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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

terça-feira, 3 de junho de 2008

Minha Amada Princesa

Lucas C. Lisboa

Seria um crime dizer de sua beleza!
e seus gestos até as fadas encantam!
Nela tenho toda calma e certeza,
lhe contemplo e meus desejos vicejam...

Debaixo do dossel bela princesa,
com seu perfume meus medos se espantam!
Eu lutaria contra toda realeza
e contra todos os que lhe maldigam!

Minha amada sorri como se deita
tão lânguida e suave num suspiro...
é minha musa mais que perfeita!

A beira do seu leito lhe admiro
enquanto o corpo inteiro ela se enfeita,
fitando-me não vivo nem respiro!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O parnaso contra ataca II

Lucas C. Lisboa

Que se exploda o politicamente correto!
enfiar no papa um dedo no seu santo reto!
Já cansei do lirismo assim tão comedido,
que liberto não tem nada mais de atrevido!

Convenhamos que nada de errado ou certo...
há na vã poesia de tal falso liberto!
Nesse seu versejar velho e tão combalido,
falta d'algo mais velho pra ser revivido!

faça-me algum soneto...não és capaz?
versos seus tortos eu faço tão bem e assaz...
mais cuidadosamente sonoro e pungente!

Eu sei, sou dessa vil pretensão tão tamanha...
que sequer vai sonhar sua pequena e má sanha!
Pois acusa retrógrado? Sou exatamente!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O Parnaso contra ataca

Lucas C. Lisboa

Eu digo adeus à poesia de gaveta
com tantos dos seus versos tão disformes
Todo meu versejar não é gorjeta
Para que viva dentro dos conformes

Porque não há metro que lhes perverta
meus sentimentos vívidos e enormes
é natural que nas regras me verta
d'algum pensamento que encha ou entorne

Quero ver se tua tão vã liberdade
me provoca a menor saciedade
ou mesmo umas migalhas d'alegria

Diga-me pois onde está teu prazer
que ali também irei lhe perverter
pelo som da mais bela simetria

domingo, 18 de maio de 2008

Goticismo

Lucas C. Lisboa

Dulcíssima solidão
tão doce como um limão
que cultivo com carinho
no prazer de estar sozinho

terça-feira, 13 de maio de 2008

O Reinado

Lucas C. Lisboa

A perda do reino foi demais para o príncipe. Passava seus dias planejando como reorganizaria suas tropas leais, invadiria o castelo e derrubaria o usurpador de seu trono.

Tomava notas de todas as suas estratégias num pequeno caderno vermelho: cada movimento de seu exército que conseguisse reunir um destacamento inteiro ou senão uma tropa minguada.

Descreveu como se esconderiam nas montanhas escarpadas ao leste do palácio real, para depois descerem margeando o rio até os portões da cidade ou como atacariam durante a lua nova para que a escuridão lhes servisse de abrigo.

Escreveu também da honra e glória dos vencedores, todo o ouro e títulos que daria aqueles que se continuaram ao seu lado, mas, também descreveu nos pormenores da humilhante vergonha daqueles que derrotara com suas estratégias, inteligência e artimanhas.

Contou como tendo conquistado de volta o castelo; contou dos grandes bailes, onde as damas e cavalheiros do mais alto berço de todo o continente seriam convidadas, e dos festejos, enormes com banquetes de manadas e bandos inteiros abatidos para saciar a fome de todo o reino, em honra de sua vitória (comemorações que seriam repetidas, sempre à data da última batalha de reconquista, ano após ano) e então governou, no caderno vermelho, com justiça fazendo seu reino prosperar e crescer.

A intriga da corte lhe divertiria, jogando com as nobres damas e imponentes cavalheiros seus boatos, amores e influências. Mantendo-se sempre no poder com mão firme e gentil. Mas também seria ele protetor e financiador de poetas, músicos, escultures e pintores que lhe fariam enormes homenagens. Ele teria seu busto esculpido, pintado e descrito em todas as formas de artes.

Mas depois de alguns anos sentiria-se só e tomaria como sua rainha a princesa mais bela do Reino do Oriente e assim forjar uma nova e forte aliança que combateria os povos bárbaros que habitavam as terras ao sul.

Novamente se preparava para a guerra. Já não era mais tão novo para ir à frente de seu exército, mas agora contava com uma vasta experiência e muitos homens e recursos dispostos e leais à sua coroa.

Entre uma conquista e outra, sua rainha lhe daria herdeiros legítimos que seriam educados pelos melhores padres e cavalheiros de toda a corte. Bem versados nas letras, na fé e na espada, com o passar dos anos estariam lá ao seu lado para lhe auxiliar em suas batalhas e em seu governar.

Tão bons filhos que fariam, com sua sabedoria e força, com que o Reino se tornasse enfim um Império temido e respeitado até nas mais longínquas terras. Junto com eles ergueria um novo Palácio com a mais bela vista de todo o novo Império, construído para caber toda a sua grandeza, teria o melhor mármore vindo das terras onde o sol era mais vermelho, as tapeçarias importadas de todo os mares, salões onde mesmo gigantes se sentiriam confortáveis.

Mas ele saberia que os anos não lhe poupariam para sempre e, já idoso, entenderia que seu fim se aproximara passando então seus últimos meses garantindo que todas as conquistas de sua vida vitoriosa não se desfizessem em meio a intrigas e desavenças.

Seria no meio da primavera, sua estação favorita, que daria seu último suspiro e os funerais durariam até as portas do verão. Reis, príncipes, Xeiques, Aristocratas, Poetas e até a Santa Majestade prestariam sobre seu túmulo homenagens e honrarias, pois seria um homem de fé, um aliado valoroso e um inimigo terrível.

As histórias de seu reinado, suas batalhas e festejos jamais seriam esquecidos para sua glória.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Lições II

Lucas C. Lisboa

Saiba, por que nem tudo são espinhos...
há, sempre, ferrões nos seus bons caminhos!
Porque, afinal, nem tudo é tristeza,
sobra também muita fome e pobreza!

Aprenda: nem tudo são descaminhos
que também há os tantos vícios dos vinhos!
Porque nem tudo no mundo é impureza:
há sortida vilania e malvadeza!

Menina, são mazelas da virtude!
Tão próprias de quem somente o bem faz.

Disto de quem bebe à própria saúde...
Para gozar como melhor lhe apraz!

Dos que infligem tormentos amiúde!
Sem dar sequer um momento de paz!

domingo, 27 de abril de 2008

Alegria

Lucas C. Lisboa

Bom dia luz do dia!
Bom dia raio de sol!
Boníssimo dia...
minha cara mia!

Está assim feliz?
Não, é só lirismo.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Menino mau

Lucas C. Lisboa

Se metade disso fosse verdade...
e largue mão dessa porca vaidade!
Já que você não passa d'um cordeiro,
fingindo ser um ouriço-cacheiro!

Vista suas calças já chegou a idade...
não é nem capaz da menor maldade!
Tema vilania d'um cão perdigueiro,
que depois da sova volta cabreiro!

Sua mordida mais forte é só carinho...
tem na sua boca veneno inocente,
que nem sabe como acertar um bom bote!

Agora vá brincar com seu carrinho...
e deixe para quem sabe realmente,
usar uma lingua como chicote!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sonetilho


Lucas C. Lisboa

Quando o sol nascer do norte
e ninguém temer a morte...
Brindaremos às estrelas,
sem o medo de perdê-las!

O veneno fará forte,
no prazer de cada corte!
pintadas nas aquarelas,
feiúras tornadas belas...

serão sanhas revividas
pruma talentosa gralha
que compõe canções queridas!

São roseiras na muralha
de carnes apodrecidas!
(ou qualquer coisa que valha)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Fétidas Flores

Lucas C. Lisboa

Não são flores d'alma que presto:
são de sangue e carne, eu atesto.
Fazendo dos teus olhos vítimas,
das perversões minhas mais intimas!

Eu vomito verso indigesto,
o pior do lixo e do resto...
a seco engolido co'as lágrimas,
secreções, loucuras e lástimas!

Leitor pois não me leia incauto;
lhe pegarei em sobressalto...
em seu misto d'asco e desejo!

Sei q'estas palavras imundas,
atiçam vontades profundas...
que dentro de ti antevejo!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Conto de Fadas

Lucas C. Lisboa

Carrego uma flor entre os dentes
Para saltar a sua janela
de minha doce cinderela
presa na torre por correntes

Algemada fica tão bela
encanta sábios e videntes
aguça os desejos ardentes
coberta co'a cera de vela

Atiça as formas nada esquálidas
os meus ardorosos carinhos

Adorna-lhe as lágrimas cálidas
entre os seios a rosa de espinhos

Ela, rainha das minhas fadas
no calabouço do meu ninho

segunda-feira, 24 de março de 2008

Seriado

Lucas C. Lisboa

minha vida é reprisada
como na televisão
o canal não muda nada
é a mesma programação

quinta-feira, 20 de março de 2008

Enlace perfeito

Lucas C. Lisboa

Caros Augusto e Florbela
são meu par mais que perfeito
para os quais eu não aceito
qualquer que seja a querela

quarta-feira, 19 de março de 2008

O Ritmo

Lucas C. Lisboa

O ritmo é um dos elementos fundamentais para a eufonia (eu=verdadeiro/belo/certo, fonia=som) de um poema. Na poesia clássica o ritmo se "afina" a partir de duas características simples: o metro e a tonicidade.

O metro define de forma geral o tempo dos versos, é através dele que se têm os intervalos regulares de um poema, seria o ritmo geral que se mantém ao longo de todo o poema.

Entende-se por metro o número de sílabas fonéticas de um verso contadas até a última tônica. A sílaba poética (ou fonética) se distingue da sílaba gramatical por se basear não nas regras gramaticais, mas no som das palavras.

Cada sílaba poética corresponde a um som, por isso, ocorrem distinções da gramatical, podendo ocorrer o fenômeno da Elisão quando sílabas, gramaticalmente diferentes, se tornam um mesmo som ou o caso da separação de uma mesma sílaba gramatical em mais de uma sílaba poética por formar mais de um som distinto.

Já a regularidade tônica de um poema, que é definida pela alternância entre as tônicas e as átonas, define o ritmo específico do verso.

Na língua portuguesa o metro prepondera sobre a regularidade tônica. Servindo como auxiliar na hora de definir o poema como de ritmo ascendente (quando o verso começa com sílaba átona) ou descendente (quando o verso começa com silaba tônica).

Exemplo:

EU

Eu/sou_a/ pe/na/do/po/eta (7 silabas fônicas)

sou/um/tor/to_em/li/nha/reta (7 silabas fônicas)

Sou/chi/co/te/ do/ca/rrasco (7 silabas fônicas)

Sou/ pra/zer/ en/quan/to_um/asco (7 silabas fônicas)

No exemplo acima temos uma trova de metro heptassílabo, pode-se notar a contagem silábica até a última silaba tônica. No primeiro verso vemos tanto o caso da elisão em: “/sou_a/” e também um caso de separação de uma silaba gramatical em duas fonéticas em: “/ po/eta”.

Todos os versos são de tonalidade ascendente como se pode perceber pelo negrito que marca as tônicas.


sexta-feira, 7 de março de 2008

meu anjo

Lucas C. Lisboa

eu lhe escrevo este poema
com uma formosa pena
d'um cativo anjo arrancada
que jaz em minha morada

e não há culpa q'eu tema
nem tenho nenhuma pena
da sua asa delicada
pelos versos depenada

suas lágrimas são a tinta
que mancham o meu papel

Seu copioso pranto encanta
tal canto de menestrel

Sua tristeza faz q'eu sinta
um gostoso drink de fel

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Lições

Lucas C. Lisboa

Muito brincaram comigo,
até que aprendi a brincar...
Na vida se chicoteia
ou se deixa chicotear!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A Fama

Lucas C. Lisboa

Apareci no jornal
e não foi na policial!
Foi nota de rodapé...
mas era trova de pé!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Oportunismo

Lucas C. Lisboa

quando na sarjeta
se confunda com mendigo
e ganhe a gorjeta

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Eu

Lucas C. Lisboa

Eu sou a pena do poeta
sou um torto em linha reta
Sou chicote do carrasco
Sou prazer enquanto asco

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Homo imbobile


Lucas C. Lisboa

O velho inventor fascinou-se com aquele humano que se fazia de estátua, ninguém percebia quando levemente respirava. Um olhar mais atento até veria, de relance, o seu sorrateiro piscar de olhos.


Num estalo lhe viera a inspiração, e meses à fio trabalhou em seu mais novo projeto. Moldando-o à imagem e semelhança do homem. Tinha olhos verdes, uma leve barba por fazer, traços suaves e cabelos cacheados. Sua voz era aveludada como o melhor narrador de histórias infantis. Andava com graça e leveza.


Mas seu verdadeiro propósito era ali ficar como uma estátua, deixando de quando em quando parecer que respirava e piscar os olhos quando ninguém mais estivesse vendo. O velho passava oras à fio admirando o seu próprio homem-estátua.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ecos d'um palhaço trágico

Lucas C. Lisboa

Tudo que se esperava daquele palhaço suicida é que sua última gargalhada, depois do salto, ecoasse cada vez mais distante, até o retumbante soluço final.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A quanto tempo nao sentia,

O gosto do meu próprio sangue sangrando
calmamente a dor verdadeira esvaindo
Faz tempo, muito tempo...
Mas hoje preciso senti-lo,

Sentir que ainda estou vivo!
Sentir na pele o que me rasga por dentro.
Hoje é dia de sentir.
Sentir tudo que há de mais terrível.

Para que eu possa me esquecer
esquecer de mim mesmo.
Esquecer que existo.

Pois me venham as laminas, os ácidos,
velas, torturas e loucuras.

Se nada opera efeito,
operar-me-ei cada defeito.

Fatais, fatais vaticinios,
frutos desses meus desatinos,
de meus sonhos irrealizados,
de meus porões mal assombrados.

Cercado, por todos os lados...

Será defeito?
Talvez só tenha me restado
um único jeito...
De tornar-me perfeito.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Infância

Lucas C. Lisboa

Eu, pequeno garotinho
tão novo dizia poetar:
"cala boca cachorrinho,
deixa luquinhas passar!"

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

a barca estígia II

Lucas C. Lisboa

remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos restos desprezados
amargando prantos encarcerados

remam em seu rancor plo rio d'orrores
aprisionados pelas mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobr'eterno repouso dos finados

remam mortos, agora penitentes
sofrem por seus viveres indecentes

pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando plos vivos esquecidos

remam sofridos na barca da morte
praguejam por tamanha sua má sorte

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A Barca Estígia

Lucas C. Lisboa

remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos todos desprezados
amargando prantos encarcerados

rancorosos remam plo rio d'orrores
presos por arreios de mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobre o eterno repouso dos finados

morreram e agora remam penitentes
sofrem por seus viveres indecentes

pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando pros vivos esquecidos

remam sofridos na barca da morte
praguejam por sua tamanha má sorte

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Marionete de trapos coloridos II

Lucas C. Lisboa

Pois quando noto seu, de fel, sorriso
Eu me deleito nesse doce apreço...
e de tamanho prazer regojizo,
tanto que ao deleite até me esqueço.

Gargalho por ver este olhar nervoso,
aos pesadelos quando eu lhe apareço
a divertir-me no mais puro gozo
Nessas palavras-linhas lhe enlouqueço

Sem mim teus passos são vagos, perdidos.
Sozinha és sem encanto, faz só dormir.
Jogada em qualquer canto o pó cobrindo

Marionete de trapos coloridos,
és assim tão linda que me faz rir!
Pois agora me dance, estou assistindo...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Meu brinquedo II

Lucas C. Lisboa

Seu corpo, aroma e traços bem cuidados,
que nessas mãos se fazem maltratados.
Os seus gemidos tão deliciosos...
que aperto, ouvindo-os ardorosos!

Os seios dela são assim delicados,
que não deixo por menos abusados!
Seus lábios, ao felatio, voluptuosos...
que dou-lhe meus humores mais gostosos!

És minha mais perfeita Bonequinha!
foi feita especialmente para mim:
para meu uso, deleite, abuso e trato.

Oh, mas ela realmente é perfeitinha!
Co'ela em mãos me divirto horas sem fim!
Gozando ambos em cada ato e maltrato...

bem ditos

Lucas C. Lisboa

É lícito ao poeta
se apropriar do que foi dito.
por outro qualquer esteta
que não tem estima disto?

Singularidade

Lucas C. Lisboa

Sou um entre tantos
Entretanto sou mais um
Sou um, entretanto

terça-feira, 16 de outubro de 2007

boas novas num guardanapo

Lucas C. Lisboa

uma verdade selvagem
batendo na minha porta
chegada d'uma viagem
longa, escura, negra e torta

Confeitaria

Lucas C. Lisboa

Poesia formada
numa fornada de versos
mui bem metricada

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Cidade-lua

Lucas C. Lisboa

Menino engenhoso
Vendo pássaros e penas
Fez voar papel

Querendo tão mais:
as núvens todas tocar
era seu intento

De feitura sua
muito bem arrematada
com precisos laços

trabalho ardoroso
feito por noites centenas
colado com mel

Penhasco foi cais
pr'ele para os céus zarpar
ao sabor do vento

Chegou até a lua
Com a sua pipa dourada
maior que seus braços

Malfadado pouso
entre casas tão pequenas
na cidade do céu

Nos tortos beirais
Moradas a se amontoar
sem ordenamento

Caido numa rua
da cidadela aluada
sem de vida rastros

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Ternurinha

Lucas C. Lisboa

"Beijos meu querido?"
Gracias, mas você merece
é um tapa bem doído

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Uma felicidade para sempre

Lucas C. Lisboa

Foi com os primeiros raios d'aurora que Ela acordou, ainda deitada sobre o peito nú de seu amado. Todos os dias era assim, acordava ao seu lado e admirava-o perdidamente. E suspirava, pois finalmente o tinha ali, como um sonho.

Levantou-se sorrindo por saber que os dias tristes agora eram apenas parte do passado. Os obstáculos e inimigos de sua felicidade foram vencidos um a um. Dirigiu-se para a cozinha, como fazia todas as manhãs, e preparou o desejum de ambos com todo cuidado.

Torradas e um chá de ervas para acompanhas mas, açúcar não colocou e sim duas colheres de cianeto. Em uma bandeja, carregou as torradas e as duas xícaras de chá, para o leito que fora desde sempre o ninho dos enlaces.

Ela o despertou com um beijo delicado e sereno. Ele, após retribui-la sorriu complacente para sua amada, ajeitaram-se à cama e começaram o desejum. Provaram das torradas e juntos levaram as xícaras à boca e quase simultaneamente retorceram os rostos pelo amargo sabor e sorriram cúmplices.

Sem pressa. terminaram o café da manhã e se deixaram deitar novamente entre carícias, beijos e afagos até juntos adormecerem.

sábado, 1 de setembro de 2007

Resoluções

Lucas C. Lisboa

Muito tempo já perdi...
mas hoje me decidi;
se exploda o caráter ético!
Sou, por natureza, herético.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Era uma vez...

Lucas C. Lisboa

Apesar de tão nova a Felicidade foi a primeira a morrer, dormiu durante uma noite festiva e nunca mais despertou...

O Amor tornou-se taciturno, e obsessivo acabou por ir embora para viver como eremita. Algum tempo depois adoeceu pelo frio da montanha, mas, por seu orgulho lá ficou e se foi sem chamar quem pudesse dele cuidar.

A Sobriedade, que tanto brigava com o Amor, sentindo a saudade mais forte a cada dia que passava após seu exílio. Quando, depois de muito, soube de sua partida, a carência, que abateu sobre si, foi tão grande que cedeu, finalmente, aos constantes galanteios do Desejo e a ele se entregou totalmente, esquecendo-se de quem era... Não demorou e ambos desmedidos se foram após se deixarem cair em sucessivos excessos.

Mas, como nem tudo são males, logo após os primeiros enlaces, foi concebida a Esperança, que logo começou a ser mimada e conforme o enlace dos dois se tornava mais intenso os mimos aumentavam mais e mais. E quando eles se foram, sentiu-se desamparada e sozinha pondo-se, por ser tão nova, a chorar copiosamente.

Quem lhe escutou o choro, foi o malfadado Desespero que encantado se sentiu compadecido e chamando sua esposa, a Morte acolheram-na ao seio do lar.

Não eram, nenhum dos dois, muito afetuosos, o Desespero perdia o controle facilmente e acabava maltratando-a e a Morte já não tinha seu abraço de seda, desde que fora buscar o Amor. Mas a Esperança era uma criança que de muito pouco precisava e conseguiu sobreviver com as migalhas que recebia.

Os súditos de Nero

Virginia Moraes e Lucas C. Lisboa

O Pássaro não vai voar,
quer morrer onde nasceu.
O Grilo não irá saltar,
queimar junto o verde seu...

Tatu não vai pra toca:
não se esconderá da morte!
Hienas numa gargalhada:
juntas pela mesma sorte!

O Urubu foi logo embora:
a carniça já é carvão...
Canguru de bolsa cheia
pro filho quer salvação!

Leão, protetor da floresta,
quis salvar o seu reinado!
Fogo não era seu súdito!
Caiu na chama amargurado...

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Ensaio sobre o caráter estético do erro.

“Prazer de sentir o dedo,
no buraco da meia furada...
Surpresa em ter reparado,
na minha unha mal cortada!”

(Detalhes, Lucas C. Lisboa)

Uma reflexão a respeito da metafísica do nada em sua relação com o trabalho de estruturação de idéias expressas e seu poder de fascinação.

Durante uma aula de Antropologia Filosófica, meu professor, em sua explanação a respeito da metafísica e ontologia em sua evolução e diálogo entre Hegel, Shopenhauer, Nietzche e Heidegger, contou uma metáfora (em minha interpretação evidentemente):

A rede de pesca é composta tanto por suas linhas quanto por seus espaços vazios. Quando seus espaços vazios são grandes por demais (ou há uma falha em seu padrão) deixa vazar o pescado almejado.

Mas, se por outro lado, se não houver espaços vazios, não há braços que tenham força para trazê-la de volta ao barco e mesmo se houver, sem os espaços vazios, não há seleção do que é pescado, trazendo toda a sorte de coisas indistintamente: pedras, peixes, ostras, água...

Traçando um paralelo: O mesmo ocorre com uma estrutura de pensamento, obra literária, teses filosóficas e congêneres (que chamarei a partir de agora simplesmente de obra). Julgo que preencher todas as lacunas não é desejável e, creio eu, até mesmo impossível.

O não-dito é necessário e vital para sua efetividade e interpretatividade. O Poder de impacto de uma obra não está só em sua coerência e concisão, mas também em seus aspectos de prolixidade e contradição.

Não obstante, uma justa medida, entre o ordenamento e a imprecisão também não é algo a ser tão almejado assim. O que importa essencialmente ao dito é sua capacidade de pescar o interlocutor e fazê-lo pensar, digredir, em cada acerto, mas também em cada erro presente ali.

As congruências e validades de um texto decerto que permitem que se interesse por ele, mas, por não poucas vezes, são seus paradoxos e incongruências que causam o fascínio e a paixão por uma obra. E, sem sombra de dúvida, não é o mero interesse que faz alguém se debruçar sob uma obra para desvendá-la e sim a paixão despertada.

Meu brinquedo

Lucas C. Lisboa

Os seios dela são tão delicados...
Que devem ser muito bem maltratados!
Seus gemidos são tão deliciosos...
Que lhe aperto para ouvi-los ardorosos!

Rosto, coxas, dorso... tão bem cuidados,
Que não deixo senão abusados!
Seus lábios, ao felatio, voluptuosos...
Que dou-lhe meus humores mais gostosos!

És minha mais perfeita Bonequinha!
foi feita especialmente para mim:
para meu uso, deleite, abuso e trato.

Oh, mas ela é realmente perfeitinha!
Co'ela em mãos me divirto horas sem fim!
Gozando ambos de maltrato em maltrato...

Detalhes

Lucas C. Lisboa

Prazer de sentir o dedo,
no buraco da meia furada...
Surpresa em ter reparado,
na minha unha mal cortada!

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Poética

Lucas C. Lisboa

Todo dia travo uma luta sem fim;
co'as palavras e o que querem dizer:
pois seja o que elas dizem para mim...
pois seja o que elas dizem pra você!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Seres tristes

Lucas C.Lisboa

Seres tristes são estranhos
de sofreres tão pequenos
mas também d'outros tamanhos
desejando dias amenos

Tristes seres sem sonhos
tomam em dia seus venenos
seduzem os fáceis ganhos
almas vendidas por menos

Quem são estes tão banais
que choram por uma flor
que sorriem por suas tristezas

São ninguém, nada mais
Estão lá, seja onde for
Sem porquês e sem certezas

domingo, 19 de agosto de 2007

Sistema Integrado de Criação Poética.

Lucas C. Lisboa

Programa 1
Analisa a sintaxe de um texto separando cada palavra segundo sua variável podendo trocar indefinidademente entre elas.

Programa 2
Analisa o resultado do programa um sob o aspecto fonético, ritmico e harmônico de acordo a atingir uma determinada eufonia pré-estabelecida.

Programa 3
Organiza o texto para se encaixar em uma determinada contrução, métrico/poética.

Fase Final
Os três processos são realizados sucessivamente até se encontrar uma forma afinada aos três parâmetros.

Infamidade I

Lucas C. Lisboa

Assim como?
Como assim?
Comendo!

Dictionary

Lucas C. Lisboa

my pig is a pigmy
meu porco é um pigmeu

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Meu doloroso

Lucas C. Lisboa

Eu jurei: Ser dominada? Nunca! Jamais!
como eu lhe odeio, foi injusto demais!
disse e me lembro como seu riso resoou...
Ele, por um erro menor, me esbofetou!

Mas pior, seduziu-me a pedir por mais...
Sob seu jugo, sofri torturas abissais!
Com seu pulso o controle de mim conquistou;
e pela dor e subjugo por fim me adestrou.

Porque é Ele quem me corta, marca e perfura...
e quem me faz esquecer da dor mais que forte.

É Ele que no fim sempre me deixa confusa...
mas também quem me dá esse tão seguro norte.

A luz útlima da vida insossa e escura...
devo a Ele essa que é a mais desejada sorte.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

O Castigo

Lucas C. Lisboa

à Cruz de Santo André tensa se dirige:
de cabeça baixa, Submissa ao seu Destino...
por Transgredir a minha Norma que vige;
Antegoza e Arrepende de seu desatino!

Presa, o Chicote será sua punicão hoje,
a divertir-me tal brinquedo de menino!
Depois da centésima a contagem lhe foge;
mas gemidos, de Dor ou Prazer, não lastimo...

Gozo ao perceber seu corpo incandescente...
não só quente pelas Marcas e Vergões,
como também pelos orgasmos incontrolados.

Eu sei que de propósito foi Displicente:
pois à Força lhe faço implorar meus perdões
extraindo lamentos muito bem deliciados

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

das largas omoplatas, o mistério

Lucas C. Lisboa

Oh Malakós, Malakós!
que tomastes por almôndegas
as pedras avermelhadas...
grande glutão fostes vós!

sábado, 11 de agosto de 2007

Tédio

Lucas C. Lisboa

mas que mundo chato
que nem um carrapato
debaixo da porta

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Doce Garotinha

Lucas C. Lisboa

Ela está tão sozinha que
segura a faca pelo fio
mordendo uma raiva tamanha
machucando seu lábio macio

sobre o Amor Romântico

Lucas C. Lisboa

do alto do castelo
seu sorriso que é tão belo
se faz amarelo

domingo, 5 de agosto de 2007

Questão de fé

Lucas C. Lisboa

Ele, por anos à fio, pulou de religião em religião buscando a sua iluminação, acabou encontrando sua luz, como homem bomba, nas chamas da explosão.

do Homem

Lucas C. Lisboa

Covardia é sapiência
Nem sempre seguir em frente;
Coragem: pura demência
retroceder é prudente...

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Aconteceu

Lucas C. Lisboa

O conta-silabas depois de tanto tempo tecendo linhas e linhas de versos formou seu casulo de palavras, ritmo e rimas. E dentro dele ficou em sua metamorfose lendo livros, ouvindo vozes...

Até que um dia, sem mais nem menos, atinou que não importava quantas palavras lesse, em quanto o som lhe soasse bonito ou forte. Co'a mesma caneta que escreveu tantas linhas, ele, agora Poeta, riscou os versos que nada diziam e não os reescreveu.

Já era tempo de novidades, ousou (uma heresia talvez) e colocou verso ao lado de verso, trilhando, encadeados e continuos, não mais truncados um embaixo d'outro. Sentou-se novamente na mesma escrivaninha e pôs-se a escrever sua prosa.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Tentativa Frustrada

Lucas C. Lisboa

Quer tentar o que,
como ou mesmo pra que?
pergunto porque...

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Preâmbulo

Lucas C. Lisboa

O estudo da estética da obra o Capital de Marx se justifica, dentre um meandro de razões, quando se enfoca a sua relação com os estudos comparativos do estudo da estética da obra de Durkheim e o estudo da estética da obra de Weber. Sendo que o segundo, o estudo sob o enfoque estético das obra de Durkheim, serve, essencialmente de sustentáculo especulativo numa análise comparativa entre o primeiro, estudo estético da obra de Marx, e o último, o estudo estético da obra de Weber. Não obstante, temos no estudo desse último, o estético em Max Weber, uma análise profunda de sua interelação comparativa com o estudo das questões estéticas em Karl Marx, e a possibilidade de ponte com esse estudo na obra de Emile Durkheim.

Aos dezesseis anos

Lucas C. Lisboa

Um conselho meu irmão:
em filme que dá tesão,
não vá usar um calção
sem uma cueca não...

domingo, 24 de junho de 2007

Inominável

Lucas C. Lisboa

Qual beijo tem melhor ânsia?
Que mãos tem maior ganância?
Tanto faz o gosto e calor;
basta paladar, ardor.

terça-feira, 12 de junho de 2007

após

Lucas C. Lisboa

Aconteceu, porém o que há de se fazer?
para que, porque ou por onde passa?
num ato não há muito o que perder
além da típica e própria desgraça

Tantos desejos, para que se querer?
falhas e erros por tudo que se faça!
num segundo, inexistência do ser;
uma lágrima desce, o clamor passa.

ambíguo, indefinido e aberto
um vazio que sangra e evidência

Lúcido? Talvez estivesse certo
Viver nem sequer mais um dia

Não dou adeus pois nunca estive perto
mas, pelos deuses! como eu queria...

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Em versos

Lucas C. Lisboa

A prostituta poetisa em cada noite uma personagem encarnava: Nas de lua cheia era vinda das brumas de nome Morgana... N'outra nos seus devaneios e se fazia de Tróia Helena, se numa noite era nas areias do Egito a Cleopatra rainha. Por oras submissa tal domada Catarina... Mas, às vezes, com tantos homens aos seus pés, se sentia czarina. Mas só quando chegava em casa e co’a caneta e papel à mão já tinha podia, enfim, ser quem mais e sempre almejava: Florbela.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Com afeto

Lucas C. Lisboa

Toda languida, o beija com ternura,
tanta que, apaixonada, sequer
percebe que a faca, em suas mãos,
roça suave a pele do amado...

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Por um par de asas

Lucas C. Lisboa

Ela era sim delicada como uma nuvem e de uma gentileza inocente que mal nenhum jamais faria. Como se não bastasse encantava também aos olhos sendo, pois sim angelicalmente bela. Mas, por um incomodo que não sabia bem de onde vinha, sentiu que ela não era ainda tudo que poderia ser.

Era uma manhã bem fria, saiu cedo para comprar o que necessitaria para realizar o seu plano. Demorou-se um tanto, ainda tinha dúvidas... Pois resolvido estava que não o faria caso ela acordada já estivesse quando voltasse.

Mas não, quando voltou para casa, lá estava ela ainda ressonando num sonho talvez mais que puro... E deitada de bruços, exatamente como ele há tanto imaginava. Sem sombra de dúvida era um sinal.

Sentou-se ao seu lado e gentilmente lhe amarrou as mãos à cabeceira da cama. Afinal, ele não iria querer que ela se debatesse e assim, por desventura, se ferisse. Ela nem se moveu, apenas suspirou bem baixinho, também esperava por aquele dia.

Primeiro como preparo derramou conhaque sobre seu dorso e com todo cuidado massageou. Quando secou, pegou enfim o guarda-chuva que comprara e dele retirara duas hastes. Com todo cuidado introduziu uma em cada omoplata e costurou pena a pena até que as novas asas ficassem firmes e alinhadas.

Terminado sentiu-se satisfeito podia, finalmente, com propriedade e certeza, chamá-la de "Meu Anjo"... E ela sorria complacente.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Um jantar à luz de velas

Lucas C. Lisboa

Escarro, escarro viscoso
escorrendo pela taça
cheia de vinho saboroso...
Ela, amarrada, acha graça

Mas dos lábios dele o riso...
e ela sente sua desgraça
é um espécime impetuso,
escrava da melhor raça...

Ele, seguidor de Sade,
a marca com brasa rosa
por sua pele de brancura.

Ela o incitou à crueldade;
Pois serve a quem lhe usa e goza...
e em cada gesto o procura.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

No campo minado

Lucas C. Lisboa

Eu sou cavalheiro,
então, crianças e mulheres
devem ir primeiro

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Amor de Narciso

Lucas C. Lisboa

Quando você vir
será de joelho;
para me servir
e ser meu espelho.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Teogonia

Lucas C. Lisboa

Gente que de nada sabe
aos seus oráculos sobe
com o desejo perverso
das verdades do universo

segunda-feira, 21 de maio de 2007

ART

Lucas C. Lisboa

Certa vez conheci uma poetisa,
fascinou com encanto de Florbela:
Sensivel em flor, técnica imprecisa
e, por fim, também, muitissimo bela

Apaixonei-me pela poetisa
e comecei meu versejar por ela:
Musa, que todo poeta precisa,
concebi, a primeira pensando nela.

Por razões menos nobres não lhe tive...
Amargo, fiz dos versos ferramentas:
Eram tão precisas quanto insensíveis.

De posse delas fui então ourives;
A procurar por matérias quinhentas
para esculpir amores intangíveis!

domingo, 20 de maio de 2007

Bem amarrada

Lucas C. Lisboa

Minha linda bonequinha...
tão deliciosa putinha!
Q'eu uso, abuso e maltrato;
com todo prazer e trato.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Um brinde a nós, porque sem nós, nós não estariamos aqui!

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Cartesiano

Lucas C. Lisboa

um átomo insólito
retro-vírus, radiação
um átimo sólido

dos sentidos baixos

Ditadura da visão:
desmerecendo até o tato
Desmandos d'audição:
matam paladar e olfato

Poética e Flagelo

Lucas C. Lisboa

D'uma pura displicência
falhas crassas n'estrutura
mal-acabada indolência
n'uma débil estrutrura

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Literatura Crítica

Lucas C. Lisboa

Então Bilac é poeta
mas o Quintana também
Digo, pois nada contesta,
um sinceríssimo amem

quinta-feira, 26 de abril de 2007

do Perfume amado

Lucas C. Lisboa

Um sorriso desabrochou dos lábios de Flëur, não sorria mais assim, pelo menos não desde que voltara para casa. Sorrira pelo perfume do frasco que se espatifara ao chão.

O derrubara do alto da estante quando pegou, para lhe trazer o sono perdido em algum canto da noite naquele quarto, um livro de poesia. Nem se lembrava mais que ele o havia deixado ali, afinal, três longos anos já tinham se passado desde então.

Ajoelhou-se ao chão e, afectuosamente, recolheu todos os cacos, até os mais pequeninos, depositando-os em suas mãos. Recolhidos todos levou a mão ao rosto para tal fragrância melhor sentir.

Os pedaços de vidro beijou, lembrando-se dos dias que beijava o corpo exalando aquele tão caro e doloroso odor... Não sentiu novamente o calor de sua pele, mas, sim o sabor do sangue de seus lábios feridos.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Pois para ele o Sol sempre nascia

Lucas C. Lisboa

Fiel à sua palha, teceu fios d'ouro. Mas quando a agulha lhe espetou o dedo ele quebrou sua roca.

Notou, depois da fúria e da dor, que seu novelo jazia,já de bom tamanho e grossura, ao lado de sua fiadeira agora aos pedaços.

Pegou do chão o novelo e, com agulhas de tricô, fez para si um agasalho aureo. Vestido o sueter perecebeu que ele não o aqueceria... Mas, brilhava como o sol.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Noli me tangere

Lucas C. Lisboa

Descido ao reino dos mortos;
duplamente mortal eu sou:
a descobrir o que já sabia,
me negando o último abraço...

Ela irá não mais me tocar,
essa falta sinto tanto hoje...
quanto quando se deu fato:
três anos que não se apagam.

Atormenta o riso dessas moiras
que venceram o desafio

Ao redor, ninguém mais se lembra
não se vêem vitmas nem vilões

Pois me lembro todos os detalhes
Do que foi tragédia e comédia

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Modernosidade

Lucas C. Lisboa

Sou um anacrônico:
São as velas que iluminam
quando eu digito...

domingo, 15 de abril de 2007

Enfim a sua carta

Lucas C. Lisboa

Alice, do corte o sangue pulsa e goteja
formando tantas manchas negras ao carpete
Sabe que sangra apenas porque o deseja
do mesmo modo são as lágrimas que verte

Olhar não desvie, ao menos hoje, me veja!
Sua boca, por obsérquio, não a deixe inerte.
Quando claramente meu semblante esbraveja
algumas mágoas que meus demônios diverte.

Neste momento do mais puro nervosismo
A caneta à mão, por pressionar, estoura
sujando meus dedos, escorrendo ao pulso

Por um sórdido gargalhar vindo do abismo
de sua palma o fino corte d'uma tesoura
que transgrediu à carne num pequeno impulso

Casulo em chamas

Lucas C. Lisboa

O beijo da crisálida infecunda
corrói e fere alguma boca imunda
por essa sua acidez tão febril
vai causar um morticínio senil

Mariposa de aspereza profunda
de cancros e chagas a tez inunda
quelíceras ávidas e olhar vil
provocam dor e pesadelos mil

Arsênico nas páginas da bula
d'um elixir de Ambrósia destilada
Bater de asas ao papel repousou

Esse veneno que aos olhos pula
Morte que faz-se calma e aguardada
Do gargalhar mudo que findou

Bom dia, tarde, noite

Lucas C. Lisboa

Como vai meu caro?
à pé, de trem ou dirigível:
tanto fez ou faz...

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Antologia

Lucas C. Lisboa

meus Amores de museu
são Segredos pra Ninguém
são guardados dentro d'Eu
conservados muito bem

terça-feira, 10 de abril de 2007

Estesia

Lucas C. Lisboa

Sou poeta dos prazeres,
exulto mil dos quereres...
Servo fiel de todos ritos:
são minha fé, são meus mitos!

Por quaisquer que sejam eles;
delícias, fortes quereres...
malfadados ou bem quistos
Belos ou mesmo Malditos

Tato meu assaz refinado,
corpo qualquer me tocar.

Mesmo Olfato viciado,
ainda capaz de inebriar...

Paladar mais delicado,
por um sigelo versejar!

sábado, 7 de abril de 2007

Réquiem

Lucas C. Lisboa


Audiræ sorve, um gole generoso do capuccino, enquanto seus olhos adquirem um brilho avermelhado por se atentar ao ocaso, deveras singular, que presencia.

O sol, talvez numa desesperada e última tentativa, sangra copiosa e rubramente rajando os céus e avançando sobre as brumas da cidade abaixo.

As brumas, reagindo co'a fria descrença da morte, se limita a deixá-lo passar por pequenos rasgos deixando que as cores dos casarões apareçam pelos instantes de calor.

Sorrindo alcança uma fina caixa metálica à jaqueta, os dedos percorrem a superfície e numa carícia, mais profunda e firme, lhe abre e a leva aos lábios.

Fechando-a busca n'outro bolso a embalagem de madeira, da haste retirada faz surgir o fogo, oferecendo uma singela contribuição ao labor do sol.

Ascende o cigarro de seus lábios e após uma tragada, longa e áspera, por suas narinas aspira em sua contribuição às nebulosas brumas.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Penteadeira

Lucas C. Lisboa

Trancou-se no quarto
e refletiu, refletiu...
tornando-se espelho.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Enamorado

Lucas C. Lisboa

Fitei o céu d'uma lua quase inexistente
Cogitando estrelas que na mão caberiam
Para entregá-las como singelo presente
Agrado onde diversas cores se veriam

Contigo até comunguei por um deus ausente
Crendo de coração que seus anjos existiam
Por dias a fio teci alegrias habilmente
pensando que outros tão melhores viriam

Hoje encostado ao canto e talvez perdido
em meio à poeira antiga estão teus sentimentos
Eu já sei que tu não tens mais como mentir

Não duvido de teus olhos neste pedido
e na sinceridade de teus argumentos
Apenas já não mais posso teus nãos ouvir

sexta-feira, 30 de março de 2007

Subjugo

Lucas C. Lisboa

Ela, muitissimo bem amarrada, geme
rio quando num arranhão seu seio lhe firo
Do abuso ao corpo, desejo lhe consome
Co'a chama d'uma vela lhe bem eu miro

Ao jugo do meu prazer submissa prefiro
em cada tocar mais rijo seu corpo freme
A cera mui cálida e, sua pele admiro
por minhas levíssimas carícias se treme

O seu suor se mistura às pedras de gelo
Derretidas pelo seu dorso em marcas profundas
Degusto do mais gélido à sua espinha

Seu "não" tenta afastar as culpas mais imundas
Mas minhas mãos lhe apoderam tal erva daninha
Em brasa à pele cravando esse meu selo

sexta-feira, 23 de março de 2007

Dura lex sed lex

Lucas C. Lisboa

Pois quem viola a lei
da gravidade é punido
muito gravemente

INRI

Lucas C. Lisboa

Cruz, simbolo fálico
encravado na mãe terra
com todo cuidado

Fumando Espero

Lucas C. Lisboa


Um Golpe de Sorte,
por três tragos ainda espero...
Minha tal consorte.

Modernosidade

Lucas C. Lisboa

Poesia Moderna
parece não passar d'uma
enorme baderna

segunda-feira, 19 de março de 2007

Humanidades

Lucas C. Lisboa

Pois nada é tão errado
que não se possa acertar

Pois nada é tão sagrado
que não se possa gozar

Pois nada é tão acertado
que não se possa errar

Pois nada é tão gozado
que não se possa rezar

quarta-feira, 14 de março de 2007

Luzes da Modernidade

Lucas C. Lisboa

São belos os Anjos
a cavalgar Pedras lustrosas
ao redor da Lâmpada

sexta-feira, 9 de março de 2007

O Convento

Lucas C. Lisboa


Primeiro, a Irmã Cristina, numa madrugada de quinta feira, gritou ecoando por todo o convento de Nossa Senhora dos Peregrinos e desde então se calou de tudo, inclusive do porque fora encontrada desnuda em seu leito.

Na mesma semana, em seu sétimo dia, Irmã Amélia (que chegara ao convento a pouco mais de mês depois que seu marido morrera num trágico acidente de trem) teve febre e delirou por uma noite inteira antes de também se calar.

Irmã Josina, que estava prostrada ao leito desde o inverno passado quando caíra da escada, acordou, mas sequer um gemido ou lamento ressoou.

Pouco a Pouco cada um dos viventes daquele convento se calou e em duas semanas só restara a Madre Superiora e o Padre ainda fazendo uso de suas vozes.

Na sexta feira seguinte, a Madre Superiora, já desesperada com aquela enfermidade, aos berros inutilmente conclamou suas pupilas a falarem, mas foi tão inútil que ela mesma perdeu a sua.

E na manhã seguinte a missa fora rezada pelo Padre, mas seus lábios não se moveram, no entanto todas as freiras se prostraram rezaram e depois comungaram tudo sem que sequer o farfalhar de tantas narinas fosse escutado.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Canção de ninar

Lucas C. Lisboa

Venham repousar
todos os anjos caídos
ao teu ímpio leito

Da insignificância

Lucas C. Lisboa

Pois eu nunca mais
cederei outro cigarro
pra quem nega trago

da Poetisa

Lucas C. Lisboa

Pois eu só me fodo
com as coisas que mais gosto
Sexo e Poesia

O Palco

Lucas C. Lisboa

Todas as Tragédias
são na verdade comédias
que não gargalharam

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

do décimo andar

Lucas C. Lisboa

e de qual altura
caiu esse tão belo vaso
que não tem remendo?

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Obsessão

Lucas C. Lisboa

Não me interesso por nada menos que tudo.
Pois é, mesmo que lhe pareça maior absurdo...
Saiba: de modo algum tal o seria pra mim;
mesmo quando pouco resta raspo até fim.

Quando qualquer grito é vazio ou mudo
e ao som mais refinado se faz tão surdo...
Serão nossos retratos rasgados assim
e a navalha equilibra-se entre não e sim!

Pois eu já mandei jogar minhas cartas fora...
(mas guardo muitas em um suspiro de dor)

Quase ri de mim quando você foi embora...
(e dizia eu:"Pois irei contigo onde for")

Estranho como lhe quero bem mais agora...
(se antes tinha sonhos, hoje tenho horror)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Conto de Fadas

Lucas C. Lisboa

E com mero beijo;
a Princesa acorda quem
um dia veio salvá-la.