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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

domingo, 27 de dezembro de 2015

É como se diz:

Com palmas e bis
doce Beatriz
ficou por um triz
de ser meretriz

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Tropa Natalina

Começou como tropeiro
pelo sertão derradeiro
das muitas minas gerais,
bem longe das capitais
guiando burros em tropa
e com cavalo que trota!
 
Mula madrinha enfeitada
por muito chão, muita estrada
levava o comércio de ouro
dentro do embornal de couro
dos garimpos até os roçados
era ele muito aguardado

Trocou tropa pelo trem
e ao progresso disse amem
quando a ferrovia chegou
e novamente se inventou
pois dentro do seu vagão
todo, arroz, milho, feijão

Ele mesmo compraria
para vender lá na Bahia
e de lá vinha descendo
com o seu vagão trazendo
perfumes, panos, tecidos,
remédios e mil artigos

Por anos indo e vindo
fez ele seus dividendos
Casado com Terezinha
fizeram na vilazinha
seu comércio e pensão,
a maior da região.

Com a casa logo erguida
já quiseram em seguida
uma professora pra lá
para contas e beabá
ensinar pela primeira
vez para essa vila inteira

Nem tudo foi belo e bom
e num grito fora do tom
vieram os tiros de canhão
e trem, vagão e estação
já não existiam tais
e mudou-se uma vez mais

De Alfredo Graça pegaram
o último trem e pararam
na cidade de Teofilo Otoni
e eles sofreram ali
a triste separação
em nome da educação

De todos os seus filhos
Natalino foi nos trilhos
de volta para a fazenda
de seus pais numa contenda
lá para as margens do Rio
Setúbal num desafio

Feira Natalina

Quando sábado chegava
Seu Natalino montava
o seu cavalo Rosi
que já sabia pra onde ir:
de Santa Cruz, sua fazenda
até a feira buscar a renda.
 
Na vila do Jenipapo
era a feira de trapo,
rapadura, porco, pinga,
panela, couve, moringa,
linguiça, milho, feijão,
gado, queijo e requeijão....
 
Natalino bom mascate
na feira dava arremate
nas pagas e encomendas
que faziam pra sua moenda
de rapadura e cachaça
enquanto andava na praça.

Anotava, em prosa lenta,
num papel de letra atenta
uma nova e boa encomenda
Parava e resolvia a contenda
dum filho querendo comer
queijo e groselha beber

 De passada lenta e aberta
andava como quem acerta
na sorte fazendo o que gosta
vivendo e vendendo a roça
que cuidava com carinho
tal pássaro do seu ninho

Essa vila orgulho lhe dava
quem dissesse não errava
do mercado até a Igreja
tinha da sua bemfazeja
cada rua cada calçada
fez com esmero de morada

 Mas não fez sozinho é certo
tinha amigos bem diletos
com quem andava e proseava
e até versos declamava
histórias de assombração
e também de lampião
 
De boa prosa e jeito calmo
foi delegado da região
de Araçuai, Jenipapo,
de Machados, Badaró,
até Córrego das Velhas,
Berilo e também Chapada
 
Era um delegado diferente
desses tipos boa gente
não mandava prender
se dava pra resolver
com conversa, com conselho
via no outro sempre um espelho

Seus olhos azuis sérios
de contador de mistérios
de troças, de escalabros
de piadas e de causos
um mundo se emocionavam
quando seus filhos chegavam

Pois estudavam bem longe
Araçuai, Teofilo Otoni
e também Belo Horizonte
mas nas férias iam pra feira
nos burros e na traseira
do seu cavalo Rosi




quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Flâmula

Em seu talo eu me embalo
sua menina meretriz
e se diz: ‘‘ fela me o falo’’
seu falo felo feliz

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Lama

De vida, de morte
de jornada breve
Com acaso, sorte
e meu peso leve

De fome, banquete
natural, urbano,
selva,  palacete,
animal e humano

Sou chama sou brisa
pra tudo que me
refresca e atiça

Sou terra sou água
pra tudo que me
soterra e deságua

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Sou terra
pra tudo
que me
soterra

Sou água
pra tudo
que me
deságua

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Ela

Nos enredos já se atira
nos medos sequer respira
pois me inspira seus segredos
quando pira em meus dedos