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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sábado, 9 de setembro de 2023

Xepa

Sempre fui da xepa,  da promoção e pechincha, comprei meu coração na barraca de um e noventa e nove. Mas meu peito e pulmão,pobres e expropriados, fizeram fiado pendurando a conta pra minha garganta pagar sob protestos. Por solidariedade  a boca fez greve não queria o novo e vermelho inquilino...piquete montado, dentes trincados... mas a mão furou, pelega, não era de esquerda. Furado o piquete o coração caiu na barriga, burguesa, de tão gorda se fez de sonsa  e não quis devolver, foi briga das feias,minhas velhas veias tiveram que intervir... greve geral e o general da cabeça, prefeito,  não eleito do meu corpo, entrou em febre, uma convulsão social. Reintegração de posse biles, vômito e rebordose, mitocôndrias em pânico
ouviam a internacional  quando o latifúndio, improdutivo,  numa noite fui tomado por uma princesa que se fez realeza socialista, encampou meu corpo e botou meu coração no peito, deu um jeito nos grevistas,botou de regime minha barriga. E todos, todas as partes, pedaços, ossos, órgãos, células , culturas bacterianas, tártaros superbacanas puseram abaixo a superestrutura. Era revolução, de agora em diante. Todos, todos teriam o direito, Inalienável, ao pão,  aos beijos dela e... é claro, 
à poesia.

Xepa

Sempre fui da xepa
da promoção e pechincha 
comprei meu coração
na barraca de um e noventa e nove

Mas meu peito e pulmão 
pobres e expropriados
fizeram fiado
pendurando a conta 
pra minha garganta
pagar sob protestos

Por solidariedade 
a boca fez greve
não queria o novo
e vermelho inquilino 
piquete montado, 
dentes trincados
mas a mão furou
pelega, não era de esquerda

Furado o piquete 
o coração caiu
na barriga 
burguesa 
de tão gorda
se fez de sonsa 
e não quis devolver

foi briga das feias
minhas velhas veias
tiveram que intervir 
greve geral e o general
da cabeça, prefeito 
não eleito do meu corpo
entrou em febre,
uma convulsão social

Reintegração de posse
biles, vômito e rebordose
mitocôndrias em pânico
ouviam a internacional
quando o latifúndio
improdutivo

Numa noite
fui tomado por uma princesa
que se fez realeza socialista 
encampou meu corpo
e botou meu coração no peito
deu um jeito nos grevistas
botou de regime minha barriga

E todos, todas as partes
pedaços, ossos, órgãos, células 
culturas bacterianas, tártaros superbacanas 
puseram abaixo a superestrutura

Era revolução,
de agora em diante,
Todos, todos 
teriam o direito
Inalienável 
ao pão,  
aos beijos dela
e... é claro, 
à poesia.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Três pontinhos intermitentes

Ela curiosa fada
e eu nada, nada digito,
digo ou repito de pronto
e lhe espanto no poema
pruma prima pescadora,
pecadora, principesa

É alteza que habita o peito
dum jeito e dum carinho
que me desalinho e insisto
em fazer disto meu verso

O mais perverso convite
que insiste em poesia,
magia e prosa, de tanto,
mas tanto, tanto aconchego
que me chego de dentro
e de fora de seu beijo.

Que afago, abraço, no enlaço
pois lhe laço nessa cilada
cantada no clima de três
pontinhos intermitentes

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Fruto Mineiro

Sou daqui
não porquê nasci
mas porquê cresci
nas férias, feriados
aniversários e 
campanhas
da barragem,
das eleições,
de saúde,
e tantas mais 

Onde minha vó
me levava
à feira de sábado
e antes de chegar
parava pra conversar,
dar conselhos,
passar bilhetes,
curar joanetes
e calos ou caçar um carro,
um jeito de tratar fora
seus aflitos pacientes 

Vó demorava
a manhã todinha
pra caminhar
as duas quadras
de casa até a praça da feira 

Onde aprendi
a andar à cavalo,
à beira do rio, nas trilhas 
dos mascates e tropeiros 
e pescar no Rio Setúbal

Onde ouvi
sobre os trilhos
da Bahia-Minas 
que saia de Araçuaí
até Caravelas 
e seu fim num desatino 
dos milico tontos 
que desde pequeno
aprendi a não gostar

Onde minha vó
me deu o cavalo
que chamei de Rambo
mas que era o Jardineiro
pra todo mundo da fazenda
(Rambo, que nomebestameudeus!)

Onde fui pra escola
estadual Nossa Senhora de Fátima 
e fiz amigos, corri perigo
"Esse menino vai cair do cavalo!"
E eu nunca, nunca cai cavalgando
à toda velocidade ouvindo os cascos 
batendo nos paralelepípedos

Onde minha vó
me ensinou 
da Igreja,
dos padres,
das freiras...
me ensinou
seu ateísmo
não praticante 
e que tudo 
é política, luta,
cuidado
e também amor!

Onde dei meu 
primeiro beijo
onde aprendi 
a amar
o queijo, 
a rapadura 
e o puxa
(que eu puxei achando que era
uma ordem e não o nome)

Genipa americana, o fruto
Jenipapo de Minas, a cidade
são só nomes 
nomes insuficientes
para descrever meu amor
meu amor por um lugar
um lugarejo, distrito
e agora município
que é parte de quem sou
desde sempre.