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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

terça-feira, 22 de julho de 2008

Sátiro

Lucas C. Lisboa

Olhos violaceamente tão injetados
incréu à tal fada que lhe sorri...
Sátiro co'a flauta de mil bordados,
em cada nota um naco da de si!

Vai pelo ar na presteza dos alados:
convida sáfico igual colibri!
Na sedução de ardores, mil cuidados...
pelo rubor da Fada, Ele se ri!

Quando co'a flauta vem seu belo canto,
dando-lhe beijos sem qualquer aviso...
roubados, mui bem dados por vaidade!

Chegando a noite a lhe servir de manto,
pois nela o seu maior pranto é de riso
por actos em ausente sobriedade...

domingo, 6 de julho de 2008

Nobre tecelão

Lucas C. Lisboa

Artesão vem tecendo pensamentos,
tem, pelo fiar, os dedos calejados...
Cada trançar desfia dos mil tormentos,
nos olhos míopes muito fatigados.

Seu tear em sinfonia tocando os ventos;
ao soar, novelos são assim trançados...
os fios serão tingidos nos momentos
pelos desejos bem acalentados.

Numa cortina d'um sutil bordado...
Deita em seu leito envolto na penumbra,
entre lençóis q'outrora pra si fiou.

Tem o seu sonho mais vazio velado,
mas sem que nunca alguém sequer descubra
d'um sol vermelho que num dia sonhou...

sábado, 5 de julho de 2008

Singela Trova

Lucas C. Lisboa

Detrás d'orelha um afago
Com o meu melhor carinho
uma flor e um verso trago
pra ninguém ficar sozinho

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A minha adorável turba

Lucas C. Lisboa

São risos e mais risos, todos sorridentes!
Calem-se! Vocês são uns imbecis contentes.
Lágrimas e mais lágrimas, todos aos prantos!
Parem! Sabemos que entre nós já não há santos.

Loucuras e Loucuras mais, todos dementes!
Aquietem-se! Seus juízos estão ausentes.
São Vozes e mais vozes, ecoam pelos cantos!
Falem! E Digam-me os porquês desses encantos

Percam-se! Por entre essas vozes distorcidas.
Seres d'almas vazias e pensamentos pequenos!
São razões iludidas, homens em seus postos.

Esqueçam-se! Destas aspirações decaídas.
Seres de sangue ralo e de sonhos amenos!
Perdidas ilusões, homens apenas mortos.

Momento

Lucas C. Lisboa

seus olhos fechados
e seus lábios entreabertos
a espera do beijo

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Sua admirável Loucura

Lucas C. Lisboa

Co'a posse d'uma lâmina tão cega,
vão é ferir suas mãos torpes e frias!
Quando foge da morte e sua luz nega...
sua Louca: dance por vielas vazias!

Esse belo jardim sem flores rega;
criando poças que não secam por dias...
Seu punhado de areias vermelhas pega,
põe-se a gritar por todas cercanias!

Tal quando vai a despetalar espinho;
a lhe ferir o rosto, boca e mãos.

Pois sua dourada chave do moinho
fora roubada por seus vis irmãos!

Seu olhar tão doce quanto o melhor vinho,
causa medo além d'espanto aos mais sãos!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Lições III

Lucas C. Lisboa

Aprenda: nem tudo são descaminhos,
porque também virão viciosos vinhos.
Afinal nem o mundo é só impureza...
também sortida há qualquer malvadeza!

Saiba, pois nem tudo serão espinhos...
há ferrões nos melhores dos caminhos!
Pois que nem tudo é sempre uma tristeza,
sobra também a fome e algoz pobreza!

Pequena, são mazelas da virtude!
assim mui digna de quem só o bem faz...

Contrário a quem bebe por sua saúde...
pra se gozar como melhor lhe apraz!

dos que infligem tormentos amiúde...
sem a piedade d'um segundo em paz!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Zero-Amor

Lucas C. Lisboa

Ambos Bêbados Caminhavam Desolados
Ainda Baixava o Crepúsculo Dolorido
Embalados Faziam Gracejos Horrorosos
Enciumados Fizeram-se Gratos, Honrados

Insensíveis Jogaram-se à Lama Marrom
Inseparáveis Jaziam Lânguidos, Mordazes
Numa Opulenta Perversão Quotidiana
Naturalmente Ordenada Pelo Querer

Revelaram-lhes, Sensualmente, Taras Últimas
Vorazmente Xoxotas Zunindo Azulmente
Braulios Comedores Deleitados Enfim

Rejeitando Sanhaduras Tão Usuais
Velhacas Xícaras Zelaram Absorvidas
Bebiam-se Carregando Desfrutes Enfáticos

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Valiosa

Ela foi, sem menor dúvida, meu maior sonho já feito e quando terminei sabia que era um trabalho perfeito. Não sei bem porque, mas não lhe convinham olhos de verdade, em sua face de fada incrustei duas pedras de jade.

Tinha lhe feito com as curvas mais delicadas e uma boca tão rubra quanto bem tracejada. Entre os lábios uma língua muitíssimo apurada e a tez ao menor toque ou roçar estava eriçada. Ouvia o bater de meu coração mesmo nos instantes de calma e quando eu nervoso ouvia o gritar de minha alma. Do meu chegar sabia de longe pelo olfato tão apurado e para ela sempre estaria encantadoramente bem perfumado.

Nunca me vira e nem podia sequer admirar a sua própria beleza que fora tecida por mim. Mas seus olhos eram de jade! Como eles lhe caiam perfeitamente com sua profundeza sem fim...

Ela a cada toque mui deliciosamente gemia, soando-me como a mais bela e formidável sinfonia. Sua voz tão doce e delicada foi, por mim, perfeitamente afinada. Dela eram as melhores carícia qu'eu recebia em toda minha vida e também ela rapidamente os pontos mais sensíveis descobria. Por mim cada gesto fora ensinada e nos toques de amor tornou-se requintada.

Adormecida seus olhos beijava, as frias pedras eram nela sempre cálidas. Nos seus olhos de jade nunca havia lágrima ou tristeza, somente a felicidade de Rei e Princesa.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Minha Amada Princesa

Lucas C. Lisboa

Seria um crime dizer de sua beleza!
e seus gestos até as fadas encantam!
Nela tenho toda calma e certeza,
lhe contemplo e meus desejos vicejam...

Debaixo do dossel bela princesa,
com seu perfume meus medos se espantam!
Eu lutaria contra toda realeza
e contra todos os que lhe maldigam!

Minha amada sorri como se deita
tão lânguida e suave num suspiro...
é minha musa mais que perfeita!

A beira do seu leito lhe admiro
enquanto o corpo inteiro ela se enfeita,
fitando-me não vivo nem respiro!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O parnaso contra ataca II

Lucas C. Lisboa

Que se exploda o politicamente correto!
enfiar no papa um dedo no seu santo reto!
Já cansei do lirismo assim tão comedido,
que liberto não tem nada mais de atrevido!

Convenhamos que nada de errado ou certo...
há na vã poesia de tal falso liberto!
Nesse seu versejar velho e tão combalido,
falta d'algo mais velho pra ser revivido!

faça-me algum soneto...não és capaz?
versos seus tortos eu faço tão bem e assaz...
mais cuidadosamente sonoro e pungente!

Eu sei, sou dessa vil pretensão tão tamanha...
que sequer vai sonhar sua pequena e má sanha!
Pois acusa retrógrado? Sou exatamente!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O Parnaso contra ataca

Lucas C. Lisboa

Eu digo adeus à poesia de gaveta
com tantos dos seus versos tão disformes
Todo meu versejar não é gorjeta
Para que viva dentro dos conformes

Porque não há metro que lhes perverta
meus sentimentos vívidos e enormes
é natural que nas regras me verta
d'algum pensamento que encha ou entorne

Quero ver se tua tão vã liberdade
me provoca a menor saciedade
ou mesmo umas migalhas d'alegria

Diga-me pois onde está teu prazer
que ali também irei lhe perverter
pelo som da mais bela simetria

domingo, 18 de maio de 2008

Goticismo

Lucas C. Lisboa

Dulcíssima solidão
tão doce como um limão
que cultivo com carinho
no prazer de estar sozinho

terça-feira, 13 de maio de 2008

O Reinado

Lucas C. Lisboa

A perda do reino foi demais para o príncipe. Passava seus dias planejando como reorganizaria suas tropas leais, invadiria o castelo e derrubaria o usurpador de seu trono.

Tomava notas de todas as suas estratégias num pequeno caderno vermelho: cada movimento de seu exército que conseguisse reunir um destacamento inteiro ou senão uma tropa minguada.

Descreveu como se esconderiam nas montanhas escarpadas ao leste do palácio real, para depois descerem margeando o rio até os portões da cidade ou como atacariam durante a lua nova para que a escuridão lhes servisse de abrigo.

Escreveu também da honra e glória dos vencedores, todo o ouro e títulos que daria aqueles que se continuaram ao seu lado, mas, também descreveu nos pormenores da humilhante vergonha daqueles que derrotara com suas estratégias, inteligência e artimanhas.

Contou como tendo conquistado de volta o castelo; contou dos grandes bailes, onde as damas e cavalheiros do mais alto berço de todo o continente seriam convidadas, e dos festejos, enormes com banquetes de manadas e bandos inteiros abatidos para saciar a fome de todo o reino, em honra de sua vitória (comemorações que seriam repetidas, sempre à data da última batalha de reconquista, ano após ano) e então governou, no caderno vermelho, com justiça fazendo seu reino prosperar e crescer.

A intriga da corte lhe divertiria, jogando com as nobres damas e imponentes cavalheiros seus boatos, amores e influências. Mantendo-se sempre no poder com mão firme e gentil. Mas também seria ele protetor e financiador de poetas, músicos, escultures e pintores que lhe fariam enormes homenagens. Ele teria seu busto esculpido, pintado e descrito em todas as formas de artes.

Mas depois de alguns anos sentiria-se só e tomaria como sua rainha a princesa mais bela do Reino do Oriente e assim forjar uma nova e forte aliança que combateria os povos bárbaros que habitavam as terras ao sul.

Novamente se preparava para a guerra. Já não era mais tão novo para ir à frente de seu exército, mas agora contava com uma vasta experiência e muitos homens e recursos dispostos e leais à sua coroa.

Entre uma conquista e outra, sua rainha lhe daria herdeiros legítimos que seriam educados pelos melhores padres e cavalheiros de toda a corte. Bem versados nas letras, na fé e na espada, com o passar dos anos estariam lá ao seu lado para lhe auxiliar em suas batalhas e em seu governar.

Tão bons filhos que fariam, com sua sabedoria e força, com que o Reino se tornasse enfim um Império temido e respeitado até nas mais longínquas terras. Junto com eles ergueria um novo Palácio com a mais bela vista de todo o novo Império, construído para caber toda a sua grandeza, teria o melhor mármore vindo das terras onde o sol era mais vermelho, as tapeçarias importadas de todo os mares, salões onde mesmo gigantes se sentiriam confortáveis.

Mas ele saberia que os anos não lhe poupariam para sempre e, já idoso, entenderia que seu fim se aproximara passando então seus últimos meses garantindo que todas as conquistas de sua vida vitoriosa não se desfizessem em meio a intrigas e desavenças.

Seria no meio da primavera, sua estação favorita, que daria seu último suspiro e os funerais durariam até as portas do verão. Reis, príncipes, Xeiques, Aristocratas, Poetas e até a Santa Majestade prestariam sobre seu túmulo homenagens e honrarias, pois seria um homem de fé, um aliado valoroso e um inimigo terrível.

As histórias de seu reinado, suas batalhas e festejos jamais seriam esquecidos para sua glória.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Lições II

Lucas C. Lisboa

Saiba, por que nem tudo são espinhos...
há, sempre, ferrões nos seus bons caminhos!
Porque, afinal, nem tudo é tristeza,
sobra também muita fome e pobreza!

Aprenda: nem tudo são descaminhos
que também há os tantos vícios dos vinhos!
Porque nem tudo no mundo é impureza:
há sortida vilania e malvadeza!

Menina, são mazelas da virtude!
Tão próprias de quem somente o bem faz.

Disto de quem bebe à própria saúde...
Para gozar como melhor lhe apraz!

Dos que infligem tormentos amiúde!
Sem dar sequer um momento de paz!