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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

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sexta-feira, 15 de julho de 2022

Análise da Canção Ouro de Tolo de Raul Seixas


 Raul dos Santos Seixas, cantor e compositor baiano, nascido no ano da bomba atômica se definia como um canceriano sem lar. Era pois, um cronista ambíguo e contraditório em muitas de suas composições que aqui analisaremos sob a perspectiva econômica de sua época, O Brasil da Ditadura Civil-Militar ocorrida a partir do ano de 1964 cujo próprio término em distensão lenta e gradual Raul como seus espírito de mosca na sopa duvidava quiçá só para incomodar, quiçá para apontar ali uma ferida, um incômodo que seria mais conveniente ignorar.

O caráter monetário, concreto da natureza de seus versos  acontece desde o título de sua canção “Ouro de Tolo” do álbum Krig-ha, Bandolo! lançado no ano de 1973 durante o chamado Milagre econômico brasileiro período propagandeado pela Ditadura como de enorme pujança e prosperidade para o país.  Mas o Eu-lírico do autor inicia seu canto dizendo que:

“Eu devia estar contente

Porque eu tenho um emprego

Sou o dito cidadão respeitável

E ganho quatro mil cruzeiros por mês”


O devir, o dever ser inaugura o poema contestando a ética protestante da realização pelo trabalho, pois põe em cheque a certeza que o indivíduo respeitável por ter um emprego e uma renda, tenha em situação de alteridade a sua auto realização.  Na estrofe subsequente:


“Eu devia agradecer ao Senhor

Por ter tido sucesso na vida como artista

Eu devia estar feliz

Porque consegui comprar um Corcel 73”


O elemento religioso se impõe novamente e a realização da rima entre o mês e o sententa e três novamente demonstram como valores de realização primeiro o salário nominativo e em seguida um carro novo, do ano do lançamento do álbum denotando um sucesso financeiro que deveria ser garantidor do seu próprio contentamento e se esse devir não se realiza, se o eu-lírico não canta seu agradecimento, há uma dissincronia entre a expectativa capitalista de realização e o próprio anseio humano.


“Eu devia estar alegre e satisfeito

Por morar em Ipanema

Depois de ter passado fome por dois anos

Aqui na Cidade Maravilhosa”


Nesta estrofe impera novamente o devir e o incomodamento do eu-lírico se expande para um dos bairros símbolos do crescimento nesse período de um novo Rio de Janeiro, bem distinto daquele Rio antigo das crônicas do bruxo do Cosme Velho. Se Laranjeiras, Glória, Botafogo, Lapa, Flamengo são o pano de fundo das narrativas machadianas por serem os espaços frequentados pela elite carioca de sua época. Aqui, na obra de Raul seixas, Copacabana, Ipanema e Leblon assumem esse papel em um Rio de Janeiro que não é mais capital do Império ou da República, mas que mantém-se ainda como a meca dos artistas, para qual todos que querem colonizar seu espaço no mundo das artes devem migrar. E mesmo após passar fome por dois anos na Cidade Maravilhosa, o sucesso não basta para extinguir a alteridade do devir do eu-lírico. E o que era apenas devir se afirma como negativa nas duas quadras a seguir:

“Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso

Por ter finalmente vencido na vida

Mas eu acho isso uma grande piada

E um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente

Por ter conseguido tudo o que eu quis

Mas confesso, abestalhado

Que eu estou decepcionado”

A vinculação da felicidade ao sucesso financeiro apregoado pela ética capitalista é, para o eu-lírico uma piada, e pior, uma piada perigosa. Pois, apesar de ter conseguido tudo que quis é com espanto que ele se percebe decepcionado com essa promessa.  a partir dessas estrofes a uma mudança no tom dos versos pois o artista decepcionado deixa de apenas narrar o seu devir para lançar outras dúvidas e explicitar diretamente o seu sentimento de falta, onde as recompensas e realizações ofertados pela sociedade capitalista não  são o bastante para que ele se sinta pleno.

“Porque foi tão fácil conseguir

E agora eu me pergunto: E daí?

Eu tenho uma porção

De coisas grandes pra conquistar

E eu não posso ficar aí parado”


Neste momento de virada da canção, quando o compositor troca as quadras por uma sextilha vemos um eu-lírico que abraça a incongruência, o contraditório que não cabem no estreito espaço ético da sociedade brasileira que sob o milagre econômico que ao mesmo tempo oferecia carros do ano para o artista, que relembra a fome na Cidade Maravilhosa, mesma fome que matou mais de meio milhão de pessoas do mesmo pais na Grande Seca de 1970. E o questionamento “e dai?” remete ao imponderável, o abstrato que não cabe em 4 mil cruzeiros por mês, que não se concretiza em um corcel 73 e nem se negocia com vencer a fome tão distante de suas própria terra. E assim, esse eu-lírico se distancia daqueles protestantes weberianos que vão ao novo mundo fundar o capitalismo através da ética do trabalho.

“Eu devia estar feliz pelo Senhor

Ter me concedido o domingo

Pra ir com a família no Jardim Zoológico

Dar pipoca aos macacos

Ah! Mas que sujeito chato sou eu

Que não acha nada engraçado

Macaco, praia, carro, jornal, tobogã

Eu acho tudo isso um saco”


Após a sextilha o compositor retorna ao esquema de quadras e enquanto nas quadras iniciais o eu-lírico aparecia em um questionamento do seu devir, no que devia ser mas não se realizava, sem contudo, expressar seu contentamento, neste par de quadras vemos  a tensão da primeira quadra ser resolvida na segunda. O devir da primeira é negado em seguida. e retoma os elementos das quadras anteriores quando do terceiro verso da segunda estrofe. Pois nem os macacos do Jardim Zoológico, nem a praia de Ipanema e muito menos seu corcel 73 aliviam o vazio que não se preenche com as recompensas por ser “um dito cidadão respeitável”

“É você olhar no espelho

Se sentir um grandessíssimo idiota

Saber que é humano, ridículo, limitado

Que só usa 10% de sua cabeça animal


E você ainda acredita

Que é um doutor, padre ou policial

Que está contribuindo com sua parte

Para o nosso belo quadro social”


Pela primeira vez o eu-lírico se dirige para o interlocutor, despejando seu próprio descontentamento no outro que vê como um espelho, como também pertencente ao “nosso belo quadro social”  Elenca àquelas profissões fundamentais nessa estrutura, ao mesmo tempo que os lembra que são animais, seres limitados e que a despeito das conquistas, das contribuições ainda permanecem carentes de significação, de objetivos maiores que só se realizam dentro das expectativas limitadas e limitantes dessa sociedade.  E tal processo acaba por  guiar o interlocutor para o fechamento da canção.

 

“Eu é que não me sento

No trono de um apartamento

Com a boca escancarada, cheia de dentes

Esperando a morte chegar


Porque longe das cercas embandeiradas

Que separam quintais

No cume calmo do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora dum disco voador”


Para se distinguir dos seu interlocutor o eu-lírico nega a posição do dia de domingo, de ser mero espectador de sua vida conquistada, de suas próprias pequenas e burguesas realizações, refere-se a “um apartamento” de maneira indefinida pois a vida de seu habitante é igual e genérica como a de tantos outros habitantes, cidadãos respeitáveis que dormem em seus sofás de boca aberta sem mais expectativas, sem sonhos de mudanças. Mas em sua última quadra o eu-lírico canta acerca do imponderável, de um lugar longe do sonho burguês de uma casa com cerca e quintal, tal qual um filme americano. Fala daquilo que está na margem da visão, em seu ponto mais calmo, uma sombra sonora, uma sinestesia que torna o extraterreno a solução para quando a realização protestante da redenção pelo trabalho oferece apenas o material mas não desfaz o mal-estar existencial. 

Sob a égide de um Milagre econômico que só satisfaz uma pequena classe média, o Brasil de 1973, tem fome, tem miséria, tem tortura e opressão que não são maquiados pelos números econômicos, que a ficção monetária não consegue ser verossímil para quem já passou fome. Em uma canção onde os elementos autobiográficos ressoam temos um migrante nordestino percebendo que a promessa de prosperidade é falseada e falseável. Que não há bilhete premiado que garanta a felicidade além das recompensas ofertadas para o bom trabalhador. 


terça-feira, 3 de abril de 2012

Analise literária do poema: Também já fui Brasileiro de Carlos Drummond de Andrade


Lucas C. Lisboa

Eu também já fui brasileiro 
moreno como vocês. 
Ponteei viola, guiei forde 
e aprendi na mesa dos bares 
que o nacionalismo é uma virtude. 
Mas há uma hora em que os bares se fecham 
e todas as virtudes se negam.


Nos dois primeiros versos do poema o poeta mostra seus laços com a brasilidade da missigenação que Gilberto Freyer tanto exalta em casa Grande e Senzala. O verso "moreno como vocês" uma redondilha menor enlaça o ritmo típico dos cantores populares e anuncia a entrada do próximo onde se aproxima ainda mais do brasileiro típico tocador de viola e em seguida recusa a grafia da marca americana "Ford" para pronunciá-la em sua forma abrasileirada "forde. 

Em um clima de viola e fala popular entra em cena a mesa de bar, espaço que é praticamente a maior escola dos trópicos, onde todos os problemas são resolvidos com souluções geniais e simples. É o espaço natural dos poetas, artistas e cantores, aqui no brasil nada de cafés para se estabelecer o diálogo com o belo ou a verdade. No Bar brasileiro, surge um mundo de fantasia um mundo onde o poeta diz que aprendeu que o nacionalismo é uma virtude. Mas essa virtude, critica, se acaba pois a fantasia tem hora para acabar quando o garçom recolhe as mesas.

Eu também já fui poeta. 
Bastava olhar para mulher, 
pensava logo nas estrelas 
e outros substantivos celestes. 
Mas eram tantas, o céu tamanho, 
minha poesia perturbou-se.

Nessa segunda estrofe o poeta se distancia das escolas anteriores tratando-as como meras repetidoras de romantismos feitos, metáforas vazias sobre astros celestes. Entre a infinitude do céu e a vagueza do desgaste o poeta sente que não faz mais sentido trabalhar, expressar seus anseios e galanteios nos termos do passado pois já não possuem mais o mesmo peso ou força encantatória. Uma poesia pertubada exige novas musas, novas palavras e poeta recusa o passado em prol do novo ainda a construir.

Eu/ tam/bém/ já/ ti/ve/ meu/ ritmo. - 8 silabas
Fa/zi/a i/sso, di/zi/a a/quilo. - 8 silabas
E/ meus/ a/mi/gos/ me/ que/riam, - 8 silabas
meus/ i/ni/mi/gos/ me o/di/avam. - 8 silabas
Eu/ i/rô/ni/co/ des/li/zava - 8 silabas
sa/tis/fei/to/ de/ ter/ meu/ ritmo. - 8 silabas
Mas/ a/ca/bei/ con/fun/din/do/ tudo. - 9 silabas
Ho/je/ não/ des/li/zo/ mais/ não, - 8 silabas
não/ sou/ i/rô/ni/co mais/ não, - 8 silabas
não/ te/nho/ ri/t/mo/ mais/ não. - 8 silabas

Contrariando a expectativa dos versos livres das estrofes anteriores o poeta ao anunciar que já teve seu ritmo começa a versejar em versos octossílabos. Tal estrutura ritmica não foi das mais populares na poesia dos séculos anteriores quando comparada aos versos em redondilha, decassílabos ou alexandrinos. Porém possui sim sua própria melodia e ritmo bem marcados.

O poeta narra seu próprio fazer poético como provocante, causador de desejos e aversões por sua habilidade poética mas num verso "Mas/ a/ca/bei/ con/fun/din/do/ tudo."  ele perde inclusive o ritmo cunhado nos versos anteriores ao fazê-lo um eneassílabo. Justamente onde o eu lírico diz ter "confundindo tudo" o poeta imprime ali um ritmo diferente o que demonstra imediatamente o caráter ambíguo da crítica aos poetas escrevedores de poemas sobre estrelas e suas técnicas pois aqui Drummond faz seu uso para imprimir uma força rítmica que dialoga e acentua o conteúdo do próprio poema.  Nos versos seguintes o poeta retorna aos versos octossílabos e conclui o poema tão carregado de ironia e negação que fica difícil acreditar que ele não seja mais irônico ou dotado de ritmo.

Todo o poema é uma contradição, forte patente e criativa. O poeta renega a cada verso aquilo que mais substancialmente é: brasileiro e poeta. Ao dizer que não é aquilo que é de fato ele pretende se distanciar de certas posturas que lhe causam aversão entre brasileiros e poetas. 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Análise Literária do Poema de Sete Faces de Carlos Drummond de Andrade

Lucas C. Lisboa

O “Poema de Sete faces” de Carlos Drummond de Andrade foi publicado pela primeira em seu primeiro livro “Alguma Poesia” de 1930. É um poema composto de sete estrofes, faces. Que mostram um aspecto da percepção de mundo do autor. Passeia por diversos temas como quem está em um bar vendo a vida passar e comentando do que vê, pensa e sente. É um poema em verso livre mas que possui uma unidade ritimica ditada pela cadência da oralidade. Tem em sua maioria versos brancos e a rima quando ocorre não é acidental ou formal mas um elemento acessório ao conteúdo. Trata-se de um exemplar de estilo típico de sua obra onde mistura muita oralidade a eruditismos pinçados em pontos estratégicos para o entendimento do texto.

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

Em sua primeira estrofe o poeta se insere no poema e declara-se parte de um mundo torto. Carlos insere-se no poema ao dar seu próprio nome ao eu-lírico. E declara-se parte de um mundo torto quando o próprio anjo declara que ele e Carlos estão fadados a terem o mesmo destino pois ele anjo torto o declara fadado a seguir o caminho "gauche" na vida. Gauche, que em francês é aquilo que não é direito, o esquerdo e, por extensão, aquilo que é torto. Tal anjo torto vive na sombra, um anjo que foge do calor do sol dos trópicos, um anjo que traz consigo o sentimento de que o jeito mais fácil, mais simples mais cômodo é melhor que o jeito direito. A primeira estrofe é uma face de identificação de Carlos Drummond de Andrade com seu mundo, com sua realidade e sua brasilidade.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

Ampliado sua visão para fora do seu eu Carlos, observa a cidade onde até as árvores são testemunhas dos desejos humanos e como esses desejos tão intensos conseguem por fim até mesmo ao azul do céu. Afinal, a tarde teria um céu azul se não fossem as ganancias e cobiças humanas que enegrecem o céu com suas fumas de cigarros e carros pois um homem para conquistar uma mulher precisa ostentar-se precisa sujar o mundo e fazer-se brilhar para que sua corrida não seja em vão.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

Para além dos desejos dos homens há a coletividade, há a massificação de pessoas, transporte em massa, gente que perambula de um lado para o outro, gente brasileira de pernas de todas as cores. O comentário do poeta "Para que tanta perna meu Deus" é ambiguo e pode ser interpretado num porquê tanta variedade de cores e de etinias mas também em um sentido mais forte no porque de tantas massas. Mas é o coração que julga, coração que tem medo, que tem receios que pensa e julga o outro. Os olhos preceptores da razão apenas analisam, não há dúvidas para o mundo mecanizado da razão pela qual os operários, os trabalhadores de um transporte coletivo precisam se desloacar como uma massa pelo bonde.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás do óculos e do bigode.

Dentro da massa de pessoas o poeta elege um homem, entre tantos que passeiam pela rua este elege os óculos e o bigode como sua máscara, sua marca para enfrentar o quotidiano. Uma máscara reservada e simples que garante sua integridade e distancia do mundo.

Meu Deus, porque me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Carlos reclama a um Deus relapso que permite que seus soldados vivam à sombra que também o abandonou sabendo que ele era como todos os outros um fraco, com defeitos um torto. Remete ao existencialismo que coloca o homem como um deus que defeca, como um ser que apesar de potencialmente poder alcançar as estrelas é também fadado aos defeitos e desventuras de ser imperfeito e de viver num mundo do contingente e não do necessário.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo
mais vasto é meu coração.

Em sua penúltima estrofe Carlos traz para o poema o meta-poema para discutir a solução de seu mundo gauche, de anjos tortos, sem Deus, de tantas pernas coloridas e também de outras tantas máscaras que se fazem rostos. A face que Drummond mostra nesse verso é uma face ambigua onde confessa a incapacidade da rima, ou seja por metonímia a própria poesia, de dar uma solução ao mundo. Mas depois busca sua solução para vastidão do mesmo mundo dizendo que com seu coração seria capaz de dar conta desse mundo.

A primeira questão que sucita dessa estrofe é quanto a capacidade desse coração que, como foi visto anteriormente, é fraco, tem medos e incertezas, cheio de dúvidas. A outra questão que soa mais relevante é a dada solução, numa rima paupérrima Carlos aproxima o sentido de solução e coração num flagrante contraditório com a incapacidade da rima de ser uma solução como posto pela conjectura a respeito de seu nome ser Raimundo. Tal contradição não se soluciona, o coração tão frágil é incapaz de abarcar todo mundo como Carlos propõe a primeira vista, pois sua relação com o próprio poema com sua própria justificativa é falha num processo lógico-poético onde a rima é posta ao nada para depois aparecer com solução. Pois o poeta cai em um ciclo vicioso quando nega a importância dela para depois subrepticiamente usá-la como solução. Não é para menos que o poeta se embriaga em sua última estrofe.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo

Carlos traz seu leitor nesse momento a uma intimidade de quem confidencia um segredo, como se estivessem numa mesa de bar tão típica das minas gerais. Evocando a lua e o álcool, os maiores patronos da poesia romântica, se despede do poema culpando seu coração por todos os seus desabafos e desvarios anteriores. Abraçando o diabo como quem abraça o amigo bêbado depois da última saideira do botequim termina seu poema. Sim, o poeta se declara num estado de comoção do diabo, intensa. Um diabo num mundo onde os anjos são tortos e vivem nas sombras, se até os anjos o condenam à ser mais um tão torto quanto eles Carlos encontra nessa comoção, nesse romantismo uma solução para o vasto mundo que pretende caber em seu coração.