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Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
quinta-feira, 25 de maio de 2017
Meu dia
Eu dormi a tarde toda
como manda o figurino
quero mais é que se foda
minha insonia, desatino
Já não danço na roda
nem de pé fico pro hino
e sequer me dou mais corda
pra inda crer no meu destino
Eis misantropo e casmurro
meu fim trancado num quarto
aos livros, jogos e poemas.
Empacado, velho burro
sou de Dorian o retrato
pagando as minhas penas
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
Prece
quero o descalabro
de ter cada canto
de ti devastado
por mia fome e espanto
quero ungir seu rabo
com meu óleo santo
pra levar a cabo
seu orgasmo e pranto
quero lhe causar
deliciosas dores
com prazer imundo
posta em meu altar
de amarras tal flores
num jardim fecundo
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
Desato
ante o pulso tracejado,
num deleite delicado,
deita-se em doce destino
de cordas e desatino
és minha, doce pecado
que cultivo com cuidado
de daninha dor e tino
de boneca com fita e sino
de nó em nó eu faço atado
nessse deleite enlaçado
por fitas e cordas mil
e teu olhar feminino
se espanta com meu canino
chegando em ti com ardil
segunda-feira, 12 de setembro de 2016
B
por seu corpo pequenino
pois quero ver se lhe acorda
um desejo ou desatino
Se você faminta aborda
do palato ao intestino
uma vontade que não discorda
um malvado ou santino
É erótica a restrição
de seus movimentos e frêmitos
deixando-lhe à mercê
É erótica a escansão
nos lugares mais sedentos
que são parte de você
D
tenho seu controle exato
de lhe fazer abanar
seu rabo para me dar
Faz pose, fica de quatro
q'eu pego chego e lhe engato
o tapa de avermelhar
as nádegas em seu par
É minha caso se deite
ou levante de revés
com minhas ordens amando
S
sua submissão satisfaz
por essa dor em seu reto
jeito de ser tão mordaz
Você meu verme abjeto
que sua dor tanto me apraz
É no seu parco intelecto
que acha a desculpa eficaz
Mamilos e pregadores
fazem santa dualidade
que me abrem bem o apetite
Por essa e mais tantas dores
que só suporta por vaidade
do meu sádico requinte
M
sua perversão me conquista
como pode ter prazer
com tal tão estranho querer
Sequer preciso que insista
maltratar-lhe tá na lista
do que gosto de fazer
pra mais e mais perverter
Essa sanha louca sua
de sentir a dor profana
que enfim posso lhe causar
num rasgo deixar-lhe nua
para toda minha gana
de bem lhe chicotear
sábado, 10 de setembro de 2016
Sorria às onze
eu sei que sente saudades
das piadas de minha boca
sei que tem as suas vontades
de matar sua sede louca
tenho essas calamidades
belas, sussurradas roucas
que renegam suas vaidades
e lhe dão as carnes poucas
dos amores não há razão
que chega lado a lado
com o peito apaixonado
moça que firme diz que não
mas que guarda meu retrato
na parede do seu quarto
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
Bobagem
Eu queria poder gritar,
mas dizem que não convém
Eu queria poder berrar,
mas não me vale um vintém
Não tenho peito de mar
sequer sei dizer amém
Não tenho olhos de ar
pelo tanto quanto além
Cabisbaixo quem procura
no bem claro o que perdeu
no mais que profundo breu
Não é poema, é loucura
reza forte dum ateu
que incrédulo se benzeu
segunda-feira, 25 de julho de 2016
delicado equilibrio
Há pobres com seus milhões
e ricos que vivem de esmola
doutores tendo lições
com sabidos sem escola
Há machos bem grandalhões
mostrando como rebola
E moças com mais culhões
que deixam homens na sola
Pois nessa vida nessa terra
veja bem, nada parece
com o que realmente se é
Quando acerta que se erra
na clara luz que anoitece
na mais puro cabaré
quarta-feira, 29 de junho de 2016
Ressaca de mar
e depois tento
uma vez mais
guardo meus ais
Então lamento
o meu rebento
morto sem paz
navio sem cais
Eu nunca soube
me dar um fim
como um presente
Ou que me roube
meu camarim
de peça ausente
sexta-feira, 24 de junho de 2016
Adeus ,
como quem pede socorro
mas é por muito orgulhoso
de pedir um gesto morno
pra paz d'eu desventuroso
como quem diz num sussurro
do amor que grita estrondoso
em seu coração escuro
que teme seu próprio gozo
meu pé esquerdo ainda dói
pelo pulo da janela
do meu quarto num domingo
tanta culpa me corrói
pela lambança e esparrela
que fiz com tudo que sinto
quinta-feira, 2 de junho de 2016
Fortuna
olhe meus olhos brilhantes
Tudo que fez é passado
mil lábios são o bastante?
Nem carinho nem cuidado
são segundos prum instante
Nem vinho nem destilado
calariam esse amante
Por gosto faço-me torto
de toda sorte me livro
troco verso por concreto
Nem sei se quero teu corpo
e menos quero teu crivo
não, não sou o que deu certo
terça-feira, 26 de abril de 2016
Para fins de registro e catalogação
derreter até o tipográfico
que imprimiu no nosso sexo
e traficou nosso gozo
Quero rasurar a nota
onde gravei meus segredos
e a ficha catalográfica
hei de sumir nas estantes
Quero que reste só pó
da poesia que matamos
sem rima ou chave de ouro
Ser praga de biblioteca
comer, devorar, tal traça
capa, miolo e contra capa
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
O que não vejo
seu falso querer
eu tenho meu medo
medo de você
Seu falso enredo
de me dizer
que lhe trago azedo
no fel de você
desço sem mais lágrimas
e sem mais soluço
do fim ao princípio
entre minhas lástimas
sequer um impulso
para meu precipício
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Lama
De vida, de morte
de jornada breve
Com acaso, sorte
e meu peso leve
De fome, banquete
natural, urbano,
selva, palacete,
animal e humano
Sou chama sou brisa
pra tudo que me
refresca e atiça
Sou terra sou água
pra tudo que me
soterra e deságua
sábado, 5 de setembro de 2015
Ruazinha
a se por no fim da tarde
Quer ver os guri endiabrado
brincando com bola que arde
Quer ver o homem tão cansado
quando seu Fiat Uno invade
O campinho demarcado
com chinelos e com alarde
Gritam logo "Contra Mão"
A rua é arena da Bola
e o carro maior vilão
O homem desce desenrola
"Tem como passá aqui não"
"Eta vida! Vou embora..."
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
Sou o que sou
Eu não viveria no céu;
Gosto do cheiro da terra,
do suor de gente que erra,
acerta e faz escarceu.
Eu não viveria no céu;
Gosto do cheiro de vida
de cutucar a ferida.
Bolero lambada e créu!
Eu sou do tipo atrevido,
que nunca tá resolvido;
como sujeito normal.
Eu sou o que sou e posso
no que faço, vou e aposto
botando pimenta e sal
quinta-feira, 2 de julho de 2015
Moça do vestido azul
Quero dedilhar meus dedos
quero-os em ti mergulhados
Nadando dum lado ao outro
em suas carnes envoltos
E sentir-me abocanhado
pouco a pouco cravado
pelos seus labios revoltos
provando-me mil gostos
De falo rijo te faço
esse poema devasso
tal uma canção perversa
Pois me inspira quando pira
quando arfa, goza, delira,
devora (ou vice e versa)
quarta-feira, 1 de abril de 2015
Com quantas becas se faz um poema?
Leve você em qualquer laje
versos sem assinatura
dum nome de d'douro traje
que apenas será loucura
Bote num museu de mármore
um penico na moldura
que cada macaco na árvore
em coro dirá:" arte pura"
Vai tenta arrisca petisca
de banquete a quem tem gula
faz sua arte visceral
Tome cuidado caro artista
que arte não cai bem com bula
e nem vem com manual