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Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
terça-feira, 7 de junho de 2016
Quarenta e sete minutos
é o ponto exato que eu iria se nisso
eu de fato pudesse crer tranqüilo
sem chance de galhofas ou mil risos
Tranço e destranço as cordas do suicídio
como quem reza as contas de seu terço
que é, até pra ele, macabro e bem ridículo
e cada nó me vale um pé de verso
Pois não vou me orgulhar de ser ateu
você que tem um deus é mais astuto
tem um ser imaginário pra brincar
O que vai me esperar é só um breu
Em um nada tão calmo, absoluto
que da música não posso reclamar
domingo, 5 de junho de 2016
Sinto
segurando firme na alça do caixão
cada um vai segurando do seu jeito
conforme dói a culpa do seu peito
"Meus amigos, Amigos, pronde vão?"
bebê-lo tristes pois fomos em vão
cada qual tem nas lágrimas ao leito
seu conforto cruel e contrafeito
Que vai na paz das pás de terra fria
descem, caem, escorrem tantas lágrimas
bem guardadas da chuva e seu clichê
Mas as nuvens são hoje fugidias
com Sol e Rouxinol na mesma lama
e na aba do caixão gruda o chiclete
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Incêndio
co'as bocas, bicos, trombas e suas patas
um tanto qualquer d'água para essas matas
que nas chamas do incêndio já queimava
O lobo, sentado, seu vento tragava
usando de suas forças mais inatas
a procurar aquelas almas rotas
que tudo novamente incendiava
As feras atarantadas julgavam:
ele parado, sem nada ajudar!
"Que ser mais egoísta!" - murmuravam
não o viram sorrateiro a circundar...
Pois quando as brasas altas crepitavam
com fome de homens se pôs a caçar.
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Before Honeymoon
It's very good
I'ts very fun
We have a new mood
to eat bubble gum
It's very good
I'ts very fun
He is my favorite food
and my sauce is his cum
In the last afternoon
with kisses and bites
me and my husband
play hard in bedrom
and it sounds like
the best house band
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Coronel
Guarda com muito orgulho sua farda do lado
da cama, paga com soldo, mas sem o saldo
de sangue, do vil golpe de sessenta e quatro.
Mineiro, nasceu negro, no ano vinte e cinco
do século passado, soube que era odiado:
pela pele, tamanho e pela cara dura
de defender o voto colocado na urna!
Vê com desgosto, quase que com um desdém,
o jovem cabo, malfa(r)dado que enganado
de joelhos, ao golpe, reza seu amem...
Mal sabe ele que é só dormente para o trem
de empresários e generais endinheirados
e seu soldo... é pouco, amargo e não cai bem.
domingo, 6 de setembro de 2015
Libertino
pelo que quero muito tanto ou talvez
Eu me faço e desfaço num doce delírio
pelo que trago, bebo e tomo duma vez
Eu que me corto, sangro mas também lhe firo
numa inocência pura vista nos bebês
mostro os dentes caninos dum velho vampiro
lhe rompendo pudores por toda sua tez
muito prazer sou seu satânico desejo
seu sexo mais ardente que todos pecados
de Sodoma, Gomorra e terras além-mar
Não me tema nem trema diante do meu beijo
sou fome, sou paixão de peito perfumado
pois em sua pouca carne vim para ficar
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
Madame Baderna
Me despetala em trapos, fitas, pétalas
de bem e mal me quer que mais me quer
que desdenha, destrata, mas me quer
como porta-bandeiras e abre-alas
Pois Eu me apego e até pago pra ver
dentro do porta-luvas levo as mágoas
e encho com alegria o porta-malas
sou da escola do samba e bem querer
Eu, Madame Baderna com prazer
tomo da tina e latrina de restos
essas babas e beijos dos amores
Eu sou essa Arlequina com as cores
que não se cabem nos pincéis modestos
desses caras sem cara pra bater
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Salada Etílico-Poética
não seu Olavo, num é chacota não
é verso sáfico de metro dado
aos meus poetas sem rima e solução
Eu conto sílabas num dedo a dedo
nesta veloz prestidigitação
que engana versos bem mal remendados
sendo meu velho truque de salão
Dez sílabas safadas que dos Anjos,
com maestria de quem Espanca sem
nos causar marcas, causou mais que medo
Dez sílabas heroicas são arranjos
pra Cisne Negro e Passarinho dizerem
a pior das verdades e um segredo.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Desgosto do Cavalo Branco
e nunca fui o primeiro da turma,
faço-me feio, torto e até manco:
sou mau agouro d'alma mais soturna...
Eu que carrego meu talento franco
de vaguear numa insônia noturna,
recuso-me a seguir por mais um tanto
de tédio e labor da vida curta!
Eu jamais seguirei num galopante
corcel alado tal conto de fadas.
Eu que sempre serei fidel amante
das moças e mulheres mais erradas...
Eu, nem príncipe nem bobo ou infante,
sou poeta de rimas espalhadas!
terça-feira, 18 de junho de 2013
Protesto com Vinagre e Lágrimas
ou "só" pelo direito de ir e vir
É por tudo que nos faz os escravos
duma seleta elite ainda a sorrir
Oito horas de trabalho por salários
que se fossem piada fariam rir
Enlatados, viajamos num calvário
diário pro sustento garantir
Sabe quanto que vale meu vintém?
Vale muito mais do que seu valor
corrente, monetário e absoluto...
Vale o dever de não dizer amém
prum bando de bandido sem pudor
que trajando ternos mentem absurdos!
segunda-feira, 3 de junho de 2013
cabelos, roupas e unhas de feriado em casa
não quando é com meu comum leitor
Livretos somente entrego e recolho
Mantendo meu sorriso de olho a olho
Vagos vagões e céu de malumor
mas tinha ela num sorriso encantador
e tímido que obrigou meu desfolho
dos meus livretos com pesar e orgulho
Eu ouso - posso sentar? - Ela ri
esquecido falamos de livros
dos cursos, quadrinhos e poesia
Se dos nomes na língua esqueci
não me apagou os seus modos tão vivos,
seu doce desleixo que seduzia...
terça-feira, 23 de abril de 2013
Como fazer um soneto
Compor sonetos bons não tem mistério
é só alinhar os tons, ritmo e rima
o assunto pode ser jocoso ou sério
o bom poeta faz seu próprio clima
Não não me faz essa cara de velório
vício de sonetar não tem vacina
Me instiga que começo o falatório
de metro, forma assim que me alucina
Escolha qualquer tema que quiser
e com os decassílabos me faça
um poema que dá gosto de ler
redondilhas também tem a sua graça
e são daquelas fáceis de fazer
se nessa arte você é novo na praça
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Coroa de Sonetos de Amor - I
com seu beijo todinho para mim
mas não fique vermelha de pudor
pois dai minha fome não tem fim
Eu quero sua saliva e seu suor
na minha língua e boca bem assim
sabe como ficar ainda melhor?
se me amar também cada pedacim
Que mais quero é suas mãos tão famintas
ávidas, curiosas e atrevidas
me tocando e mostrando seu querer
Beije vai, cada uma de minhas pintas
em meu corpo e lhes chame de queridas
sabendo onde estão sem sequer lhes ver
Coroa de Sonetos de Amor - II
é assim que lido com todos meus medos
e nesse doce ofício de escrever
sem revelar desvelo meus segredos
Regojizo do sol em seu nascer
como quem primeiro ama os eleitos
para o primeiro amor do adolescer
com a força dos peitos apressados
Estamos nós fadados: paraíso
eis o nome da gaiola de nós dois
cujo caminho é a trilha do amor
Eis feito nosso fim o nosso guizo
Estamos cá sem antes ou depois
nesses sonhos que são da nossa cor
Coroa de Sonetos de Amor - III
eu branquelo e você essa preta linda
seu beijo caramelo o meu quitanda
você alvorada e Eu sou sol-se-pôr
E na minha sua boca é bem vinda
com a suavidade ou vigor
eu gosto de sua lingua com fulgor
que saborosamente vem e brinda
O roçar de seus cabelos em meu peito
tal cobras que deslizam pela presa
são meio passo pra me enlouquecer
Navegamos juntos em nosso leito
a nossa fome é rio sem represa
o que nunca jamais vamos perder
Coroa de Sonetos de Amor - IV
são as lembranças que guardamos
dos momentos de doce padecer
entre os lençóis que juntos nos amamos
Lembre também que já fomos foder
e pra isso nossos pais nós enganamos
dois jovens assim a tarde a meter
e mentindo dizendo que estudamos
"Menina estudiosa" o pai dizia
e nós dois explorando a anatomia
de nossos corpos: puro despudor!
latim, derivações das matemáticas
e entalpia das físicas sistemáticas
eternidades são de um só calor
Coroa de Sonetos de Amor - V
que deixam marcas sutis na pele
nos lábios, nos olhos, no sabor
que me prova na força que me fere
Inebria-me todo esse rubor
de quando seu chicote bem adere
na carne num prazer de doce dor
fazendo que meu gozo se rebele
Mas se depois do gozo vem meu pranto
não será de tristeza meu doce amo
mas sim de assim poder sempre viver
Você, meu amado, belo e puro encanto
permite até o deleite que mais amo
de sua face na minha padecer
Coroa de Sonetos de Amor - VI
o sorriso de nossos dias felizes
pois não, não é o que clama meu querer
que fincou em você longas raízes
Nosso amor clama a cama pode ver
nossas brigas e fodas tem matizes
exatamente opostas pra se manter
mesmo sendo você Apolo e eu Isis
Odeio nosso amor que me devora
não fique nem fuja faz parte de mim
Não lhe quero mais, mas vou pra onde for
Corpo: sim! Mente: não! e o peito chora
não, não me abraça quero um basta um fim
quero seu beijo com fogo e fulgor
Coroa de Sonetos de Amor - VII
de você meu amigo mais querido
meu amante e confidente dessa dor
causada pela vida e seu perigo
Me abraça forte e me dá seu amor
que apenas desse jeito Eu consigo
voar mais alto que o Cristo Redentor
pra lhe contar venturas em seu abrigo
E se hoje estamos juntos depois talvez
distância nem importa pro carinho
somos cumplices mesmo sem nos ver
É meu amigo meu amante toda vez
com seu riso, seu cheiro faço um ninho
que me aquece e me faz até esquecer
Coroa de Sonetos de Amor - VIII
a memória de quando era criança
e nós dois inventamos de correr
até depois da igreja pela praça
Eu cai e não parava de doer
Como Doía! Ficou essa lembrança
de você branca quando me foi ver
todo sujo no chão uma lambança!
Veio me dando beijos pra sarar
me prometendo que já ia passar
toda dor com carinhos na cabeça
E me veio a saudade de lhe amar
será que nós daríamos um par?
Linda não fale só faça a promessa