Publicação em destaque
Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Sobre trilhos
são só cereja no bolo
os sorrisos e as moedas
é que dão vida ao poeta
Não era como se dizia
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Urbanização Infantil
-Mas mãe, eu quero brincar aqui fora.
-Desce! Desce agora! - respondeu ela sem a menor paciência.
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Com quantos pau-brasil se faz uma vanguarda?
um gole de vinho escocês
uma taça de cerveja russa
só não me abusa
do azeite francês
ou da comida inglesa
Experimenta urucum na cara
tapioca na tigela
Te quero mameluca
filha do boto
minha meretriz cabocla
Oh musa Liberdade
se deita comigo
não como espelho italiano
mas como olho d'água
que reflete o canto de Iara
Quero ser vitória régia
e não só a última flor do Lácio
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou vontade louca
da cor do marfim
que a fome desfruta
tal suave cetim
vem beber comigo
um gole de vinho
serei pão e trigo
em cada cadinho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou menina pura
vem fazer-me assim
presa mas com luta
de querer-lhe enfim
vem correr perigo
sem luz no caminho
sou seu mais antigo
desejo quentinho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou doce sou fruta
vem provar de mim
em suave labuta
de não dizer sim
vem beber comigo
um gole de vinho
serei pão e trigo
em cada cadinho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou quem sempre escuta
Vem contar pra mim
toda vida injusta
que não tem mais fim
vem ser meu amigo
não fique sozinho
sou seu novo abrigo
um seguro ninho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Deu na televisão
irão falar do banco quebrado
Se não for do banco quebrado,
irão falar do trânsito parado,
Se não for do trânsito parado
irão falar do lixo deixado
Se não for do lixo deixado
irão falar do festejo estragado
Se não for do festejo estragado
irão falar do vizinho incomodado...
Se não incomodar a ninguém
não é protesto não é nada
é só um bando dizendo seu amém
uma matilha pela mídia amestrada!
domingo, 14 de julho de 2013
Baratas de Copacabana
pra essa festa ja tenho meu par:
levo cara de pau e as mãos nuas
pra dizer Não pras suas falcatruas!
Vinte centavos ou Caviar?
escolha o lado que vai ficar
são centenas que tomam as ruas
gritam verdades óbvias e cruas.
Você pode me atirar dinheiro
com o qual suborna os militares
mas ele não cala o mundo inteiro!
Você pode me atirar cinzeiro
o sangue de um mexe com milhares
porque de fumaça já estou cheio!
terça-feira, 9 de julho de 2013
Insônia
nas últimas décadas
não pôde fechar
os olhos pra quem
não tinha pão cama
remédio e escola
Agora se assusta
sendo eles de vândalos
pichados em rede
nacional em prol
do transnacional
capital que explora
Quem esteve insône
vigiou o sono
dos micro burgueses
que por seu conforto
em berço esplêndido
nunca se mexeram
Agora se assusta
com esses sonâmbulos
que gritam facismos
e queimam bandeiras
querendo escrever
leis sem saber ler
Quem sempre lutou
não pelo pais
mas pelo seu povo
queria ficar
feliz co'esse novo
e forte aliado
Agora vê cordas
que de novo tentam
manipular todos
com a mesma velha
mídia com suas cartas
marcadas e arcaicas
Quem nunca fechou
olhos não será
por spray, bombas,
manipulações
logo adormecido
por vinte centavos
Vândalo
subverter essas medidas
e brincar de cabra-cega
com as normas esquecidas
Quero brindar com as pregas
das verdades carcomidas
dum modernismo que afaga
ideias pré concebidas
O metro não é vilão
nem mata a criatividade
dum poeta verdadeiro
É desafio de montão
pra quem tem necessidade
de inovar o tempo inteiro
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Vidraças valem mais que Vidas
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Poeticamente sádico
e tolho cada palavra
que avulsa vira escrava
de meus desejos perversos
gosto quando a rima crava
na carne ímpetos imersos
em tara, desvios diversos
e doce perversão rara
com voz doce e macia
teço bem uma ilusão
de que a corda acaricia
pelas linhas da escansão
geme cada poesia
e se encadeia o tesão
terça-feira, 18 de junho de 2013
Protesto com Vinagre e Lágrimas
ou "só" pelo direito de ir e vir
É por tudo que nos faz os escravos
duma seleta elite ainda a sorrir
Oito horas de trabalho por salários
que se fossem piada fariam rir
Enlatados, viajamos num calvário
diário pro sustento garantir
Sabe quanto que vale meu vintém?
Vale muito mais do que seu valor
corrente, monetário e absoluto...
Vale o dever de não dizer amém
prum bando de bandido sem pudor
que trajando ternos mentem absurdos!
segunda-feira, 3 de junho de 2013
cabelos, roupas e unhas de feriado em casa
não quando é com meu comum leitor
Livretos somente entrego e recolho
Mantendo meu sorriso de olho a olho
Vagos vagões e céu de malumor
mas tinha ela num sorriso encantador
e tímido que obrigou meu desfolho
dos meus livretos com pesar e orgulho
Eu ouso - posso sentar? - Ela ri
esquecido falamos de livros
dos cursos, quadrinhos e poesia
Se dos nomes na língua esqueci
não me apagou os seus modos tão vivos,
seu doce desleixo que seduzia...
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Capataz
Minha mucama mulata
me beija os pés lavados
com rosas e serenatas
que abençoa meus pisados
Tem nos olhos de gata
travessuras, requebrados
e uma malicia exata
dum feito mais que safado
Que ninguém jamais me acuda
da língua em meus ouvidos
que pra cama logo puxa
Que me importa se ela ajuda
uns tantos negros fugidos
debaixo de minha fuça?
terça-feira, 23 de abril de 2013
Como fazer um soneto
Compor sonetos bons não tem mistério
é só alinhar os tons, ritmo e rima
o assunto pode ser jocoso ou sério
o bom poeta faz seu próprio clima
Não não me faz essa cara de velório
vício de sonetar não tem vacina
Me instiga que começo o falatório
de metro, forma assim que me alucina
Escolha qualquer tema que quiser
e com os decassílabos me faça
um poema que dá gosto de ler
redondilhas também tem a sua graça
e são daquelas fáceis de fazer
se nessa arte você é novo na praça
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Coroa de Sonetos de Amor - I
com seu beijo todinho para mim
mas não fique vermelha de pudor
pois dai minha fome não tem fim
Eu quero sua saliva e seu suor
na minha língua e boca bem assim
sabe como ficar ainda melhor?
se me amar também cada pedacim
Que mais quero é suas mãos tão famintas
ávidas, curiosas e atrevidas
me tocando e mostrando seu querer
Beije vai, cada uma de minhas pintas
em meu corpo e lhes chame de queridas
sabendo onde estão sem sequer lhes ver
Coroa de Sonetos de Amor - II
é assim que lido com todos meus medos
e nesse doce ofício de escrever
sem revelar desvelo meus segredos
Regojizo do sol em seu nascer
como quem primeiro ama os eleitos
para o primeiro amor do adolescer
com a força dos peitos apressados
Estamos nós fadados: paraíso
eis o nome da gaiola de nós dois
cujo caminho é a trilha do amor
Eis feito nosso fim o nosso guizo
Estamos cá sem antes ou depois
nesses sonhos que são da nossa cor
Coroa de Sonetos de Amor - III
eu branquelo e você essa preta linda
seu beijo caramelo o meu quitanda
você alvorada e Eu sou sol-se-pôr
E na minha sua boca é bem vinda
com a suavidade ou vigor
eu gosto de sua lingua com fulgor
que saborosamente vem e brinda
O roçar de seus cabelos em meu peito
tal cobras que deslizam pela presa
são meio passo pra me enlouquecer
Navegamos juntos em nosso leito
a nossa fome é rio sem represa
o que nunca jamais vamos perder
Coroa de Sonetos de Amor - IV
são as lembranças que guardamos
dos momentos de doce padecer
entre os lençóis que juntos nos amamos
Lembre também que já fomos foder
e pra isso nossos pais nós enganamos
dois jovens assim a tarde a meter
e mentindo dizendo que estudamos
"Menina estudiosa" o pai dizia
e nós dois explorando a anatomia
de nossos corpos: puro despudor!
latim, derivações das matemáticas
e entalpia das físicas sistemáticas
eternidades são de um só calor
Coroa de Sonetos de Amor - V
que deixam marcas sutis na pele
nos lábios, nos olhos, no sabor
que me prova na força que me fere
Inebria-me todo esse rubor
de quando seu chicote bem adere
na carne num prazer de doce dor
fazendo que meu gozo se rebele
Mas se depois do gozo vem meu pranto
não será de tristeza meu doce amo
mas sim de assim poder sempre viver
Você, meu amado, belo e puro encanto
permite até o deleite que mais amo
de sua face na minha padecer
Coroa de Sonetos de Amor - VI
o sorriso de nossos dias felizes
pois não, não é o que clama meu querer
que fincou em você longas raízes
Nosso amor clama a cama pode ver
nossas brigas e fodas tem matizes
exatamente opostas pra se manter
mesmo sendo você Apolo e eu Isis
Odeio nosso amor que me devora
não fique nem fuja faz parte de mim
Não lhe quero mais, mas vou pra onde for
Corpo: sim! Mente: não! e o peito chora
não, não me abraça quero um basta um fim
quero seu beijo com fogo e fulgor
Coroa de Sonetos de Amor - VII
de você meu amigo mais querido
meu amante e confidente dessa dor
causada pela vida e seu perigo
Me abraça forte e me dá seu amor
que apenas desse jeito Eu consigo
voar mais alto que o Cristo Redentor
pra lhe contar venturas em seu abrigo
E se hoje estamos juntos depois talvez
distância nem importa pro carinho
somos cumplices mesmo sem nos ver
É meu amigo meu amante toda vez
com seu riso, seu cheiro faço um ninho
que me aquece e me faz até esquecer
Coroa de Sonetos de Amor - VIII
a memória de quando era criança
e nós dois inventamos de correr
até depois da igreja pela praça
Eu cai e não parava de doer
Como Doía! Ficou essa lembrança
de você branca quando me foi ver
todo sujo no chão uma lambança!
Veio me dando beijos pra sarar
me prometendo que já ia passar
toda dor com carinhos na cabeça
E me veio a saudade de lhe amar
será que nós daríamos um par?
Linda não fale só faça a promessa
Coroa de Sonetos de Amor - IX
por que agora será minha cadela
fará cada vontade mais possessa
de tornar puta minha Cinderela
ajoelhe-se mas sem qualquer pressa
Eu quero que meu falo seja a vela
que concentrará toda a sua reza
enquanto minha mão lhe descabela
Não para agora e muito menos pensa
como é que ousa servir-me só metade?
abra a boca pra benção do seu fim.
Sim, eu lhe invado e não peço licença.
Era isso que sonhava com vontade?
não, não diga mais nada só o seu sim...
Coroa de Sonetos de Amor - X
sua boca velada e o seu suspiro
são as respostas que quero pra mim
minha doce miragem que prefiro
não, não conto os segundo para o fim
mas você bem que sabe que sou Sátiro
e não apenas um sonho que não-ruim
pois com o que lhe curo também firo.
Marcados, unos, nossos por completo
e vejo-lhe um espelho uma igual
com quem de olhos cerrados sempre vou
Fazemos juntos um par mais seleto
ninfas e faunos de outro carnaval
é minha por inteiro tal lhe sou
Coroa de Sonetos de Amor - XI
e desde que meus lábios lhe provou
jamais esqueci dessa tecitura
tão faminta que agora me tortura
a sua pele é de quando deus errou
tecendo-lhe asas de anjo em pleno vôo
zelando por seu corpo com doçura
e me atiçando minha mente impura
Lhe farei dos meus reinos a princesa
terá tudo que sonha apenas peça
meu banquete de farta e bela mesa
e a felicidade mais que uma promessa
ao seu lado é, acredite, certeza
não quero que se assuste nem esqueça
Coroa de Sonetos de Amor - XII
pois com meus gesto cheios de rudeza
eu quero lhe dizer que minha pressa
é o tanto que minh'alma lhe deseja
Antes que nessa mente os medos teça
sente e beba comigo um vinho à mesa
sinta o sabor do aroma nessa taça
pois cada gota é toda uma represa
Você é meu vinho mais inebriante
sabor macio, toque suave de carvalho
uma delícia de não ter mais fim
Mais uma taça e um brinde de amantes
nesse amor só lhe quero sem atalho
quero que saiba bem, tal é pra mim
Coroa de Sonetos de Amor - XIII
só quero lhe comer. Mais? não tô afim
não podemos pular todo esse flerte
e vir logo pagar-me esse boquete?
não, não que eu seja uma pessoa ruim
mas mulher bonita trato assim
se ela não sabe nem pintar o sete
e na cama só paga de vedete
você se faz de burra como uma porta
e espera que eu me dê todo o trabalho
de desvendar o que já não mostrou?
Não se faça de tonta esteve torta
desde o começo fora do baralho
moça bonita, nunca alguém lhe amou....
Coroa de Sonetos de Amor - XIV
do tamanho do espaço sideral
Mas digo bem sincero que beijou
meus lábios despertou um sem igual
Moça bonita veja bem como sou
as minhas asas são do carnaval
passado e minha auréola vazou
não passo duma nota de três real
Sou malandro nadinha de perfeito
lhe compro flor na banca duma praça
se meu atraso for mais que um horror
Lhe falo sou sincero desse jeito
não me xingue, nem ligue pra essas graças
Moça bonita me faz seu amor
Coroa de Sonetos de Amor - XV
sabendo onde estão sem sequer lhes ver
nesses sonhos que são da nossa cor
o que nunca jamais vamos perder
Eternidades são de um só calor
de sua face na minha padecer
quero seu beijo com fogo e fulgor
tão forte que me faz quase morrer
Linda não fale só faça a promessa
não, não diga mais nada só o seu sim
é minha por inteiro tal lhe sou
Não quero que se assuste nem esqueça
quero que saiba bem que como a mim
Moça bonita, nunca alguém lhe amou
domingo, 21 de abril de 2013
terça-feira, 16 de abril de 2013
de pulso
Inventamos o relógio
numa genialidade louca
para nos esquecer
de nossa estupidez
de nossa insensatez
de nossa pequenez
Olhamos pro relógio
pra não cairmos
no doce conforto
de criarmos deuses
de criarmos mitos
de criarmos sonhos
Pois ao olhar pro céu
em busca do tempo
nós nos damos conta
de quanto é infinito
de quanto é eterno
de quanto é absurdo
na parede como altar
o relógio dita a casa
como no pulso o homem
os precisos relógios
são nossas correntes
modernas e perfeitas
Que nos fizeram enfim
libertos dos deuses
mas escravos da máquina
domingo, 14 de abril de 2013
Os críticos literários de ocasião
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Queijos
I - Entrada
Queijo combina com vinho
tal o beijo com carinho
mas se combinar demais
vira suspiros e ais
II - Convite
Quero um jantar bem gostoso
pão molhado no foundue
coberto de queijo cremoso
com velas ali e aqui
III -Dizem
que quanto mais fedorento
mais refinado é o queijo
mas é teu perfume suave
que saliva meu desejo
sábado, 6 de abril de 2013
Pechincha de feira
Se pela boca desdenha
mas o corpo quer comprar...
Como apagar essa lenha
com tanto fogo a queimar?
Só há um jeito meu bem: venha
cá comigo se deitar
sem perigo sabe a senha:
fruta doce do pomar
por estas maçãs tenha
fé que vai se aconchegar
entre bananas da Penha
e caquis d'outro lugar
na cesta quero que tenha
tudo que pode levar
da feira de Saramenha
mas seu pudor vai ficar
cuidarei dele pequena
com saudade de matar
queroso: de novo venha
cá comigo se deitar...
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Homicídio Coletivo
quinta-feira, 14 de março de 2013
aos primeiro de Março
só me faltam
três pros trinta
e me assaltam
dúvidas infinitas
seria essa uma crise
de meia-idade precoce?
Ou mais uma rebordose
de um velho adolescente?
vinte sete anos
com teto mas sem tento,
carreiras, filhos,
carros ou casamento
vinte sete anos
Três faculdades,
um livro publicado
e outro pela metade
meio mambembe vendo
meus versos de vagão
em vagão com que pago
a cerveja e o feijão
meio lixeiro recolho
pedaços de meu coração
remendo, costuro e colo
uma mentira sem tesão
três pros trinta
é pouco sucesso
mas muita tinta
três pros trinta
é muito verso
pra poema de quinta
domingo, 10 de março de 2013
Poeta
um poeta tropical de férias do mundo
no trem lhe faz feliz o riso e a careta
do leitor que se espanta no seu verso imundo
Verso alexandrino poesia barata
mesmo no calor do rio seu metro é fecundo
E o livreto de preço livre a fome mata
Podendo esse poeta viver vagabundo
Ele faz com os coelhos que nas suas tocas
dormem saindo só se a lua no Rio de Janeiro
surge no céu e nos trilhos o ritmo toca
As sandálias gastas do poeta mineiro
contam de seu calor nas terras cariocas
"usar sapatos não dá nesse braseiro!"
quinta-feira, 7 de março de 2013
SD
Tenta tenta escrever filho da puta
que cê tá doido doido demais
roda roda mas não chama o seu juca
cê sabe, isso é o que o brigadeiro faz
Doido, maluco beleza e batuta
só pelo poder de Jah me veio a paz
Tudo doce sem gosto de cicuta
e a moça do chapéu beija o rapaz
toca, toca mas não chama o raul
to louco, to na trava, bateu o sino
esse veio de Saquarema do Sul
todo excesso nos leva pro divino
Dionisio é melhor que Belzebú
sou ele na sua sede de vinho
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Um trabalho bem bolado
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Vida
Vermes, em vossos ventres, vis vicejam
vão vagando famintos, verminosos
Vermes, em vossas veias, refestelam
virulências e vícios vultuosos
Vermes, que vos vomitam, vaticinam
vossa vontade vã e vossos vãos viços
virulentos, vazios, velhos que vingam
vagos vilões vilmente vos vividos
Venham ver, não vão passar d'uma aurora
vaga e vazia as vossas vastas vidas
num universo feito do inverso
Venham ver, vão passar num ir embora
voláteis visões das pessoas queridas
vagando voltando em prosa o verso
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Noturno
toma-me com força
sou da chuva poça
de trocas veladas
e cartas marcadas
sonho que sou moça
de pele de louça
rara e bem cuidada
co'as roupas rasgadas
num toque faminto
por teus fortes dedos
nestes meus mamilos
mas, renego e minto,
seriam teus suspiros
nestes meus segredos?
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Entre a Igrejinha e o Terreiro
De nascimento sou Mineiro
de comida boa com alho e sal
além de doces sem igual
mas vivo no Rio de Janeiro
Não eu num sei tocar pandeiro
surdo, bumba ou berimbau
Mas curto a onda de carnaval
do mêsdmarço inté Fevereiro
Eu larguei meus mares de montes
por mais um por-do-sol no cais
e versos com novo tempero
Vim dos mais belos horizontes
dessas minhas minas gerais
presse tão sacro pardieiro!
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Era pra ser um soneto..
Todos os dias eu travo
uma batalha sem fim
com as palavras
e o que elas querem dizer
com o que elas dizem pra mim
com o que elas dizem pra você
domingo, 20 de janeiro de 2013
Análise literária do soneto "Poeta do Hediondo" de Augusto dos Anjos
Os sons dentais das consoantes "d" e "t" auxiliam a sonoridade do poema a se apresentar como o tema de morte que finalmente surge ao fim do poema. Freqüentemente esses sons se encontram inclusive em posição de destaque sendo as sílabas tônicas de cada verso. Esses sons ecoam ao longo do poema prenunciando a temática fúnebre da morte.
Composto por versos heróicos o poeta demonstra uma capacidade única de domar o ritmo dos polissílabos. Feito raro na nossa poesia tão afeita a tijolos pequenos, o poeta aqui constrói não com azulejos o seu mosaico de versos e sim um castelo de sólidos e pesados componentes. A escolha dessas palavras faz parte do objetivo frio e certo do poeta, de uma poesia de ângulos agudos, de palavras diretas, onde muitos poetas floreiam e rodeiam o poeta em questão é direto, objetivo, científico. A agudeza de seus versos, o tamanho das palavras que escolhe e a maestria que consegue adequar tudo isso ao metro canônico é um feito hercúleo de raríssimas similitudes na língua portuguesa.
Na primeira estrofe temos um Algo que desperta o sujeito poético Algo que dispara as pancadas do coração por ameaçar sua própria vida tratada aqui como existência em seu sentido mais orgânico. A mortificadora coalescência pode ser vista como a própria morte quando o organismo cessa seus processos fisio-químicos que mantém o corpo em funcionamento, é quando todos os elementos do corpo passam a se movimentar para se tornar um só, voltar para a decomposição final uma única unidade de matéria.
E tal processo de morte descrito é causado por algo além do mero infortúnio, é a soma das desgraças humanas, mas não se trata de uma mera soma, é um somatório com fim, objetivo e função. A congregação das desgraças humanas é uma visão de que esses males atuam num processo escatológico, um processo destinado. Há um vaticínio, uma má sorte guiando essas desgraças a fim de resultar no fim do Poeta do Hediondo.
Na segunda estrofe, em seu primeiro verso, é retomada a idéia do coração que bate forte e intenso, são cavalgadas em seu peito que os desnorteiam, que o fazem alucinar. E justamente nesse delírio de agonia surge na mente uma consciência. Uma culpa de um misticismo cientificista que atribui as suas neuronas despertas pela agonia a capacidade de antever seu futuro.
Pela medicina de sua época uma Sonda em seu cérebro é decerto que post-mortem ou por si mesmo uma forma de morte. Com os versos que o antecedem compreende-se que é uma clarividência uma visão de seu futuro à mesa de autópsia. Tendo, inclusive um diagnóstico, um vaticínio sendo a sua causa mortis a mais hedionda generalização do Desconforto. Notando-se aqui um ponto importantíssimo no uso de maiúscula para gravar o desconforto, há uma entificação desse sentimento. Ele é tornado um personagem dessa história maldita. Algo que acompanhou a tanto o poeta que se torna por si algo além de um mero sentimento mas também um Ente de sua narrativa e quem sabe até seu verdadeiro Algoz.
(Augusto dos Anjos - EU E OUTRAS POESIAS)
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Danoso
Nas fotos eu a vejo
com um sorriso triste
de quem se faz tão feliz
quanto todos querem
Não sei mais o que bate
por sob seus belos seios
na camisola negra de dormir
nem se tem sonhos ou desejos
Sei que ela no seu quarto
ainda guarda o violino
que lhe dei com carinho
E dorme sobre sua cama
o urso de seu tamanho
escrito "Te amo" nos pés
domingo, 6 de janeiro de 2013
Ela
Vazio, medo, desamparo sem par
entre cacos das louças, panos, pratos...
tateia procurando o próprio lar
seguro e sadio do porta-retratos
Vela não encontra mas já sem ar
segura a lâmina tal amuleto
jeito perfeito de presentear
a sua dor com amargo sofrimento
Vaga, sozinha, perdida e estranha
seus olhos são um caudaloso rio
e queima frio seu coração e entranha
Vai segurando a faca pelo fio
morde sozinha uma raiva tamanha
que machuca seu lábio tão macio
Juventude
sábado, 22 de dezembro de 2012
Nutrição
picotei minha camisa
e fiz um suco de manga
ficaram fiapos de pano
grudados entre meus dentes
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Hai-kais Eróticos
*
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
O mito do talento artístico e a valorização do artista.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Diálogos que a gente vê por ai:
- Claro! O bicho não é burro o bastante pra jogar no homem!
domingo, 2 de dezembro de 2012
Ela, no espelho, sou eu
Pequenina e magricela
porém faminta como eu
tem um jeito de aquarela
que no pincel se perdeu
Pinta co's dedos a tela
dum jeito bem meu e seu
Assim bruta e singela
uma musa prum ateu
Sou narciso enamorado
por essa doce mocinha
que as vezes morre de medo
de ter o peito apaixonado
pela poesia daninha
que guardamos em segredo
terça-feira, 27 de novembro de 2012
O novo livro: Poeta Sobre Trilhos
Na foto: As 14 edições dos meus livretos (incluindo edição erótica) o primeiro livro: Sobre Máscaras e Espelhos, o livreto do Fora de Área, do Zuza Zapata e do Josué Carlos |
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Poetas percorrem as ruas de BH e vendem seus livros diretamente
Divulgação
Ter um produto em mãos e sair por aí vendendo pode ser algo comum pra muitos empreendedores, mas quando esse "produto" é a poesia e o empreendedor é um artista, a coisa muda de figura. Para eles, o senso comum de que o Brasil não se interessa tanto pelos textos em versos não existe. Prova disso é que alguns destes trabalhadores autônomos das letras já chegaram a vender 35 mil livros em menos de dois anos. Uma prova de que eles conseguem, sim, viver de sua arte.
Há exatos 30 anos, o poeta Rogério Salgado, 58 anos, traça roteiros de caminhadas em Belo Horizonte e na Região Metropolitana para vender os livros que faz. Dessa vez, o bairro escolhido para esta entrevista foi o Padre Eustáquio, onde o autor já cultiva leitores. A tática dele é simples: abordar apenas comerciantes nas lojas. A explicação também é: "Eles já estão ali para atender o público. Ao bater na porta, a dona de casa pode estar ocupada, fazendo o almoço. Incomoda".
Na primeira loja, uma distribuidora de doces, o poeta vende o primeiro livro, sempre a R$ 10. Surpresas aparecem ao longo do caminho. Uma mini-biblioteca nos fundos de uma relojoaria é uma delas. "Aqui aparece todo tipo de pessoa vendendo coisas, obra de arte, essas bicicletinhas de arame para enfeite. Esse é um produto mais intelectual", pondera o proprietário da Relojoaria e Joalheria Tinkan, Osvaldo Lino. Ele compra o livro de Salgado e o posiciona na estante, entre um exemplar de Malba Tahan e um livro espírita.
Mais adiante, mais vendas, na ótica, na loja de roupas... "Ser poeta é a minha profissão. É o meu trabalho e eu acredito nele", resume Rogério Salgado. O autor calcula que já tenha vendido mais de 20 mil livros. O ano inicial dessa contagem é 1982, quando publicou "Tontinho", seu livro de estreia.
Outro exemplo de autor que se encarrega da produção e comercialização de seus livros é Lucas Lisboa, 26 anos, conhecido como "O Poeta Sobre Trilhos". No blog www.srpersonna.com.br ele expõe sua crença de que a poesia não pode ficar restrita somente às bibliotecas, aos saraus e livrarias.
Antes de publicar "O Poeta Sobre Trilhos" estudava filosofia e trabalhava como professor, em BH. Hoje, vive no Rio. "Tudo começou quando ia de Duque de Caxias até a universidade, de trem. Nesse percurso, tem venda de tudo nos vagões: ferramentas, CD, sabonete, meia ortopédica. Aí eu pensei, por que não poesia?".
Desvalorização mercadológica prejudica poesia
O autor faz livretos que já totalizam 14 números – cada tiragem é de 2.500. Ou seja, 35 mil livros vendidos em dois anos de atuação no trabalho. Quase um autor best-seller, se comparado com a vendagem convencional de títulos.
"Consegui furar a fila do mercado editorial. É um público que eu nunca teria na internet", constata Lisboa que se apropriou do formato de livreto – que tantos poetas como Glauco Mattoso, Chacal e Waly Salomão já utilizaram – e o adaptou para a grande escala do público dos vagões: "São cerca de cem livretos vendidos por saída para os vagões do metrô".
Mercado pode faltar, mas a criatividade para distribuir poesia, não. Há seis anos, o projeto "Pão e Poesia" estampa versos em pacotes de pão em BH e SP. "Até agora, foram distribuídas quase 1 milhão de embalagens", observa o idealizador do projeto Diovani Mendonça. "A partir do século 20, houve uma espécie de desvalorização mercadológica da poesia, afirma a pesquisadora em Poéticas Contemporâneas Vera Casa Nova. Ela diz que as publicações de autores novos também é rara. O que vende são os chamados "canônicos", autores como Drummond e Cecília Meireles. "Isso é grave, é uma diminuição da capacidade de pensar", lamenta Vera.
Há autores que apostam nas performances ou veem a internet como alternativa para a distribuição de sua obra. "O jeito é fazer isso mesmo. Muitos outros poetas, hoje com nomes consagrados, pagaram para serem publicados. Hoje isso continua".
Autoria: Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/pop-hd/literatura/poetas-percorrem-as-ruas-de-bh-e-vendem-seus-livros-diretamente-1.61006
Romântico III
ele estende a mão e ela acha
que é pra lhe fazer carinho
mas ele só diz: me passa
minha garrafa de vinho
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Poeta
Lucas C. Lisboa
Eu passo partindo pratos
e durmo rangendo dentes
Eu peco sem celibatos
quando me quebro as correntes
Mato e me roem os ratos
Morro e me cremam os crentes
Pois vivo rifo recatos
para meus doces dementes
Nos muros mando recados
se me rasgam os bilhetes
Pois espalho arcos alados
purpurinas e confetes
Eu falo pelos calados
e berro pelos falantes
Faço versos cravejados
de ouro, de prata e de amantes
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Banal
em folhetim revista ou jornal
nem caio bem na coluna social
e nem no diário de coração
eu sou poeta do dia mais banal
da coisa já sem brilho ou razão
do instante mínimo além do tesão
típico do caderno marginal
falo da menina quase sem graça
que acha graça da minha cantada
falo dos belos mendigos da praça
que transam na fonte de madrugada
falo da minha poesia de raça
impura e filosofia renegada
Tour monetário e a mecenas de cabelos vermelhos
Além de ganhar chicletes de canela de lindas meninas, chocolates de doces senhoras, coca-cola e pururuca dos vendedores do trem e poesia dos poetas que encontro ao vender meus versos nos trilhos. Há uma outra coisa que sempre é divertido quando acontece. Que é quando recebo moedas estrangeiras! Sim, eu já estou fazendo um tour monetário com os diferentes trocados que recebo em troca dos livretos.
Tem moeda do peru que ganhei de um mochileiro que estava cruzando o pais, um dólar americano que ganhei de um casal que estava falando em inglês mas eram brasileiros, um dólar octogonal canadense que não sei quem me deu... É... eu não sei quem me deu pois tenho o costume de agradecer pelo livreto comprado mas não olhar o valor recebido. Gosto de poder tratar com a mesma simpatia o leitor que me dá centavos e o que me enche de notas.
Normalmente não conto o dinheiro até o fim do dia. Apenas retiro as moedas do bolso quando começa a ficar pesado demais e jogo dentro da bolsa de moedas. Após horas vendendo poesia ali nos trilhos essa bolsa fica parecendo uma algibeira medieval. E costuma fazer a alegria dos caixas de supermercado e bares que eu vou. Não são raras as vezes que eu escuto um: Acabou nosso problema de troco!
Falando em fazer a alegria, uma jovem mulher de cabelos curtos e pintados de vermelho realmente acreditou em meu sonho de levar a poesia a lugares onde ela nunca esteve. Já era tarde e eu tinha acabado de chegar até a Pavuna e me sentei distraído num dos bancos para arrumar minha bolsa e voltar a vender na volta.
Ela chegou toda tímida e me perguntou se eu ainda tinha dos livrinhos, acostumado com as pessoas que mudam de ideia na última hora e querem levar pra casa o livreto acabei abrindo a bolsa e peguei um livreto e entreguei para ela com um sorriso cansado. Ela pegou o livreto, guardou na bolsa e colocando minha mão entre as dela deixou uma nota muito dobrada dizendo para que eu não desistisse do meu sonho. E foi embora muito apressada sem me dar tempo de agradecer ou dizer nada. Foi o maior valor que eu já recebi por um livreto mais que o dobro do maior anterior.
Trabalhei contente não só pelo valor mas também porque vi que de norte a sul do Rio de Janeiro havia quem se encantasse por poesia, havia quem valorizasse o que eu faço contribuindo cada um a sua maneira para a poesia continue a viajar sobre os trilhos dessa cidade que acolhe os artistas com tanta alegria.
sábado, 17 de novembro de 2012
Para "A queda" um band-aid
que meu prazer é um mal
censura se me lambuzo
com delícias sem igual
Se rejeito tal abuso
é pecado capital
me acusa d'outro desuso
de ser crente do infernal
Pois eu rejeito esse intruso
não me cabe culpa e moral
E sem fé bem que lhe acuso
de ser anti-natural
Pois vestir calças é russo
no meu pais tropical
Me deixe que não lhe fuço
na sua vidinha sem sal
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Dia de chuva
pra alinhar todo meu mundo
como se ele fosse um terno
que se molhou num dia frio
Tentei consertar meu erro
encher de nada o vazio
jurando que seria eterno
só por mais esse segundo
Eu queria ter no meu peito
um algo que desse jeito
de chamar de coração
Tenho é um vazio perfeito
um belo sonho desfeito
que me canta a solidão
Ramalhete de palavras
são tudo que tenho a lhe oferecer
pra provar, pulo muros e janelas
espalho doces versos pra você
Cândidos cravos junto a rosas belas
eu trago pois se fosse seu querer
pintaria nas mais vivas aquarelas
só prum riso de seus lábios nascer
tenho duas mãos e a mente apaixonada
singro mares de morros, cruzo montes
quebro prantos e medos mais medonhos
eu simplesmente sei que é minha amada
pois em toda a arte somos amantes
nosso castelo é de pedras de sonho
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Diálogo entre o Dândi e o Trapeiro
-Você é um imbecil meu caro. Olhe essa cor vistosa! É um verde rubi de mais fina estirpe. Que importa se suas mangas estão poidas e seu acabamento não é mais o mesmo. Nas ruas escuras seu verde reluz o vermelho das lamparinas.
-Que me importa o quão reluzente seja? Me importo é com seu tamanho, ganho pelos palmos de pano que levo ao artesão. E esse casaco, tem forros internos, externos... É trapo que não acaba mais!
-Não o chame de trapos! É um design moderno, arrojado que acaba de cair em desuso na corte. Mas com os ajustes certos, a postura certa me faço em estilo e nobreza. O refinamento está na alma e em saber encontrar ouro onde os outros só vêem lixo.
-Chama de lixo meu trabalho? Seu verme vagabundo! Ganho com essas tralhas que ajunto o meu sustento. Melhor que você que escreve poemas e declama em troca de uma moeda ou uma caneca de vinho. Pelo menos meu trabalho não depende da caridade de ninguém.
-Meu caro amigo, não é isso que eu quero dizer. Mas a verdade é que dá para se viver no luxo só com o que se acha na porta da casa dos homens e mulheres direitos. São as melhores indumentárias, descartadas no afã da moda, os melhores adereços por terem sido ganhos do amante ousado e é claro até um quadro ou outro que fora dado por um parente que insiste em mecenar certos fracassados como nós.
-Não se iluda seu almofadinhas, essas roupa que usa, essa bengala, nada disso lhe faz parecer um dos que moram nas casas da avenida principal. Continua reles proletário, longe dos salões burgueses. Quando muito a Boemia pode abraçar. Somos de outra espécie de homem, bem mais baixos na cadeia alimentar.
-Vidrados no dinheiro, eles e você, não podem aproveitar a vida e nem o perfume da rosa. Veja aquela bela dama que atravessa a rua apressada, vê como é formosa!
-Pensa que me engana? Não levara meu trapo assim tão fácil. É tecido meu achado primeiro.
-Se o que queres é papel, tome cá esse livro. Pode vendê-lo ao artesão e ganhar mais moedas que ganharia com esse casaco.
-Me parece uma boa troca... Você deve ser louco! Trocar papel caro por um casaco sem valor.
-Cada um sabe o valor que dá ao que estima, esse casaco com certeza me ajudará a adentrar debaixo d'uma saia feminina.
-Seu lascivo! Isso lá é coisa que se diga na rua?
-Deixe disso, pare de me julgar pois agora vou-me indo atrás de um novo par.
-Mas espere ai! Isso aqui é uma bíblia! Como imagina que eu possa vender isso? É pecado!
-Pecado nada meu bom amigo, quando a fome a aperta Deus sempre está do nosso lado!
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Cego
canta bem melhor
no escuro perfeito
lhe feito sem dó
O saci do gueto
pula na maior
dum barraco pro outro
cuma perna só
mal não se renega
pois é desatino
não levar sua cruz
mariposa cega
tem no som do sino
seu facho de luz
domingo, 21 de outubro de 2012
Acelerado
num gozo raro
e quero raso
num riso solto
Não sei se passo
ou não do ponto
no que eu aposto
sem um centavo
Eu quero à vista
do sonho cego
e quero à prazo
desregulado
Não sei se fico
num beijo morno
ou se me vazo
como um cachorro
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Primavera de Ocasião
verdes araras urbanas
colorem um céu cinzento
num tchau pro fim de semana
Adorável Canalha
Caminhando pela rua ele veio em direção contrária a minha, olhou-me nos olhos, passeou pelos meus cabelos, desceu por meus lábios e enquanto sorria seus olhos secaram meu decote. Passou por mim, mas eu pude escutar seu telefone tocando:
-Oi amor, não paro de pensar em você!
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Livreto colorido, a gentileza dos seguranças e um recado pela janela do ônibus
Chegaram meus livretos novos! É a primeira edição colorida! Consegui encontrar uma gráfica graças ao Zuza que faz o trabalho por um preço mui acessível, acabou ficando a cópia mais barata que seria no xerox que eu costumava ir. E o melhor, posso pagar com cartão de crédito e só pagar os livretos muito depois de vendê-los.
Eu gosto do requinte que é usar as próprias engrenagens do sistema para subvertê-lo. Tento todo dia encontrar novos meios de usar a nossa querida industria capitalista que explora igualmente meios de transporte, graficas e cultura contra a sua própria estrutura.
Os novos livretos ficaram muito chamativos! Os leitores adoraram e foi um dia de intenso movimento nas estações. Acabei sendo pego em Cantagalo mas foi tranquilo, achei que ia dar algum problema mas os seguranças foram muito educados comigo e só me tiraram do sistema. O grande problema é que eu estava em Cantagalo e ali é longe demais das duas estações mais próximas.
Acabei optando por caminhar pela Rua Barata Ribeiro até chegar a estação Siqueira Campos onde voltei ao meu trabalho habitual de espalhar a poesia pelos trilhos do metrô. Nesse vai e vem cheguei até a Saens Peña e voltei vendendo vagão a vagão. Não é que dentro de um desses, na altura da Carioca, não encontro um amigo que bati bons papos na praça São Salvador?
Ele me convidou para a São Salvador, para beber um pouco e papear. Um chorinho aqui, uma conversa de cá, algumas latas de cerveja depois era hora de ir embora. Caminhei até o Largo do Machado onde pus em prática um truque carioca que acho o máximo.
No rio o transporte público é caótico e muitas vezes as empresas de ônibus lhe obrigam a pegar duas conduções para chegar a um destino cuja distância não é lá tão grande para justificar duas passagens. Com isso surge o Surf de ônibus que consiste em entrar no primeiro ônibus que vai na direção que você quer e perguntar se vai para onde você quer. Se for, que maravilha! Tá chegando em casa rapidinho, se não. Você desce e está um pouco mais perto de casa...
Já tive que surfar umas três vezes para sair do Largo do Machado e chegar na Lapa, mas dessa vez o motorista foi bonzinho comigo e me deixou na lapa. Uma gentileza que deixou minha noite mais feliz. Entrando no ônibus perguntei ao motorista se ele parava no ponto onde eu teria que descer para chegar em casa. Antes do motorista responder uma moça simpática me respondeu que sim, que ele passava por lá e então ela girou a roleta e foi se sentar.
Encantado por essa gentileza dela, passei pela roleta e ao passar por ela entreguei um livreto de poesia e agradeci pela informação. Sentei lá atrás do ônibus e continuei minha viagem pensando no dia seguinte, nos livretos que teria de dobrar e grampear para encarar mais um dia de poesia sobre trilhos e tudo mais. Mas a hora de descer ela me jogou pela janela do ônibus um recado muito singelo que dizia assim: "Obrigada! A arte ainda vai salvar o mundo!" E tinha um monte de beijos de batom naquele bilhete. Num dos cantos um rabisco, que eu acho que era seu telefone que ela rabiscou por algum motivo que nunca vou saber.
sábado, 15 de setembro de 2012
Eu-miragem
se sempre acham que poetas
não sentem fome nem sede
de mil maneiras diversas?
que faço se sou medonho
no mesmo reino de quimeras
que também me fazem príncipe
sem perguntar meu querer?
Sou o cavaleiro que amada
sonha mas não quer que volte
pra sempre poder amar
Eu sinto que sou miragem
que querem nunca alcançar
mas contentam em estar lá
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Chuva, Luto e Recital sobre trilhos
Nem todo dia é dia de poesia. E o Rio de Janeiro não cansa de me surpreender. Jamais vou compreender o porquê exato do luto sempre que chove na cidade maravilhosa. Entrei dentro do metrô e me choquei com as caras mal-humoradas de todos. Sério, tava todo mundo com cara de enterro. E tudo porque caia uma leve chuva que para mim só tinha aliviado o calor estranho que se abateu na cidade em pleno inverno.
Caras de enterro, pessoas mal humoradas e eu parecia ser uma presença errada e feliz num ambiente onde todos estavam celebrando o enterro do sol. E assim eu fui de Saens Peña até Gal. Osório (alguém já reparou na quantidade de penha que tem aqui no rio? É Penha, Penha Circular, Alto da Penha, Saens Peña... Depois eu tenho que pesquisar e descobrir de onde vem esse nome). Foi uma viagem daquelas de poucos amigos, mas encontrei alguns rostos conhecidos, alguns clientes habituais que já fazem coleção dos meus livretos e tudo mais. Mas a esmagadora maioria tava mesmo afim de só voltar pra casa e se recostava nos bancos de olhos fechados.
Na volta de Gal. Osório para Saens Peña tudo seguia no mesmo ritmo até que uma senhora, de cabelos loiros pintados, que estava de pé pegou um livreto meu e começou a lê-lo em voz alta para os amigos e tudo virou uma farra naquele grupo. Todos rindo felizes e contentes a poesia viva na voz dela. Foi um lampejo de felicidade num dia tão cinzento. Colocou cor no dia e mostrou que a poesia pode vencer as nuvens mais carregadas.
Eu fiquei ali curtindo aquele momento espontâneo de poesia no metrô, foi delicioso e me deu uma revigorada daquelas. Tão envaidecido que perdi o tempo das estações e quando vi paramos na Uruguaiana e o vagão ficou apinhado de gente, completamente lotado! Pois é, paguei o preço pela minha vaidade e foi com muita dificuldade que consegui pegar os livretos de uns poucos que queriam devolver e de muitos que animados pelo recital iam levar pra casa os livretos.
Sai do vagão depois de dar um livreto de outra edição para a simpática senhora e quando sai ela voltava a ler os poemas em voz alta para seus amigos. Chegando no vagão seguinte senti o cansaço por ter trafegado pelo vagão lotado e a despeito da alegria do vagão anterior esse estava morto novamente, com caras mal humoradas. É, eu desanimei e aproveitando a deixa que o vagão estava chegando na minha estação desci e fui para casa.
sábado, 8 de setembro de 2012
Para uma poetisa de mão cheia
e um ralhar mais severo não só irrita:
deprime e propicia males piores...
mas elogio vão nem cai bem na fita!
Linguagem rebuscada, rimas pobres
pois escreve sonetos como se imita
poetas mui antigos por uns cobres
não vê que cega, tolhe e se limita?
Queria ver mais esmero na escansão
mais sabor, tino e crítica na rima
e um versejar mais solto com sua pena
Aprenda no repente e na canção
a amar como mulher e tal menina
brincar com os mil sons desde pequena
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Quando a leitora persegue o poeta
Quarta-feira, fim de mês mas meu ânimo estava inquieto pois já havia alguns dias que eu não saia de casa e nem escrevia nada. Ficava ali vendo filmes, lendo um pouco e namorando um bocado. Eu precisava sair, entrar num metrô e atiçar com poesia um monte de gente diferente.
Escolhi o itinerário da Pavuna pois era durante o dia e os vagões estavam menos cheios. Mas como era de se esperar estava todo mundo duro e a quantidade de moedas era muito maior que das notas. Assim os livretos até que estavam ganhando donos rapidamente mas os livros nem tanto.
Terminei mais um vagão e mudei para o próximo, passou mais uma estação e uma mão me puxou a camisa. A mão pertencia a uma menina morena de óculos e cabelos cacheados que me disse que eu havia esquecido dela no vagão anterior. Sim, ela mudou de vagão para pagar pelo livreto! E o mais inacreditável é que ela estava sentada no vagão e agora teria que viajar em pé.
Para compensá-la minimamente lhe dei um livreto extra afinal sempre carrego pelos menos alguns livretos das duas edições anteriores para completar a coleção de alguns compradores habituais. Entretanto a dedicação e o esforço dela não me foram uma recompensa muito maior que as moedas em si. O resultado foi um sorriso bobo em meu rosto pelo resto do dia.
Esse foi o ponto alto da tarde que me aguçou mais a vontade de trabalhar nesse período . É um público diferente do noturno que estou mais acostumado. Um público que vale à pena cativar. Foi bom saber que não só os homens de preto podem me perseguir de vagão em vagão mas que os leitores que desperto também!
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Doutor Adevogado
pasta de couro e relógio
no bolso nada de cobre
só notas de valor régio
Papéis que lhe versam sobre
assuntos e bens valiosos
que ameaça contra o pobre
e deixa ricos charmosos
tem no peito seu inimigo
que canta na madrugada
tal um bêbado risonho
mas sei que há muito mendigo
trajando terno e gravata
pedindo um pedaço de sonho
sábado, 18 de agosto de 2012
Código de Barras
um reles papel comprova:
eles sabem meu endereço!
Tem meu nome, CPF
CEP e código de barras
tudo isso pra me cobrar
Cada conta vencida é praga
que faz tocar telefone
bater porta e campainha
tira o sono e me arranca
os cabelos da cabeça
incomoda sem parar
Sabe, cada conta paga
eu trato como troféu
que guardo com muito zelo
É tipo meu amuleto
um espanta-cobrador
por pelo menos um mês
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
"ô da poesia"
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
3-6-9
pela boca da moça que ginga
pelo som feito samba pra lua
e pro sol no cabelo e na rua
ela passa sem pressa ao léu
e devora sem pressa seu réu
em um crime bem feito e traçado
pra pisar noutro peito amado
forte e amargo pigarro de pinga
pela boça do moço que xinga
pelo tom pelo som pele nua
numa fome da carne mais crua
ele passa seu dia no bordel
devorando na noite sem véu
seu passado presente e futuro
feito verso bem claro no escuro