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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Com quantos esqueletos se faz um armário?

"Comunista é o pseudônimo que os
conservadores e saudosistas do fascismo
inventaram para designar todo sujeito
que luta por justiça social."
Érico Veríssimo

Uma decisão do STF, muito teatro, muitas idas e vindas. Se era cláusula pétrea foi só pra tirar o Lula da eleição? Aécio se arrepende de todo o movimento parar tirar a Dilma do poder? Deixar ela sangrando até o fim de 2018 para sair de lá junto com o PT com a (im)popularidade do Temer não era uma opção? Seria ele o presidente hoje se o pais não tivesse pegado fogo com Cunha, Moro e cia? 

Todas essas questões eram tão importantes num passado não tão distante, agora me parecem trivialidades, quase jogo de cena política. Novela das seis que se assiste em família antes do jornal local.  O que me assombra agora é: Haverá uma guerra entre Lula e Bolsonaro? Entre Esquerda e Direita? Entre Civilização e Barbárie? Será política-eleitoral ou as ruas serão tomadas? Se serão tomadas será por flores ou por tanques?

Se por um lado sinto saudades de um tempo onde eu conseguia brincar com meu adversário político, que conseguia enxergar em Serras, Neves e Alckmins, indivíduos que apesar de calhordas alguma forma de civilização ainda existia ali dentro e que se perdesse uma eleição para eles os direitos e garantias individuais estariam "assegurados"  

Eu vejo que tudo isso não passa de uma tremenda ilusão. Esses direitos, essas garantias nunca estiveram assegurados no Brasil, vivemos sob uma guerra surda, muda e abscondida de nós e por nós mesmos com uma boa ajuda da Impressa e da pior parte classe política que comemora toda vez que alguém diz que todos os políticos são iguais. 

Precisamos dessa guerra há décadas. Tivemos um arremedo de anistia que varreu pra debaixo do tapete todas as tensões sociais do país. E o preto, pobre, bicha, favelado, nordestino, etc continuou sendo preterido, morto, perseguido. 

Passamos de 1989 a 2002 sendo governados pelos mesmos políticos que governavam na ditadura mas agora com um verniz de neutralidade, de tecnicidade, e até de viés esquerdista no discurso. 

Finalmente o país está se passando a limpo. O fascismo que matou os meninos da candelária em 1993 nunca deixou de existir, apenas esteve escondido, dissimulado, matando, estuprando, destruindo sonhos e vidas em igual medida.  

Com a ascensão do PT ao governo os mínimos e tímidos progressos que tivemos, em parte por culpa do próprio PT e em parte pelos avanços da sociedade onde os setores marginalizados começaram a se organizar e a fazer valer seu lugar. 

O Fascismo ficou incomodado demais, raivoso demais com a petulância da bicha que não aceitava ficar no armário e queria casar, da  arrogância da filha do porteiro que agora era Doutora, com o descaramento de ver nordestino não no pau-de-arara mas no aeroporto. Os ossos começaram a chacoalhar no armário mais do que deviam.

O fascismo que "só queria dar um susto no mendigo" e acabou matando o Índio Galdino em 1997 sempre esteve ai na surdina, na espreita matando calado enquanto fazíamos vistas grossas. Mas quanto mais gente falava alto como a irmã Dorothy fez até ser calada em 2005 ou Chico Mendes em 1988 menos esse fascismo consegue ficar escondido. 

Mais esse fascismo sonha com os áureos tempos do CCC, não se contentam com o que fizeram em Carajás (1996) ou no Carandiru (1992) é muito pouco sangue para os padrões que estão acostumados quando tinham todos os porões do DOPS para seu bel Prazer. O que são mais esses ossos no armário de quem já colocou um cemitério inteiro?

Hoje precisam engavetar processos usando promotores de (in)justiça como no caso do Amarildo.  E eles não suportam esses entraves do estado democrático de direito. A décima demão de verniz que o DEM recebeu para esconder que já foi PFL/PDS/ARENA/UDN já não estava fazendo bem  pra pele dos fascistas. 

O PSL deu uma lufada de ar fresco, tirou do armário toda essa corja mais abjeta que sempre esteve ali na surdina,  sustentando e sustentados por milicianos em cada esquina.  Deram a cara, vieram dizer um basta para essa balbúrdia, para esse monte de gente que está subvertendo a ordem natural das coisas. 

Sim, subversivos, essa palavra consta no treinamento da PM mineira e foi com ela que o carro de som passou ameaçando os manifestantes no fim de um dia de protesto em 2013 sob o governo Demo-tucano de Minas Gerais.

Eles não saíram da guerra fria, do embate contra o monstro do comunismo. Não adianta botar panos quentes, contemporizar, chegar num acordo, num denominador comum. O Embate é mais do que necessário, o que esse fascismo quer (e sempre quis) é completamente inaceitável e inegociável. 

Agora que eles finalmente dizem as claras ao que vieram ao menos podemos combatê-los diretamente. Lembro-me bem das eleições de 2002, os programas de governo, as propagandas políticas. Um estrangeiro que viesse de fora teria certeza que só concorriam candidatos de esquerda.  O mesmo se repetiu nas eleições subsequentes. 

A despeito do sucesso eleitoral executivo do PT nesse período a falta de clareza da direita com seu discurso confundia e enganava o eleitorado. Mesmo elegendo um presidente à esquerda continuamos elegendo um balaio de gatos pro congresso. Congressistas de 30, 40 anos de casa. Que estavam ali desde sempre fascistando e roubando por lá. Quantos Hildebrandos Pascoais (1999) não tiveram suas motosserras descobertas? É surpresa para alguém que esse Congressista do DEM/PFL/PDS/ARENA/UDN seja um ex-coronel da PM?

Façamos as contas Hildebrando Nasceu em 1952, aos vinte poucos anos estava na PM no auge da carnificina. Onde ele aprendeu a manejar tão habilmente uma motosserra? Acreditamos mesmo que seus padrinhos políticos não tinham pleno conhecimento de suas atividades? Não seriam justamente por essas habilidades que eles se irmanavam no mesmo partido, na mesma famigerada Frente Liberal? Será que nas festas de confraternização do partido iam contemplar um o armário de ossos do outro em suas respectivas e humildes moradas com  cameras e segurança armada?

Hoje esse digníssimo senhor que esquartejava pessoas vivas com uma motosserra encontra-se em prisão domiciliar mesmo tendo violado os termos dessa prisão uma vez. Um santo homem que desde a década de 70 só traz o que há de melhor para o cidadão de Bem desse país.

Hidelbrando é um caso midiático de alguém que foi pego em flagrante após findo o regime, um alguém que caso não fosse seria digno de todos os elogios que já recebeu Ustra, inclusive na tribuna do congresso.

Se a cadela do fascismo, em todo mundo, está sempre no cio, no Brasil,  parece que ela não para de dar numerosas ninhadas. Mesmo com a míngua do DEM/PFL/PDS/ARENA/UDN sua mais nobre raça já está negociando a cruza com o próprio PSL que por sua vez já pensa numa outra cruza com o outro rebento do ARENA o velho PP.  Todos irmanados na saudade dos tempos de outrora onde existia mais respeito. Seja lá o que isso signifique, pois com certeza esse respeito não é para mim ou pra quem não se encaixa no padrão de Bem e de Bens.

Venhamos e convenhamos, não se negocia com milicos, fascistas e milicianos. Eles não estão aqui para negociar, para entrar em acordos, eles só querem impor sua doutrina, sua ideologia e sua forma de enxergar o mundo. Temos que tirar de vez esses ossos do armário, enterrá-los todos após um cortejo fúnebre. São muitos mortos na conta dessa gente.  Tê-los assim desnudados, com a cara a mostra é a oportunidade perfeita para o enfrentamento, em todas as frentes possíveis da praga fascista que está entranhada em nossa sociedade.  
"Se eu dou comida aos pobres,
eles me chamam de santo.
Se eu pergunto porque os pobres não têm
comida, eles me chamam de comunista."
D. Hélder Câmara

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Tour monetário e a mecenas de cabelos vermelhos

Além de ganhar chicletes de canela de lindas meninas, chocolates de doces senhoras, coca-cola e pururuca dos vendedores do trem e poesia dos poetas que encontro ao vender meus versos nos trilhos. Há uma outra coisa que sempre é divertido quando acontece. Que é quando recebo moedas estrangeiras! Sim, eu já estou fazendo um tour monetário com os diferentes trocados que recebo em troca dos livretos.


Tem moeda do peru que ganhei de um mochileiro que estava cruzando o pais, um dólar americano que ganhei de um casal que estava falando em inglês mas eram brasileiros, um dólar octogonal canadense que não sei quem me deu... É... eu não sei quem me deu pois tenho o costume de agradecer pelo livreto comprado mas não olhar o valor recebido. Gosto de poder tratar com a mesma simpatia o leitor que me dá centavos e o que me enche de notas.


Normalmente não conto o dinheiro até o fim do dia. Apenas retiro as moedas do bolso quando começa a ficar pesado demais e jogo dentro da bolsa de moedas. Após horas vendendo poesia ali nos trilhos essa bolsa fica parecendo uma algibeira medieval. E costuma fazer a alegria dos caixas de supermercado e bares que eu vou. Não são raras as vezes que eu escuto um: Acabou nosso problema de troco!


Falando em fazer a alegria, uma jovem mulher de cabelos curtos e pintados de vermelho realmente acreditou em meu sonho de levar a poesia a lugares onde ela nunca esteve. Já era tarde e eu tinha acabado de chegar até a Pavuna e me sentei distraído num dos bancos para arrumar minha bolsa e voltar a vender na volta.


Ela chegou toda tímida e me perguntou se eu ainda tinha dos livrinhos, acostumado com as pessoas que mudam de ideia na última hora e querem levar pra casa o livreto acabei abrindo a bolsa e peguei um livreto e entreguei para ela com um sorriso cansado. Ela pegou o livreto, guardou na bolsa e colocando minha mão entre as dela deixou uma nota muito dobrada dizendo para que eu não desistisse do meu sonho. E foi embora muito apressada sem me dar tempo de agradecer ou dizer nada. Foi o maior valor que eu já recebi por um livreto mais que o dobro do maior anterior.


Trabalhei contente não só pelo valor mas também porque vi que de norte a sul do Rio de Janeiro havia quem se encantasse por poesia, havia quem valorizasse o que eu faço contribuindo cada um a sua maneira para a poesia continue a viajar sobre os trilhos dessa cidade que acolhe os artistas com tanta alegria.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Diálogo entre o Dândi e o Trapeiro

-Calma lá! Eu vi primeiro. Sabe quanto me valerá esse tecido para o fazedor de livros? Será pelo menos três dias de pão para minha família.

-Você é um imbecil meu caro. Olhe essa cor vistosa! É um verde rubi de mais fina estirpe. Que importa se suas mangas estão poidas e seu acabamento não é mais o mesmo. Nas ruas escuras seu verde reluz o vermelho das lamparinas.

-Que me importa o quão reluzente seja? Me importo é com seu tamanho, ganho pelos palmos de pano que levo ao artesão. E esse casaco, tem forros internos, externos... É trapo que não acaba mais!

-Não o chame de trapos! É um design moderno, arrojado que acaba de cair em desuso na corte. Mas com os ajustes certos, a postura certa me faço em estilo e nobreza. O refinamento está na alma e em saber encontrar ouro onde os outros só vêem lixo.

-Chama de lixo meu trabalho? Seu verme vagabundo! Ganho com essas tralhas que ajunto o meu sustento. Melhor que você que escreve poemas e declama em troca de uma moeda ou uma caneca de vinho. Pelo menos meu trabalho não depende da caridade de ninguém.

-Meu caro amigo, não é isso que eu quero dizer. Mas a verdade é que dá para se viver no luxo só com o que se acha na porta da casa dos homens e mulheres direitos. São as melhores indumentárias, descartadas no afã da moda, os melhores adereços por terem sido ganhos do amante ousado e é claro até um quadro ou outro que fora dado por um parente que insiste em mecenar certos fracassados como nós.

-Não se iluda seu almofadinhas, essas roupa que usa, essa bengala, nada disso lhe faz parecer um dos que moram nas casas da avenida principal. Continua reles proletário, longe dos salões burgueses. Quando muito a Boemia pode abraçar. Somos de outra espécie de homem, bem mais baixos na cadeia alimentar.

-Vidrados no dinheiro, eles e você, não podem aproveitar a vida e nem o perfume da rosa. Veja aquela bela dama que atravessa a rua apressada, vê como é formosa!

-Pensa que me engana? Não levara meu trapo assim tão fácil. É tecido meu achado primeiro.

-Se o que queres é papel, tome cá esse livro. Pode vendê-lo ao artesão e ganhar mais moedas que ganharia com esse casaco.

-Me parece uma boa troca... Você deve ser louco! Trocar papel caro por um casaco sem valor.

-Cada um sabe o valor que dá ao que estima, esse casaco com certeza me ajudará a adentrar debaixo d'uma saia feminina.

-Seu lascivo! Isso lá é coisa que se diga na rua?

-Deixe disso, pare de me julgar pois agora vou-me indo atrás de um novo par.

-Mas espere ai! Isso aqui é uma bíblia! Como imagina que eu possa vender isso? É pecado!

-Pecado nada meu bom amigo, quando a fome a aperta Deus sempre está do nosso lado!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Adorável Canalha

Caminhando pela rua ele veio em direção contrária a minha, olhou-me nos olhos, passeou pelos meus cabelos, desceu por meus lábios e enquanto sorria seus olhos secaram meu decote. Passou por mim, mas eu pude escutar seu telefone tocando:


-Oi amor, não paro de pensar em você!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Livreto colorido, a gentileza dos seguranças e um recado pela janela do ônibus


Chegaram meus livretos novos! É a primeira edição colorida! Consegui encontrar uma gráfica graças ao Zuza que faz o trabalho por um preço mui acessível, acabou ficando a cópia mais barata que seria no xerox que eu costumava ir. E o melhor, posso pagar com cartão de crédito e só pagar os livretos muito depois de vendê-los.


Eu gosto do requinte que é usar as próprias engrenagens do sistema para subvertê-lo. Tento todo dia encontrar novos meios de usar a nossa querida industria capitalista que explora igualmente meios de transporte, graficas e cultura contra a sua própria estrutura.


Os novos livretos ficaram muito chamativos! Os leitores adoraram e foi um dia de intenso movimento nas estações. Acabei sendo pego em Cantagalo mas foi tranquilo, achei que ia dar algum problema mas os seguranças foram muito educados comigo e só me tiraram do sistema. O grande problema é que eu estava em Cantagalo e ali é longe demais das duas estações mais próximas.


Acabei optando por caminhar pela Rua Barata Ribeiro até chegar a estação Siqueira Campos onde voltei ao meu trabalho habitual de espalhar a poesia pelos trilhos do metrô. Nesse vai e vem cheguei até a Saens Peña e voltei vendendo vagão a vagão. Não é que dentro de um desses, na altura da Carioca, não encontro um amigo que bati bons papos na praça São Salvador?


Ele me convidou para a São Salvador, para beber um pouco e papear. Um chorinho aqui, uma conversa de cá, algumas latas de cerveja depois era hora de ir embora. Caminhei até o Largo do Machado onde pus em prática um truque carioca que acho o máximo.


No rio o transporte público é caótico e muitas vezes as empresas de ônibus lhe obrigam a pegar duas conduções para chegar a um destino cuja distância não é lá tão grande para justificar duas passagens. Com isso surge o Surf de ônibus que consiste em entrar no primeiro ônibus que vai na direção que você quer e perguntar se vai para onde você quer. Se for, que maravilha! Tá chegando em casa rapidinho, se não. Você desce e está um pouco mais perto de casa...


Já tive que surfar umas três vezes para sair do Largo do Machado e chegar na Lapa, mas dessa vez o motorista foi bonzinho comigo e me deixou na lapa. Uma gentileza que deixou minha noite mais feliz. Entrando no ônibus perguntei ao motorista se ele parava no ponto onde eu teria que descer para chegar em casa. Antes do motorista responder uma moça simpática me respondeu que sim, que ele passava por lá e então ela girou a roleta e foi se sentar.


Encantado por essa gentileza dela, passei pela roleta e ao passar por ela entreguei um livreto de poesia e agradeci pela informação. Sentei lá atrás do ônibus e continuei minha viagem pensando no dia seguinte, nos livretos que teria de dobrar e grampear para encarar mais um dia de poesia sobre trilhos e tudo mais. Mas a hora de descer ela me jogou pela janela do ônibus um recado muito singelo que dizia assim: "Obrigada! A arte ainda vai salvar o mundo!" E tinha um monte de beijos de batom naquele bilhete. Num dos cantos um rabisco, que eu acho que era seu telefone que ela rabiscou por algum motivo que nunca vou saber.


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Chuva, Luto e Recital sobre trilhos

Nem todo dia é dia de poesia. E o Rio de Janeiro não cansa de me surpreender. Jamais vou compreender o porquê exato do luto sempre que chove na cidade maravilhosa. Entrei dentro do metrô e me choquei com as caras mal-humoradas de todos. Sério, tava todo mundo com cara de enterro. E tudo porque caia uma leve chuva que para mim só tinha aliviado o calor estranho que se abateu na cidade em pleno inverno.


Caras de enterro, pessoas mal humoradas e eu parecia ser uma presença errada e feliz num ambiente onde todos estavam celebrando o enterro do sol. E assim eu fui de Saens Peña até Gal. Osório (alguém já reparou na quantidade de penha que tem aqui no rio? É Penha, Penha Circular, Alto da Penha, Saens Peña... Depois eu tenho que pesquisar e descobrir de onde vem esse nome). Foi uma viagem daquelas de poucos amigos, mas encontrei alguns rostos conhecidos, alguns clientes habituais que já fazem coleção dos meus livretos e tudo mais. Mas a esmagadora maioria tava mesmo afim de só voltar pra casa e se recostava nos bancos de olhos fechados.


Na volta de Gal. Osório para Saens Peña tudo seguia no mesmo ritmo até que uma senhora, de cabelos loiros pintados, que estava de pé pegou um livreto meu e começou a lê-lo em voz alta para os amigos e tudo virou uma farra naquele grupo. Todos rindo felizes e contentes a poesia viva na voz dela. Foi um lampejo de felicidade num dia tão cinzento. Colocou cor no dia e mostrou que a poesia pode vencer as nuvens mais carregadas.


Eu fiquei ali curtindo aquele momento espontâneo de poesia no metrô, foi delicioso e me deu uma revigorada daquelas. Tão envaidecido que perdi o tempo das estações e quando vi paramos na Uruguaiana e o vagão ficou apinhado de gente, completamente lotado! Pois é, paguei o preço pela minha vaidade e foi com muita dificuldade que consegui pegar os livretos de uns poucos que queriam devolver e de muitos que animados pelo recital iam levar pra casa os livretos.


Sai do vagão depois de dar um livreto de outra edição para a simpática senhora e quando sai ela voltava a ler os poemas em voz alta para seus amigos. Chegando no vagão seguinte senti o cansaço por ter trafegado pelo vagão lotado e a despeito da alegria do vagão anterior esse estava morto novamente, com caras mal humoradas. É, eu desanimei e aproveitando a deixa que o vagão estava chegando na minha estação desci e fui para casa.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Quando a leitora persegue o poeta

Quarta-feira, fim de mês mas meu ânimo estava inquieto pois já havia alguns dias que eu não saia de casa e nem escrevia nada. Ficava ali vendo filmes, lendo um pouco e namorando um bocado. Eu precisava sair, entrar num metrô e atiçar com poesia um monte de gente diferente.


Escolhi o itinerário da Pavuna pois era durante o dia e os vagões estavam menos cheios. Mas como era de se esperar estava todo mundo duro e a quantidade de moedas era muito maior que das notas. Assim os livretos até que estavam ganhando donos rapidamente mas os livros nem tanto.


Terminei mais um vagão e mudei para o próximo, passou mais uma estação e uma mão me puxou a camisa. A mão pertencia a uma menina morena de óculos e cabelos cacheados que me disse que eu havia esquecido dela no vagão anterior. Sim, ela mudou de vagão para pagar pelo livreto! E o mais inacreditável é que ela estava sentada no vagão e agora teria que viajar em pé.


Para compensá-la minimamente lhe dei um livreto extra afinal sempre carrego pelos menos alguns livretos das duas edições anteriores para completar a coleção de alguns compradores habituais. Entretanto a dedicação e o esforço dela não me foram uma recompensa muito maior que as moedas em si. O resultado foi um sorriso bobo em meu rosto pelo resto do dia.


Esse foi o ponto alto da tarde que me aguçou mais a vontade de trabalhar nesse período . É um público diferente do noturno que estou mais acostumado. Um público que vale à pena cativar. Foi bom saber que não só os homens de preto podem me perseguir de vagão em vagão mas que os leitores que desperto também!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

"ô da poesia"

Um relato que escrevi no meio do ano passado e redescobri agora, dá uma certa nostalgia relembrar daqueles meses quando estava começando a vida de poeta sobre trilhos, se naqueles dias eu ainda era inseguro sobre o que fazia hoje sei que esse sonho está cada vez mais concreto. Vivo, visto e respiro poesia há um ano e meio aqui nessa cidade maravilhosa.


"Ô da poesia" escutei antes de atravessar a catraca do metrô. Gelei na hora, sempre tem muitos seguranças por ali e eu não gosto deles e a maioria também não gosta de mim. Mas dessa vez não era nenhum deles, era um rapaz de uniforme cinza e vermelho da limpeza do metrô. Eu parei e me virei e ele veio até mim e me perguntou se eu tava com as poesia ali e me comprou para dar de presente para a namorada. Contou que tinha me visto outro dia mas que não tava com grana no dia.


Tem dias que é assim, antes mesmo de entrar no vagão já ganho o dia! Fui lembrado pelo meu rosto enquanto ainda estava por começar o trabalho. Tem coisa mais prazerosa do que ser reconhecido por aquilo que faz de melhor e com mais prazer? Não, ao menos para mim que sou mais bobo não tem! Agora escrevendo me lembrei de outro dia já a algum tempo quando saindo para tomar café na rua riachuelo um singelo armário de terno e gravata me chamou pelo nome e  pediu o endereço do meu blog pois tinha dado o lireto pra namorada.


Ser parado na rua por ser poeta é um privilégio que pouquíssimos escritores já tiveram o prazer! A arte da escrita é tradicionalmente solitária e isolada. Precisa-se de muita pompa, revista, jornal e toda a mídia tradicional em cima prum amigo poeta ter seu rosto reconhecido. Mas não comigo, bastou algumas poucas edições para isso começar de quando em quando a acontecer. E agora com dez mil livretos em circulação isso tem se tornado mais comum.


Eu sou tímido demais e alguns leitores tem falado que mandaram e-mails para o Jô. Me dá um medo e um frio enorme da barriga só de pensar nisso! Gosto é do meu trabalho ali quase silencioso nos vagões. Quanbdo junta muita gente para falar e me perguntar sobre o que faço não sei dizer muito, gaguejo e gostaria de poder bater os calcanhares e sumir!


Fui cara de pau o bastante para furar a fila do mercado literário, fiz a afronta de ser reconhecido na rua sem o aval das editoras me sinto um pouco herege ao desafiar o sacrossanto processo de canonização do escritor! Sinto que provei que existem apenas homens e anseios, ao artista cabe identificar esses anseios, identificar e dar a panacéia para as almas que estão adormecidas em um pesadelo sufocante onde tudo está pronto e acabado. O mundo se tornou novo e maior em possibilidades, estamos todos enjaulados mas o carcereiro está sonolento isso é se já não dormiu.


Eu vivo como uma areia grande engrenagem do sistema, usando os artifícios criados para me controlar ao meu favor. Os apitos do trem que um dia me diziam a hora de entrar e sair do vagão para não chegar atrasado no trabalho hoje servem de cadência para que eu desperte a imaginação de tantos quanto possíveis novos leitores libertos da ditadura cultural outrora hegemônica.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Procura-se Revisor de Livreto Caseiro de Poesia

Outro dia no vagão do trem um singelo senhor de seus 40 e tantos anos, de óculos e barba. Um tipo daqueles com ares de intelectualidade e sapiência. Veio me dizer que não levaria meu livreto porque havia nele terríveis erros gramaticais que não seriam desculpáveis nem sob a luz da métrica, estilística ou licença poética.


Obviamente desconcertado e envergonhado admiti a culpa e perguntei solícito se ele poderia me apontar os erros. A resposta veio seca: sou revisor, para esse serviço só pagando. E eu fiquei olhando para a cara dele meio embasbacado sem ter uma reação prevista ou em pensamento.


Mais tarde revisei o livreto com olhar crítico poema a poema, verso a verso. Não encontrei nada que não se justificasse por uma rima, por um metro mais teimoso. Todo esse rigor do revisor só pode ser para justificar o seu ganha pão, será que ele achou assim tão absurdo alguém viver de poesia? Ou será mesmo que ele acha que eu poderia querer contratá-lo para revisar meus livretos?


Ele ainda se safou dizendo que só criticou pois viu que tinha ali algum valor, leu tudo, do primeiro ao último poema, mas será que foi só sadismo para me desconcertar ali ou será que não entendia tão bem assim de versificação mas somente de gramática pura?


Bom, pelo sim pelo não... Fica ai aberta a vaga de revisor de livreto de poesia do poeta sobre trilhos! Não quero mais passar vexame dentro dos vagões.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Passado, Presente e Perigo nos Trilhos.

Viver da poesia sobre os trilhos do trem me faz sentir como se eu voltasse no tempo, e refizesse os caminhos de meu próprio avô, pois ele durante as décadas de 40,50 e meados de 60 viveu e criou sua família como comerciante da Estrada de ferro Bahia Minas que partia de Arassuai (sim naquela época Arauçuai tinha até outra grafia!) e ia até Ponta de Areia na Bahia.


O Natalino pai, nascido em 25 de dezembro, alugava um vagão do trem que ficava estacionado próximo de sua venda em Alfredo graça que era a primeira parada após o trem partir de Arassuai. O Natalino Filho (meu pai que não era nascido no natal mas ganhou o nome por capricho de meu avô) me conta que ele com seus 7 anos brincava no armazém onde havia montanhas de grãos de feijão e de milho.


Meu avô carregava o vagão com milho, melancia, feijão, farinha de mandioca e demais produtos produzidos na região. No percurso do trem ia aos poucos esvaziando o vagão e enchendo-o novamente com tecidos, perfumes, ferramentas e outros tantos produtos que chegavam ao porto.


Mas isso mudou pois no ano seguinte ao golpe de 64 os militares assinaram um decreto desativando a Estrada de Ferro, sem a estrada não havia mais como escoar a produção da região e meu pai pegou em 66 o último trem para Araçuai onde minha avó se tornou gerente dos correios e meu avô fazendeiro.


Essas divagações me vieram quando vejo a insensibilidade do metrô que não se importa com a natureza do que se trata o livreto com o qual estou despertando os leitores. Eu acabo vendendo muito no metrô mas ali a venda de poesia não é uma atividade muito bem quista pelos seguranças.


Quando entro em um vagão tenho que tomar cuidado para ver se não tem um segurança a bordo, eles sempre me chateiam. Era o segundo vagão da noite, entrei e caminhei até o fundo dele quando reparei quase imperceptível um segurança, ele me notou. Esperei sentado no percurso até a próxima estação e quando fui trocar para o vagão de trás o nosso amigo veio me seguir. Aquela situação estava chata e eu tive que pensar rápido. Quando o apito do metrô soou para as portas se fecharem eu saltei do vagão. E a porta se fechou atrás de mim sem que desse tempo dele continuar atrás. A verdade é que me senti meio que num filme de ação e tive que resisitir a virar e dar tchauzinho para o homem de preto. Sentei na estação, tirei os óculos, vesti o agasalho longe das cameras de segurança e fiquei jogando no celular até o próximo metrô passar.


Ser poeta sobre trilhos, talvez o único poeta underground (literal) do rio, é um enorme prazer. Ver o sorriso no rosto alheio, os olhares encantados, a felicidade estampada vale os riscos. Ninguém pode me tirar esse prazer, principalmente quando sei que são milhões de leitores adormecidos que passam por ali todo dia, aos poucos eu vou conseguindo levar até eles. Oito mil livretos vendidos nesse processo que já dura seis meses. Mas a pergunta que me move é: você tem ideia do que pode uma mente que voltou a usar a sua imaginação?

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Poeta Sobre Trilhos em: Poesia sabor canela!

Um chiclet de canela por um livreto de poesia me parece uma troca surreal. Mas muitos dizem que é surreal viver de poesia hoje em dia. E é isso que eu venho fazendo há um ano e meio na cidade do Rio de Janeiro.


Como assim um chiclet de canela por um livreto de poesia? Me perguntam embasbacados. Talvez por não saberem o que eu faço do meu dia a dia isso torna-se mais impossível. Porém eu reconto, eu vendo poesia dentro dos vagões do metrô e do trem da capital fluminense (aprendi a pouco tempo que carioca é só quem nasce na cidade e o natural do estado é o fluminense!).


Distribuo dentro de cada vagão cerca de 30 livretos e espero a reação dos leitores. É sempre fascinante ver como cada pessoa reage ao ler poesia depois de muito tempo e até mesmo pela primeira vez. Tem quem folheie desinteressado e depois largue pra lá, quem devore tudo com avidez e vontade, quem lê esquece do mundo ao redor, enfim gente de todo tipo com reações de todo tipo!


Mas voltando ao chiclet de canela, tinha uma linda menina de cabelos loiros lisos, aparelho nos dentes e não mais de treze anos que estava com a mãe dentro de um vagão. Ela lia com muita avidez que eu pensei até que ela nem se lembraria de me pagar ou devolver o livreto.


Eu estava enganado porém antes de ir abordá-la recolhi e vendi os livretos que restavam no vagão e fui lá preparado para pedir de volta o livreto. Minha surpresa foi quando ela me disse que não tinha dinheiro pois gastara complando um pacote de trident de canela. Olhou pro trident e me perguntou se eu aceitava o chiclet em troca do livreto.


Eu só ri surpreendido e feliz. O escambo é algo maravilhoso, a troca de um objeto por outro é melhor e mais mágico que a troca por dinheiro. Ela trocou algo que dava prazer a ela por algo que estava lhe dando, talvez, ainda mais prazer! Não estava trocando um prazer de fato pelo prazer potencial do dinheiro, era algo tangível e completo.


Eu assim nunca fui o maior fã de chiclet de canela mas desse dia em diante ele me surgiu como um sabor fantástico, um sabor de lembrança e de sonho. O de saber que uma doce menina no auge dos seus treze anos se encantou por meus versos.


E como eu sempre digo, minha vida não dá um livro porque é inverossímil demais. Estou escrevendo esse relato que procrastino há duas semanas justamente porque voltei a encontrá-la. Saindo da estação Afonso Pena lá estava ela, sorrindo pra mim e perguntando se tinha poesia. Eu não reconheci na hora, mas quando ela sacou o envelope de chicletes...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Homem de Preto disse sim pra poesia

As coisas estão mudando ou estou tendo mais sorte que o costume. Um homem de preto leu meu poema em voz alta no vagão! Sim, parece surreal depois de tantas desventuras e problemas mas aconteceu.


Foi mais ou menos assim, estava eu lá na estação de Gal. Osório, parada final, distribuindo meus livretos quando entraram dois funcionários do metrô que pelo uniforme eu sabia que se tratavam de caixas e por isso nunca se incomodavam em ler meus versos, muito antes pelo contrário.


Entreguei meus livretos para ambos e terminei de preencher o vagão com poesia e me sentei foi quando ele, o homem de preto, entrou e na hora eu praguejei pois perderia todos aqueles livretos por causa da encrenca. Sem muita surpresa ele foi conversar com os dois outros funcionários, com apreensão eu o vi pegando o livreto e com absoluta surpresa o vi lendo e ainda por cima lendo em voz alta.


Vendo aquilo fiquei totalmente sem reação, meio ainda sem entender fui desconfiadamente recolhendo os livretos. Eu conversei com um casal universitário que adorou o projeto despertando leitores e lá eu me demorei na conversa para me acalmar um pouco.


De uma ponta a outra recolhi vagarosamente de cada um dos presentes até chegar naquele confronto inevitável que para não abusar da sorte eu esperei chegar na estação de Botafogo para na troca de vagão simplesmente anunciar aos dois caixas que os livretos eram presentes.


Pude ver que o segurança riu de meu medo e desconfiança, mas gato escaldado tem medo de água fria. Depois de tantas desventuras com os homens de preto já tava de bom tamanho que meus versos foram bem aceitos e degustados com prazer.

sábado, 21 de abril de 2012

O Pivete e o Homem, exercícios do papel de macho.

Caminhávamos ali pela mem de sá antes de chegar aos arcos da lapa quando chegou um menino de pequeno de menos de 12 anos e olhou no fundo dos olhos dela e puxou sua correntinha de ouro do pescoço e saiu correndo.


Eu não pensei duas vezes e corri atrás do moleque, ele tentou se enfiar no meio da multidão mas antes disso eu o peguei e ele caiu no chão. Gritei com ele perguntando cadê a corrente até que ele desesperado, sim o olhar dele tinha muito medo, me falou que tava no chão e apontou.


Ainda fora de mim levantei ele do chão com um movimento só e as pessoas ao redor já se agitavam querendo que eu chamasse a polícia. Nesse momento eu só via o olhar de pânico do garoto e soltei ele. Quando falaram em polícia eu fiquei morrendo de medo do que eles poderiam fazer com aquele menino.


Deixei aquele lugar meio atabalhoado, uma moça até chegou próximo da gente perguntando se a gente não ia mesmo chamar a polícia e um cara veio mostrando uma outra correntinha perguntando se também era nossa. Negando a ambos atravessamos os arcos da lapa finalmente. As ruas estavam cheias de gente mas eu não via ninguém. Minha cabeça estava um caos, fervilhando de pensamentos e meu peito de sentimentos contraditórios.


Depois que a adrenalina se diluiu em meio ao meu sangue me senti duplamente mal por tudo isso. Primeiro por ter causado todo esse horror no moleque que é uma criança e depois por ter obedecido a todo o adestramento social que faz do homem esse animal, o sexo masculino é ensinado, desde criança, a ser uma espécie de cão de guarda.


Fiquei imaginando as merdas que aqueles policiais poderiam fazer com aquele menino que sequer tem idade para ter discernimento de algo. E também imaginando o que eu poderia ter feito se não tivesse visto aqueles olhos dele em pânico. O pior é que por mais bestial que tivesse sido meu ato, ele seria apoiado por todos ao redor, teriam visto e dito que o "ladrãozinho" mereceu. Como é que uma criança dessas poderia ter merecido algo assim? Só aqueles olhos, só aquele medo que dava para sentir o cheiro já foi muito além da conta que ele merecia.


Dentro da van indo para casa tive ódio de mim mesmo, por ter feito exatamente como fui adestrado pela sociedade a fazer. A proteger meu território, a responder imediata e com violência ao ato. Não pensei, só agi como fui condicionado a agir. Nós homens somos criados para agir com essa violência desmedida desde o início, em jogos competitivos, em brincadeiras com espadas.


Essa "educação" fez acontecer esssa pequena corrida ao pivete mas também faz acontecer todos os dias os socos no olho porque o cara mexeu com sua mulher, as facadas no ventre por que o cara lhe olhou torto e muitos e muitos óbitos que só acontecem porque nossa sociedade adestra os homens para serem cães de guarda prontos e preparados para atacar ao menor sinal de ameaça ao seu território.


Ela ficou feliz por ter de volta a corrente que tinha um pingente de sua avó, me agradeceu por isso. Me fez algum elogio pela minha "coragem". Sim, como bom macho alfa eu mostrei minha força para defender a fêmea que estava comigo. Que revolução sexual, que igualdade de gêneros há nisso? Até quando vamos criar nossos filhos nesses dois papéis rigidos e opressores? Isso tudo me fez chorar dentro daquela van, já sem adrenalina, pois ao invés de ficar mais calmo todos esses pensamentos me deixaram ainda mais atordoado.


A violência fisica é uma escola que botamos nossos filhos machos desde seus primeiros anos de vida. Foi por essa escola que era eu homem correndo atrás de um aprendiz de homem.  É a mesma escola que o empurrou para cometer esses delitos e também leva sua irmã a se prostituir. Foi por essa escola que 70% das mortes violentas são de homens. É nessa escola de violência que se baseia nossa sociedade que ainda oprime as mulheres e massacra os homens.


Aquela correntinha arrancada, com o pingente da avó. Me fez ver como ainda sou de certo modo um cão de guarda protegendo a coleira. Defendendo com unhas e dentes uma sociedade opressora, uma animalização do homem terrivelmente intensa. Um cão de guarda e só.