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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sábado, 9 de julho de 2016

Bilhete

cresceu assim devagarinho
em meu quarto cento e sete
o desejo de seu carinho
que mais e mais se repete

Cárcere

À camisa de força eu saúdo
que me segura do malfeito pronto
do desatino em forma e conteúdo
riso e choro alternados em seu tanto

Eu tenho cá comigo um mal profundo
que não se cura com reza nem canto
sou, em suma, sujeito mais imundo
que jamais pisou em qualquer recanto

Eu queria meu fim finalmente
mas tenho apenas muros que me cercam
cuidadores amáveis que torturam

Trancado, louco ou demente
Dopado, rijo, frio que me secam
então  morro com que os outros se curam

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Sanatório


São vinte horas, é troca de turno
e a enfermeira Bela, seu jaleco
despe enquanto no quarto soturno
ele lhe tira mais c'o intelecto

Nua na cama tem um sonho noturno
do poeta que lhe queima e molha o nexo
e lhe leva de Vênus a Saturno
entre dor e gemido no mesmo eco

Com seu nome aos lábios assustada
acorda como se um beijo profundo
houvessem lhe roubado essa noite

Mas o beijo veio por Morgana a fada
que compadeceu do poeta imundo
de coração bom entre um e outro açoite

domingo, 3 de julho de 2016

Instante vermelho

Na foto do  Sol
Aninhado nas montanhas
Nasce ou se põe?

Sextilha para FLIP

Pois queria eu estar em  Paraty
mas demasiado cedo é para mim
ir onde as pedras lembram-me de ti
dos dias felizes que agora,  enfim,
me doem por ser verão  curto no inverno
que  hoje aqui me abraça como eterno

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Ressaca de mar

Eu tento tento
e depois tento
uma vez mais
guardo meus ais

Então lamento
o meu rebento
morto sem paz
navio sem cais

Eu nunca soube
me dar um fim
como um presente

Ou que me roube
meu camarim
de peça ausente

domingo, 26 de junho de 2016

"Belo!"

O espelho concorda
Terno de madeira
Gravata de corda

sábado, 25 de junho de 2016

Virtuosismo

Eu sou tão viciado nisso
que mesmo no nosso chat
meu rimar eu não enguiço
numa salada de abacate

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Adeus ,

como quem pede socorro
mas é por muito orgulhoso
de pedir um gesto morno
pra paz d'eu desventuroso

como quem diz num sussurro
do amor que grita estrondoso
em seu coração escuro
que teme seu próprio gozo

meu pé esquerdo ainda dói
pelo pulo da janela
do meu quarto num domingo

tanta culpa me corrói
pela lambança e esparrela
que fiz com tudo que sinto

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Biográfico trinta

Sou, eu, verme inconformado
contrafeito querubim
d'arco e flecha despojado
maçã de gosto ruim

Mão perna e pé aprisionado
sob a pena de Aladim
de querer certo e errado
pelo não é pelo sim

Meu peito despedaçado
sem pó de pirim pim pim
tecido grosso rasgado
costurado com cetim

Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Trova quarenta e cinco para meia noite

Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Iminente

Então você anima
Fazer poema-repente
Um gole por rima
de fina aguardente

Não se subestima
a língua vidente
Que se desatina
no verso excelente

Vamos num clima
pra lá de excelente
Que não subestima
esse desejo latente

Parte masculina
que jaz eloquente
Parte feminina
faminta, saliente

terça-feira, 7 de junho de 2016

Quarenta e sete minutos

Pro inferno do mais baixo dos círculos
é o ponto exato que eu iria se nisso
eu de fato pudesse crer tranqüilo
sem chance de galhofas ou mil risos

Tranço e destranço as cordas do suicídio
como quem reza as contas de seu terço
que é, até pra ele, macabro e bem ridículo
e cada nó me vale um pé de verso

Pois não vou me orgulhar de ser ateu
você que tem um deus é mais astuto
tem um ser imaginário pra brincar

O que vai me esperar é só um breu
Em um nada tão calmo, absoluto
que da música não posso reclamar

domingo, 5 de junho de 2016

Sinto

"Meus amigos, Amigos, quem serão?"
segurando firme na alça do caixão
cada um vai segurando do seu jeito
conforme dói a culpa do seu peito

"Meus amigos, Amigos, pronde vão?"
bebê-lo tristes pois fomos em vão
cada qual tem nas lágrimas ao leito
seu conforto cruel e contrafeito

Que vai na paz das pás de terra fria
descem, caem, escorrem tantas lágrimas
bem guardadas da chuva e seu clichê

Mas as nuvens são hoje fugidias
com Sol e Rouxinol na mesma lama
e na aba do caixão gruda o chiclete

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Fortuna

Tudo que brilha é sagrado
olhe meus olhos brilhantes
Tudo que fez é passado
mil lábios são o bastante?

Nem carinho nem cuidado
são segundos prum instante
Nem vinho nem destilado
calariam esse amante

Por gosto faço-me torto
de toda sorte me livro
troco verso por concreto

Nem sei se quero teu corpo
e menos quero teu crivo
não, não sou o que deu certo