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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Você

Lucas C. Lisboa

Diga quanto de você
deixou ficar para trás?
presa nas minhas narinas
ou sobre minhas retinas

Diga quanto de você
deixou ficar para trás?
por todos os meus lugares
em todos os meus pares

Em um posto do correio
ou numa praça esquecida
se deixou ficar presente

faz parte do meu asseio
limpar lhe da minha vida
mas não sai por mais q'eu tente

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Letras

Lucas C. Lisboa

ele
é

erre
a
esse

LETRAS

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Espelhos

Lucas C. Lisboa

Vinte e dois anos
E nenhum entre mil poemas
me diz mais quem sou

Nunca leia Kafka

Lucas C. Lisboa

Ando meio sociopata
Mui recluso sem diálogo
Pois exceto co'a barata
que me corroi o decálogo

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Em sépia

Lucas C. Lisboa e Luciana P. Coelho

são serpentes e punhais
numa cidade vazia
são suspiros e postais
na parede de sophia

sábado, 29 de novembro de 2008

O Pianista (revisado)

Lucas C. Lisboa

Desde o dia que o pianista falhara em sua primeira exibição, frente toda a Corte; culpara, terrivelmente, sua mão direita. Afinal, fora ela que tropeçara, amargamente, frente ao público tão exigente.

Sua mão errara naquele momento crucial, transformando um Fá sustenido em um dissonante Sol natural. Ele soubera, imediatamente, que todos os ouvidos do ambiente haviam sido feridos. Mas, complacentes com sua inépcia, o aplaudiram em patente e jocosa cordialidade falseada.

Tudo culpa da sua maldita mão direita! Que até então sempre fora sua favorita, que tudo pegava, apalpava, escrevia e fazia. Não confiava mais nela; pois ela poderia novamente vacilar. Reaprendeu: a escrever, a escovar os cabelos, a fazer todas as suas necessidades, de abrir portas até atar e desatar os nós de seus sapatos.

Em toda a sua dor sentia-se inútil, o piano não poderia mais tocar, pois não poderia jamais perdoar aquela tratante; que tanto o decepcionou depois de tantos anos que lhe prestou prioridade, cuidados e carinhos. E como se sentia culpado por nunca ter dado um melhor préstimo à sua fiel mão esquerda; que mesmo relegada ao descrédito nunca havia deixado de cumprir com o seu dever.

Não podendo mais tocar; logo seria preterido, naquela competitiva corte do príncipe regente, caso não dominasse outra arte. Não tinha, porém nenhum dom para os pincéis ou para outros instrumentos: flauta, violino, violoncello; que não tinham a mesma imponência e importância do piano. Além de também serem todos dependentes da impossível reconciliação com sua pérfida e vil mão direita.

Mas havia a arte da esgrima; uma arte que até praticara em seus arroubos de juventude. Era, à época, apenas bom e não o melhor, sendo sempre vencido pelos movimentos imprevisíveis daquele canhoto de cabelos vermelhos. Pois assim, redimindo-se com sua honesta e correta mão esquerda, empunhou novamente o Florete que há tanto jazia empoeirando e com afinco tornou-o uma extensão de sua mão fiel e certeira.

Guardando a amarga lembrança das lutas com a mão direita, sabia, exatamente, onde o seu oponente estaria no próximo momento. Assim com sua habilidade rara venceu, após anos de prática dedicada, obstinada e decidida, inúmeros duelos e torneios em terras próximas e também em outras distantes, algumas até mesmo além-mar.

Com os seus novos sucessos teve o almejado reconhecimento e assim chegou novamente às honrarias da corte e ao exibir-se para sua Rainha e Rei colocava-se à posição clássica exibindo sua mão esquerda ao florete e escondendo em suas costas a indigna mão direita.

Naquela corte, depois de tantos anos passados, não mais se recordavam de sua face. Não reconheciam, naquele esgrimista hábil, o promissor pianista de outrora. Mas entre os tantos artistas daquela corte, de talentos tão diversos quanto fantásticos, havia uma compositora de Ópera , Violino e Piano que desde o primeiro instante o reconhecera.

Não por sua face agora séria e amadurecida, mas por sua bela mão que ele tão despropositadamente parecia querer ocultar. Sim, pois se havia algo que ela apreciava mais do que uma sonata bem composta ou uma peça grandiosa era a harmonia dos dedos, ossos e falanges de mãos belas e bem cuidadas. Tinha em seu quarto uma coleção delas bem guardadas, dentro de um baú reforçado e trancado, em seus respectivos potes embebidos ao rum.

A compositora, ao notar aquela mão escondida atrás do tal esgrimista, se perguntava o porque dela estar tão mal cuidada e tão distante da beleza que já tivera, revoltando-se com tal desleixo para com uma mão tão preciosa. Mas, não obstante a tal fascínio, estava curiosíssima para saber do porque do seu inexplicável desaparecimento, naqueles tempos onde Vossa Magestade ainda era Regente; afinal, sumira depois daquela inspiradora tarde de música, onde conduzira magistralmente suas mãos encantadas sobre o piano.

domingo, 9 de novembro de 2008

A Máquina

Lucas C. Lisboa Conforme as chaves giraram na maçaneta os estalos do metal ecoaram pela escadaria. Ao Chegar em seu apartamento, ele retirou seu chapéu e o seu casaco colocando-os sobre o manequim de olhos grandes e mãos solícitas. Seu cão o recebeu logo em seguida com ganidos e latidos pré-programados por anos e anos de evolução e labor. Seus dedos num estalo pediram as luzes para o ambiente e tudo se iluminou magicamente. Sua querida companheira das noites estava a sua espera contemplando-lhe o olhar. Era pela noite que realizava seu verdadeiro trabalho depois da rotina exaustiva e sufocante no centro da cidade. Todos os dias coletava um pedaço rachado daquela grande cidade. E o consertava com outros pedaços de outros fragmentos da grande e velha cidade. Não que os novos restaurados tivessem a mesma função que tiveram outrora mas ele se sentia muito bem de devolver a dignidade para aqueles prematuramente aposentados. E ria-se das propagandas da televisão que prometiam produtos maravilhosos. A sua frente tinha a mais perfeita máquina que lhe permitia possibilidades muito mais infinitas do que sequer sonharia aqueles sorrisos falsos e relatos mentirosos ditos na frente das câmeras. Ali sozinho eu seu apartamento, sem o olhar de ninguém, lera livros de "faça você mesmo", "Pequenos Reparos", "Mecânica de Automóveis", "Introdução à física" e "Química moderna". Com muito afinco estudou e aprendeu cada detalhe da arte do engenho. Aprendeu também, como as palavras tinham poder, com uma poetisa de não mais que dezesseis anos, para quem deu aulas de reforço de matemática. Escutara dela os nomes do parnaso, as vísceras do simbólico e até mesmo alguns segredos confessados pelo semitas. Seu propósito veio, no entanto, dos livros de sua ex-namorada, versada nos pincéis com uma queda para um misticismo e filosofia. Lhe contou da máquina imóvel, do grande engenho orquestrado pela exata concatenação dos eventos, da necessidade de ordem e também da Natureza decorando profundamente a citação "Deus sive Natura" do Bento tão querida por ela. Morava sozinho e ninguém visitava seu apartamento, não era de modo algum um exemplo de organização mas o que importava? Ambos se entendiam muito bem, ela ocupando os espaços com seu afã por crescimento e ele gentilmente podando-a aqui e ali conforme precisava alimentar a si e a sua máquina com sua própria produção ali armazenada. Por isso não se importou de escolher a sala de seu apartamento, no canto mais esquerdo e profundo, para ele montar sua máquina tão sonhada e elaborada por tantos anos de trabalho árduo. Estava muito satisfeito, conseguira ajustar todas as variáveis adicionando uma segunda fonte de alimentação para aquele motor. Seus rascunhos e ideias se casaram perfeitamente com toda a sortida colheita da cidade. Cada noite rendia pequenas preciosidades, pequenas partes de ordenação sobre tantas rachaduras. Cada uma com sua utilidade utilíssima que qualquer outro, exceto ele iria menosprezar logo no primeiro contato. E lá ficava ele trancado em seu próprio construir como zeloso carpinteiro do universo.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Restos

Lucas C. Lisboa

Primeiro vou celebrar
tudo que restou de mim
entre o penhasco e o mar
com as asas de marfim

Primeiro vou lhe guardar
pedaço e pedaço assim
sangrando n'algum lugar
que inda chora nosso fim

minhas asas já não são
tão belas quanto lembras
ou macias como sentiu

hoje asas de camaleão
de couro remendo e dobras
como meu eu triste e vil

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Pois seus beijos nunca foram sinceros

Lucas C. Lisboa

Após nosso para sempre
nada foi que me restou
eu queria a verdade ou
ser feliz eternamente?

Minha boca inda inocente
sabor amargo provou
Eu não sei quem mais errou
quem acredita ou quem mente

Com nosso sonho o que faço?
Como sonhar tão sozinho?
Como não mais lhe querer?

Sem você sou só pedaço
Em meu pesadelo daninho
indo aos poucos me perder

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Canalha

Lucas C. Lisboa

Para elas vou fazer a Poesia
mais Bela que sequer Camões fazia
Versos sordidamente Lapidados
para ver seus olhares Encantados

Mestre nos Poemas de Galanteria
que consquistará a boca mais macia
por meus Versos nos pequenos recados
corpo e coração são Arrebatados

Escrevo com Heroismo das espadas
das penas, capas, lenços e chapéus
não mando flores mas prometo céus

Me encanta moças tão Apaixonadas
perguntando: "Seus versos são pra mim???"
Só posso responder sincero: "Sim!"

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Doce Garotinha

Lucas C. Lisboa

A doce garotinha, vestida em um vestido rodado e branco, tem os cabelos penteados e de lindos cacheados. Ela tem os seus olhos amendoados de um azul elétrico e violáceo, mas tristes e marejados.

A doce garotinha, em um salão amplo e vazio, está amargamente sozinha, com seus pés descalços sobre o mármore frio. Ela, com sua pequenina mão, manchando o chão com seu lento gotejar tão vermelho, segura trêmula uma faca pelo fio.

A doce garotinha apenas chora e mordendo uma raiva tamanha que machuca seu lábio tão macio.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Pianista

Lucas C. Lisboa

Desde o dia que o pianista falhara em sua primeira exibição, frente toda a Corte, culpara, terrivelmente, sua mão direita. Afinal, fora ela que tropeçara, amargamente, frente ao público tão exigente.

Sua mão errara naquele momento crucial transformando um Fá sustenido em um dissonante Si bemol. Ele soubera, imediatamente, que todos os ouvidos do ambiente haviam sido feridos. Mas, complacentes com sua inépcia, o aplaudiram em patente e jocosa cordialidade falseada.

Tudo culpa de sua maldita mão direita! Que até então sempre fora sua favorita, que tudo pegava, apalpava, escrevia e fazia. Não confiava mais nela, pois ela poderia novamente vacilar. Reaprendeu a escrever, a escovar os cabelos, a fazer todas as suas necessidades, de abrir portas até atar e desatar os nós de seus sapatos.

Em toda a sua dor sentia-se inútil, mas o piano não poderia mais tocar, pois não perdoaria jamais perdoar aquela tratante que tanto o decepcionou depois de tantos anos que lhe prestou prioridade, cuidados e carinhos. E como se sentia culpado por nunca ter dado um melhor préstimo à sua fiel mão esquerda que mesmo relegada ao descrédito nunca havia deixado de cumprir com o seu dever.

Não podendo mais tocar logo seria preterido naquela competitiva corte do Rei caso não dominasse outra arte. Não tinha, porém nenhum dom com os pincéis e outros instrumentos flauta, violino, violoncelo não tinha a mesma imponência e importância do piano. Além de também serem todos dependentes da impossível reconciliação com sua pérfida e vil mão direita.

Mas havia a arte da esgrima, uma arte que até praticara em seus arroubos de juventude. Era, à época, apenas bom e não o melhor, sendo sempre vencido pelos movimentos imprevisíveis daquele canhoto de cabelos vermelhos.

Pois assim, redimindo-se com sua honesta e correta mão esquerda, empunhou novamente o Florete que há tanto jazia empoeirando e com afinco tornou-o uma extensão de sua mão fiel e certeira.

Guardando a amarga lembrança das lutas com a mão direita, sabia exatamente onde o seu oponente estaria no próximo momento e com sua habilidade rara venceu, após anos de prática dedicada e centrada, inúmeros duelos e torneios em terras próximas e também em outras distantes.

Com os seus novos sucessos teve o almejado reconhecimento e assim chegou novamente às honrarias da corte e ao exibir-se para sua Rainha e Rei colocava-se à posição clássica exibindo sua mão esquerda ao florete e escondendo em suas costas a indigna mão direita.

Na corte ninguém mais se lembrava dele, exceto uma bela Dama, que compunha óperas e apreciava mãos, que reconheceu aquelas belas mãos do misterioso pianista que sumira depois de uma espetacular exibição.

Com os seus novos sucessos teve o almejado reconhecimento e assim chegou novamente às honrarias da corte e ao exibir-se para sua Rainha e Rei colocava-se à posição clássica exibindo sua mão esquerda ao florete e escondendo em suas costas a indigna mão direita.

Naquela corte, depois de tantos anos passados, não mais se recordavam de sua face. Não reconheciam, naquele esgrimista hábil, o promissor pianista de outrora. Mas entre os tantos artistas daquela corte, de talentos tão diversos quanto fantásticos, havia uma compositora de Ópera e Piano que desde o primeiro instante o reconhecera.

Não por sua face agora séria e amadurecida, mas por seu bela mão que ele tão despropositadamente parecia querer ocultar. Sim, pois se havia algo que ela apreciava mais do que uma sonata bem composta ou uma peça grandiosa era a harmonia dos dedos, ossos e falanges de mãos belas e bem cuidadas. Tinha em seu quarto uma coleção delas bem guardadas, dentro de um baú reforçado e trancado, em seus respectivos potes embebidos ao rum.

A compositora, ao notar aquela mão escondida atrás do tal esgrimista, se perguntava o porque dela estar tão mal cuidada e tão distante da beleza que já tivera, revoltando-se com tal desleixo para com uma mão tão preciosa. Mas, não obstante a tal fascínio, estava curiosíssima para saber do porque do seu inexplicável desaparecimento; afinal, sumira depois daquela inspiradora tarde de música, onde conduzira magistralmente suas mãos encantadas sobre o piano.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Alice

Lucas C. Lisboa

Chegou à sua casa muito abalada. Passou pela sala sem nem se dar conta se lá havia ou não alguém presente - pouco lhe importaria tal naquele momento. Passou pelo corredor até chegar à porta de seu quarto e, achando que tudo estava perdido, trancou-se. Aos prantos, na sua cama deitou-se e soluçou e chorou até adormecer pesadamente.

Despertou com todo seu corpo alquebrado; um mal estar terrível lhe subia pelo amargor salgado que habitava sua boca. Não tivera sonhos, mas ainda remoia seu triste destino. Tudo que queria era desaparecer, mas abriu o chuveiro e, ao cair das águas mais cálidas, aconchegou-se novamente. Reconfortada, misturou nas águas suas próprias mágoas.

Terminado o pranto e o banho, sentou-se à penteadeira para seus cabelos escovar e, sob o seu reflexo, pôs-se a refletir sobre si mesma, refletir sobre ele, refletir sobre o que acontecera, refletir sobre o que os outros achariam, refletir sobre o futuro, refletir sobre sua vida, refletir sobre tudo que pudesse ser refletido. Refletir. E, em meio a suas reflexões, não teve dúvidas e refletidamente tornou-se espelho.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Pequenos Luditas

Lucas C. Lisboa

Jamais tinham tempo para com eles brincar. Nem um afago, carinho ou cafuné podiam lhes dar, estavam sempre apressados com seus prazos e horários.

Talvez um colo? Nem pensar! Era tempo demais! E todo o tempo era contado. Tudo o que diziam, com seus conta-tempo em mãos, era: "Hora de comer; Hora de estudar; Hora de dormir e de acordar!"

Mas numa noite, eles, todos juntos, desobedeceram e ficaram acordados até bem tarde. Tão tarde que todos sabiam que era hora de estarem na cama. Eles haviam bolado um plano fabuloso e perfeito.

Cada um pegou todos os conta-tempos pequenos, sileciosos, brilhantes, novos, velhos e médios que encontrou, parando em frente ao maior e mais barulhento que achou. Com a primeira das doze badaladas começaram juntos a martelar por toda a cidade.



Nota
Ludita: Movimento Operário da Revolução Industrial Inglesa que invadia as fábricas cujo os donos dimunuiram os salários ou demitiriam funcionários por causa da implantação de máquinas. Em protesto os Luiditas quebravam essas máquinas por roubarem seus salários e empregos.


domingo, 31 de agosto de 2008

Pela puta cara

Lucas C. Lisboa

Tudo o que disser
não lhe compromete
Faça o que quiser
mas me compra e mete