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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Rasgos em flor

Lucas C. Lisboa

Lingua ferida, espinhos afiados
Carne rasgada, cornos adornados
com paixão sangram ambos e padecem
do desejo que os deuses não esquecem

Ninfa de flores nos mamilos cálidos
Sátiro com seus chifres tão dourados
com fome se devoram e se ferem
numa dor deleitosa que eles querem

A cada corte, o beijo lhes encanta
curando-os nas suas fomes sem fim
entre bem quistos gozos e lamentos

O sangue das feridas, rega, espanta,
encharca de vermelho o jardim
em que deitam amantes tão sedentos


terça-feira, 17 de novembro de 2009

Flores: para além da areia, onde há o mar.

Lucas C. Lisboa

Era chamado de Fauno naquelas terras áridas, onde as areias beijavam o mar e o mar fazia delas seu par perfeito para navegar nas ondas. Nessas terras havia um encontro muito singular entre as areias e o mar, um lugar onde bailavam lentamente e onde desse lento bailar nasciam flores de pétalas brancas. Eram pétalas de régia beleza que não precisavam senão daquela dança mágica para se nutrir.

Ele sorria ao se lembrar que foi um convite seu que iniciou aquele baile, há tanto tempo que não se lembrava mais, foi numa outra terra distante dali, que desposou, com a Fúria de um Sátiro, uma Ninfa de pele de cobre.

E em seu desposar sanguíneo cobriu seu corpo de flores mais belas que conseguira compor em seus versos de profundo amor. Cada verso escrito com o suor e sangue de ambos fazia nascer uma flor.

Caminhavam felizes pelos bosques, pelas terras desconhecidas, por lugares nunca antes desvendados, não sem sacrifícios é claro, seu sangue era o preço que cada nova morada cobrava. Mas era intenso, era perfeito e também dolorosamente completo.

Mas chegaram ao mar, que naquela época pouco se importava com as areias. E ela quis se banhar, ou ele quis que ela se banhasse, não se lembrava mais só se lembra que ela partiu para o meio do mar e desapareceu.

Só que ele não podia entrar naquela água, suas patas de bode com toda certeza se derreteriam caso tocassem o mar, era um acordo antigo que havia feito, que poderia correr toda a terra mas jamais tocar no mar.

Com ela perdida em meio ao mar ele se lamentou com as areias que também sentiram falta da Ninfa que a tanto bailava junto ao seu Sátiro sobre elas. As areias então desejaram o mar, desejaram profundamente voltar ao baile de outrora.

E foi esse novo bailar que criou aquele mangue, que não era areia nem mar, mas que o Fauno podia caminhar sem medo de que pudesse se afogar. Não demorou para que o mangue começasse a dar flores, flores nascidas daquele bailar e flores que outrora estiveram presas ao corpo de sua amada Ninfa.

O Fauno caminhava por aquele terreno novo e perigoso, zelando pelas flores que nasciam, em parte fruto de seu amor e outra parte frutos de sua maldição. Era com seu próprio sangue que as nutria numa esperança vã que elas fossem lá onde a Ninfa se encontrava entregue ao sabor das ondas.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Outra

Lucas C. Lisboa

Meu apartamento enorme e abundante
com seus vazios estrategicamente
colocados nos cantos que me evita
olhar tais pesadelos de um artista

Se lhes digo sim ou não doravante
não cessam seus artifícios de amante
com sonhos ruins seguidos tão à risca
que surpreende cegando mia vista

Nada resta depois de tantos tragos
apenas se acomoda o pior momento
de minha paz feliz mas insincera

Sobram os meus afagos vis e amargos
que mordaz ofereço tal lamento
pra fiel e felicíssima cadela

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Bomba de Sangue

Lucas C. Lisboa

Odeio meu apego
Odeio meu afeto
Quero só sossego
da vida sem teto

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Cura-me

Lucas C. Lisboa

Cicatrizes sao testemunhas
silenciosas, resolutas
que testemunham as nossas
mais profundas das entranhas

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O fantoche depois do palco

Lucas C. Lisboa

Vem boneca de trapos o meu peito
ferir como quem ri mui docemente!
É meretriz que tem todo direito,
de fazer sentir tal niguém se sente!

Desfia cada pedaço ou trejeito
que dolorido for mais conveniente!
Só não esqueça do velho de respeito:
do mestre que guia sua linha habilmente....

Sua lágrima por arte não envolve
e seu choro tão forte não comove;
seu riso e o seu pranto são iguais!

Sua sátira de sorte não me atinge
e seu odor de morte não me aflige;
quer apostar quem é que fede mais?



quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Suas lágrimas

Lucas C. Lisboa

Tenho olhos chorando sangue
minh`alma fedor de mangue
É sua carne meu fetio
o mais doce e mais macio

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Pianista e a mão de Bronze

Lucas C. Lisboa

Depois de mais uma exibição do Pianista que agora era somente o melhor Esgrimista Real. Ela foi tomada pela ambição de resgatar aquela mão que era bela demais para estar tão mal cuidada. Seu ourives favorito que lhe construía os objetos mais estranhos foi incumbido de fazer uma substituta para a troca.

O Ourives escolheu o cobre, por sua maleabilidade, para servir de carcaça e pequenos diamantes para substituir a proteção quitinosa das unhas humanas. Depois de meses trabalhando nos detalhes aquela mão de cobre era plenamente eficiente e refinada para os movimentos e toques mais precisos e delicados.

Ela sabia que orgulhosamente o Pianista sempre rejeitaria tal troca insana, por mais que ela prometesse que ele poderia então confiar novamente numa mão direita. Sabia que o ego dele não permitiria tal troca de bom grado. Ela então foi atrás de quem poderia fazê-lo.

Foi em uma noite que do estrangeiro chegou, um ladino de talentos e lendas assustadoras, que já roubara o brilho dos olhos de uma princesa e também ganhara, numa aposta contra a morte, um manto que lhe mantinha invisível frente aos olhos de todos aqueles que enxergam. e foi na mesma madrugada que o ladino, pelo preço de uma sonata composta exclusivamente para sua glória, adentrou nos aposentos do Esgrimista dentro da área mais nobre do Palácio Real.

O Pianista estava deitado confortavelmente em sua cama mantinha mas o seu braço direito se pendia para fora da cama pois aquela vil mão direita não tinha o direito de dividir com ele do conforto dos lençóis de linho. Com o artifício de certos emplastros e poções, que trazia consigo dos Alquimistas de turbantes, o Ladino conseguiu facilmente roubar aquela valiosa mão direita e substituí-la pela belíssima arte do Ourives escondida igualmente pela luva de couro.

Foi na mesma noite que a Compositora recebera em sua casa mais uma para a sua coleção, era um exemplar de rara perfeição, porém desgastada por tantos maltratos. Ela lhe poliu as unhas, sarou as queimaduras, curou cada chaga e cicatriz malfadada para só então embebê-la em rum e especiarias para que jamais perdesse sua beleza e forma tão caras e perfeitas a ela.

Demorou muito tempo para que o Pianista percebesse a troca, ele jamais sequer tirava a luva sob a qual escondia sua indigna mão. Foi num dia em que esquecendo-se dela o alto do corrimão rasgou-lhe a luva. Também só parou para olhar pois ficara preso na escadaria e não sentindo dor contemplou o brilho do cobre e dos diamantes que se passavam por entre o rasgo.

Olhou espantado para essa nova mão direita, notou que seus movimentos não eram os mesmos que tinham depois do seu erro. Eram precisos, graciosos perfeitos e a harmoniosos. Estava numa manhã onde tudo que tinha eram as aulas para o príncipe mais novo do Rei. E isso agora iria esperar, correu ao piano da sala de estudos e começou a tocar.

sábado, 31 de outubro de 2009

Donzela de Seda

Lucas C. Lisboa

O sabor adocicado,
eu tenho e jamais o nego!
Mas ele está bem guardado:
oculto pelo meu ego...

Sei até o que faço errado:
ao mau hábito me apego.
Tendo o corpo maltratado
se de raiva fica cego...

Eu até gosto de espinhos,
pois realçam o perfume
da flor que traz para mim.

Eu me dou bem com carinhos:
do punhal de fino gume
vindo a me cortar enfim!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Terror no Play

Lucas C. Lisboa

Menina zumbi tão terrível
tem uma fome animal
se antes era mordível
agora a sua é mortal!

Uma nina tão sensível
virou um bicho do mal
devora a barriga incrível
com tripas e visceral

Devora tudo num segundo
com sua pequena boquinha
roendo ossos toda vida

Ao ver um mendigo imundo
ela come bem bonitinha
sangrenta e apodrecida

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Donzela de Ferro

Lucas C. lisboa

A fria Donzela de Ferro
teve sua doce vingança
ao me cravar um eterno
espinho com ar de criança

A fria Donzela de Ferro
no seu abraçar avança
mias carnes até o inferno
que tortura e não se cansa

Sou monstro vil que pune
tão bestial, impensado
pior que verme ou rato!

Mas está sob o seu gume
algo bem mais engendrado
é maldade em puro ato!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Depois da aula

Lucas C. Lisboa

A doce mocinha
morrendo de medo
no parque sozinha
esconde um segredo

Espera prontinha
por seu namorado
co'a pele branquinha
e olhar abaixado

balança e se aninha
num riso calado
co'a face quentinha
e lábio molhado

Seu segredo vinha
num moço malvado
que lhe fez putinha
de muito bom grado

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Terça-feira

Lucas C. Lisboa

Dia longo absurdo maldito infernal
De fato sou culpado pra tanto mal?
Se fosse, ao menos, teria uma paz
No prazer do mal feito que me apraz

Sei que não sou perfeito ou igual
ao principe de um conto de natal
Nem venho co'as boas novas que ele traz
e o fogo comigo se liquefaz

Eu só queria uma princesa rota
para dançar comigo toda valsa
mesmo que de nota desafinada

Eu só queria ter só mais uma gota
de chumbo derretido para a falsa
verdade que me faz alma penada

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Tentáculos atacam

Lucas C. Lisboa

Tentáculos e Correntes
tomaram o Colegial
são cem Jovens inocentes
gozando via Anal

Monstros e Aliens indecentes
pevertendo sem igual
Mestres de malvadas mentes
na nova Escola Sexual

com a Diretora enrabando
o velho do Zelador
e a Professora chupando
o dedão do Professor

Tudo que vão aprender
é Trepar até morrer

Notas de página (Rascunho

Da terceira estante na quarta prateleira encontrou o livro que vinha procurando depois de ouvi-lo mencionando numa mesa de botequim, na mesa vizinha dois amigos discutiam, terrivelmente, sobre qual seria o exacto valor do verso medido e o que ele teria de tão melhor que a liberdade do verso livre. Não teve coragem de perguntar directamente para aquele par da mesa cada um deles batia tão fortemente o pé no que acreditava que imaginou que morderiam qualquer inocente leigo que lhes atravessassem o caminho. Entre as tantas páginas densas, herméticas e por vezes incompreensíveis uma anotação continha uma ideia deveras pertinente ao difícil tema do qual tratava aquele tratado.

Um elogio, a quem tivesse sua autoria, pessoalmente seria impossível. Porém, tal elogio fizera-se indispensável ao novo leitor. Que, encantando pela bela e feminina grafia, deixou seu recado docemente elogioso logo abaixo das linhas cursivas que se tracejavam ao lado do corpo tipográfico. Seu elogio nao era nada menos do que uma quadra de versos em redondilha que o leitor aprendera justamente pelas anotações que a glosadora fizera.Ele pretendia ficar mais tempo com o livro mas num lapso esqueceu-se de renová-lo e quando o devolveu a biblioteca para pegá-lo noutro dia não o encontrou.

Alguém o havia pego e esse alguém era ela. Já fazia alguns anos que brigava em meio as letras, palavras, ritmos e sons da poesia. Auto-didacta vasculhara bibliotecas e mais bibliotecas até encontrar aquele tratado completíssimo sobre Versificação. Tinha desde pequena o mal hábito de anotar suas ideias, impressões e descobertas nas beiradas dos textos que lia, uma forma de fixar, de indicar onde havia parado e principalmente a mantinha sempre escrevendo, grafia que era um prazer à parte para ela. Fazia quase um ano que tinha decorado linha a linha daquele livro, porém fora convidada por um feliz acaso a contar como funcionava essa tal de poesia clássica e insegura voltou para sua tábua de salvação de tantos anos.