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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sobre Máscaras e Espelhos

Minha poesia reunida em 10 anos de ofício literário finalmente se encontra condensada em um livro! É com enorme prazer que digo que meu livro: "Sobre Máscaras e Espelhos" foi enviado para a gráfica e em breve esse blog passará por grandes mudanças para receber meu lançamento.
(Clique na imagem para ampliar)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Rio, até logo

Lucas C. Lisboa

O Rio de Janeiro continua lindo
continua vermelho de sol
e verde e amarelo de alma
num contraste mais perfeito

Tudo fica lindo na madrugada
a dentro quando o ar rarefeito
de oxigênio entra nos pulmões
e o álcool dominas as artérias

Pois Eu sou assim hoje: poeta
livre das amarras quotidianas
livre dos compassos e dos ritmos

Caminho no trilho do trem
tomando carona nos vagões
num vagar de vagabundo artista

domingo, 11 de dezembro de 2011

A moça desnuda


Lucas C. Lisboa

no degrau da escada
de joelhos chora
a morte amada
que veio sem demora


Confissão Carioca

Lucas C. Lisboa


Prefiro sentir calor
a destilar meu ciúme
ambos me cortam de dor
em faca de fino gume

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Poema Natalino

Aos que me dizem
Sou um poeta nato?
Não Nato é meu pai!
que não é apelido

de Renato mas sim
Natalino na verdade
mas não ele não
nasceu no natal!

Quem é que nasceu
foi o meu velho avô
que quis ter um filho
com o nome igual

lá nos idos tempos
de caixeiro viajante
de tropas de burro e
de trem de ferro

Em Alfredo Graça
tinha um armazém
desses de montanhas
de milho e de panos

Meu avô arrendava
um vagão do trem
pra levar de tudo
e trazer também

lá de Caravelas
fim da ferrovia
onde negociava
comprava e vendia

Vovó Terezinha
cuidava da venda
se o velho viajava
e entre uma agulha

e panela vendida
Ela fazia partos
das mulheres grávidas
da vila do Graça

Vovô Natalino
ia do coração
das minas gerais
até na Bahia

Trazia no Natal
fitas pras meninas
e a borracha fazia
festa pros meninos

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Bêbado em Copacabana


Lucas C. Lisboa

Mas me diga seu Drummond
porque é que não me responde
Não gosta desse meu tom
ou porque você é de bronze?

Foto: Livia Torres / G1

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Poeme-se

Lucas C. Lisboa

Poesia nas praças,
becos e avenidas.
Poesia pra ser
cantada e vestida!

Poeme-se a rua
de pedras floridas
Poeme-se os carros
em lenta corrida

Poema é um nada
lotado de tudo

Poema é piada
de choro profundo

Poema é estrada
correndo pro mundo


Poeme-se



sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Honesto


Lucas C. Lisboa

E me diga meu benzinho
de que são essas olheiras?
Pois são culpa do vizinho
que me alugou as orelhas!

Tocando samba e chorinho
pela madrugada inteira!
Mas fui pago direitinho
com moças e bebedeira.

Sim, sim, eu tava na festa
não nego, é feio mentir...

Eu sei que hoje só me resta
pelo seu perdão pedir.

Se me der faço a promessa
de TENTAR não repetir!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Detrás da porta


Lucas C. Lisboa

me toca sem pedir perdão
sem dizer uma palavra
me levanta numa mão
para me fazer sua lavra

de ouro puro de tesão
me fazendo sua escrava
com a perna na escansão
que dentre as minhas me trava

marca minha pele branca
e com meu mamilo brinca
na fome que se faz sede

quando meu suspiro estanca
porque me vem numa trinca
de nos por contra parede

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Apoteose



Lucas C. Lisboa

Ele duma voz de sangue
bem negro de samba atiça
Ela num swingue sem voz
se mexe, samba e eriça

o sorriso branco do Negro
que reluz nos olhos claros
duma gringa que não ginga  
mas que no peito palpita desejo

só não sabe se quer sê-la
ou ser como o negro e tê-la 
se excita tanto a  branquela
quê não vê  chegar o Mulato

mais que sedento por ela
bruto mas de fino trato
que lhe faz dama e cadela
atrevido num mesmo ato

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A princesa amada


Lucas C. Lisboa

na frente do espelho
de tudo e de nada
ri até do conselho
da velha encurvada

não bota aparelho
nem fica falada
somente um fedelho
lhe deixa irritada

Se lhe olha faceiro
se faz mal amada
sem ele é errada
e rasga dinheiro

a moça calada
de lábio vermelho
é muito tarada
pra pouco pentelho

por ele gamada
lhe cai de joelho
jaz descabelada
na hora do recreio

com fome de fada
faminto parceiro
co'a boca felada
lhe engolindo inteiro

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vizinhança


Lucas C. Lisboa

Nervoso o velho Agripino
brandindo com sua bengala
a ralhar com o menino

que fez da bola uma bala
com um chute bem cretino
acertando sua janela
e a brasília do vizinho

O ecológico Agripino
resmungando não se cala
e recomenda ao menino

a usar bodoque de tala
grossa e elástico fino
pois assim não mais abala
sua paz só a do passarinho


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O homem de preto disse não a poesia


Lucas C. Lisboa

Nos trilhos do metrô Eu fui barrado
disseram-me: poesia não tem vez
sem um certo papel protocolado
vai embora poeta d'uma vez!

Sim, eu assino sou muito culpado
de não aceitar a insensatez
de ver o verso meu ser censurado
por ganância de pura estupidez

Eu só lhe digo: Ei seu segurança
porque estraga a leitura dos viajantes
que liam-me com sorrisos em seus rosto?

Sei que só querem que eu siga sua dança
de querer coisas bem desimportantes
sem magia, sem lirismo, só desgosto!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Coração Mineiro

Lucas C. Lisboa

Bom dia belo horizonte!
Bom dia minas gerais.
Pra minha terra de amantes.
Meus suspiros e ais!

sábado, 15 de outubro de 2011

15 de Outubro


Lucas C. Lisboa

No brasil mais de quinhentos
anos de exploração global
Fome e miséria são armamentos
da terceira mundial

Na terra seus mil encantos
são vitimas do capital
que fez do Mercado um Santo
intócável e irreal

Não acredite no terno
e gravata que lhe diz
com ar de sábio paterno:
"seja um escravo feliz"

Não seja apenas um servo
menos que uma meretriz
que vende a vida pro inferno
e se faz de força motriz

Jovens e velhos aos prantos
pela ganância de loucos
Acordem! Nós somos tantos
eles são grandes mas poucos!

Pois todos juntos gritemos!
bem mais alto até que roucos
escutem a verdade que sabemos:
que nós não somos os trocos!


Eventos em todo o Brasil e no mundo! 
Praças pelo mundo afora despertaram. Milhões de pessoas cansadas de autoritarismo, de democracias voltadas para os ricos, da farra do capital financeiro.
Há 500 anos, o Brasil é um país saqueado por políticos corruptos, ruralistas e empreiteiros gananciosos. O governo brasileiro segue dominado pela mesma elite que levou nosso país a um dos primeiros lugares em desigualdade social.

Temos muita coisa para mudar!

Precisamos construir uma nova forma de fazer política, queremos decidir os rumos em assembleias livres, amplas e democráticas. Queremos levar o debate a todas as praças do país.
Somos contra a política suja das negociatas, de um sistema que concentra o poder nas mãos de uma minoria que não nos representa, corruptos cuja dignidade está a serviço do sistema financeiro; queremos uma Democracia Real com participação do povo nas decisões fundamentais do país, muito além das eleições, essa falsa democracia convocada a cada quatro anos.

Transparência!

Não somos palhaços. A Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 do jeito como estão sendo organizados servem apenas para os interesses dos ricos e de seus governantes. Estamos vendo uma verdadeira “faxina social” em nosso país, com a remoção de milhares de famílias das regiões onde serão os megaeventos esportivos. Os benefícios atingiram uma pequena parte da população. O sigilo do orçamento das obras da Copa, a flexibilização das licitações e a postura submissa do Brasil à Fifa e à CBF são um banquete farto aos corruptos.

Quem disse que queremos crescer assim?

Queremos um Brasil ecologicamente sustentável. Atualmente a política de desenvolvimento da matriz energética segue a devastação do meio-ambiente e do desrespeito aos povos originários, como a construção de Belo Monte, um atentado aos povos do Xingu. Não concordamos com o caminho que o governo federal está propondo - que prevê a construção de pelo menos mais quatro usinas nucleares até 2030 - no desenvolvimento de uma energia cara e não segura: Enquanto o Brasil segue com as usinas nucleares de Angra dos Reis, mesmo após a calamidade nuclear de Fukushima, há pouco incentivo às novas tecnologias energéticas sustentáveis, como a solar, eólica, de marés, para as quais o país possui enormes potenciais.

Equilibrado e para todos.

O agronegócio segue como um risco ao futuro. O desmatamento desenfreado, anistiado e estimulado pelo novo Código Florestal, segue transformando o Brasil numa grande fazenda de soja. Não há uma política séria de reforma agrária, de soberania alimentar e de preservação do meio-ambiente. Segue a destruição da Amazônia, o uso abusivo de agrotóxicos e a propriedade da terra cada vez mais concentrada.

Educar ou manipular?

Estamos fartos de que os meios de comunicação, que deveriam servir a população como ferramenta de educação, informação e entretenimento, sejam usados como armas de manipulação de massas, trabalhando para os mesmos políticos corruptos que deflagram o país em benefício próprio.

Vamos colorir as praças com diversidade!

Ainda sofremos discriminação pela cor da nossa pele, por nosso sexo ou orientação sexual, por nossa nacionalidade, por nossa condição econômica. Queremos colorir as praças brasileiras com a diversidade do nosso país, que precisa ser livre, digno e para todos. Devemos ocupar, resistir e produzir decisões e encaminhamentos democráticos, onde a colaboração esmague a competição e a socialização destrua a capitalização. Não temos a ilusão de resolver todos os problemas em poucos dias, semanas, meses. Mas teremos dado o primeiro passo.
Chegou o momento em que todas as nações, todas as pessoas se unem e tomam as ruas para dizer: Basta! É hora de assumir a nossa responsabilidade e o nosso direito a uma vida livre e justa. 15 de outubro: um só planeta, uma só voz.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Bêbado Boêmio



Lucas C. Lisboa

Manhã de feriado
bebeu pela santa
e também tinhado
do capeta sem regra

Caminhando de lado
tropeça na penca
de cajá-do-diabo
sem querer encrenca

Pergunta embriagado
quanto cobra a quenga
de batom borrado
e saia flamenca

Mas é mãe de santo
que lhe joga praga
por ser tão errado
no sertão sem água

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Anotações sobre versificação



O metro faz parte de um conjunto de sistemáticas que nos permite ter com clareza as potencialidades formais de cada verso e de seu conjunto. A afinação paulatina dos versos permite ao poeta reexaminar seu poema e lhe dá tempo para que possa dentro dele atingir sua máxima expressividade.

A cada reolhar de um poeta sobre seus próprios versos acontece uma concepção mais pura do que é a obra que criou e tal qual um desenhista que ajustas detalhes de proporção de seu quadro o poeta tem todo o direito de acertar cada nuance de sua expressão posta no papel.

Ao reorganizar as palavras de seu poema o escritor consegue aprofundar a força expressiva das palavras centrais de seu texto dando-lhe o acompanhamento adequado pois se acompanhada de algum termo de peso igual a idéia central de um verso pode ser ofuscada.

A adequada concatenação de fonemas átonos e tônicos permite o poeta dar relevo semâtico e rítimico às partes de seu poema que sua temática demanda maior atenção. Na poesia a versificação não serve apenas para polir as pérolas de um poema mas também para afiar os seus espinhos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Copo Sujo


Lucas C. Lisboa

Numa briga de casal
chega dois policial
ou vira logo bangbang
ou senão um gangbang

a briga tem razão tal:
ela não quer fazer anal
é pinga cachaça e sangue
bueiro fedor de mangue

Bebo na mesa ao lado
e dou um trago no cigarro
ouvindo a voz arranhada

da moça c'o namorado
que sequer noto o catarro
do mendigo na calçada

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Outono



Eu penso que as folhas secas
são rascunhos de poemas
descartados pelas árvores
e inspiradas pelo sol

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Flerte sobre trilhos


Lucas C. Lisboa

Com o doce balanço do vagão
Ela morde seus lábios bem no canto
e conforme lhe sobe seu tesão
relê o poema cheio de tanto encanto

Ele se fez poeta em procissão
que evangeliza como fosse santo
e tem a poesia e a desrazão
as duas únicas deusas de seu canto

ela moça de saia justa e curta
que curte os versos dele com corpo
tendo sua alma cativa e bem absorta

sua silueta no reflexo torto
da janela ele admira e arquiteta
para dela fazer seu cais e porto



quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Para dizer a verdade


Lucas C. Lisboa

Carlos plantava sapatos
para colher suas abóboras
e fazer porta-retratos
duma mesa cheia de sobras

na ceia de fotos e fatos
as damas e peões de obras
cantam os seus velhos fados
ao preá jogado às cobras

Mas Carlos é dro mundo
e hoje planta tenis nike
feitos por crianças chinas

Não sou ele então abundo
nas praias como beatnik
vendo as bundas femininas

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Carola


Lucas C. Lisboa

a moça de pele negra
mas olhos de céu nascer
seu sonho sujo renega
pro meu deleite e prazer

diz seu "não" a cada entrega
como quem sim quer dizer
ao falo e falar se apega
com vontade de morrer

desminto o que pastor prega
contra a fome de viver

servindo vinho na bodega
bem antes do entardecer

mas a culpa que lhe cega
é da pureza perder

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Eu

Lucas C. Lisboa

Meu nome é Lucas Lisboa
sou um poeta bem atoa
dizem que vim do parnaso
mas isso não vem ao caso

Minha poesia destoa
mesmo se meu metro soa
como um antiquado atraso
do trem moderno do acaso

Eu detesto Drummond
não gosto desse seu tom
maestral e filosófico
rigido como um estóico

Que dá conselhos com praso
de validade vencido
se dizendo metamórfico
moderno no cenozóico

Confesso que eu quero mesmo
assustar senhoras gordas
como me ensinou o Quintana
com e após seus cem sonetos

Quero o poema piada
contar história rasteira
Eu quero pegar a estrada
em plena segunda feira

Quero versejar bem livre
da jaula do verso livre
Eu sou toureiro e peão
laço versos co'a escansão

Quero brincar co'a estrutura
do verso mas sem postura
de conselheiro ou de vilão
mas amante por tesão







segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A praia vermelha

Lucas C. Lisboa

A garrafa de vidro na parede
se espatifa já seca, vil, vazia,
incapaz de matar a minha sede
em mil cacos da mia melancolia

O desengarrafado cão me pede
um gole de poesia mais vadia
meu verso descuidado logo perde
sua postura na pinga que me ardia

O peito e também nos tantos cortes
em minhas mãos rosadas de meu sangue
pras bitucas meu maço virou tumba

Me sorriem as lixeiras e seus postes
com um cheiro de maresia e mangue
e lhes brindo o champanhe de macumba


Soneto em homenagem ao meu querido Augusto dos Anjos escrevo à sua maneira e temática um poema em decassílabos heróicos.  Ele foi o primeiro poeta que me seduziu , que me fez ver a beleza da forma, sua temática já foi bem comum em minhas obras, hoje volta como um exercício de estilo. De um fazer poético onde todos os temas são lícitos e belos. Sou hoje um oficineiro que não rejeita nenhum material para seu esmeril poético.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Quotidiano sobre trilhos

Praticamente todo dia quando saio da UFRJ  eu pego o ônibus de integração para a estação de Del Castillo. Nessa quinta feira ainda não é dia de pagamento então está todo mundo meio duro. Sinal que recebo mais moedas do que notas. O que me leva a uma situação chata, pois como não sou lá um grande economista, costumo sempre depositar as notas e usar as moedas para minhas despesas do dia a dia, cerveja, comida, ônbus e por ai vai.

Fim de mês, mochila cheia de moedas e eu mudo de vagão para continuar despertando os leitores do seu sono literário. Sim, é assim que eu enxergo o que faço, sou despertador ambulante, um guerrilheiro da poesia. Assalto poeticamente as vítimas em seu momento mais vulnerável: quando estão completamente entediadas, naquela espera até a estação de desembarque. Afinal são muitos os que ficam olhando pro tempo, que jogam um joguinho estúpido no celular, fazem as unhas ou qualquer outra coisa sintomática do tédio absoluto.

Enquanto são absorvidas por um tédio (que só não é maior que ver faustão no domingo na casa da avó) eu levo meu livreto de poemas até elas, algumas se atiçam pela curiosidade quando falo que estou vendendo aquele pedaço de papel, outras abrem o livreto no meio (sim a maioria abre exatamente no meio do livreto) e encontram um poema erótico-engraçadinho, tem também aquelas que quando eu falo a palavra mágica: "poesia" se eriçam na hora. O negócio é que em dois ou três minutos eu coloco um vagão inteiro para ler poesia.

Sim, umas trinta a quarenta pessoas com livreto na mão e lendo poesia. Umas param na primeira e voltam pro universo do tédio, outras já querem comprar! São aquelas que realmente acreditam na poesia e no poder encantatório das palavras. Tem quem leia até o final devorando absortas e nem percebem quando passo recolhendo os livretos, essas se não prestarem atenção que eu estou recolhendo me deixam com o ego tão envaidecido que acabam ganhando o livreto, pois começo achar que seria um crime estragar aquela leitura tão ávida. Tem quem devolva o livreto sem nem abrir e também quem me deseje sorte para lançar meu livro, mal sabendo que com os livretos eu chego a um público que eu nunca conseguiria chegar com o livro, mas eu sorrio e agradeço aos votos.

Mas meu dia é ganho mesmo quando acontecem aqueles eventos únicos como a senhora negra de cabelos brancos que se levanta e começa a recitar um poema meu para suas companhias, sim e é aquele poema erótico-engracadinho! Ela recita em plenos pulmões e fica me elogiando à beça. Eu, claro, fico vermelho de vergonha mas se colocarem uma agulha perto do meu ego ele explode de tão inflado! A senhora então desmancha elogios, diz de como é bom que alguém faça isso no metrô, que leve  poesia e arte para as pessoas. A cada elogio ela me encabula mais e mais. Nesse momento eu dou corda, conto para ela do meu sonho que é ter mais e mais gente lendo poesia. Nesse vagão praticamente ninguém me devolve os livretos e melhor, são poucas as moedas e muitas as notas.

Tem quem diga que eu deveria fazer isso na lapa, na frente do CCBB, da biblioteca nacional e outros grandes lugares onde a turma cultural está reunida. Eu conto o caso que aconteceu comigo no trem, bom, no trem se compra e vende de tudo e lá eu aprendi que todo mundo pode se abrir a uma experiência nova se lhe for oferecida. Quando vendo poesia eu nunca seleciono público, seleciono quem vai ler e quem não vai. Nisso os ambulantes que estão ali também recebem livretos, e leem e se divertem com meu trabalho. Mas o melhor dia foi quando eu escutei: "Ei, Lucas, tem poesia nova ai?" e quem me perguntou isso foi o vendedor de coca, cerveja e água. Sim, de bermuda e havaianas e camisa do flamengo  ele me veio pedir por mais poesia! O esteriótipo perfeito que muitos dos cultos diriam que jamais iriam gostar de poesia. Mas estava ali me perguntando se eu tinha mais. Ao entregar o livreto ele me fez a pergunta de sempre: "quanto custa?" e eu como sempre com um sorriso desafiador respondi: "Você é quem me diz quanto vale" a resposta me surpreendeu: "pode ser uma coca?". Confesso que eu nunca bebi uma coca cola com tanto prazer.

Tem mais outros tantos casos, estórias engraçadas e divertidas mas agora vou voltar pra minha quinta feira e contar uma das travessuras que aprontei no metrô. Sim, eu acabo vendendo muito no metrô mas ali a venda de poesia não é uma atividade muito bem quista pelos seguranças. Quando entro em um vagão tenho que tomar cuidado para ver se não tem um segurança a bordo, eles sempre me chateiam.  Era o segundo vagão da noite, entrei e caminhei até o fundo dele quando reparei quase imperceptível um segurança, ele me notou.  Esperei sentado no percurso até a próxima estação e quando fui trocar para o vagão de trás o nosso amigo veio me seguir. Aquela situação estava chata e eu tive que pensar rápido. Quando o apito do metrô soou para as portas se fecharem eu saltei do vagão. E a porta se fechou atrás de mim sem que desse tempo dele continuar atrás. A verdade é que me senti meio que num filme de ação e tive que resisitir a virar e dar tchauzinho para o homem de preto. Sentei na estação, tirei os óculos, vesti o agasalho longe das cameras de segurança e fiquei jogando no celular até o próximo metrô passar.

Ser poeta sobre trilhos, talvez o único poeta underground (literal) do rio, é um enorme prazer. Ver o sorriso no rosto alheio, os olhares encantados, a felicidade estampada vale os riscos. Ninguém pode me tirar esse prazer, principalmente quando sei que são milhões de leitores adormecidos que passam por ali todo dia, aos poucos eu vou conseguindo levar até eles. Oito mil livretos vendidos nesse processo que já dura seis meses. Mas a pergunta que me move é: você tem ideia do que pode uma mente que voltou a usar a sua imaginação?

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A virgem do Cabaré

Lucas C. Lisboa

Dez minutos uma era
nos trinta jaz descontente
rói o esmalte como fera
até chegar na carne rente

A boa moça descabela
bate a bota no batente
da porta na longa espera
do seu primeiro cliente

Ela, uma boa moça pura
treme a perna sem postura
que dê jeito a sua pressa

Mal vê quando a tecitura
do vestido cai na procura
sem mais amor ou promessa

domingo, 28 de agosto de 2011

Quadras para todos

Lucas C. Lisboa

tsunami no japão
terremoto na turquia
papa pede pelo pão
da primeira eucaristia

tsunami no japão
terremoto na turquia
pede a puta por paixão
pelo pau de sodomia

o chucrute é alemão
e tapioca é da bahia
pastor bolina o portão
pelo faro de vadia

o chucrute é alemão
e tapioca é da bahia
pecado é dançar baião
com a moça sem calcinha

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Versos e Flores


Lucas C. Lisboa

um romântico canalha
é que se diz poeta
que assim sem querer desperta
o amor com fogo de palha

faz da moça doce e certa
sua putinha de cangalha
e viseira sem que valha
à pena nessa sua festa

suspira ela apaixonada
e voz da mãe não diz nada
que ajuize sua cabeça

lhe dizem: pobre coitada
foi no verso enfeitiçada
por ele de quarta a terça!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O que pensa o poeta sobre trilhos?


O artista foi durante o século passado o que menos ganhou com sua própria arte, o advento da reprodutibilidade técnica e sua consequente monopolização fez com que o artista sujeitasse seu trabalho à exploração alheia. Em livros, cds, filmes e tudo mais o artista por mais que ganhe muito não fica com sequer 10% do montante arrecadado.

Mas como todo sistema contém em si o germe de sua destruição a reprodutibilidade técnica se aprimorou de tal forma que se tornou acessível a qualquer pessoa por valores que tornaram o monopólio do passado insustentável. 

Hoje a banda mais bonita da cidade lançou-se na internet e fez sucesso furando a fila das gravadoras. E eu enquanto poeta edito meus livretos usando meu computador e o levando até uma gráfica barata. Com sete mil livretos rodados eu furei a fila da crítica literária, das editoras, das associações e instituições que monopolizavam a arte. 

Usando do próprio sistema que um dia oprimiu a arte é possível hoje viver de arte no brasil de forma autônoma e independente. Eu vivo integralmente de poesia e vivo de uma forma que editora nenhuma permitiria ou daria para um autor exceto os grandes e escolhidos pela sacrossanta entidade chamada Mercado. 

Mas agora esse deus está sendo desvelado, o que há são apenas homens e anseios, ao artista cabe identificar esses anseios, identificar e dar a panacéia para as almas que estão adormecidas em um pesadelo sufocante onde tudo está pronto e acabado. O mundo se tornou novo e maior em possibilidades, estamos todos enjaulados mas o carcereiro está sonolento isso é se já não dormiu. 

Eu vivo como uma areia grande engrenagem do sistema, usando os artifícios criados para me controlar ao meu favor. Os apitos do trem que um dia me diziam a hora de entrar e sair do vagão para não chegar atrasado no trabalho hoje servem de cadência para que eu desperte a imaginação de tantos quanto possíveis novos leitores libertos da ditadura cultural outrora hegemônica.

Nenhuma ideia é genuinamente nova. Mas creio ter descoberto uma forma de usar as engrenagens desse nosso sistema mecanizado e massificador em favor da poesia, em favor da arte. A magia de ver um vagão inteiro, com cinquenta ou mais pessoas, lendo poesia e usando novamente a imaginação é uma sensação única.

Dentro de uma estrutura tão mecanizada, onde os passageiros entram e saltam do metrô de acordo com os apitos e gravações que anunciam as estações, eu consegui penetrar num espaço inexplorado. O tempo que cada indivíduo aguarda pacientemente a sua estação. 

É um momento onde boa parte da industria cultural simplesmente não pode alcancá-lo. São vinte minutos de absoluto tédio e vazio, onde o leitor adormecido pode enfim ser despertado.

Nesse momento onde a indústria cultural tão onipresente falha e o deixa perdido e desamparado em seu contato consigo mesmo é que a poesia tem a chance de despertá-lo desses pesados grilhões. Uma mente que se abre para uma nova idéia nunca mais volta a ter o mesmo tamanho de antes. 

O indivíduo que nunca antes teve o prazer de ler algo e o tem se modificou, modificou-se em sua essência se tornou um potencial leitor, voltou a usar uma imaginação que estava adormecida há muito.

E falando em idéias a minha tem pai E mãe! De um lado os tantos poetas que se auto-publicam, do outro um mar de vendedores ambulantes que vendem de tudo nos trens do rio de janeiro. Quando eu vi essas duas realidades, do modus operandi de ambos. 

Vi que valia à pena tentar um híbrido pois se existia que apreciava arte e também existia público para os produtos mais insólitos que eram vendidos aos montes pelos ambulantes dentro dos vagões, também poderia haver público para a poesia sobre trilhos.

Há pequenos eventos que marcaram fortemente minha passagem nos metrôs e um eu não canso de relembrar que é o do vendedor de cerveja, água e coca cola que sempre que me vê pergunta se há uma nova edição de meu livreto e troca comigo por uma lata de refrigerante. Aqui não se trata de nenhum tipo de "ajuda" ao poeta ou coisa parecida. Se trata de um legítimo indivíduo que teve o prazer da leitura despertado. 

E eu não posso querer nada mais verdadeiro que isso. Se de todos os meus livretos já vendidos eu tiver conseguido despertar esse prazer em 1% dos leitores já me considerarei feliz e bem sucedido mais do que em toda minha vida.

domingo, 14 de agosto de 2011

Sentimento

Lucas C. Lisboa

Eu quero lhe convidar
prum luau particular
levo vinho e poesia
você sua carne macia

vamos juntos degustar
ao sabor da lua e do mar
nossa vontade vadia
de nos amar noite e dia

Estrelas em serenata
os dois deitados na areia
em um sonho de mãos dadas

Eu serei o seu pirata
e você minha sereia
de doces madeixas douradas

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As quadras d'Eu (Autobiografia)

Lucas C. Lisboa

Eu, garoto cefaléia,
lotado de rebeldia
para o mundo a panacéia
em poemas escrevia

do som puro de idéia
é orfã minha poesia
num choro de Medéia
em metro e melancolia

na redondilha plebéia
sou o bobo que a corte ria
tal hienas na alcatéia
ou cio da gata que mia

hoje viajo na boléia
dos trilhos em sinfonia
levando luz à miséria
com poética vadia

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Poesia de Viagem

Lucas C. Lisboa

Sr. Motorista
alegre seu dia
e pare na pista
dê carona a poesia!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Todas as quintas

Lucas C. Lisboa

Brincava como moleque
e de muita piada pronta
ria co'a face e coração
na mesa a noite inteira

Compartilhava do Domecq
que passava de mão em mão
como procissão de santa
até a gota derradeira

A turma era sua catarse
mas de todos foi primeiro
pedindo a parcial da conta
dessa vida injusta e tonta

O câncer em sua metástase
leva embora o companheiro
de todas as quintas-feiras
no mesmo bar e cadeira

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Lançamento do livro - Faltam 27 dias!

Olá!

Venho agradecer a contribuição e apoio de todos que me ajudaram com o projeto de lançamento de meu livro: Sobre Máscaras e Espelhos. Consegui arrecadar os fundos necessários para o lançamento e já tenho a data do evento aqui em Belo Horizonte : 07 de outubro.

Entretanto, o projeto arrecadou 2/3 do valor pretendido e como restam ainda 27 dias para o encerramento do periodo de doações pela lei rouanet (31 de agosto) venho aqui novamente divulgar como podem contribuir para que também seja realizado o lançamento na cidade do rio de janeiro e que seja possível lançar em conjunto a versão em áudio para deficientes visuais e uma reformulação do site para que todo conteúdo se torne mais acessivel.

Levar a poesia para todos é um de meus objetivos e sinto que o projeto só se realiza com e para todos. A acessibilidade foi o que motivou a levar a poesia para dentro dos vagões do metrô, levando a arte até quem há muito não tinha o prazer literário e é o que me motiva a querer a versão em áudio de meu livro para que esteja cada vez mais ao alcance de todos a literatura.

Agradeço a atenção e abaixo segue o projeto e como pode ajudar a tornar esse sonho uma realidade.

Obrigado

Lucas C. Lisboa

O que é o projeto “Sobre Máscaras e Espelhos”?

O projeto trata da publicação e da divulgação do livro "Sobre máscaras e espelhos". O livro é um compilado de sonetos e contos que o autor publicou por vários anos no site www.srpersonna.blogspot.com. O texto é fruto de um projeto experimental que pretende, através do resgate histórico das características do simbolismo e do parnasianismo, encontrar novas maneiras de abordar angustias e temáticas contemporâneas. O resultado dessa experiência é um texto denso, rico e de alto valor histórico-literário, uma vez que resgata as características e valoriza a memória de uma época importante e pouco lembrada da literatura brasileira.

O que é um investidor cultural?

Investidor cultural é aquela pessoa que destina parte do seu imposto de renda para projetos culturais.

Quanto eu posso deduzir do valor investido no projeto?

O projeto “Sobre Máscaras e Espelhos” foi aprovado na Lei Rounaet no artigo 18. Isso significa que qualquer doação que você realizar para o projeto permitirá 100% de dedução no IR.

Como eu posso investir no projeto?

Para investir no projeto ou tirar qualquer dúvida basta entrar em contato com os responsáveis pelo projeto:
Luciana - lucianaacoelho@yahoo.com.br / 31 8334-2666
Lucas Lisboa – lucasc.lisboa@gmail.com / 31 9874-2347 ou  21 8391-7732
Para mais informações do projeto ou para acompanhá-lo, acesse o site no Ministério da  Cultura: www.cultura.gov.br

Dados para depósito
Banco do Brasil
Agência 33685
Conta 426261

O que é a Lei Rouanet (lei federal de incentivo a cultura)?

A Lei Rouanet criou o PRONAC – Programa Nacional de Apoio a cultura, que tem como finalidade obter recursos para a área de cultura através de renuncia fiscal. Tanto empresas quanto pessoas físicas podem deduzir imposto através dessa lei. Nessa cartilha nós vamos tratar apenas das deduções realizadas por pessoas físicas. A Lei Rouanet é uma ótima oportunidade de definir como parte do dinheiro que você paga ao governo é utilizado.

Como me tornar um investidor cultural?

É muito fácil investir em cultura. Primeiro é preciso encontrar um projeto cultural que tenha sido aprovado na Lei Rouanet (lei federal de incentivo a cultura). Depois você decide quanto quer investir no projeto. Então é a hora de contatar o responsável pelo projeto e fazer o depósito na conta bancária do projeto. Lembre-se de pedir e guardar o recibo da doação. Quando você for fazer a declaração de IR basta lançar os dados do investimento cultural e você poderá abater uma parte ou a totalidade do valor investido.

Como saber quanto eu posso abater do IR?

Primeiro você precisa verificar em qual artigo o projeto que você escolheu está incluído. Projetos incluídos no artigo 18 permite 100% de abatimento e projetos incluídos no artigo 26 apenas 80%. Isso acontece porque o ministério da cultura privilegia o investimento em algumas áreas como literatura e artes cênicas. Outro coisa importante: você só pode abater até 6% do imposto devido. Qualquer valor acima desse teto não poderá ser abatido do IR. Entram também nesse teto doações feitas ao Fundo da criança e através da Lei de incentivo ao esporte. Veja abaixo como calcular esse valor, a seta vermelha indica quanto imposto você deve ao fisco. Use esse valor para calcular quanto você pode investir em cultura, ou seja até 6% desse valor.  Na sua declaração de imposto de 2010 uma estimativa desse valor. Se você não tem os valores da sua declaração de 2010, faça uma simulação com a sua estimativa de rendimento de 2011.




Abra o programa de declaração da Receita Federal; vá em “cálculo de imposto” (em azul, com seta vermelha). Verifique o valor no campo “Imposto” (assinalado em vermelho). Você pode deduzir até 6% desse valor. No caso, até: R$ 950,52

É burocrático e complicado lançar o abatimento no IR?

Não, na verdade é bem simples. A primeira coisa que você deve fazer é fazer sua declaração de IR pelo modelo completo. Quem utiliza o modelo simplificado não pode deduzir investimentos em cultura. Após fazer sua doação você recebe o recibo de mecenato. Lembre-se de guardá-lo. Para facilitar a emissão do recibo forneça ao empreendedor cultural os seguintes dados: CPF, endereço, CEP e telefone.

Os dados que você deve guardar são os que estão marcados em vermelho: O número de PRONAC que identifica o projeto e o CPF/CNPJ do proponente do projeto. Com o recibo em mão você pode lançar a sua doação na declaração de imposto de 2011.



Como eu declaro o pagamento realizado ao projeto?

Vá no item “Pagamentos e Doações Efetuados” (seta vermelha); inclua um novo item; utilize o código 41 “Incentivo a cultura”. Coloque como nome o número de PRONAC do projeto e o CPF do proponente. Indique o valor doado e no campo “parcela não dedutível” deixe 0, pois projetos aprovados no artigo 18 permitem 100% de dedução.


Como eu vou receber o valor abatido do IR?

Você recebe o valor investido em cultura de volta na mesma data em que receber a restituição do seu IR ou for pagar o IR. A doação para projetos culturais é vantajosa tanto para quem tem imposto a pagar quanto para quem tem restituição a receber. Veja como fica a declaração em ambos os casos:

Imposto a pagar sem contribuição a cultura:


Imposto a pagar com contribuição a cultura:


Observe que no primeiro caso o saldo a pagar era de R$ 672,92 e que no segundo, devido a doação, caiu para R$ 172,92.

Veja agora um exemplo de imposto a restituir:

Restituição sem contribuição a cultura:

Restituição com contribuição a cultura:
Observe que no primeiro caso havia apenas R$ 152,08 a receber de restituição. Já no segundo havia R$ 652,08 para receber.

Quem é o autor do livro?

O autor é o jovem escritor mineiro Lucas Castro Lisboa, que atualmente cursa filosofia com foco em literatura na Universidade Federal de Minas Gerais. Antes disso ele concluiu 6 semestres de direito na Universidade federal de Ouro Preto. Desde 2003 que o autor mantém publicações regulares na internet. Ele participou como colaborador do blog “Poesia Formada” durante 3 anos e também manteve o blog “Poeta do Hediondo”. A partir de 2006, ele passou a escrever no blog “Sr. Personna, o que trazes para mim?”, que permanece ativo até hoje. O autor possui duas publicações em jornais: uma no jornal Mogi News (2007) e outra no jornal O Tempo (2007).  E também participa do Fórum Spell Brasil (poesia), e já participou de vários saraus como o Jus Noctis (2003-2008), Penumbra (2006-2008), FALE-UFMG (2007-2008) e FAFICH- UFMG (2007-2008).


Quais ações estão previstas no projeto?

No projeto estão previstas as seguintes ações:

Produção de 1400 exemplares do livro dos quais 770 serão doados para bibliotecas, centros de cultura e escolas públicas. O restante será destinado a vendas com preços populares.

Evento de lançamento do livro onde acontecerão performances teatrais baseadas em sonetos da obra.

Reformulação do site do autor, onde haverá além da publicação de poemas, textos voltados para literatura e linguística.

Disponibilização de uma versão em áudio do texto do livro, permitindo a inclusão social de deficientes visuais.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A fé da ciência

Lucas C. Lisboa

Qual é a linha tênue que separa a fé da ciência? Quando um conhecimento vira mero misticismo e deixa de ser a verdade para um povo? O método científico guarda em si muito do modus operandi da própria experiência mística.

Dizem que o que os distinguem é o dogmatismo. Quem diz isso decerto que não conhece os debates acalorados dos medievais sobre questões e minúncias teológicas, sobre formas lógicas e todo o rigo que pode chegar o estudo das verdades pré revolução científica.

Além disso, dizer que a própria ciência é livre dos perigos do dogmatismo é uma falácia sem tamanho. A comunidade científica é lenta como um estegossauro quando se trata de revoluções, de mudar seus paradigmas. Um cientista que diz que todos os cisnes são brancos, ao se deparar com um cisne negro, prefere batizá-lo de visne a mudar sua teoria a respeito da hegemonia do branco nos cisnes.

Antigamente aqueles que buscavam a verdade subiam aos montes, trajando mantos ornamentados, se entorpeciam com ervas e cânticos e de lá traziam as respostas do universo. 

Hoje aqueles que buscam a verdade se trancam em laboratórios, trajando jalecos brancos com o crachá do lado, se entorpecem com café e cálculos e de lá trazem as respostas do universo.

Se antes a fala do sarcedote era a lei divina, hoje quando o senhor de jaleco branco  diz sobre algo é a divina ciência que está proferindo seu veredicto que deve ser seguido à risca sob pena de incorrer na ignomia de seguir crenças "irracionais" da mesma forma que outrora eram condenados ao inferno quem adorasse falsos deuses.

O homem tem uma necessidade tão forte de se afirmar dentro de um paradigma, qualquer que seja ele, que se arroga no direito de cientificisar a  religião e imprimir de fé a ciência. Na nossa era tecno-científica os sarcedotes, portadores da verdade, usam jaleco branco.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Aos leitores adormecidos nos trilhos

Lucas C. Lisboa

Dentro do vagão seguem assentadas
umas dezenas de almas entediadas
Eu, poeta, resgato tais leitores
com meus versos de riso humor e amores

Eu deixo novamente se encantadas
com as letras de minhas mil rimadas
e são pessoas que esquecem das suas dores
com poemas de tantas belas cores

Vejo a imaginação viajar de quem
não lia nada que não fosse colégio
ou faculdade que mandasse ler

Se me pagam com cobre ou vintém
digo que muito mais me vale o régio
prazer duma leitura reacender

terça-feira, 12 de julho de 2011

Poeta sobre trilhos

Lucas C. Lisboa

Ela diz que sou vadio
por viver de poesia
sequer respondo só rio
por ser tudo q'eu queria

terça-feira, 5 de julho de 2011

Análise Literária do Poema de Sete Faces de Carlos Drummond de Andrade

Lucas C. Lisboa

O “Poema de Sete faces” de Carlos Drummond de Andrade foi publicado pela primeira em seu primeiro livro “Alguma Poesia” de 1930. É um poema composto de sete estrofes, faces. Que mostram um aspecto da percepção de mundo do autor. Passeia por diversos temas como quem está em um bar vendo a vida passar e comentando do que vê, pensa e sente. É um poema em verso livre mas que possui uma unidade ritimica ditada pela cadência da oralidade. Tem em sua maioria versos brancos e a rima quando ocorre não é acidental ou formal mas um elemento acessório ao conteúdo. Trata-se de um exemplar de estilo típico de sua obra onde mistura muita oralidade a eruditismos pinçados em pontos estratégicos para o entendimento do texto.

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

Em sua primeira estrofe o poeta se insere no poema e declara-se parte de um mundo torto. Carlos insere-se no poema ao dar seu próprio nome ao eu-lírico. E declara-se parte de um mundo torto quando o próprio anjo declara que ele e Carlos estão fadados a terem o mesmo destino pois ele anjo torto o declara fadado a seguir o caminho "gauche" na vida. Gauche, que em francês é aquilo que não é direito, o esquerdo e, por extensão, aquilo que é torto. Tal anjo torto vive na sombra, um anjo que foge do calor do sol dos trópicos, um anjo que traz consigo o sentimento de que o jeito mais fácil, mais simples mais cômodo é melhor que o jeito direito. A primeira estrofe é uma face de identificação de Carlos Drummond de Andrade com seu mundo, com sua realidade e sua brasilidade.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

Ampliado sua visão para fora do seu eu Carlos, observa a cidade onde até as árvores são testemunhas dos desejos humanos e como esses desejos tão intensos conseguem por fim até mesmo ao azul do céu. Afinal, a tarde teria um céu azul se não fossem as ganancias e cobiças humanas que enegrecem o céu com suas fumas de cigarros e carros pois um homem para conquistar uma mulher precisa ostentar-se precisa sujar o mundo e fazer-se brilhar para que sua corrida não seja em vão.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

Para além dos desejos dos homens há a coletividade, há a massificação de pessoas, transporte em massa, gente que perambula de um lado para o outro, gente brasileira de pernas de todas as cores. O comentário do poeta "Para que tanta perna meu Deus" é ambiguo e pode ser interpretado num porquê tanta variedade de cores e de etinias mas também em um sentido mais forte no porque de tantas massas. Mas é o coração que julga, coração que tem medo, que tem receios que pensa e julga o outro. Os olhos preceptores da razão apenas analisam, não há dúvidas para o mundo mecanizado da razão pela qual os operários, os trabalhadores de um transporte coletivo precisam se desloacar como uma massa pelo bonde.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás do óculos e do bigode.

Dentro da massa de pessoas o poeta elege um homem, entre tantos que passeiam pela rua este elege os óculos e o bigode como sua máscara, sua marca para enfrentar o quotidiano. Uma máscara reservada e simples que garante sua integridade e distancia do mundo.

Meu Deus, porque me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Carlos reclama a um Deus relapso que permite que seus soldados vivam à sombra que também o abandonou sabendo que ele era como todos os outros um fraco, com defeitos um torto. Remete ao existencialismo que coloca o homem como um deus que defeca, como um ser que apesar de potencialmente poder alcançar as estrelas é também fadado aos defeitos e desventuras de ser imperfeito e de viver num mundo do contingente e não do necessário.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo
mais vasto é meu coração.

Em sua penúltima estrofe Carlos traz para o poema o meta-poema para discutir a solução de seu mundo gauche, de anjos tortos, sem Deus, de tantas pernas coloridas e também de outras tantas máscaras que se fazem rostos. A face que Drummond mostra nesse verso é uma face ambigua onde confessa a incapacidade da rima, ou seja por metonímia a própria poesia, de dar uma solução ao mundo. Mas depois busca sua solução para vastidão do mesmo mundo dizendo que com seu coração seria capaz de dar conta desse mundo.

A primeira questão que sucita dessa estrofe é quanto a capacidade desse coração que, como foi visto anteriormente, é fraco, tem medos e incertezas, cheio de dúvidas. A outra questão que soa mais relevante é a dada solução, numa rima paupérrima Carlos aproxima o sentido de solução e coração num flagrante contraditório com a incapacidade da rima de ser uma solução como posto pela conjectura a respeito de seu nome ser Raimundo. Tal contradição não se soluciona, o coração tão frágil é incapaz de abarcar todo mundo como Carlos propõe a primeira vista, pois sua relação com o próprio poema com sua própria justificativa é falha num processo lógico-poético onde a rima é posta ao nada para depois aparecer com solução. Pois o poeta cai em um ciclo vicioso quando nega a importância dela para depois subrepticiamente usá-la como solução. Não é para menos que o poeta se embriaga em sua última estrofe.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo

Carlos traz seu leitor nesse momento a uma intimidade de quem confidencia um segredo, como se estivessem numa mesa de bar tão típica das minas gerais. Evocando a lua e o álcool, os maiores patronos da poesia romântica, se despede do poema culpando seu coração por todos os seus desabafos e desvarios anteriores. Abraçando o diabo como quem abraça o amigo bêbado depois da última saideira do botequim termina seu poema. Sim, o poeta se declara num estado de comoção do diabo, intensa. Um diabo num mundo onde os anjos são tortos e vivem nas sombras, se até os anjos o condenam à ser mais um tão torto quanto eles Carlos encontra nessa comoção, nesse romantismo uma solução para o vasto mundo que pretende caber em seu coração.

Morar sozinho é

ter uma geladeira
de gelo no isopor
e fazer comida
usando um ebulidor

domingo, 3 de julho de 2011

Villanelle de um Cardigã

Lucas C. Lisboa

Vou despir seu cardigã
na verdade vou rasgá-lo
em mil pedaços de lã

saiba que tenho um afã:
quero seu seio desnudá-lo
vou despir seu cardigã

Vou lhe jogar ao divã
e todo corpo amarrá-lo
em mil pedaços de lã

não lhe quero nada sã
será sonho o pesadelo
vou despir seu cardigã

do poente até a manhã
quero o desejo singelo
em mil pedaços de lã

é por isso que lhe falo
que juro e sequer vacilo
vou despir seu cardigã
em mil pedaços de lã

quarta-feira, 29 de junho de 2011

por você

Lucas C. Lisboa

faço do sono vigilia
de peninsula uma ilha
enxugo cubo de gelo
crio sonho de pesadelo

faço verso em redondilha
de limusine a brasília
eu lhe deixo nua em pelo
e do motel um castelo

eu só não lhe abro os mares
nem curo todos os males
que nasce dentro do peito

não deixo que a fome acabe
pois uma dorzinha cabe
dentro dum amor perfeito

terça-feira, 28 de junho de 2011

Villanelle de um Vadio

Lucas C. Lisboa

Não sou terreno baldio
com meu peito abandonado
por um coração vadio

Se tem a sede de um rio
pois tome muito cuidado
não sou terreno baldio

Apenas nunca sacio
o desejo apaixonado
por um coração vadio

Pela flor não lhe sorrio
em um gesto perfumado
não sou terreno baldio

que carente pelo frio
se apanha todo encantado
por um coração vadio

Me fiz de torto e errado
por um peito apedrejado
Não sou terreno baldio
por um coração vadio

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Prato Feito

Lucas C. Lisboa

Comi uma quentinha
na cantina da vizinha
uma marmita bem feita
que para fome é perfeita

Salsa, sal e cebolinha
arroz, feijão e farinha
o bife ninguém rejeita
e a gula se aproveita

comem todos os famintos
na cantina da vizinha
que é também deusa e rainha

dos vermes e platelmintos
que dão fome a quem caminha
pra cantina da vizinha

terça-feira, 14 de junho de 2011

Amor paralelo

Lucas C. Lisboa

Eu ia de bar em bar
nas retas ruas de BH
fui ate a magia que emana
de Ouro Preto e Mariana

Pensei mesmo em me alojar
em Caxias pra pouco ficar
Mas parti pra onde as esquinas
são de ruas paralelinas

Cheguei ao Rio de Janeiro
onde é sempre carnaval
desde março a fevereiro

Mas não foi surpresa tal
quando fiz um par mineiro
num amor de trilha igual

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Flerte de Espelhos

Lucas C. Lisboa

são loucuras sim
galanteios lhe trariam
direto pra mim

domingo, 5 de junho de 2011

Como publicar o livro do Sr. Personna?

O que é o projeto “Sobre Máscaras e Espelhos”?

O projeto trata da publicação e da divulgação do livro "Sobre máscaras e espelhos". O livro é um compilado de sonetos e contos que o autor publicou por vários anos no site www.srpersonna.blogspot.com. O texto é fruto de um projeto experimental que pretende, através do resgate histórico das características do simbolismo e do parnasianismo, encontrar novas maneiras de abordar angustias e temáticas contemporâneas. O resultado dessa experiência é um texto denso, rico e de alto valor histórico-literário, uma vez que resgata as características e valoriza a memória de uma época importante e pouco lembrada da literatura brasileira.

O que é um investidor cultural?

Investidor cultural é aquela pessoa que destina parte do seu imposto de renda para projetos culturais.

Quanto eu posso deduzir do valor investido no projeto?

O projeto “Sobre Máscaras e Espelhos” foi aprovado na Lei Rounaet no artigo 18. Isso significa que qualquer doação que você realizar para o projeto permitirá 100% de dedução no IR.

Como eu posso investir no projeto?

Para investir no projeto ou tirar qualquer dúvida basta entrar em contato com os responsáveis pelo projeto:
Luciana - lucianaacoelho@yahoo.com.br / 31 8334-2666
Lucas Lisboa – lucasc.lisboa@gmail.com / 31 9874-2347 ou  21 8391-7732
Para mais informações do projeto ou para acompanhá-lo, acesse o site no Ministério da  Cultura: www.cultura.gov.br

Dados para depósito
Banco do Brasil
Agência 33685
Conta 426261

O que é a Lei Rouanet (lei federal de incentivo a cultura)?

A Lei Rouanet criou o PRONAC – Programa Nacional de Apoio a cultura, que tem como finalidade obter recursos para a área de cultura através de renuncia fiscal. Tanto empresas quanto pessoas físicas podem deduzir imposto através dessa lei. Nessa cartilha nós vamos tratar apenas das deduções realizadas por pessoas físicas. A Lei Rouanet é uma ótima oportunidade de definir como parte do dinheiro que você paga ao governo é utilizado.

Como me tornar um investidor cultural?

É muito fácil investir em cultura. Primeiro é preciso encontrar um projeto cultural que tenha sido aprovado na Lei Rouanet (lei federal de incentivo a cultura). Depois você decide quanto quer investir no projeto. Então é a hora de contatar o responsável pelo projeto e fazer o depósito na conta bancária do projeto. Lembre-se de pedir e guardar o recibo da doação. Quando você for fazer a declaração de IR basta lançar os dados do investimento cultural e você poderá abater uma parte ou a totalidade do valor investido.

Como saber quanto eu posso abater do IR?

Primeiro você precisa verificar em qual artigo o projeto que você escolheu está incluído. Projetos incluídos no artigo 18 permite 100% de abatimento e projetos incluídos no artigo 26 apenas 80%. Isso acontece porque o ministério da cultura privilegia o investimento em algumas áreas como literatura e artes cênicas. Outro coisa importante: você só pode abater até 6% do imposto devido. Qualquer valor acima desse teto não poderá ser abatido do IR. Entram também nesse teto doações feitas ao Fundo da criança e através da Lei de incentivo ao esporte. Veja abaixo como calcular esse valor, a seta vermelha indica quanto imposto você deve ao fisco. Use esse valor para calcular quanto você pode investir em cultura, ou seja até 6% desse valor.  Na sua declaração de imposto de 2010 uma estimativa desse valor. Se você não tem os valores da sua declaração de 2010, faça uma simulação com a sua estimativa de rendimento de 2011.




Abra o programa de declaração da Receita Federal; vá em “cálculo de imposto” (em azul, com seta vermelha). Verifique o valor no campo “Imposto” (assinalado em vermelho). Você pode deduzir até 6% desse valor. No caso, até: R$ 950,52

É burocrático e complicado lançar o abatimento no IR?

Não, na verdade é bem simples. A primeira coisa que você deve fazer é fazer sua declaração de IR pelo modelo completo. Quem utiliza o modelo simplificado não pode deduzir investimentos em cultura. Após fazer sua doação você recebe o recibo de mecenato. Lembre-se de guardá-lo. Para facilitar a emissão do recibo forneça ao empreendedor cultural os seguintes dados: CPF, endereço, CEP e telefone.

Os dados que você deve guardar são os que estão marcados em vermelho: O número de PRONAC que identifica o projeto e o CPF/CNPJ do proponente do projeto. Com o recibo em mão você pode lançar a sua doação na declaração de imposto de 2011.



Como eu declaro o pagamento realizado ao projeto?

Vá no item “Pagamentos e Doações Efetuados” (seta vermelha); inclua um novo item; utilize o código 41 “Incentivo a cultura”. Coloque como nome o número de PRONAC do projeto e o CPF do proponente. Indique o valor doado e no campo “parcela não dedutível” deixe 0, pois projetos aprovados no artigo 18 permitem 100% de dedução.


Como eu vou receber o valor abatido do IR?

Você recebe o valor investido em cultura de volta na mesma data em que receber a restituição do seu IR ou for pagar o IR. A doação para projetos culturais é vantajosa tanto para quem tem imposto a pagar quanto para quem tem restituição a receber. Veja como fica a declaração em ambos os casos:

Imposto a pagar sem contribuição a cultura:


Imposto a pagar com contribuição a cultura:


Observe que no primeiro caso o saldo a pagar era de R$ 672,92 e que no segundo, devido a doação, caiu para R$ 172,92.

Veja agora um exemplo de imposto a restituir:

Restituição sem contribuição a cultura:

Restituição com contribuição a cultura:
Observe que no primeiro caso havia apenas R$ 152,08 a receber de restituição. Já no segundo havia R$ 652,08 para receber.

Quem é o autor do livro?

O autor é o jovem escritor mineiro Lucas Castro Lisboa, que atualmente cursa filosofia com foco em literatura na Universidade Federal de Minas Gerais. Antes disso ele concluiu 6 semestres de direito na Universidade federal de Ouro Preto. Desde 2003 que o autor mantém publicações regulares na internet. Ele participou como colaborador do blog “Poesia Formada” durante 3 anos e também manteve o blog “Poeta do Hediondo”. A partir de 2006, ele passou a escrever no blog “Sr. Personna, o que trazes para mim?”, que permanece ativo até hoje. O autor possui duas publicações em jornais: uma no jornal Mogi News (2007) e outra no jornal O Tempo (2007).  E também participa do Fórum Spell Brasil (poesia), e já participou de vários saraus como o Jus Noctis (2003-2008), Penumbra (2006-2008), FALE-UFMG (2007-2008) e FAFICH- UFMG (2007-2008).


Quais ações estão previstas no projeto?

No projeto estão previstas as seguintes ações:

Produção de 1400 exemplares do livro dos quais 770 serão doados para bibliotecas, centros de cultura e escolas públicas. O restante será destinado a vendas com preços populares.

Evento de lançamento do livro onde acontecerão performances teatrais baseadas em sonetos da obra.

Reformulação do site do autor, onde haverá além da publicação de poemas, textos voltados para literatura e linguística.

Disponibilização de uma versão em áudio do texto do livro, permitindo a inclusão social de deficientes visuais.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Poeta

Entro na alma alheia
sem pedir licença
são meus versos rudes
que marcam presença

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Cruel

Lucas C. Lisboa

Corte o fio do novelo
no qual você me teceu
sonhos e que o pesadelo
de rubro sangue manchou

É do seu lábio o vermelho
que minha boca rasgou
quando ocorre o mau conselho
de quem o engano pregou

São gralhas de mau agouro
que tem veneno prum touro
mas como doçura de mel

Porque deixou se embalar
numa canção de ninar
na linha do carretel?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Café da Manhã

Lucas C. Lisboa

Ela trouxe dedicada
café com gotas de leite
e também duas torradas
temperadas com azeite

Nada como uma mimada
pra que o humor endireite
depois da noite embalada
com toques de deleite

É bom dormir e acordar
co'a suavidade do ar
de sua carícia e beijos

Mas devo me levantar
com vontade de ficar
para mais tantos desejos

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Palmas e bis

Lucas C. Lisboa

O nosso amor algo tem
daqueles que pedem bis
em um longo vai e vem
tão forte quanto feliz

Não é o que mais convém
mas é o que sempre quis
e sei que você também
nos vemos e por um triz

Nosso coração não sai
pela boca mui apressado

Nosso dessejo não esvai
num verão apaixonado

e meu sonho que me distrai
é estar sempre ao seu lado

terça-feira, 24 de maio de 2011

No alto da grade: a gata

Lucas C. Lisboa


Chorosa miava a gata
porém eu sequer sabia
e muito menos eu via
de onde vinha a serenata

no alto da grade ingrata
ela miando sofria
desde o fim daquele dia
equilibrada em sua pata

De baixo lhe perguntei:
"um trato contigo farei
eu salvo da cilada tamanha

que se meteu sem perceber
sua parte é fácil de entender
lhe salvo mas não me arranha?"

domingo, 22 de maio de 2011

O Salvamento da Gatinha

Quinta eu banquei o herói de uma gatinha que miava no alto da grade do Campo de Santana quase em frente ao prédio do corpo de bombeiros que me lembra um palácio russo por sua imponência vermelha. Eu olhei para ela e disse: "Senhorita, vamos negociar isso. Eu lhe salvo mas você não me arranha viu?"

A salvei do alto da grade e a coloquei no chão. Segui sozinho e fui surpreendido pelos miados que me seguiam! Sim, a gatinha tinha se apaixonado, tentei ir mais rápido Mas ela me acompanhava! Foi me seguindo por toda a extensiva praça até que eu parei para ver qual era a delá e ela foi logo se enroscando nas minhas pernas.  

Confesso que se eu já estivesse morando em Sao Cristóvão ela tinha ganho um novo lar.  Peguei o ônibus para Caxias com muito pesar de deixar a gatinha pra trás. Acabei descendo no ponto errado porque estava pensando na gata e deixei passar a praça onde eu deveria descer.

No caminho  de volta para casa passei por três gatos sentados me observando. Muito estranho! Senti como se eles estivessem vigiando o meu caminho em retribuição à minha boa ação do dia.


Até tirei fotos de dois deles, o primeiro ficou pra trás porque a rua era muito muito deserta e eu não iria tirar a câmera no meio da rua e correr riscos. Segue a baixo as fotos do que estava na praça e do que estava dentro da estação de trem. Engraçado como eles estavam me encarando conforme eu caminhava.





sábado, 14 de maio de 2011

Diálogo salivar:

Lucas C. Lisboa

-a minha boca que fala
sente falta do seu falo
-o meu falo sente falta
da sua boca que me fala



sábado, 7 de maio de 2011

Minha Gatinha

Lucas C. Lisboa

Faz carinha de inocente
com essa boca pidona
vem querendo leite quente
dum jeito que até ronrona

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Enlaçado

Lucas C. Lisboa

me faz de querido
e tira sem pressa
que a cada pedido
lhe cai uma peça

diz no meu ouvido
vem e me confessa
sou seu pevertido
que a fome não cessa

me deixa atrevido
não prenda nem meça
sequer um gemido
parar? não me peça

me faz seu bandido
q'eu cumpro a promessa
de ser seu cativo
contente à beça

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Avaliação literária do Soneto Conto de Fadas de Florbela Espanca

Florbela d'Alma Espanca é uma poetisa do simbolismo português, nascida em Vila Viçosa no fim do século XIX. Ela enfrenta os novos ares da poesia modernista com um vigor sustentado por sua feminilidade, misticismo e oniricidade que permeiam todos os seus versos. Sonetista de raro refinamento, escreve de maneira tão íntima da linguagem, como se a própria lhe pertencesse, torcendo os símbolos, recriando as formas e inovando dentro de seu estilo aprendido em grandes mestres da técnica que vão de Luiz de Camões a Antero de Quental. 

Soror Saudade, epíteto que ganha do poeta Américo Durão, adota um estilo fora de seu tempo. Esse se particulariza entre tantos poetas que, ou abraçam o modernismo nascente ou marcam um posicionamento tradicionalista. Florbela, mulher, lança mão dos desejos mais profundos para servir de tema para sua forma. Dotada de uma lassidão inaudita em sua época, mesmo na boca dos homens, Florbela transforma-se em uma personagem de contos de fadas clássico, mostrando-se fantástica, mágica e sedutora. E ao se esmerar tanto pela forma quanto pelo conteúdo, cria obras de extrema força e visceralidade em certas fases para depois se contrabalançar em uma incrível leveza e doçura em outras.

Sua grande particularidade nasce de seu ser híbrido que se choca duplamente com sua época; por um lado sua temática vai contra os pudores, os recatos e a moral de sua sociedade onde era inimaginável que uma mulher pudesse ter desejos, pudesse ser ela a se apaixonar e até mesmo cortejar a pessoa amada. Do outro lado temos a corrente avassaladora do modernismo, com suas novas formas, novos engenhos e estratégias que Florbela vive em intenso convívio sem no entanto se afiliar. 

Florbela é uma artista sui generis em seu meio, não havendo nele qualquer outro talento que conciliasse tamanha transgressão temática com tamanho rigor e refino estilístico e formal. Atenta com a sonoridade de seus versos não deixa de cuidar dos detalhes que foram se perdendo com o modernismo. Não obstante o seu isolamento da vanguarda portuguesa tem como grandes apreciadores de sua obra poetas como Fernando Pessoa que lhe dedica um poema.

Em seu poema “Contos de Fadas” Florbela demonstra demosntra seu brilhantismo em uma declaração de amor única em forma, colocando-se num papel inesperado e transformando a si mesma numa personagem de sua obra usando de seu nome, de sua terra e de seus sonhos para declarar um amor por um alguém lhe é igual pois sofre dos mesmos males, deseja os mesmos desejos e é seu par dos contos de fadas.


“Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.”


Em sua primeira estrofe há uma identificação entre o amado e quem ama. Pois sofrem de dores que se curam com a mesma cura. Se fazendo o próprio poema, que sai das mãos da poetisa, como panaceia para os males que sofrem. São os seus versos o próprio remédio para o sofrimento, os próprios versos que operam como palavras de encantamento, encanto tão forte que transformam a própria poetisa em personagem de seu poema conforme podemos ver em sua segunda estrofe.


“Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras de uma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...”


Na mesma estrofe Florbela se faz personagem e se faz fada de seu próprio poema. E como consequência apaga a linha formal que separa a poeta de seu eu-lírico. Presentifica-se em seu verso onde diz que traz no nome as letras de uma for e se faz fada ao simbolizar o próprio vento com seus olhos garços, pois nas lendas européias são as fadas as portadoras dos elementos da natureza havendo fadas portadoras da essência de cada um dos elementos. E sob a aura de fada que traz a cura continua presentificando em sua próxima estrofe.


Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é d'oiro, a onda que palpita.”


Nesse primeiro terceto o que há de mais belo e natural é ofertado pela fada ao seu amado. Para fazer parte da cura de seus males a fada com poderes mágicos trás de presente o astro adormecido e a placidez do manto crepuscular. Envolvendo-o com a riqueza do sol e a força do mar.

“Dou-te comigo o mundo que Deus fez!
- Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A Princesa do conto: “Era uma vez...”

Florbela fecha o poema se tornando Princesa, Aquela da qual se tem prometida desde as primas estórias contadas ao leito de dormir. Ela se faz a mulher mais desejada e a mais sonhada. Uma mulher com direito a personificação indicada pelo “a” maiúsculo. Trata-se aqui de uma princesa em seu sentido pleno, idílico e perfeito e não somente uma princesa do mundo. É a própria personificação da realeza, a própria ideação da mulher que todo homem sonha.

A autora inicia seu soneto dando ao amado tudo que ele precisa e termina ofertando-lhe tudo que sonhara. O crescendo da narrativa em versos é claro e perceptível, em um retorno a poética clássica onde a poesia também tinha seu papel narrativo. Há uma estória sendo contada. Há personagens e há um misto com a realidade como se o poema pudesse operar uma fusão entre o mundo onírico e o profano real.

A poética de Florbela Espanca consegue conciliar elementos tão diversos e díspares em uma harmonia que é única. Torna-se um exemplo formidável do poder da Literatura como profissão do sublime. Florbela é personagem de sua própria obra e nesse processo torna o próprio leitor uno com sua obra, os símbolos, a linguagem a forma como conta sua estória torna seu poema parte de quem o lê.

Em um esmero só justificável por sua herança simbolista e parnasiana vemos Florbela compõe um soneto em versos que são ao mesmo tempo Heróicos e Sáficos. Os dois ritmos podem ser igualmente impressos ao poema e desde já permite duas leituras que se diferem de maneira sútil mas não menos importante. O verso sáfico é conhecido por suas propriedades melodiosas, por sua sedução e sua inigualável capacidade de falar dos sentimentos mais profundos, já o verso Heróico é conhecido por seu caráter épico, sua grandiosidade e força.  Ao fazer de seus versos Heróicos e Sáficos Florbela os torna cada um e todos juntos numa Epopéia a respeito do Amor.