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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

M

Minha moça masoquista
sua perversão me conquista
como pode ter prazer
com tal tão  estranho  querer

Sequer preciso que insista
maltratar-lhe tá  na  lista
do que gosto de fazer
pra mais e mais  perverter

Essa sanha louca sua
de sentir a dor  profana
que enfim posso lhe  causar

num rasgo deixar-lhe nua
para toda minha  gana
de bem  lhe  chicotear

sábado, 10 de setembro de 2016

Sorria às onze

eu sei  que sente saudades
das piadas de minha boca
sei que tem  as suas vontades
de matar sua sede louca

tenho essas calamidades
belas, sussurradas roucas
que renegam suas vaidades
e lhe dão as carnes poucas

dos amores não há razão
que chega lado a lado
com o peito apaixonado

moça que firme diz que não
mas que guarda meu  retrato
na parede  do  seu  quarto

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Bobagem


Eu queria poder gritar,
mas dizem que  não convém
Eu queria poder berrar,
mas não me vale um vintém

Não tenho peito de mar
sequer sei dizer amém
Não tenho olhos de ar
pelo tanto quanto além

Cabisbaixo quem procura
no bem claro o que perdeu
no mais que profundo breu

Não é poema, é loucura
reza forte dum ateu
que incrédulo se benzeu

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Oito da matina

A noite virada
garganta inflamada
sono vagabundo
boa noite pro mundo

segunda-feira, 25 de julho de 2016

delicado equilibrio

Há pobres com seus milhões
e ricos que vivem de esmola
doutores tendo lições
com sabidos sem escola

Há machos bem grandalhões
mostrando como rebola
E moças com mais culhões
que deixam homens na sola

Pois nessa vida nessa terra
veja  bem, nada parece
com o que  realmente se é

Quando acerta que  se erra
na clara luz que anoitece
na mais puro cabaré

sábado, 9 de julho de 2016

Bilhete

cresceu assim devagarinho
em meu quarto cento e sete
o desejo de seu carinho
que mais e mais se repete

Cárcere

À camisa de força eu saúdo
que me segura do malfeito pronto
do desatino em forma e conteúdo
riso e choro alternados em seu tanto

Eu tenho cá comigo um mal profundo
que não se cura com reza nem canto
sou, em suma, sujeito mais imundo
que jamais pisou em qualquer recanto

Eu queria meu fim finalmente
mas tenho apenas muros que me cercam
cuidadores amáveis que torturam

Trancado, louco ou demente
Dopado, rijo, frio que me secam
então  morro com que os outros se curam

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Sanatório


São vinte horas, é troca de turno
e a enfermeira Bela, seu jaleco
despe enquanto no quarto soturno
ele lhe tira mais c'o intelecto

Nua na cama tem um sonho noturno
do poeta que lhe queima e molha o nexo
e lhe leva de Vênus a Saturno
entre dor e gemido no mesmo eco

Com seu nome aos lábios assustada
acorda como se um beijo profundo
houvessem lhe roubado essa noite

Mas o beijo veio por Morgana a fada
que compadeceu do poeta imundo
de coração bom entre um e outro açoite

domingo, 3 de julho de 2016

Instante vermelho

Na foto do  Sol
Aninhado nas montanhas
Nasce ou se põe?

Sextilha para FLIP

Pois queria eu estar em  Paraty
mas demasiado cedo é para mim
ir onde as pedras lembram-me de ti
dos dias felizes que agora,  enfim,
me doem por ser verão  curto no inverno
que  hoje aqui me abraça como eterno

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Ressaca de mar

Eu tento tento
e depois tento
uma vez mais
guardo meus ais

Então lamento
o meu rebento
morto sem paz
navio sem cais

Eu nunca soube
me dar um fim
como um presente

Ou que me roube
meu camarim
de peça ausente

domingo, 26 de junho de 2016

"Belo!"

O espelho concorda
Terno de madeira
Gravata de corda

sábado, 25 de junho de 2016

Virtuosismo

Eu sou tão viciado nisso
que mesmo no nosso chat
meu rimar eu não enguiço
numa salada de abacate

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Adeus ,

como quem pede socorro
mas é por muito orgulhoso
de pedir um gesto morno
pra paz d'eu desventuroso

como quem diz num sussurro
do amor que grita estrondoso
em seu coração escuro
que teme seu próprio gozo

meu pé esquerdo ainda dói
pelo pulo da janela
do meu quarto num domingo

tanta culpa me corrói
pela lambança e esparrela
que fiz com tudo que sinto

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Biográfico trinta

Sou, eu, verme inconformado
contrafeito querubim
d'arco e flecha despojado
maçã de gosto ruim

Mão perna e pé aprisionado
sob a pena de Aladim
de querer certo e errado
pelo não é pelo sim

Meu peito despedaçado
sem pó de pirim pim pim
tecido grosso rasgado
costurado com cetim

Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim