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Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
domingo, 29 de abril de 2018
Mascate
e desafio os fios dos novelos
que desfio suspirando por seus pelos
pelo bigode na nuca arrepiada
meu deus, releva a relva emaranhada
nos castanhos cacheados dos cabelos
de meu amado amante que os conselhos
de mamãe sempre disse ser cilada
quando me leva leve num enlace
laça meus pulsos como que num passe
de mágica de charlatão fugaz
engana-me seu engodo glorioso
nossa relva, meu leito e o seu pouso
repousando-me o gozo do rapaz
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
Oração ao Senhor dos Passos
Senhor dos Passos, mestre caminheiro
lhe persigo no trilho de seus traços
Suas trilhas são inicio, fim e meio
dos meus desejos, prazeres, percalços
Sua troça, sua fala e até seu não dito
é guia de quem caminha por instinto
Grato ofereço minha voz, meu verbo,
meu verso, com dom de falar na rima
Eu lhe sou longe quando lhe sou perto
sou seu cantante de palavra fina
Não carrego, tambor, flauta ou lira
deixo o certo e o alvo pra sua mira
Senhor dos Passos, mestre caminheiro
que faça se perder quem no meu calço
cisma de pisar com seu devaneio
de injustiça, mentira e pés em falso
Senhor dos Cantos, sua música repito
com minha métrica faço meu grito
Eu lhe sirvo ventos, vozes e vaidades:
essas verdades co'ares de Mentira
e essas mentiras co'ares de Verdade
Pois sei que vira e mexe (ou mexe e vira)
caio na teia ou caio na trilha
na velha sina de minha família
Senhor dos Passos, mestre caminheiro
não me dê o destino me dê o laço
pra domar o cavalo sem rodeio
e ir de galope, trote ou no passo
do que eu posso fazer com meu afinco
com seu grato gosto de vinho tinto
Embriaga quem diz do que não sabe
quem desdenha e desmede sua mira
tonteia e descaminha até que acabe
a bonança de quem a pedra atira
achando que assim no santo se espelha
pois sou seu filho da estrada vermelha
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
Minha meretriz
Debaixo da colcha branca
Agarro suas coxas e ancas
Lhe fazendo meu delírio
me deleitando com teu martírio
Sua nadega não se espanta
quando minha mão lhe espanca
Com meu chicote lhe trilho
Marcas de vermelho brilho
Sua pele minha labuta
duma arte sádica e sacra
aos meus deuses pessoais
Não importa o quanto luta
com sua maestria de puta
É mia serva entre mil ais
sábado, 4 de novembro de 2017
Nos seus cabelos eu sou
És minha Sóror Safada:
Princesa do Pecado
És Tara Canonizada;
do desejo e desejado
És minha amante amada
c'o perverso costurado
na sua saia rodada,
no lençol desarrumado
És cabocla santificada
seu hábito desnudado
lhe veste desejada
plo poeta descuidado
És minha doce alucinada
no meu amor delirado
És minha sua tez marcada
no quarto banqueteado
És Santa és abençoada
Flora dum jardim encantado
Pois sou Fauno desta estrada
dentre campo fecundado
terça-feira, 17 de outubro de 2017
Para Bara
das setenta e sete
faces vejo todas
e nenhuma no'espelho
pois não se repete
caminho, toada
ou troça de fedelho
Rei, dama e valete
és sempre cilada
n'ouro do baralho
Trilheiro celeste
senhor das estradas
e de mil conselhos
Pois És Tu cabra da peste
Esú d'alma agraciada
de preto branco e vermelho
terça-feira, 5 de setembro de 2017
Savana tropical
Te quero seco no leito
Solo úmido contrafeito
Mão, folhagem e cipó
E meu canino sem dó
É selvagem meu jeito
Teus lábios, regato estreito
Meu soneto teu rondó
Meu cerrado teu igapó
Ariranha banha em ti
sua selva meu palacete
tu igarapé eu sucuri
Na cheia e seca tu ri
e também no repiquete
pois cauxi coça o xiri
segunda-feira, 14 de agosto de 2017
O Homem dos porquês
Por ser tão cheio de dúvidas, questionamentos, inseguranças e curiosidades ele abusava das interrogações exclamações mas era reticente aos pontos finais.
domingo, 13 de agosto de 2017
As onze da madrugada
você me trás o café
e eu lhe forneço leite
num preguiçoso deleite
Latifúndio
Cultivar os teus campos
Semear seus regatos
Germinar em suas linhas
E ver florescer o seu gozo
sexta-feira, 23 de junho de 2017
Bad request error
I don't belive in Jesus Script
I'm a bug in God's code
and I live in poor mode
in core, mother board and crypt
My life, Apocalypse
On the road, in ride
No guilty, no pride
the last day of eclipse
Lostest backup
Error four zero four
he doesn't exist
System in handicap
acess by back door
one way exit
sexta-feira, 16 de junho de 2017
quinta-feira, 15 de junho de 2017
Minha mona
riso tímido atrevido
sob um louro cacheado
lhe cai seu verde vestido
com um relance rosado
sábado, 10 de junho de 2017
Catarina
um arco-íris vermelho
vermelho felicidade
seu rosto e riso no espelho
nossas pernas na cidades
quinta-feira, 25 de maio de 2017
Meu dia
Eu dormi a tarde toda
como manda o figurino
quero mais é que se foda
minha insonia, desatino
Já não danço na roda
nem de pé fico pro hino
e sequer me dou mais corda
pra inda crer no meu destino
Eis misantropo e casmurro
meu fim trancado num quarto
aos livros, jogos e poemas.
Empacado, velho burro
sou de Dorian o retrato
pagando as minhas penas
segunda-feira, 3 de abril de 2017
Drink
nu no espelho, me vejo e a vista me trava
pele pálida, desespero e tristeza bela
sem poesia, sem amor, sem força, sem lavra
Era mais fácil na época duma Florbela
um bilhete duplo pra Verona bastava
e partia sem choro sem drama sem querela
culpa, remorso, tristeza, tudo às favas
São dois goles amargos prum sonho bom
desatino que persigo, pesquiso e não acho
esses tempos modernos são tão cuidadosos!
Já faz um ano, que não me troco meu tom
numa dúvida do porque não me despacho
pros braços noturnos tão amorosos!