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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

3-6-9

doce e ameno veneno que pinga
pela boca da moça que ginga
pelo som feito samba pra lua
e pro sol no cabelo e na rua

ela passa sem pressa ao léu
e devora sem pressa seu réu
em um crime bem feito e traçado
pra pisar noutro peito amado

forte e amargo pigarro de pinga
pela boça do moço que xinga
pelo tom pelo som pele nua
numa fome da carne mais crua

ele passa seu dia no bordel
devorando na noite sem véu
seu passado presente e futuro
feito verso bem claro no escuro

Certeza Universal

Não, não tem outra resposta
de mim, dele ou de tu
nem é uma vontade imposta
por deus ou por belzebu

Pois eu lhe faço uma aposta
Caralho, buceta ou cu
sei que todo mundo gosta
e quer pelo menos um

Mas passa mês, dia ou semana
com o tesão contrafeito
quer qualquer um no seu leito

Tara é coisa muito humana
que todo e qualquer sujeito
estará sempre sujeito

domingo, 29 de julho de 2012

Abençoada e ungida

minha moça santa
de olhos azuis
e de pele branca
que rubra reluz

moça que me encanta
com sua doce cruz
que bem me levanta
e pra fé faz jus

eu vou lhe abrir
todas as marés
com louvor e pranto

eu quero lhe ungir
da cabeça aos pés
com meu óleo santo

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Romântico II

Gata a vida é bela
mas mais bela fica
com a minha pica
pela sua goela

terça-feira, 17 de julho de 2012

Procura-se Revisor de Livreto Caseiro de Poesia

Outro dia no vagão do trem um singelo senhor de seus 40 e tantos anos, de óculos e barba. Um tipo daqueles com ares de intelectualidade e sapiência. Veio me dizer que não levaria meu livreto porque havia nele terríveis erros gramaticais que não seriam desculpáveis nem sob a luz da métrica, estilística ou licença poética.


Obviamente desconcertado e envergonhado admiti a culpa e perguntei solícito se ele poderia me apontar os erros. A resposta veio seca: sou revisor, para esse serviço só pagando. E eu fiquei olhando para a cara dele meio embasbacado sem ter uma reação prevista ou em pensamento.


Mais tarde revisei o livreto com olhar crítico poema a poema, verso a verso. Não encontrei nada que não se justificasse por uma rima, por um metro mais teimoso. Todo esse rigor do revisor só pode ser para justificar o seu ganha pão, será que ele achou assim tão absurdo alguém viver de poesia? Ou será mesmo que ele acha que eu poderia querer contratá-lo para revisar meus livretos?


Ele ainda se safou dizendo que só criticou pois viu que tinha ali algum valor, leu tudo, do primeiro ao último poema, mas será que foi só sadismo para me desconcertar ali ou será que não entendia tão bem assim de versificação mas somente de gramática pura?


Bom, pelo sim pelo não... Fica ai aberta a vaga de revisor de livreto de poesia do poeta sobre trilhos! Não quero mais passar vexame dentro dos vagões.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Passado, Presente e Perigo nos Trilhos.

Viver da poesia sobre os trilhos do trem me faz sentir como se eu voltasse no tempo, e refizesse os caminhos de meu próprio avô, pois ele durante as décadas de 40,50 e meados de 60 viveu e criou sua família como comerciante da Estrada de ferro Bahia Minas que partia de Arassuai (sim naquela época Arauçuai tinha até outra grafia!) e ia até Ponta de Areia na Bahia.


O Natalino pai, nascido em 25 de dezembro, alugava um vagão do trem que ficava estacionado próximo de sua venda em Alfredo graça que era a primeira parada após o trem partir de Arassuai. O Natalino Filho (meu pai que não era nascido no natal mas ganhou o nome por capricho de meu avô) me conta que ele com seus 7 anos brincava no armazém onde havia montanhas de grãos de feijão e de milho.


Meu avô carregava o vagão com milho, melancia, feijão, farinha de mandioca e demais produtos produzidos na região. No percurso do trem ia aos poucos esvaziando o vagão e enchendo-o novamente com tecidos, perfumes, ferramentas e outros tantos produtos que chegavam ao porto.


Mas isso mudou pois no ano seguinte ao golpe de 64 os militares assinaram um decreto desativando a Estrada de Ferro, sem a estrada não havia mais como escoar a produção da região e meu pai pegou em 66 o último trem para Araçuai onde minha avó se tornou gerente dos correios e meu avô fazendeiro.


Essas divagações me vieram quando vejo a insensibilidade do metrô que não se importa com a natureza do que se trata o livreto com o qual estou despertando os leitores. Eu acabo vendendo muito no metrô mas ali a venda de poesia não é uma atividade muito bem quista pelos seguranças.


Quando entro em um vagão tenho que tomar cuidado para ver se não tem um segurança a bordo, eles sempre me chateiam. Era o segundo vagão da noite, entrei e caminhei até o fundo dele quando reparei quase imperceptível um segurança, ele me notou. Esperei sentado no percurso até a próxima estação e quando fui trocar para o vagão de trás o nosso amigo veio me seguir. Aquela situação estava chata e eu tive que pensar rápido. Quando o apito do metrô soou para as portas se fecharem eu saltei do vagão. E a porta se fechou atrás de mim sem que desse tempo dele continuar atrás. A verdade é que me senti meio que num filme de ação e tive que resisitir a virar e dar tchauzinho para o homem de preto. Sentei na estação, tirei os óculos, vesti o agasalho longe das cameras de segurança e fiquei jogando no celular até o próximo metrô passar.


Ser poeta sobre trilhos, talvez o único poeta underground (literal) do rio, é um enorme prazer. Ver o sorriso no rosto alheio, os olhares encantados, a felicidade estampada vale os riscos. Ninguém pode me tirar esse prazer, principalmente quando sei que são milhões de leitores adormecidos que passam por ali todo dia, aos poucos eu vou conseguindo levar até eles. Oito mil livretos vendidos nesse processo que já dura seis meses. Mas a pergunta que me move é: você tem ideia do que pode uma mente que voltou a usar a sua imaginação?

terça-feira, 10 de julho de 2012

Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" faço versos e de quado em vez me arrisco na prosa.


Em tempos tão performáticos e midiáticos há espaço para um poeta que seja apenas poeta? Há espaço para quem apenas aprecia a arte da escrita, que gosta de observar a leitura silenciosa de seus versos? Que gosta do efeito de um poema que ao terminar de ser lido seja relido e lido novamente?


Eu, sinceramente achava que não, acreditava que jamais faria sucesso como poeta por não saber e nem querer, cantar, recitar, declamar ou mesmo sapatear com meus versos. Tá, eu confesso, era uma mistura de timidez com falta de jeito para as demais artes. Porém o que é dificuldade e barreira também é o estimulo para a invenção.


O Poeta sobre Trilhos surge como um personagem capaz de levar a poesia para um público amplo sem depender do suporte de outras artes como a retórica, a música ou as artes cênicas. A poesia, somente a poesia em papel e tinta se basta na tarefa de levar o prazer de si mesma para os leitores.


Nada de declamação, nada de piruetas ou acordes de violão. Dentro de cada vagão levo apenas meus livretos de poemas. Oito páginas com minha poesia bem diagramada e com letras grandes para que todos possam ler, mesmo aqueles que já estão com os braços curtos e esqueceram os óculos em casa.


Sei que é lindo ter uma platéia cantando junto suas músicas ou gargalhando em sincronia com sua atuação. Mas sou eu muito feliz de poder ver a sinfonia silenciosa das expressões de meus leitores dentro dos vagões.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Relembrando a mudança de endereço....

Com o Lançamento do meu livro: Sobre Máscaras e Espelhos

Meu site mudou de endereço, continue acompanhado meus versos, pensamentos em: www.srpersonna.com.br

Poeta Sobre Trilhos em: Poesia sabor canela!

Um chiclet de canela por um livreto de poesia me parece uma troca surreal. Mas muitos dizem que é surreal viver de poesia hoje em dia. E é isso que eu venho fazendo há um ano e meio na cidade do Rio de Janeiro.


Como assim um chiclet de canela por um livreto de poesia? Me perguntam embasbacados. Talvez por não saberem o que eu faço do meu dia a dia isso torna-se mais impossível. Porém eu reconto, eu vendo poesia dentro dos vagões do metrô e do trem da capital fluminense (aprendi a pouco tempo que carioca é só quem nasce na cidade e o natural do estado é o fluminense!).


Distribuo dentro de cada vagão cerca de 30 livretos e espero a reação dos leitores. É sempre fascinante ver como cada pessoa reage ao ler poesia depois de muito tempo e até mesmo pela primeira vez. Tem quem folheie desinteressado e depois largue pra lá, quem devore tudo com avidez e vontade, quem lê esquece do mundo ao redor, enfim gente de todo tipo com reações de todo tipo!


Mas voltando ao chiclet de canela, tinha uma linda menina de cabelos loiros lisos, aparelho nos dentes e não mais de treze anos que estava com a mãe dentro de um vagão. Ela lia com muita avidez que eu pensei até que ela nem se lembraria de me pagar ou devolver o livreto.


Eu estava enganado porém antes de ir abordá-la recolhi e vendi os livretos que restavam no vagão e fui lá preparado para pedir de volta o livreto. Minha surpresa foi quando ela me disse que não tinha dinheiro pois gastara complando um pacote de trident de canela. Olhou pro trident e me perguntou se eu aceitava o chiclet em troca do livreto.


Eu só ri surpreendido e feliz. O escambo é algo maravilhoso, a troca de um objeto por outro é melhor e mais mágico que a troca por dinheiro. Ela trocou algo que dava prazer a ela por algo que estava lhe dando, talvez, ainda mais prazer! Não estava trocando um prazer de fato pelo prazer potencial do dinheiro, era algo tangível e completo.


Eu assim nunca fui o maior fã de chiclet de canela mas desse dia em diante ele me surgiu como um sabor fantástico, um sabor de lembrança e de sonho. O de saber que uma doce menina no auge dos seus treze anos se encantou por meus versos.


E como eu sempre digo, minha vida não dá um livro porque é inverossímil demais. Estou escrevendo esse relato que procrastino há duas semanas justamente porque voltei a encontrá-la. Saindo da estação Afonso Pena lá estava ela, sorrindo pra mim e perguntando se tinha poesia. Eu não reconheci na hora, mas quando ela sacou o envelope de chicletes...

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Coração

Eis meu primeiro poema de fato concretista vindo da oficina Fora da Area

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Homem de Preto disse sim pra poesia

As coisas estão mudando ou estou tendo mais sorte que o costume. Um homem de preto leu meu poema em voz alta no vagão! Sim, parece surreal depois de tantas desventuras e problemas mas aconteceu.


Foi mais ou menos assim, estava eu lá na estação de Gal. Osório, parada final, distribuindo meus livretos quando entraram dois funcionários do metrô que pelo uniforme eu sabia que se tratavam de caixas e por isso nunca se incomodavam em ler meus versos, muito antes pelo contrário.


Entreguei meus livretos para ambos e terminei de preencher o vagão com poesia e me sentei foi quando ele, o homem de preto, entrou e na hora eu praguejei pois perderia todos aqueles livretos por causa da encrenca. Sem muita surpresa ele foi conversar com os dois outros funcionários, com apreensão eu o vi pegando o livreto e com absoluta surpresa o vi lendo e ainda por cima lendo em voz alta.


Vendo aquilo fiquei totalmente sem reação, meio ainda sem entender fui desconfiadamente recolhendo os livretos. Eu conversei com um casal universitário que adorou o projeto despertando leitores e lá eu me demorei na conversa para me acalmar um pouco.


De uma ponta a outra recolhi vagarosamente de cada um dos presentes até chegar naquele confronto inevitável que para não abusar da sorte eu esperei chegar na estação de Botafogo para na troca de vagão simplesmente anunciar aos dois caixas que os livretos eram presentes.


Pude ver que o segurança riu de meu medo e desconfiança, mas gato escaldado tem medo de água fria. Depois de tantas desventuras com os homens de preto já tava de bom tamanho que meus versos foram bem aceitos e degustados com prazer.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Canto ao Guerreiro

Lucas C. Lisboa

Sangrando o ar com sua espada
o cavaleiro sustenta
sozinho pela lembrança
dos beijos da bela amada

Não baixa nunca sua guarda
em uma luta sangrenta
contra as sombras dessa herança
que lhe ergue e lhe mata

É guerreiro bravo e forte
algoz dos vermelhos dragões
e também de homens e feras

Rei no sul vilão no norte
herói na costa e sertões
será lembrado por eras!

domingo, 6 de maio de 2012

Maternidade

Lucas C. Lisboa

Eu por ter nascido homem
nunca soube nada sobre
o que é ser mulher
ou conceber um filho

Porém como poeta
Eu sei bem como é
quando o verso solto
fecunda minha mente

E cresce até se tornar
pequena e timida estrofe
depois ganhar corpo
e também ganhar forma

Orgulha-me se vira um poema
daqueles, garboso e forte
e cheio de melodia que conquista
um outro coração incauto

Despertando outro poeta
semeando dentro dele
um outro verso
de pura inspiração

Que crescerá noutro
papel de pauta marcada
para uma outra alma
lê-lo e espalhar por ai

Não sei se é um sentimento
sequer próximo ou parecido
o dom de criar no papel
e a benção de dar a vida

Mas já me contento
se meus versos gestados
embalarem uma canção
de ninar de uma Mãe

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Café com leite

Lucas C. Lisboa

O negro de forma bela
e cheio de melanina
com esse seu olhar mela
a nina de uma menina

De pele branquinha ela
se faz tão doce e felina
que arrepia toda aquela
nuca atrás da trança fina

Sim, negro garboso e afro
de cabelos de tantas tranças
seduz os olhos da gringa

Ela se sonha no sarrafo
dele enquanto dança
dura seguindo sua ginga

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Mudança de endereço!

Com o Lançamento do meu livro: Sobre Máscaras e Espelhos

Meu site mudou de endereço, continue acompanhado meus versos, pensamentos em: www.srpersonna.com.br

sábado, 21 de abril de 2012

O Pivete e o Homem, exercícios do papel de macho.

Caminhávamos ali pela mem de sá antes de chegar aos arcos da lapa quando chegou um menino de pequeno de menos de 12 anos e olhou no fundo dos olhos dela e puxou sua correntinha de ouro do pescoço e saiu correndo.


Eu não pensei duas vezes e corri atrás do moleque, ele tentou se enfiar no meio da multidão mas antes disso eu o peguei e ele caiu no chão. Gritei com ele perguntando cadê a corrente até que ele desesperado, sim o olhar dele tinha muito medo, me falou que tava no chão e apontou.


Ainda fora de mim levantei ele do chão com um movimento só e as pessoas ao redor já se agitavam querendo que eu chamasse a polícia. Nesse momento eu só via o olhar de pânico do garoto e soltei ele. Quando falaram em polícia eu fiquei morrendo de medo do que eles poderiam fazer com aquele menino.


Deixei aquele lugar meio atabalhoado, uma moça até chegou próximo da gente perguntando se a gente não ia mesmo chamar a polícia e um cara veio mostrando uma outra correntinha perguntando se também era nossa. Negando a ambos atravessamos os arcos da lapa finalmente. As ruas estavam cheias de gente mas eu não via ninguém. Minha cabeça estava um caos, fervilhando de pensamentos e meu peito de sentimentos contraditórios.


Depois que a adrenalina se diluiu em meio ao meu sangue me senti duplamente mal por tudo isso. Primeiro por ter causado todo esse horror no moleque que é uma criança e depois por ter obedecido a todo o adestramento social que faz do homem esse animal, o sexo masculino é ensinado, desde criança, a ser uma espécie de cão de guarda.


Fiquei imaginando as merdas que aqueles policiais poderiam fazer com aquele menino que sequer tem idade para ter discernimento de algo. E também imaginando o que eu poderia ter feito se não tivesse visto aqueles olhos dele em pânico. O pior é que por mais bestial que tivesse sido meu ato, ele seria apoiado por todos ao redor, teriam visto e dito que o "ladrãozinho" mereceu. Como é que uma criança dessas poderia ter merecido algo assim? Só aqueles olhos, só aquele medo que dava para sentir o cheiro já foi muito além da conta que ele merecia.


Dentro da van indo para casa tive ódio de mim mesmo, por ter feito exatamente como fui adestrado pela sociedade a fazer. A proteger meu território, a responder imediata e com violência ao ato. Não pensei, só agi como fui condicionado a agir. Nós homens somos criados para agir com essa violência desmedida desde o início, em jogos competitivos, em brincadeiras com espadas.


Essa "educação" fez acontecer esssa pequena corrida ao pivete mas também faz acontecer todos os dias os socos no olho porque o cara mexeu com sua mulher, as facadas no ventre por que o cara lhe olhou torto e muitos e muitos óbitos que só acontecem porque nossa sociedade adestra os homens para serem cães de guarda prontos e preparados para atacar ao menor sinal de ameaça ao seu território.


Ela ficou feliz por ter de volta a corrente que tinha um pingente de sua avó, me agradeceu por isso. Me fez algum elogio pela minha "coragem". Sim, como bom macho alfa eu mostrei minha força para defender a fêmea que estava comigo. Que revolução sexual, que igualdade de gêneros há nisso? Até quando vamos criar nossos filhos nesses dois papéis rigidos e opressores? Isso tudo me fez chorar dentro daquela van, já sem adrenalina, pois ao invés de ficar mais calmo todos esses pensamentos me deixaram ainda mais atordoado.


A violência fisica é uma escola que botamos nossos filhos machos desde seus primeiros anos de vida. Foi por essa escola que era eu homem correndo atrás de um aprendiz de homem.  É a mesma escola que o empurrou para cometer esses delitos e também leva sua irmã a se prostituir. Foi por essa escola que 70% das mortes violentas são de homens. É nessa escola de violência que se baseia nossa sociedade que ainda oprime as mulheres e massacra os homens.


Aquela correntinha arrancada, com o pingente da avó. Me fez ver como ainda sou de certo modo um cão de guarda protegendo a coleira. Defendendo com unhas e dentes uma sociedade opressora, uma animalização do homem terrivelmente intensa. Um cão de guarda e só.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Analise literária do poema: Também já fui Brasileiro de Carlos Drummond de Andrade


Lucas C. Lisboa

Eu também já fui brasileiro 
moreno como vocês. 
Ponteei viola, guiei forde 
e aprendi na mesa dos bares 
que o nacionalismo é uma virtude. 
Mas há uma hora em que os bares se fecham 
e todas as virtudes se negam.


Nos dois primeiros versos do poema o poeta mostra seus laços com a brasilidade da missigenação que Gilberto Freyer tanto exalta em casa Grande e Senzala. O verso "moreno como vocês" uma redondilha menor enlaça o ritmo típico dos cantores populares e anuncia a entrada do próximo onde se aproxima ainda mais do brasileiro típico tocador de viola e em seguida recusa a grafia da marca americana "Ford" para pronunciá-la em sua forma abrasileirada "forde. 

Em um clima de viola e fala popular entra em cena a mesa de bar, espaço que é praticamente a maior escola dos trópicos, onde todos os problemas são resolvidos com souluções geniais e simples. É o espaço natural dos poetas, artistas e cantores, aqui no brasil nada de cafés para se estabelecer o diálogo com o belo ou a verdade. No Bar brasileiro, surge um mundo de fantasia um mundo onde o poeta diz que aprendeu que o nacionalismo é uma virtude. Mas essa virtude, critica, se acaba pois a fantasia tem hora para acabar quando o garçom recolhe as mesas.

Eu também já fui poeta. 
Bastava olhar para mulher, 
pensava logo nas estrelas 
e outros substantivos celestes. 
Mas eram tantas, o céu tamanho, 
minha poesia perturbou-se.

Nessa segunda estrofe o poeta se distancia das escolas anteriores tratando-as como meras repetidoras de romantismos feitos, metáforas vazias sobre astros celestes. Entre a infinitude do céu e a vagueza do desgaste o poeta sente que não faz mais sentido trabalhar, expressar seus anseios e galanteios nos termos do passado pois já não possuem mais o mesmo peso ou força encantatória. Uma poesia pertubada exige novas musas, novas palavras e poeta recusa o passado em prol do novo ainda a construir.

Eu/ tam/bém/ já/ ti/ve/ meu/ ritmo. - 8 silabas
Fa/zi/a i/sso, di/zi/a a/quilo. - 8 silabas
E/ meus/ a/mi/gos/ me/ que/riam, - 8 silabas
meus/ i/ni/mi/gos/ me o/di/avam. - 8 silabas
Eu/ i/rô/ni/co/ des/li/zava - 8 silabas
sa/tis/fei/to/ de/ ter/ meu/ ritmo. - 8 silabas
Mas/ a/ca/bei/ con/fun/din/do/ tudo. - 9 silabas
Ho/je/ não/ des/li/zo/ mais/ não, - 8 silabas
não/ sou/ i/rô/ni/co mais/ não, - 8 silabas
não/ te/nho/ ri/t/mo/ mais/ não. - 8 silabas

Contrariando a expectativa dos versos livres das estrofes anteriores o poeta ao anunciar que já teve seu ritmo começa a versejar em versos octossílabos. Tal estrutura ritmica não foi das mais populares na poesia dos séculos anteriores quando comparada aos versos em redondilha, decassílabos ou alexandrinos. Porém possui sim sua própria melodia e ritmo bem marcados.

O poeta narra seu próprio fazer poético como provocante, causador de desejos e aversões por sua habilidade poética mas num verso "Mas/ a/ca/bei/ con/fun/din/do/ tudo."  ele perde inclusive o ritmo cunhado nos versos anteriores ao fazê-lo um eneassílabo. Justamente onde o eu lírico diz ter "confundindo tudo" o poeta imprime ali um ritmo diferente o que demonstra imediatamente o caráter ambíguo da crítica aos poetas escrevedores de poemas sobre estrelas e suas técnicas pois aqui Drummond faz seu uso para imprimir uma força rítmica que dialoga e acentua o conteúdo do próprio poema.  Nos versos seguintes o poeta retorna aos versos octossílabos e conclui o poema tão carregado de ironia e negação que fica difícil acreditar que ele não seja mais irônico ou dotado de ritmo.

Todo o poema é uma contradição, forte patente e criativa. O poeta renega a cada verso aquilo que mais substancialmente é: brasileiro e poeta. Ao dizer que não é aquilo que é de fato ele pretende se distanciar de certas posturas que lhe causam aversão entre brasileiros e poetas. 

terça-feira, 27 de março de 2012

Tortura Poética

Lucas C. Lisboa

nunca teve de verdade,
Ela cândida e concreta,
qualquer pudor ou vaidade
pra por na linha o poeta

entre os trilhos da cidade
Ela amarrou o poeta
com requinte e crueldade
para sua morte certa

declamaria-lhe Drummond
até encher seus ouvidos
com filosofia barata

causaria-lhe o meio tom
dos versos mais repetidos
de Quintana até Bilac

terça-feira, 13 de março de 2012

Bêbado na Praça da Liberdade

Lucas C. Lisboa

Mas me diga seu Sabino
Porque é que não me responde
Não curte meu desatino
ou porque você é de bronze?

domingo, 11 de março de 2012

Autobiográfico


Lucas C. Lisboa

Eu mordo como quem beija
acaricio com meus dentes
na justa medida que almeja
a pele nua com seus frêmites

Meu amor é limpo e imundo
lhe faço puta e menina
misturo mimo e maltrato
num ciclo que não termina

Eu fodo como quem transa
com prazeres indigentes
no meu gozo que esbanja
mil perversões indecentes

Meu labor é vagabundo
poeta por vocação e sina
mas de livreto barato
que meus leitores fascina

Protesto como quem cala
o cântico de um santo
numa melodia que embala
da criança o doce pranto

Eu degusto como trago
qualquer vinho antes da ceia
para limpar todo o amargo
que a embriagez semeia

Poeto como quem fala
a prosa de riso pronto
mas que "sem querer" abala
seja o sábio ou o tonto

Eu escrevo como apago
a frase de amor na areia
e caminho a passo largo
para cair em sua teia

sexta-feira, 9 de março de 2012

Greed


Greed

I go so far
in the dark earth
But this car
gives me a scar
in my hearth

I go so fast
but it isn't the best
I need more
like a hungry beast
on a departure store

I go by last
on a weel of life
my beautiful scar
is a fools bribe
one coin, third side!


Ganância

Eu fui tão longe
nessa Terra negra
Pois esse carro
me deu uma cicatriz
em meu coração

Eu fui tão rápido
mas não fui o melhor
Eu preciso de mais
como uma besta faminta
numa loja de departamentos

Eu fui o último
na roda da vida
minha bela cicatriz
é barganha de tolos
uma moeda, três lados!

terça-feira, 6 de março de 2012

Amor de Carnaval


Lucas C. Lisboa

Pelas minhas ricas rimas
e pelos meus velhos prantos
as moças mais femininas
se perdem nos meus encantos

Nas minhas mentiras finas
rezam por todos os santos
pra ser verdades ferinas
o sonho de embalos tantos

Faço da sombra seu par
pra doce moça a sonhar
mais que pode ou deseja

Fato o mal sempre se arranja
pois fodo como quem transa
e mordo como quem beija

segunda-feira, 5 de março de 2012

Yakissoba

Lucas C. Lisboa

carne, frango, carne, frango
e na Sexta Camarão
do China comia o rango
crente que era do Japão

Lançamento do Livro Sobre Máscaras e Espelhos em Belo Horizonte

Data: 21 de março de 2012
Hora: 18 horas
Local: Biblioteca Estadual Luiz de Bessa
Endereço: Praça da Liberdade n°21


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

deus-menino


Lucas C. Lisboa

pois tenho que me gabar
do meu eu e de vocês
que formam um belo par
de meia-noite às seis

quero mesmo é surrupiar
rainha na folia de reis
e depois sodomizar
uma freira outra vez

eu quero montar um cagado
desses de veloz corrida
numa dança de congado

ou na asa duma fedida
fada com o pé quebrado
numa tarde ensolarada

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Bilboquê

Lucas C. Lisboa

É na sua carne o meu fogo
embala o som tique e taque
da sua nova fantasia
e eu de mágico de araque

Nas mãos o brinquedo antigo
que me delira no fraque
num movimento que delicia
e me faz seu melhor claque

Sigo seu riso onde for
e me pergunto porquê
d'um perfume ser tão bom

Ela menina de flor
brinca com seu bilboquê
no Carnaval do Leblon