Barca Estígia

Lucas C. Lisboa

remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos todos desprezados
amargando prantos encarcerados

rancorosos remam plo rio d'orrores
presos por arreios de mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobre o eterno repouso dos finados

morreram e agora remam penitentes
sofrem por seus viveres indecentes

pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando pros vivos esquecidos

remam sofridos na barca da morte
praguejam por sua tamanha má sorte

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Marionete de trapos coloridos II

Lucas C. Lisboa

Pois quando noto seu, de fel, sorriso
Eu me deleito nesse doce apreço...
e de tamanho prazer regojizo,
tanto que ao deleite até me esqueço.

Gargalho por ver este olhar nervoso,
aos pesadelos quando eu lhe apareço
a divertir-me no mais puro gozo
Nessas palavras-linhas lhe enlouqueço

Sem mim teus passos são vagos, perdidos.
Sozinha és sem encanto, faz só dormir.
Jogada em qualquer canto o pó cobrindo

Marionete de trapos coloridos,
és assim tão linda que me faz rir!
Pois agora me dance, estou assistindo...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Meu brinquedo II

Lucas C. Lisboa

Seu corpo, aroma e traços bem cuidados,
que nessas mãos se fazem maltratados.
Os seus gemidos tão deliciosos...
que aperto, ouvindo-os ardorosos!

Os seios dela são assim delicados,
que não deixo por menos abusados!
Seus lábios, ao felatio, voluptuosos...
que dou-lhe meus humores mais gostosos!

És minha mais perfeita Bonequinha!
foi feita especialmente para mim:
para meu uso, deleite, abuso e trato.

Oh, mas ela realmente é perfeitinha!
Co'ela em mãos me divirto horas sem fim!
Gozando ambos em cada ato e maltrato...

bem ditos

Lucas C. Lisboa

É lícito ao poeta
se apropriar do que foi dito.
por outro qualquer esteta
que não tem estima disto?

Singularidade

Lucas C. Lisboa

Sou um entre tantos
Entretanto sou mais um
Sou um, entretanto

terça-feira, 16 de outubro de 2007

boas novas num guardanapo

Lucas C. Lisboa

uma verdade selvagem
batendo na minha porta
chegada d'uma viagem
longa, escura, negra e torta

Confeitaria

Lucas C. Lisboa

Poesia formada
numa fornada de versos
mui bem metricada