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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

sexta-feira, 31 de março de 2017

Lentamente

Minha virtude, meu mote
não mais me diz quem eu sou
muito menos porque vivo
Não tenho mais essa sorte
que do meu peito passou
só me resta um frio cativo

Não sei bem quem mais errou
e por mais que viro e revivo
não acho qualquer resposta
Tantos meses se calou,
meu lirismo tão altivo,
que de mim mesmo se desgosta

Qual verdade, qual meu crivo,
do pesadelo uma amostra
que do gosto me ressinto
Dessa sala não me livro
migalhas na mesa posta
é o q'Eu como tão faminto

Perdi o jogo, perdi a aposta
nem lavra, ouro ou quinto
me resta desse desejo
Das montanhas até a costa
acabei-me por extinto
todo gosto de meu beijo

Minhas mágoas de absinto
no meu quarto de despejo
guardo minha melhor veste
Manchada de vinho tinto
que lambo, esfrego e almejo
com toda sede do agreste

No caco d'espelho vejo
o meu sangue e minha peste
minha humilhante derrota
No embalo do realejo
mecânico e inconteste
cuja melodia me corta

Não há um deus que me ateste
que me indique a certa porta
d'esperança e acalento
Não há diabo que se preste
a me contar uma lorota
que me afaste esse lamento

Não há jardim e nem horta
onde eu colha o sacramento
ateu duma vida bela
Espinho seco, flor morta
sem horizonte no firmamento
sou nau sem mastro ou vela

Testemunho e testamento
minha herança e sequela
de coração aleijado
Desatino desatento
escondido na janela
do meu quarto rejeitado

Aqui jaz a sentinela
do anjo roto e maltratado
que quis o meu bem querer
Hoje é quadro d'aquarela
em lágrima aquarelado
me pintando sem me ver

Tento e tento ter cuidado
ao meu pranto recolher
destilado num só frasco
Suturado e retalhado
sucessivamente ser
sendo meu algoz carrasco

Venha, venha logo ver
não é ensaio de teatro
nem coroa dum infante
Meu ocaso é pra valer
sem pudor e sem recato
jaz em dois o diamante

Poema inacabado

Verso verseja mortal
bom, ruim, leal ou mau
ainda quero meu poema
escrito co'a linha forte
da palma de minha mão
tracejada em fino corte

Verso verseja mortal
bom, ruim, leal ou mau
Cutucando meu edema
num masoquismo de morte
voando a partir do chão
seguindo sem sul nem norte

Verso verseja mortal
bom, ruim, leal ou mau
Quero que o fio do frio trema
todo meu corpo na sorte
caída no caramulhão
um anjo d'altivo porte

Verso verseja mortal
bom, ruim, leal ou mau
a caldeira lhe queima a lenha
solta fumaça no trote
torce o torque do pistão
é tanta trata e transporte

Verso verseja mortal
bom, ruim, leal ou mau
na barca de rima rema
um cavalo de pinote
com ar puro e cara do cão
ladrando ante seu bote

quarta-feira, 15 de março de 2017

No dia seguinte


vejo seu short no meu box
decorando meu banheiro
meu riso não é botox
e sim puro e verdadeiro

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Prece


quero o descalabro
de ter cada canto
de ti devastado
por mia fome e espanto

quero ungir seu rabo
com meu óleo santo
pra levar a cabo
seu orgasmo e pranto

quero lhe causar
deliciosas dores
com prazer imundo

posta em meu altar
de amarras tal flores
num jardim fecundo

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Máxima Podolatria

ela me lambe os detalhes
dentre os  dedos de meus  pés
deixando-me rijo tal entalhe
com seu sexo nas marés
oceânicas de desejo
de cima abaixo até o queixo

sábado, 7 de janeiro de 2017

Lara

Fernanda Lara Máximo  Cardoso
quero seu  beijo e também o seu gozo
os seus cachos se encaixam nos meus  cachos
e seus passos bem cabem nos  meus  passos

Seu corpo,  coxas,  lábios,  nuca e dorso
me adoçam em amor, café e almoço
desenho com meus dedos os seus traços
faminto lhe ato e desato meus  laços

Minha boneca minha lhe desejo
em cada cômodo de minha casa
Sala,  cozinha e quarto de despejo

lhe quero leve na lufada de asa
com plumas pervertidas de meu anjo
que lhe vê febril,  ardente e em  brasa

domingo, 20 de novembro de 2016

madrugada

lágrimas  companheiras
quais serão as maneiras
de lhes fazerem  secar
nos meus olhos e mar?

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Desato

ante o pulso tracejado,
num  deleite delicado,
deita-se em  doce destino
de cordas e desatino

és minha, doce pecado
que cultivo com  cuidado
de daninha  dor e tino
de boneca com fita e sino

de nó em  nó eu faço atado
nessse deleite enlaçado
por fitas e cordas mil

e teu olhar feminino
se espanta com meu canino
chegando em ti com  ardil

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Quadra de luxo

O Diabo veste Prada
mas seu rico falo veste
uma camisa de vênus
da grife Luis Viton

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Abstêmico


Porque meu trago
estragou tudo

terça-feira, 13 de setembro de 2016

vinte e seis

Sequer retrucou
a bela mocinha
quando Ele a mandou
sair sem calcinha

de vestido  provou
a leve carícia
que o vento soprou
por pura malícia

Seu rosto corou
na fome que aninha
nas traves do gol
da sua bucetinha

Seu dono domou
seu ar duma anjinha
que o sino soou
barroca putinha

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

B

Eu quero  correr  a corda
por seu corpo pequenino
pois quero ver se lhe acorda
um desejo ou desatino

Se  você faminta aborda
do palato ao  intestino
uma vontade que não discorda
um malvado ou santino

É erótica a restrição
de seus movimentos e frêmitos
deixando-lhe à mercê

É erótica a escansão
nos lugares mais sedentos
que são parte de você                        

D

Ao meu comando seu ato
tenho seu controle exato
de lhe  fazer abanar
seu rabo para me dar

Faz pose,  fica de quatro
q'eu pego chego e lhe engato
o tapa de avermelhar
as nádegas em seu  par

É minha caso se deite
ou levante de revés
com minhas ordens amando

Dominá-la é meu deleite
que lhe faz beijar meus pés 
e pedir por mais desmandos

S

Sim, Eu sou vil por completo 
sua submissão satisfaz
por essa dor em seu reto
jeito de ser tão mordaz

Você meu verme abjeto
que sua dor tanto me apraz
É no seu parco intelecto
que acha a desculpa  eficaz

Mamilos  e pregadores
fazem santa dualidade
que me abrem bem o apetite

Por essa e mais tantas dores
que só suporta por vaidade
do meu sádico requinte


M

Minha moça masoquista
sua perversão me conquista
como pode ter prazer
com tal tão  estranho  querer

Sequer preciso que insista
maltratar-lhe tá  na  lista
do que gosto de fazer
pra mais e mais  perverter

Essa sanha louca sua
de sentir a dor  profana
que enfim posso lhe  causar

num rasgo deixar-lhe nua
para toda minha  gana
de bem  lhe  chicotear

sábado, 10 de setembro de 2016

Sorria às onze

eu sei  que sente saudades
das piadas de minha boca
sei que tem  as suas vontades
de matar sua sede louca

tenho essas calamidades
belas, sussurradas roucas
que renegam suas vaidades
e lhe dão as carnes poucas

dos amores não há razão
que chega lado a lado
com o peito apaixonado

moça que firme diz que não
mas que guarda meu  retrato
na parede  do  seu  quarto

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Bobagem


Eu queria poder gritar,
mas dizem que  não convém
Eu queria poder berrar,
mas não me vale um vintém

Não tenho peito de mar
sequer sei dizer amém
Não tenho olhos de ar
pelo tanto quanto além

Cabisbaixo quem procura
no bem claro o que perdeu
no mais que profundo breu

Não é poema, é loucura
reza forte dum ateu
que incrédulo se benzeu

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Oito da matina

A noite virada
garganta inflamada
sono vagabundo
boa noite pro mundo

segunda-feira, 25 de julho de 2016

delicado equilibrio

Há pobres com seus milhões
e ricos que vivem de esmola
doutores tendo lições
com sabidos sem escola

Há machos bem grandalhões
mostrando como rebola
E moças com mais culhões
que deixam homens na sola

Pois nessa vida nessa terra
veja  bem, nada parece
com o que  realmente se é

Quando acerta que  se erra
na clara luz que anoitece
na mais puro cabaré

sábado, 9 de julho de 2016

Bilhete

cresceu assim devagarinho
em meu quarto cento e sete
o desejo de seu carinho
que mais e mais se repete

Cárcere

À camisa de força eu saúdo
que me segura do malfeito pronto
do desatino em forma e conteúdo
riso e choro alternados em seu tanto

Eu tenho cá comigo um mal profundo
que não se cura com reza nem canto
sou, em suma, sujeito mais imundo
que jamais pisou em qualquer recanto

Eu queria meu fim finalmente
mas tenho apenas muros que me cercam
cuidadores amáveis que torturam

Trancado, louco ou demente
Dopado, rijo, frio que me secam
então  morro com que os outros se curam

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Sanatório


São vinte horas, é troca de turno
e a enfermeira Bela, seu jaleco
despe enquanto no quarto soturno
ele lhe tira mais c'o intelecto

Nua na cama tem um sonho noturno
do poeta que lhe queima e molha o nexo
e lhe leva de Vênus a Saturno
entre dor e gemido no mesmo eco

Com seu nome aos lábios assustada
acorda como se um beijo profundo
houvessem lhe roubado essa noite

Mas o beijo veio por Morgana a fada
que compadeceu do poeta imundo
de coração bom entre um e outro açoite

domingo, 3 de julho de 2016

Instante vermelho

Na foto do  Sol
Aninhado nas montanhas
Nasce ou se põe?

Sextilha para FLIP

Pois queria eu estar em  Paraty
mas demasiado cedo é para mim
ir onde as pedras lembram-me de ti
dos dias felizes que agora,  enfim,
me doem por ser verão  curto no inverno
que  hoje aqui me abraça como eterno

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Ressaca de mar

Eu tento tento
e depois tento
uma vez mais
guardo meus ais

Então lamento
o meu rebento
morto sem paz
navio sem cais

Eu nunca soube
me dar um fim
como um presente

Ou que me roube
meu camarim
de peça ausente

domingo, 26 de junho de 2016

"Belo!"

O espelho concorda
Terno de madeira
Gravata de corda

sábado, 25 de junho de 2016

Virtuosismo

Eu sou tão viciado nisso
que mesmo no nosso chat
meu rimar eu não enguiço
numa salada de abacate

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Adeus ,

como quem pede socorro
mas é por muito orgulhoso
de pedir um gesto morno
pra paz d'eu desventuroso

como quem diz num sussurro
do amor que grita estrondoso
em seu coração escuro
que teme seu próprio gozo

meu pé esquerdo ainda dói
pelo pulo da janela
do meu quarto num domingo

tanta culpa me corrói
pela lambança e esparrela
que fiz com tudo que sinto

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Biográfico trinta

Sou, eu, verme inconformado
contrafeito querubim
d'arco e flecha despojado
maçã de gosto ruim

Mão perna e pé aprisionado
sob a pena de Aladim
de querer certo e errado
pelo não é pelo sim

Meu peito despedaçado
sem pó de pirim pim pim
tecido grosso rasgado
costurado com cetim

Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Trova quarenta e cinco para meia noite

Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Iminente

Então você anima
Fazer poema-repente
Um gole por rima
de fina aguardente

Não se subestima
a língua vidente
Que se desatina
no verso excelente

Vamos num clima
pra lá de excelente
Que não subestima
esse desejo latente

Parte masculina
que jaz eloquente
Parte feminina
faminta, saliente

terça-feira, 7 de junho de 2016

Quarenta e sete minutos

Pro inferno do mais baixo dos círculos
é o ponto exato que eu iria se nisso
eu de fato pudesse crer tranqüilo
sem chance de galhofas ou mil risos

Tranço e destranço as cordas do suicídio
como quem reza as contas de seu terço
que é, até pra ele, macabro e bem ridículo
e cada nó me vale um pé de verso

Pois não vou me orgulhar de ser ateu
você que tem um deus é mais astuto
tem um ser imaginário pra brincar

O que vai me esperar é só um breu
Em um nada tão calmo, absoluto
que da música não posso reclamar

domingo, 5 de junho de 2016

Sinto

"Meus amigos, Amigos, quem serão?"
segurando firme na alça do caixão
cada um vai segurando do seu jeito
conforme dói a culpa do seu peito

"Meus amigos, Amigos, pronde vão?"
bebê-lo tristes pois fomos em vão
cada qual tem nas lágrimas ao leito
seu conforto cruel e contrafeito

Que vai na paz das pás de terra fria
descem, caem, escorrem tantas lágrimas
bem guardadas da chuva e seu clichê

Mas as nuvens são hoje fugidias
com Sol e Rouxinol na mesma lama
e na aba do caixão gruda o chiclete

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Fortuna

Tudo que brilha é sagrado
olhe meus olhos brilhantes
Tudo que fez é passado
mil lábios são o bastante?

Nem carinho nem cuidado
são segundos prum instante
Nem vinho nem destilado
calariam esse amante

Por gosto faço-me torto
de toda sorte me livro
troco verso por concreto

Nem sei se quero teu corpo
e menos quero teu crivo
não, não sou o que deu certo

terça-feira, 26 de abril de 2016

Para fins de registro e catalogação

Quero desler nosso livro
derreter até o tipográfico
que imprimiu no nosso sexo
e traficou nosso gozo

Quero rasurar a nota
onde gravei meus segredos
e a ficha catalográfica
hei de sumir nas estantes

Quero que reste só pó
da poesia que matamos
sem rima ou chave de ouro

Ser praga de biblioteca
comer, devorar, tal traça
capa, miolo e contra capa

Fiel

você me deu o que eu nunca
quis ou de você pedi
pelo tempo de hora longa
que não contei ou medi

terça-feira, 12 de abril de 2016

Delivery

se sua morte cobra
Cem reais no moto táxi
pague, tá barato

terça-feira, 5 de abril de 2016

#SaraPintado

com meus olhos tristes
e livreto leve
a poesia segue
entre tantos mestres
que são aprendizes
pra dias mais felizes

segunda-feira, 28 de março de 2016

Cinco ou seis badaladas

Ducha fria de manhã
pode espantar pesadelos?
Até que  me revigora
mas não me faz esquecê-los

segunda-feira, 14 de março de 2016

Pornochanchada para

Lhe digo, não é cilada
ela quer tapa na cara
quer na goela esporrada
É tão pura e doce Lara
quando tá muito inspirada
cheia de sanha e tara

Lhe faço logo a charada
me diga com quanta vara
pica, pau ou caralhada
se satisfaz uma Sara
pois só goza com porrada
que começa e nunca para

Lhe digo, não é errada
quando ela repete, fala
quer muito mais pirocada
que tem muita fome a Clara
na cama nua depilada
geme, grita e escancara

Lhe faço logo a piada
sobre o que será que sara
depois duma chicotada
na bela bunda de Nara
fica roxa, avermelhada
que de quatro se prepara

sexta-feira, 11 de março de 2016

Quanto?

o livreto é livre
contribua se puder
leve se quiser

quinta-feira, 10 de março de 2016

Celerado

Os meus versos desgraçados
não surgem dum elogio
duma alegria em seu cio
mas do choro derramado

Eu que jamais me sacio
tenho um peito carregado
de desejos afogados
nas lágrimas quando rio

Cada verso desalmado
é chuva no meu estio
mamilo que acaricio
num momento emprazerado

Sou errado, vil e vadio
um pedaço mal calculado
perverso desmascarado
que faz dos erros seu fetio

Do mais feio, torto ou errado
ganho um abraço macio
pois deles sou fogo e frio
sou príncipe dos celerados

quarta-feira, 9 de março de 2016

Venenos noturnos

Tem certas coisas
que não terminam
quando se acabam

Tem velharias
que ficam noivas
das agonias

tem os seus fins
no meio do começo
Maltratando os rins

Tem culpa de berço
erva no jardim
E salgado preço

sábado, 5 de março de 2016

Não

Não sei se quero
conversar sério
um tema amargo
tomando trago

Não sei se devo
acordar cedo
depois da insônia
e da vergonha

Não sei se posso
por no pescoço
a mesma corda
que não me acorda

Não sei se dura
minha tortura
no mesmo prego
que bem me esfrego

quarta-feira, 2 de março de 2016

De vestido

Tapa, gemido, escarcéu
lembranças duma conquista.
Serão roxos o troféu
para uma boa masoquista?

terça-feira, 1 de março de 2016

Primeiro de março

Rio de Janeiro em festa
para meu aniversário
na janela pela fresta
vejo apenas o operário
pela chuva castigado
justo nesse feriado

Conserta o que os salafrários
que tão bem tem estragado
com seus régios honorários
e cargos comissionados
fazendo a gente de besta
de segunda até na sexta

Então anoitece sábado
e já não há quem resista
a dançar junto colado
patrão e empregado na pista
sem ver pompa ou salário
domingo é dia de baralho

Feliz idades

bom e sem demora
comi três cus nessas últimas
vinte e quatro horas

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Feliz idades

Sabe como é,
aos primeiro de março
fez de minha vida
Triste cabaré

Atropelamento e fuga

Não me pergunte porquê
Recuse limitações
Venha vamos dar rolê
Nas rodas dos caminhões

Mata ciliar

Descendo lenta em meu rosto
a lágrima veja só
faz dos meus labios um poço

Mentira

Eu queria um soco
na boca do estômago
ao sorriso pouco
de felicidades

Parabéns

Daqui uma semana...
Um dia triste virá
pois a morte engana

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Meu caro sanguessuga

O mosquito não me pica
Nem vai embora nem fica
Me agonia seu zumbido
longo fino e atrevido

Por favor caro mosquito, 
Deixa o drama, faniquito
Vai me morde logo aflito
sua saliva, meu agito

Deixa meu sangue escorrer
Por sua boca,sua picada
Deixa o sangue esvair
deixa meu gosto partir

Se farta na minha carne
Mas me deixa sem zumbido
Deixa pra vir quando
já estiver dormido

Com minhas veias vermelhas
bem abertas e pulsando
Para meu doce mosquito
que banqueteia pousando

A me morder, a me sugar. 
com finíssima navalha 
feita de caco de vidro
Na umidade do colchão

De lençol branco e marrom
salpicado de vermelho
Vem seu mosquito zumbindo
fazer canção de ninar

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Sabor semelhante

Ducha molhando meu rosto
E a água que cai nos meus lábios
Não é salobra de mar
Mas dum copioso chorar

O que não vejo

Nem tardo nem cedo
seu falso querer
eu tenho meu medo
medo de você

Seu falso enredo
de me dizer
que lhe trago azedo
no fel de você

desço sem mais lágrimas
e sem mais soluço
do fim ao princípio

entre minhas lástimas
sequer um impulso
para meu precipício

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Dos delírios e deleites

Ele todo dia regava
os seios da moça amada
com seu sêmen e saliva
ansioso por sua florada
de lírios e copos de leite

Das coisas

mais fora de hora e de lugar:
-Carne de soja em churrasco
-Retiro espiritual
na sexta de carnaval

Hedonismo

A cama é king
e a preguiça Kong
pra fazer swingue
e fumar um bong

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Incêndio

Enquanto na floresta se buscava
co'as bocas, bicos, trombas e suas patas
um tanto qualquer d'água para essas matas
que nas chamas do incêndio já queimava

O lobo, sentado, seu vento tragava
usando de suas forças mais inatas
a procurar aquelas almas rotas
que tudo novamente incendiava

As feras atarantadas julgavam:
ele parado, sem nada ajudar!

"Que ser mais egoísta!" - murmuravam
não o viram sorrateiro a circundar...

Pois quando as brasas altas crepitavam
com fome de homens se pôs a caçar.

Quadras calculadas

sílaba poética
é saber que verso
não é aritmética
mas da prosa o perverso
*
prum ouvido certo
versificação
é medida de metro
sem regulação
*
dentro duma métrica
cabe o não pensado
duma frase cética
num texto sagrado
*
o poeta escande
como alguém que canta
e não como quem conta
moedas e as esconde

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

à luz da Lamparina

Meu pai criava em sua mente todas as formas, luzes, gestos, olhares e sombras das assombrações que meu avô lhe narrava à luz da lamparina, os filhos da minha geração recebem todos os mínimos detalhes de seus monstros narrados através das telas de seus tablets. Não há mais qualquer espaço para que o espectador do tablet crie em sua mente as feições que recebe das luzes do tablet.  Cada monstro, cada personagem já tem impressa sua cor, forma e tamanho de maneira indissociável, sem qualquer espaço ou possibilidade de liberdade para o espectador.

O narrador da lamparina, o livro de contos e histórias fantásticas, os romances, as epopeias, e as notícias do jornal impresso cada vez mais são substituídas por narrativas apinhadas de sons e imagens que provam e comprovam sua forma como indissolúvel, pronta e acabada. Quadro a quadro em movimento, narrado e articulado sem deixar espaço para que o receptor inclua ali sua perspectiva, sua ótica. Cada mensagem acompanhada de todo um aparato imagético comprova sua veracidade indiscutível, é pois as imagens não mentem.

Num mundo imagético, onde tudo é movimento, fala, som e imagem. Num mundo onde toda informação é dada como pronta, acabada. O ato da Literatura, per si, sem outro suporte que não a escrita é um ato político. A poesia escrita e lida é avisa rara na contemporaneidade. É uma arte incompleta em sua produção pois depende sempre do leitor para ter seu som e imagem concebidos.
No momento em que o leitor  inicia a leitura  é o exato momento que ele se implica no texto pois e forçado a preencher as lacunas do que lê consigo mesmo, com suas experiências, com suas memórias, tendo como argamassa sua imaginação fresca e, pro vezes, nunca antes utilizada. E nesse despertar da imaginação nasce a capacidade de criar novas narrativas para o que já recebe de antemão como dado.
Um livreto de poesia dentro dos vagões do metrô caem, por vezes, no colo desse espectador televisivo, de seu filho empolgado pelo novo jogo em seu tablet. E aquela leitura de poucas páginas, de amor, de piada, de política e até metalinguagem pode despertar o gosto, o desejo por atiçar a parte imaginativa tão esquecida, tão oculta e guardada num quotidiano que não dá mais espaço para seu exercício.
Uma mente capaz de imaginar os olhos, boca e nariz da amada do poeta também é capaz de usar dessa mesma imaginação para descortinar as sombras veladas que os flashes das câmeras não alcançam. Cada dobra de página, cada personagem que é construído gera a dúvida salutar de que se Capitu traiu ou não Bentinho. Se a narrativa do jornal das 10 condiz ou não com a verdade, se a perspectiva é mesmo a única possível, se outras imagens não existem e contradizem aquela posta ao ar em rede nacional. Um poema de amor, num mundo onde a própria imaginação não tem mais vez, é um ato político. Um ato político de despertar pois " a poesia torna possível o que já se tornou impossível na prosa da realidade.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Cidade digital

Computador lento
é um engarrafamento
de bits ou de bytes?

domingo, 27 de dezembro de 2015

É como se diz:

Com palmas e bis
doce Beatriz
ficou por um triz
de ser meretriz

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Tropa Natalina

Começou como tropeiro
pelo sertão derradeiro
das muitas minas gerais,
bem longe das capitais
guiando burros em tropa
e com cavalo que trota!
 
Mula madrinha enfeitada
por muito chão, muita estrada
levava o comércio de ouro
dentro do embornal de couro
dos garimpos até os roçados
era ele muito aguardado

Trocou tropa pelo trem
e ao progresso disse amem
quando a ferrovia chegou
e novamente se inventou
pois dentro do seu vagão
todo, arroz, milho, feijão

Ele mesmo compraria
para vender lá na Bahia
e de lá vinha descendo
com o seu vagão trazendo
perfumes, panos, tecidos,
remédios e mil artigos

Por anos indo e vindo
fez ele seus dividendos
Casado com Terezinha
fizeram na vilazinha
seu comércio e pensão,
a maior da região.

Com a casa logo erguida
já quiseram em seguida
uma professora pra lá
para contas e beabá
ensinar pela primeira
vez para essa vila inteira

Nem tudo foi belo e bom
e num grito fora do tom
vieram os tiros de canhão
e trem, vagão e estação
já não existiam tais
e mudou-se uma vez mais

De Alfredo Graça pegaram
o último trem e pararam
na cidade de Teofilo Otoni
e eles sofreram ali
a triste separação
em nome da educação

De todos os seus filhos
Natalino foi nos trilhos
de volta para a fazenda
de seus pais numa contenda
lá para as margens do Rio
Setúbal num desafio

Feira Natalina

Quando sábado chegava
Seu Natalino montava
o seu cavalo Rosi
que já sabia pra onde ir:
de Santa Cruz, sua fazenda
até a feira buscar a renda.
 
Na vila do Jenipapo
era a feira de trapo,
rapadura, porco, pinga,
panela, couve, moringa,
linguiça, milho, feijão,
gado, queijo e requeijão....
 
Natalino bom mascate
na feira dava arremate
nas pagas e encomendas
que faziam pra sua moenda
de rapadura e cachaça
enquanto andava na praça.

Anotava, em prosa lenta,
num papel de letra atenta
uma nova e boa encomenda
Parava e resolvia a contenda
dum filho querendo comer
queijo e groselha beber

 De passada lenta e aberta
andava como quem acerta
na sorte fazendo o que gosta
vivendo e vendendo a roça
que cuidava com carinho
tal pássaro do seu ninho

Essa vila orgulho lhe dava
quem dissesse não errava
do mercado até a Igreja
tinha da sua bemfazeja
cada rua cada calçada
fez com esmero de morada

 Mas não fez sozinho é certo
tinha amigos bem diletos
com quem andava e proseava
e até versos declamava
histórias de assombração
e também de lampião
 
De boa prosa e jeito calmo
foi delegado da região
de Araçuai, Jenipapo,
de Machados, Badaró,
até Córrego das Velhas,
Berilo e também Chapada
 
Era um delegado diferente
desses tipos boa gente
não mandava prender
se dava pra resolver
com conversa, com conselho
via no outro sempre um espelho

Seus olhos azuis sérios
de contador de mistérios
de troças, de escalabros
de piadas e de causos
um mundo se emocionavam
quando seus filhos chegavam

Pois estudavam bem longe
Araçuai, Teofilo Otoni
e também Belo Horizonte
mas nas férias iam pra feira
nos burros e na traseira
do seu cavalo Rosi




quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Flâmula

Em seu talo eu me embalo
sua menina meretriz
e se diz: ‘‘ fela me o falo’’
seu falo felo feliz

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Lama

De vida, de morte
de jornada breve
Com acaso, sorte
e meu peso leve

De fome, banquete
natural, urbano,
selva,  palacete,
animal e humano

Sou chama sou brisa
pra tudo que me
refresca e atiça

Sou terra sou água
pra tudo que me
soterra e deságua

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Sou terra
pra tudo
que me
soterra

Sou água
pra tudo
que me
deságua

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Ela

Nos enredos já se atira
nos medos sequer respira
pois me inspira seus segredos
quando pira em meus dedos

sábado, 28 de novembro de 2015

Carnavalescer

Pois se nós, reles mortais
ainda estamos em janeiro,
dezembro, junho ou mais
tristes por um ano inteiro
entre seus risos e ais

Ele bem tá em fevereiro
e vive seus carnavais
roda de samba e pandeiro
cariocando muito mais
que eu ou outro brasileiro

Pois se nós, reles mortais
vamos depois dum dia inteiro
contentes pros triviais
botecos de bom mineiro
dessas e doutras gerais

Ele, samba derradeiro
em tão doces festivais
pois no Rio de Janeiro
se carnavalece mais
de março até fevereiro

puxando papo
pedindo ixqueiro
numa ixquina
fazendo ixcola
ficando em paix

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Lágrima

Ela, estátua de mármore, era bela, belíssima e também muito emotiva. Mas sempre parecia impassível, insensível por segurar suas lágrimas. E, de fato, Ela fazia de tudo para contê-las, como um dique de castor, pois suas lágrimas eram tão ácidas que quando escorriam pelo seu rosto marcava-lhe em sulcos como o leito de um rio caudaloso passando pelas bochechas e desaguando no lago de seus lábios.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Seu rabo

Que belo!
Eu quero
fodê-lo
com esmero.