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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sábado, 26 de dezembro de 2009

Pequena Marionete

Lucas C. Lisboa

nas suas vermelhas e brancas
fitas de delicias tantas
minha nova marionete
não é sonho de confete

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

VITAE

Lucas C. Lisboa

Dê adeus a esse passado,
que tanto lhe faz o mal!
Dê adeus ao seu deserto
que feito é de puro sal...

Respire o cheiro do assado
de temperos sem igual!
Aprecie, sinta mais perto
o nosso fogo vital.

Ao redor dessa fogueira
somos uno p'lo secreto
na clareira da floresta

Pois somos a vida inteira
presos, no torto e no reto,
a viver o que nos resta.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Instantes

Lucas C. Lisboa


dois pares de calças
atracam-se vorazmente
num xadrez chuvoso

duas xícaras sem alça
bebem o café fervente
num dia nebuloso

o par numa valsa
danca deliciosamente
no terceiro, o gozo

o casal abraça
o rijo pau reluzente
num labiar fogoso
 

sábado, 19 de dezembro de 2009

Quadras d'espada

Lucas C. Lisboa

Sangrando o ar com sua espada
o cavaleiro sustenta
sozinho pela lembrança
dos beijos da bela amada

Não baixa nunca sua guarda
em uma luta sangrenta
contra as sombras dessa herança
que lhe ergue e lhe mata

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Em Cena

Lucas C. Lisboa

Pois pule, dê saltinhos com ardor!
não tenho culpas, não tenho pudor
nem lhe peço licença se lhe invade
numa cura da doença vil de Sade.

Pois Deseja q'eu pule meu senhor?
Só diga a qual altura por favor!
Que lhe faço contente sua vontade
mesmo que for somente por vaidade

Calada! Não desgaste essa sua rara
de provocar furor raivoso e único
que me fustiga como sequer sonha

Eu lhe peço, só não bate na cara
na frente da platéia, de meu público
sou cadela mas morro de vergonha...
 

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Troca de farpas (ou olhares)

Lucas C. Lisboa

Eu nunca vou entender
se você nada dizer
suas palavras caladas
não me dizem nada

Eu sequer irei saber
se você nada fizer
contra essas minhas mancadas
achando certa as erradas

respostas que já me deu
ou são totalmente falsas
nossas caras pretensões?

Apostas altas no ateu
não santifica as vidraças
tão frágeis dos corações

domingo, 6 de dezembro de 2009

Para a eternidade

Lucas C. Lisboa

Foge a sordideza
do diabo a vitória
da tamanha grandeza
dos homens na história

Com maior justeza
vivendo da glória
toda uma realeza
bebe em sua memória

Guerreiros de espadas
sagradas em sangue
e carne divinos

Co'as vistas cegadas
que marcham no mangue
e brandam os sinos

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Noite, madrugada, manhã, tarde

Lucas C. Lisboa

Cigarros sem filtro em dias tão cinzentos
tosse, choro e pesadelos quinhentos
fazem sorrir sem culpa ou pudor
eu, que velho por dentro, sou senhor

Mais um trago em copos lamacentos
na praça da estação de movimentos
estranhos que lhes causariam horror
se tão bêbado não estivesse seu suor

É belo um rato a correr pro esgoto
entre carros e crianças frenéticas
que vagueiam sem rumo pelas ruas

É belo um homem sujo e mais que roto
c'olhos desejando as pernas atléticas
das jovens que bem imagina nuas


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Menestrel de Vidro

Lucas C. Lisboa

Eu queria um coração de aço ou vidro
Inquebrável e frio ou se partido
quebrasse em vermelhosos, vis, cristais
contado dessas mil dores ou mais

O de aço pesa tanto que duvido
que poderia guardar em mim ferido
ao peito co'essas dores tão abissais
que carrego nas crateras pulmonais

Eu queria ter nascido todo de aço
tal Donzela de Ferro que se faz
segura na luz fria do seu vestido

Eu queria que não houvesse um espaço
pra essas dores, de poeta mordaz,
se esconderem em meu canto sorrido

Convidados

Lucas C. Lisboa

Derrotei os exércitos de Deus,
dos deuses e com todas as mil feras!
Sangrei o mar em busca desses réus
com os seus pesadelos e quimeras!

Cansado direi eu aos filhos meus
que fui capaz de lhes domar as terras
desde o horizonte até tocar os céus
sendo O cavaleiro a guardar por eras

Minha morada é de fato verdadeira
segura erguida sobre a pedra inteira
pela fé de um sonho que de luz cega

Cheguem em meu palácio de cristal
nem só de mármore se faz meu sal
há também o vinho e o pão na adega

domingo, 29 de novembro de 2009

Enlace

Lucas C. Lisboa

Envolta em laços de seda
ela se volta fremente
Sendenta pra que suceda
o fetiche mais envolvente

Pela paixão que lhe enreda
vem o gemido eloquente
de cada curva e alameda
do seu corpo e de sua mente

Sao minhas fitas carmim
que lhe domina e cega

É pois atada por mim
que toda apenas se entrega

Ao prazer que nao tem fim
que nao foge e nem se nega


sábado, 28 de novembro de 2009

Estilística

Métrica e Rima são os dois principais recursos estilísticos para se trabalhar a sonoridade e rimto de um poema. A Rima influencia principalmente a Sonoridade e a Métrica seu ritmo, não obstante, ambos influem tanto no ritmo quanto na sonoridade como poderemos ver a seguir:

A Rima é a homofonia (similaridade de sons) entre palavras quando dispostas de forma regular e intencional no decorrer de um poema. A presença das rimas ao longo dos versos cria uma marcação sonora, onde a repetição dos sons ressoa influindo diretamente na sonoridade geral de cada verso, estrofe e em todo o poema.

Relacionando-se intimamente à rima (mas idependente dela) há a tonacidade do verso que se dá de acordo com a sua última palavra podendo este ser Agudo, Grave ou Esdrúxulo (meso se formos usar os termos da música).

O verso é Agudo quando o som da última palavra tem sua tônica na última sílaba, Grave quando se dá na penúltima sílaba e Meso (ou Esdrúxulo) quando a tônica aparece na antepenúltima sílaba.

Palavras Agudas:
Sabiá
Castiçal
Sabão
Dois

Palavras Graves:
Aliança
Viagem
Ritmo
Melhores

Palavras Meso:
Própolis
Métrica
Página
Cálice



E cabe à Métrica a demarcação do ritmo.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Nós

Lucas C. Lisboa

Iamos caminhando sem pressa
Tendo um destino guardado
Assim pelo menos pensávamos
Langüidamente aprisionados
Apaixonados e jurados

Além de nós nada havia
Lugares, coisas, pessoas
Víamos e não ligávamos
Entre um beijo e caricia
Suor escorria em delícia

Muitas, outras e várias
Apesar de tanta fome e querer
Recusávamos juntos o comum
Igualmente fugíamos do banal
Ansiosos éramos e a cada
Novidade que saciávamos
Outra surgia sempre


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Rasgos em flor

Lucas C. Lisboa

Lingua ferida, espinhos afiados
Carne rasgada, cornos adornados
com paixão sangram ambos e padecem
do desejo que os deuses não esquecem

Ninfa de flores nos mamilos cálidos
Sátiro com seus chifres tão dourados
com fome se devoram e se ferem
numa dor deleitosa que eles querem

A cada corte, o beijo lhes encanta
curando-os nas suas fomes sem fim
entre bem quistos gozos e lamentos

O sangue das feridas, rega, espanta,
encharca de vermelho o jardim
em que deitam amantes tão sedentos


terça-feira, 17 de novembro de 2009

Flores: para além da areia, onde há o mar.

Lucas C. Lisboa

Era chamado de Fauno naquelas terras áridas, onde as areias beijavam o mar e o mar fazia delas seu par perfeito para navegar nas ondas. Nessas terras havia um encontro muito singular entre as areias e o mar, um lugar onde bailavam lentamente e onde desse lento bailar nasciam flores de pétalas brancas. Eram pétalas de régia beleza que não precisavam senão daquela dança mágica para se nutrir.

Ele sorria ao se lembrar que foi um convite seu que iniciou aquele baile, há tanto tempo que não se lembrava mais, foi numa outra terra distante dali, que desposou, com a Fúria de um Sátiro, uma Ninfa de pele de cobre.

E em seu desposar sanguíneo cobriu seu corpo de flores mais belas que conseguira compor em seus versos de profundo amor. Cada verso escrito com o suor e sangue de ambos fazia nascer uma flor.

Caminhavam felizes pelos bosques, pelas terras desconhecidas, por lugares nunca antes desvendados, não sem sacrifícios é claro, seu sangue era o preço que cada nova morada cobrava. Mas era intenso, era perfeito e também dolorosamente completo.

Mas chegaram ao mar, que naquela época pouco se importava com as areias. E ela quis se banhar, ou ele quis que ela se banhasse, não se lembrava mais só se lembra que ela partiu para o meio do mar e desapareceu.

Só que ele não podia entrar naquela água, suas patas de bode com toda certeza se derreteriam caso tocassem o mar, era um acordo antigo que havia feito, que poderia correr toda a terra mas jamais tocar no mar.

Com ela perdida em meio ao mar ele se lamentou com as areias que também sentiram falta da Ninfa que a tanto bailava junto ao seu Sátiro sobre elas. As areias então desejaram o mar, desejaram profundamente voltar ao baile de outrora.

E foi esse novo bailar que criou aquele mangue, que não era areia nem mar, mas que o Fauno podia caminhar sem medo de que pudesse se afogar. Não demorou para que o mangue começasse a dar flores, flores nascidas daquele bailar e flores que outrora estiveram presas ao corpo de sua amada Ninfa.

O Fauno caminhava por aquele terreno novo e perigoso, zelando pelas flores que nasciam, em parte fruto de seu amor e outra parte frutos de sua maldição. Era com seu próprio sangue que as nutria numa esperança vã que elas fossem lá onde a Ninfa se encontrava entregue ao sabor das ondas.