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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

"ô da poesia"

Um relato que escrevi no meio do ano passado e redescobri agora, dá uma certa nostalgia relembrar daqueles meses quando estava começando a vida de poeta sobre trilhos, se naqueles dias eu ainda era inseguro sobre o que fazia hoje sei que esse sonho está cada vez mais concreto. Vivo, visto e respiro poesia há um ano e meio aqui nessa cidade maravilhosa.


"Ô da poesia" escutei antes de atravessar a catraca do metrô. Gelei na hora, sempre tem muitos seguranças por ali e eu não gosto deles e a maioria também não gosta de mim. Mas dessa vez não era nenhum deles, era um rapaz de uniforme cinza e vermelho da limpeza do metrô. Eu parei e me virei e ele veio até mim e me perguntou se eu tava com as poesia ali e me comprou para dar de presente para a namorada. Contou que tinha me visto outro dia mas que não tava com grana no dia.


Tem dias que é assim, antes mesmo de entrar no vagão já ganho o dia! Fui lembrado pelo meu rosto enquanto ainda estava por começar o trabalho. Tem coisa mais prazerosa do que ser reconhecido por aquilo que faz de melhor e com mais prazer? Não, ao menos para mim que sou mais bobo não tem! Agora escrevendo me lembrei de outro dia já a algum tempo quando saindo para tomar café na rua riachuelo um singelo armário de terno e gravata me chamou pelo nome e  pediu o endereço do meu blog pois tinha dado o lireto pra namorada.


Ser parado na rua por ser poeta é um privilégio que pouquíssimos escritores já tiveram o prazer! A arte da escrita é tradicionalmente solitária e isolada. Precisa-se de muita pompa, revista, jornal e toda a mídia tradicional em cima prum amigo poeta ter seu rosto reconhecido. Mas não comigo, bastou algumas poucas edições para isso começar de quando em quando a acontecer. E agora com dez mil livretos em circulação isso tem se tornado mais comum.


Eu sou tímido demais e alguns leitores tem falado que mandaram e-mails para o Jô. Me dá um medo e um frio enorme da barriga só de pensar nisso! Gosto é do meu trabalho ali quase silencioso nos vagões. Quanbdo junta muita gente para falar e me perguntar sobre o que faço não sei dizer muito, gaguejo e gostaria de poder bater os calcanhares e sumir!


Fui cara de pau o bastante para furar a fila do mercado literário, fiz a afronta de ser reconhecido na rua sem o aval das editoras me sinto um pouco herege ao desafiar o sacrossanto processo de canonização do escritor! Sinto que provei que existem apenas homens e anseios, ao artista cabe identificar esses anseios, identificar e dar a panacéia para as almas que estão adormecidas em um pesadelo sufocante onde tudo está pronto e acabado. O mundo se tornou novo e maior em possibilidades, estamos todos enjaulados mas o carcereiro está sonolento isso é se já não dormiu.


Eu vivo como uma areia grande engrenagem do sistema, usando os artifícios criados para me controlar ao meu favor. Os apitos do trem que um dia me diziam a hora de entrar e sair do vagão para não chegar atrasado no trabalho hoje servem de cadência para que eu desperte a imaginação de tantos quanto possíveis novos leitores libertos da ditadura cultural outrora hegemônica.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

3-6-9

doce e ameno veneno que pinga
pela boca da moça que ginga
pelo som feito samba pra lua
e pro sol no cabelo e na rua

ela passa sem pressa ao léu
e devora sem pressa seu réu
em um crime bem feito e traçado
pra pisar noutro peito amado

forte e amargo pigarro de pinga
pela boça do moço que xinga
pelo tom pelo som pele nua
numa fome da carne mais crua

ele passa seu dia no bordel
devorando na noite sem véu
seu passado presente e futuro
feito verso bem claro no escuro

Certeza Universal

Não, não tem outra resposta
de mim, dele ou de tu
nem é uma vontade imposta
por deus ou por belzebu

Pois eu lhe faço uma aposta
Caralho, buceta ou cu
sei que todo mundo gosta
e quer pelo menos um

Mas passa mês, dia ou semana
com o tesão contrafeito
quer qualquer um no seu leito

Tara é coisa muito humana
que todo e qualquer sujeito
estará sempre sujeito

domingo, 29 de julho de 2012

Abençoada e ungida

minha moça santa
de olhos azuis
e de pele branca
que rubra reluz

moça que me encanta
com sua doce cruz
que bem me levanta
e pra fé faz jus

eu vou lhe abrir
todas as marés
com louvor e pranto

eu quero lhe ungir
da cabeça aos pés
com meu óleo santo

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Romântico II

Gata a vida é bela
mas mais bela fica
com a minha pica
pela sua goela

terça-feira, 17 de julho de 2012

Procura-se Revisor de Livreto Caseiro de Poesia

Outro dia no vagão do trem um singelo senhor de seus 40 e tantos anos, de óculos e barba. Um tipo daqueles com ares de intelectualidade e sapiência. Veio me dizer que não levaria meu livreto porque havia nele terríveis erros gramaticais que não seriam desculpáveis nem sob a luz da métrica, estilística ou licença poética.


Obviamente desconcertado e envergonhado admiti a culpa e perguntei solícito se ele poderia me apontar os erros. A resposta veio seca: sou revisor, para esse serviço só pagando. E eu fiquei olhando para a cara dele meio embasbacado sem ter uma reação prevista ou em pensamento.


Mais tarde revisei o livreto com olhar crítico poema a poema, verso a verso. Não encontrei nada que não se justificasse por uma rima, por um metro mais teimoso. Todo esse rigor do revisor só pode ser para justificar o seu ganha pão, será que ele achou assim tão absurdo alguém viver de poesia? Ou será mesmo que ele acha que eu poderia querer contratá-lo para revisar meus livretos?


Ele ainda se safou dizendo que só criticou pois viu que tinha ali algum valor, leu tudo, do primeiro ao último poema, mas será que foi só sadismo para me desconcertar ali ou será que não entendia tão bem assim de versificação mas somente de gramática pura?


Bom, pelo sim pelo não... Fica ai aberta a vaga de revisor de livreto de poesia do poeta sobre trilhos! Não quero mais passar vexame dentro dos vagões.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Passado, Presente e Perigo nos Trilhos.

Viver da poesia sobre os trilhos do trem me faz sentir como se eu voltasse no tempo, e refizesse os caminhos de meu próprio avô, pois ele durante as décadas de 40,50 e meados de 60 viveu e criou sua família como comerciante da Estrada de ferro Bahia Minas que partia de Arassuai (sim naquela época Arauçuai tinha até outra grafia!) e ia até Ponta de Areia na Bahia.


O Natalino pai, nascido em 25 de dezembro, alugava um vagão do trem que ficava estacionado próximo de sua venda em Alfredo graça que era a primeira parada após o trem partir de Arassuai. O Natalino Filho (meu pai que não era nascido no natal mas ganhou o nome por capricho de meu avô) me conta que ele com seus 7 anos brincava no armazém onde havia montanhas de grãos de feijão e de milho.


Meu avô carregava o vagão com milho, melancia, feijão, farinha de mandioca e demais produtos produzidos na região. No percurso do trem ia aos poucos esvaziando o vagão e enchendo-o novamente com tecidos, perfumes, ferramentas e outros tantos produtos que chegavam ao porto.


Mas isso mudou pois no ano seguinte ao golpe de 64 os militares assinaram um decreto desativando a Estrada de Ferro, sem a estrada não havia mais como escoar a produção da região e meu pai pegou em 66 o último trem para Araçuai onde minha avó se tornou gerente dos correios e meu avô fazendeiro.


Essas divagações me vieram quando vejo a insensibilidade do metrô que não se importa com a natureza do que se trata o livreto com o qual estou despertando os leitores. Eu acabo vendendo muito no metrô mas ali a venda de poesia não é uma atividade muito bem quista pelos seguranças.


Quando entro em um vagão tenho que tomar cuidado para ver se não tem um segurança a bordo, eles sempre me chateiam. Era o segundo vagão da noite, entrei e caminhei até o fundo dele quando reparei quase imperceptível um segurança, ele me notou. Esperei sentado no percurso até a próxima estação e quando fui trocar para o vagão de trás o nosso amigo veio me seguir. Aquela situação estava chata e eu tive que pensar rápido. Quando o apito do metrô soou para as portas se fecharem eu saltei do vagão. E a porta se fechou atrás de mim sem que desse tempo dele continuar atrás. A verdade é que me senti meio que num filme de ação e tive que resisitir a virar e dar tchauzinho para o homem de preto. Sentei na estação, tirei os óculos, vesti o agasalho longe das cameras de segurança e fiquei jogando no celular até o próximo metrô passar.


Ser poeta sobre trilhos, talvez o único poeta underground (literal) do rio, é um enorme prazer. Ver o sorriso no rosto alheio, os olhares encantados, a felicidade estampada vale os riscos. Ninguém pode me tirar esse prazer, principalmente quando sei que são milhões de leitores adormecidos que passam por ali todo dia, aos poucos eu vou conseguindo levar até eles. Oito mil livretos vendidos nesse processo que já dura seis meses. Mas a pergunta que me move é: você tem ideia do que pode uma mente que voltou a usar a sua imaginação?

terça-feira, 10 de julho de 2012

Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" faço versos e de quado em vez me arrisco na prosa.


Em tempos tão performáticos e midiáticos há espaço para um poeta que seja apenas poeta? Há espaço para quem apenas aprecia a arte da escrita, que gosta de observar a leitura silenciosa de seus versos? Que gosta do efeito de um poema que ao terminar de ser lido seja relido e lido novamente?


Eu, sinceramente achava que não, acreditava que jamais faria sucesso como poeta por não saber e nem querer, cantar, recitar, declamar ou mesmo sapatear com meus versos. Tá, eu confesso, era uma mistura de timidez com falta de jeito para as demais artes. Porém o que é dificuldade e barreira também é o estimulo para a invenção.


O Poeta sobre Trilhos surge como um personagem capaz de levar a poesia para um público amplo sem depender do suporte de outras artes como a retórica, a música ou as artes cênicas. A poesia, somente a poesia em papel e tinta se basta na tarefa de levar o prazer de si mesma para os leitores.


Nada de declamação, nada de piruetas ou acordes de violão. Dentro de cada vagão levo apenas meus livretos de poemas. Oito páginas com minha poesia bem diagramada e com letras grandes para que todos possam ler, mesmo aqueles que já estão com os braços curtos e esqueceram os óculos em casa.


Sei que é lindo ter uma platéia cantando junto suas músicas ou gargalhando em sincronia com sua atuação. Mas sou eu muito feliz de poder ver a sinfonia silenciosa das expressões de meus leitores dentro dos vagões.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Relembrando a mudança de endereço....

Com o Lançamento do meu livro: Sobre Máscaras e Espelhos

Meu site mudou de endereço, continue acompanhado meus versos, pensamentos em: www.srpersonna.com.br

Poeta Sobre Trilhos em: Poesia sabor canela!

Um chiclet de canela por um livreto de poesia me parece uma troca surreal. Mas muitos dizem que é surreal viver de poesia hoje em dia. E é isso que eu venho fazendo há um ano e meio na cidade do Rio de Janeiro.


Como assim um chiclet de canela por um livreto de poesia? Me perguntam embasbacados. Talvez por não saberem o que eu faço do meu dia a dia isso torna-se mais impossível. Porém eu reconto, eu vendo poesia dentro dos vagões do metrô e do trem da capital fluminense (aprendi a pouco tempo que carioca é só quem nasce na cidade e o natural do estado é o fluminense!).


Distribuo dentro de cada vagão cerca de 30 livretos e espero a reação dos leitores. É sempre fascinante ver como cada pessoa reage ao ler poesia depois de muito tempo e até mesmo pela primeira vez. Tem quem folheie desinteressado e depois largue pra lá, quem devore tudo com avidez e vontade, quem lê esquece do mundo ao redor, enfim gente de todo tipo com reações de todo tipo!


Mas voltando ao chiclet de canela, tinha uma linda menina de cabelos loiros lisos, aparelho nos dentes e não mais de treze anos que estava com a mãe dentro de um vagão. Ela lia com muita avidez que eu pensei até que ela nem se lembraria de me pagar ou devolver o livreto.


Eu estava enganado porém antes de ir abordá-la recolhi e vendi os livretos que restavam no vagão e fui lá preparado para pedir de volta o livreto. Minha surpresa foi quando ela me disse que não tinha dinheiro pois gastara complando um pacote de trident de canela. Olhou pro trident e me perguntou se eu aceitava o chiclet em troca do livreto.


Eu só ri surpreendido e feliz. O escambo é algo maravilhoso, a troca de um objeto por outro é melhor e mais mágico que a troca por dinheiro. Ela trocou algo que dava prazer a ela por algo que estava lhe dando, talvez, ainda mais prazer! Não estava trocando um prazer de fato pelo prazer potencial do dinheiro, era algo tangível e completo.


Eu assim nunca fui o maior fã de chiclet de canela mas desse dia em diante ele me surgiu como um sabor fantástico, um sabor de lembrança e de sonho. O de saber que uma doce menina no auge dos seus treze anos se encantou por meus versos.


E como eu sempre digo, minha vida não dá um livro porque é inverossímil demais. Estou escrevendo esse relato que procrastino há duas semanas justamente porque voltei a encontrá-la. Saindo da estação Afonso Pena lá estava ela, sorrindo pra mim e perguntando se tinha poesia. Eu não reconheci na hora, mas quando ela sacou o envelope de chicletes...

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Coração

Eis meu primeiro poema de fato concretista vindo da oficina Fora da Area

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Homem de Preto disse sim pra poesia

As coisas estão mudando ou estou tendo mais sorte que o costume. Um homem de preto leu meu poema em voz alta no vagão! Sim, parece surreal depois de tantas desventuras e problemas mas aconteceu.


Foi mais ou menos assim, estava eu lá na estação de Gal. Osório, parada final, distribuindo meus livretos quando entraram dois funcionários do metrô que pelo uniforme eu sabia que se tratavam de caixas e por isso nunca se incomodavam em ler meus versos, muito antes pelo contrário.


Entreguei meus livretos para ambos e terminei de preencher o vagão com poesia e me sentei foi quando ele, o homem de preto, entrou e na hora eu praguejei pois perderia todos aqueles livretos por causa da encrenca. Sem muita surpresa ele foi conversar com os dois outros funcionários, com apreensão eu o vi pegando o livreto e com absoluta surpresa o vi lendo e ainda por cima lendo em voz alta.


Vendo aquilo fiquei totalmente sem reação, meio ainda sem entender fui desconfiadamente recolhendo os livretos. Eu conversei com um casal universitário que adorou o projeto despertando leitores e lá eu me demorei na conversa para me acalmar um pouco.


De uma ponta a outra recolhi vagarosamente de cada um dos presentes até chegar naquele confronto inevitável que para não abusar da sorte eu esperei chegar na estação de Botafogo para na troca de vagão simplesmente anunciar aos dois caixas que os livretos eram presentes.


Pude ver que o segurança riu de meu medo e desconfiança, mas gato escaldado tem medo de água fria. Depois de tantas desventuras com os homens de preto já tava de bom tamanho que meus versos foram bem aceitos e degustados com prazer.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Canto ao Guerreiro

Lucas C. Lisboa

Sangrando o ar com sua espada
o cavaleiro sustenta
sozinho pela lembrança
dos beijos da bela amada

Não baixa nunca sua guarda
em uma luta sangrenta
contra as sombras dessa herança
que lhe ergue e lhe mata

É guerreiro bravo e forte
algoz dos vermelhos dragões
e também de homens e feras

Rei no sul vilão no norte
herói na costa e sertões
será lembrado por eras!

domingo, 6 de maio de 2012

Maternidade

Lucas C. Lisboa

Eu por ter nascido homem
nunca soube nada sobre
o que é ser mulher
ou conceber um filho

Porém como poeta
Eu sei bem como é
quando o verso solto
fecunda minha mente

E cresce até se tornar
pequena e timida estrofe
depois ganhar corpo
e também ganhar forma

Orgulha-me se vira um poema
daqueles, garboso e forte
e cheio de melodia que conquista
um outro coração incauto

Despertando outro poeta
semeando dentro dele
um outro verso
de pura inspiração

Que crescerá noutro
papel de pauta marcada
para uma outra alma
lê-lo e espalhar por ai

Não sei se é um sentimento
sequer próximo ou parecido
o dom de criar no papel
e a benção de dar a vida

Mas já me contento
se meus versos gestados
embalarem uma canção
de ninar de uma Mãe

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Café com leite

Lucas C. Lisboa

O negro de forma bela
e cheio de melanina
com esse seu olhar mela
a nina de uma menina

De pele branquinha ela
se faz tão doce e felina
que arrepia toda aquela
nuca atrás da trança fina

Sim, negro garboso e afro
de cabelos de tantas tranças
seduz os olhos da gringa

Ela se sonha no sarrafo
dele enquanto dança
dura seguindo sua ginga