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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sábado, 26 de junho de 2021

Dentre trilhas


André Cruz Moreno Siqueira
brilhante de alma tão farreira
que me convida pra tanta
festa que logo me desanda 

É minha avis rara, guerreira
o melhor vinho da videira
que me embriaga pois me canta
todo o fôlego da garganta

Lhe passeio no seu território
pois lhe conheço no ser homem
pruma fome que ninguém dome 

Eu lhe quero saber de tudo 
em cada saber mais profundo
de sua boca, de seus olhos

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Marina Mares de Morros

Bela Marina Araújo Teixeira
sigo, sedento e ávido na esteira
de suas palavras de seu véu
e pela sua voz inenarrável

Sua canção chega deixada a beira
do delírio duma verdadeira
musa, uma heroína de cordel
Riobaldo e Diadorim num tropel

Suas letras jurídicas me narram
entrelinhas de pura poesia
com melodia de voz e violão

São veredas e caminhos que esbarram 
na narrativa que me descaminha
o ritmo leve do meu coração

Galanteio

Pedro Henrique Ferrari Lessi Rabello
serão seus olhos, sua barba o meu novelo 
que desfio elogios que desafio o firmamento
e escrevo letras lindas a todo momento

Miro em sua voz, óculos e cabelos
e acerto sonhos lindos e sinceros
vagando em ti e em mim como se fosse vento
que varre em versejar e no proseamento

Lhe conto histórias, as mais felizes que tenho
ilustrando seu coração com meu engenho
e meus planos de alcançar o céu de sua boca

Porque seu núbio empenho é belo, sincero
que como bom espectador vejo e desvelo
um conto de princesas e rainha louca

A uma musa


A Debora Freire de Lima
é meu verso, minha rima
das letras é minha musa
que de tão perfeita abusa

Do meu sonho, minha estima
dos deuses uma obra prima
que nos meus olhos repousa
pois sua maravilha ousa

Ser mais brilhante que o sol
e bem mais bela que a lua
tão intensa quanto as marés

lhe sigo tal girassol
um nenúfar que flutua
pelas águas aos seus pés

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Oralidade e Escrita


A leitura silenciosa que estamos acostumados a fazer é um fenômeno recente para as artes literárias. Até o advento da imprensa a leitura era uma atividade que envolvia a fala. Poderia ser através de murmúrios que acompanhavam as linhas do texto ou como Platão que ,lia a plenos pulmões.  A oralidade tão marcante nos textos antigos também pode ser vista pela hegemonia dos versos em detrimento da prosa. 

O verso é por excelência oral, foi através da oralidade que surgiram as primeiras versões da Ilíada e da Odisseia. Foi pelo caráter mnemônico que os primeiros aedos registravam na memória os milhares de versos que compõe essas epopéias numa época em que a cultura helênica ainda era ágrafa. O papel da escrita começa como mero registro para só muito tempo depois adquirir um estilo próprio, o fluxo de pensamento, o ritmo de leitura através da concatenação de ideias é um fenômeno muito mais recente que o fluxo ritmico causado pelas sílabas poéticas, pela alternância de sílabas longas e breves do grego ou das sílabas átonas e tônicas do português. 

O período da hegemonia dos versos é também o período marcado pelas grandes epopéias. Além das gregas temos a romana "Eneida" e a suméria "Gilgamesh", ainda na antiguidade clássica. No medievo temos a inglesa "Beowulf" , a germânica " Parzival" e a consolidadora do idioma italiano "A Divina Comédia".  Com o advento do renascimento surgiram novas epopéias como "Os Lusíadas" e "Paraíso Perdido". 

Porém conforme o fluxo mental, a prosa e a leitura silenciosa avançam, suplantando o veros, o ritmo e leitura em voz alta, a Epopéia também cede espaço para novos gêneros textuais o Romance e a Novela são frutos diretos da imprensa, eram, originalmente, publicados de maneira seriada em jornais. Onde cada capítulo vinha na edição do periódico vindo após as páginas de notícias tal qual ocorre até hoje quando as novelas se intercalam com os jornais na televisão. 

O texto em prosa não é feito para ser lido em voz alta, seu fluxo mental não obedece o fôlego da oralidade. Se o cordel com suas redondilhas pode ser contado verso a verso pelo cantador ou o repentista pode improvisar toda uma história se segurando ritmicamente nas sete sílabas de seus versos o mesmo não pode ser feito ao ler Machado de Assis, José de Alencar ou Paulo Coelho. A prosa exige um fôlego que apenas a mente consegue acompanhar, a lingua, o pulmão e a boca operam numa outra lógica.  Porém apesar da hegemonia do fluxo mental imperar contemporaneamente e a poesia moderna abdicar do ritmo natural ou formal há casos onde autores subvertem a lógica da prosa silenciosa e resgatando a oralidade nos trazem uma nova poética, agora em prosa como podemos ver em Clarisse Lispector e, principalmente em Guimarães Rosa.  

Grande Sertão: Veredas é profundamente calcado na oralidade, no falar do sertão. Sua leitura silenciosa atropela nuances que apenas a oralidade é capaz de captar. É uma 'epopéia contemporânea" num mundo o silêncio da prosa tradicional é hegemônica. Resgata toda a cadência, todo o ritmo da versificação que mesmo os nomes mais aclamados da poesia fizeram um laborioso trabalho de se distanciar. 

A literatura oral, aquela mesma que Benjamin exalta em seu texto "O narrador" é o substrato mais profundo da comunicabilidade humana, é por ela que e transmite universos e realidades por gerações e como diria Marcuse: "a poesia torna possível o que já se tornou impossível na prosa da realidade. Pois é em versos que o homem diz das últimas e verdadeiras coisas."

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Road Trip

A história que conto agora
já até se foi sem ter sido
era segredo muito embora
por todos fosse sabido
menos pois pros dois viventes
que mais que muito se amavam 

Ela santa, ele vilão
tanta fome revelada
Barroca igreja, emoção
uma aventura ensaiada
e no carro o vidro enturva
pelos dois em pura bala

Era assim antes de outrora
o seu fogo ensandecido
que a boca sedenta chora
por onde é bem sabido
eis tão amados amantes
que na prosa planejavam:

"Belo Horizonte é visão
mas não terra destinada
das Minas Gerais sairão 
pela noite na calada 
numa lua que murmura
pra estrela vestindo gala"

Sem feito o plano embolora
mas do seu jeito sabido
ela é musa que colabora
c'o jeito desatinado
dele de amar tal ardente
fome que jamais amansam 

Road trip por todo sertão
uma viagem ousada
trinta horas na direção
ao lado da moça amada
os sonhos no porta-luvas
pois a estrada bem embala

E trocando a marcha rola
um carinho dele atrevido
ela compraz e lhe consola
os dedos num divertido
de dois corpos e uma mente
que do mesmo sopro aspiram

Cecília, seu coração
é guia e norteia em cada
quilômetro do estradão
mas a sua ritimada 
vem do gole de fanta uva
que a doçura lhes iguala

São vintage, na vitrola
do carro vem o alarido
de Caetano e cantarola
ela com mais um pedido
que gata pede somente
um Raul que jamais olvidam

Nas letras duma canção
pelas rodas pela estrada 
embalando na paixão
ao lado da moça amada
os dois nas retas, nas curvas,
desejos no porta-malas

A vontade descontrola
encosta o carro perdido
E os lábios dela devora
pelo convite atrevido
dela de assim sutilmente 
revelar o que ambos clamam

No cerrado, imensidão
tudo pois pruma picada
de aventura e de ilusão
que esperam lá na chegada
serão eles sol e chuva
duma voz que nunca cala

Vida dentro mundo fora
o carro desapressado
sem ter pra chegar sua hora
no tempo do delicado
deleite que tal corrente
seus sutis elos se selam

Cada serra e serração
e cada casa caiada
testemunham nesse chão
os amantes da cilada
embebidos na araruva
e segredos de cabala

Entre  um causo e uma história
o sol desce avermelhado
a paisagem rememora
o mundo dos exilados
seu contento descontente
é aquilo que mais esperam

Querem canjica e quentão
festa junina ensaiada
nas terras desse sertão
numa noite aluminada
pela fé na ciência pura
e na utopia que espalha

domingo, 6 de junho de 2021

Metapoética

Minha poética expande
pelo meu lirismo e pede
pra queimar esse baralho
de verso-livre-espantalho

Eu não sou Jack, não sou Gandhi
o meu modus operandi
conserta meu verso falho
metro e rima sem atalho

Corto frases, conto sílabas
retalho versos pra forma
que confirma a eufonia

E todo e qualquer escriba
que nunca se conforma
sou eu nessa poesia

sábado, 5 de junho de 2021

Confessionário

Nosso altar, nossa benesse
essas são noites tão frias
sem aquarela, sem prece
de suas mãos sobre as minhas 

Irmã minha que padece
cúmplice da mais vadia
vontade que nos aquece
e sonha todos os dias

Cecília, pelos seus olhos
eu me via bem melhor
do que sou, fui ou serei

Sim, sou eu de sonhos falhos
mas ainda sei de cor
os olhos que mais amei

quarta-feira, 26 de maio de 2021

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Sinfonia

seu sexo em si
meu sexo bem lá
um sexo tão só
num sexo que ar fá
mais sexo pra mi
seu sexo de ré
só sexo sem dó

sábado, 15 de maio de 2021

Eu não queria te dizer

Sou meu vendaval:
o meu pé de vento
serve de sustento
pruma flor astral

São rosas de vidro
que contra meu peito
quebram e me cortam
com amor e doçura

Gotas de meu sangue
mancham minha blusa
branca de algodão
que a fome recusa

Sexo na varanda
e macarronada
Beijos pra torcida
e fim da estrada

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Cachimbo D'água

Meu fumo, de levíssimas tragadas
um ato solitário, prazer
que atiça meu suavísssimo esquecer
de anéis de fumaça, bolhas d'água

Louvo as felicidades tão sagradas
da fumaça, dos pulmões, do meu ser
me entorpece, me atiça e faz viver
em tantos tragos nas cinzas apagadas

Seda, piteira e isqueiro par a páreo
e prontos pra dançar com meu veneno
nas médias medidas da escansão

Morros, montes, relevo solitário
da janela contemplo o belo extremo
Nuvens e prédios, uma só visão

segunda-feira, 26 de abril de 2021

excrementíssimo senhor

Das mentiras numa rede
sangue nas mãos e nas urnas
um copo de ódio sua sede
não mata mas rega as ruas

Justiça implora e lhe perde
as verdades das mais cruas
Telhado se fez parede
de vidro e regência nua

Casa de vidro é palácio
da milícia e da morte
que ceifa num só cardume

a vida que de tão frágil
esvai sem logro ou sorte
sob o mando dum estrume

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Aldravia 8

Eu
Sinto
Tanto
A
Sua
Falta

sábado, 3 de abril de 2021

Aldravia 7

Quanta
Quarentena!
Sozinho
Sem 
Minha
Morena