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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

quarta-feira, 24 de julho de 2024

O papel aceita tudo

É poesia! Liberdade!
Lirismo em flor e cio?
Não! não passa de vaidade...
feita de verso vazio.

O papel aceita tudo
do soneto mais profundo
ao poema mais capenga
e tem quem se surpreenda
co'a má vontade ou esforço
que quem rima rumo ao poço
dessas metáforas mortas
de tantos clichês e cartas
piegas que sem quê nem
pra quê canta pois convém
ao mau gosto o pior verso
que sem risco sai direto
da boca para a latrina
dos ouvidos e alucina:

É poesia! Liberdade!
Lirismo em flor e cio?
Não! não passa de vaidade...
feita de verso vazio.
 
O papel aceita tudo
não importa o absurdo
passa recibo e atesta
é um gênio, é poeta
a nova Creta e Parnaso 
a Ilíada de um asno
é calamidade pública
um púbis de tão impúbica
e quem publica concorda
é aplauso de claque e corda
e embebeda o ego, mata
esfola, rasga e maltrata
sua musa torturada
em rima malacabada:

É poesia! Liberdade!
Lirismo em flor e cio?
Não! não passa de vaidade...
feita de verso vazio

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Poeme-se

Poesia nas praças,
becos e avenidas.
Poesia pra ser
cantada e vestida!

Poeme-se a rua
de pedras floridas
Poeme-se os trilhos
em lenta corrida

Poema é um nada
lotado de tudo
Poema é piada
de choro profundo

Poema é queimada
inundando o mundo

sábado, 6 de julho de 2024

Sete

Sete

remexendo meus guardados
encontrei um par de estrelas
misturadas entre versos
que não sei porque escrevi
duas trovas de três versos
um sonetos sem tercetos
meio haiquase incompleto

tantos entre tanto lixo, 
e tonto entre tanto resto
a caneta que eu procurava
só deixei por lá ficar
pois por esse par de estrelas
meu lirismo não contava 
e menos ainda escandia

nesse espanto me perdi 
mas não me fiz de rogado
escondi minha vergonha
ritmando na redondilha
sete fones sete versos
pr'estrelas de sete pontas
amparadas nos meus dedos

eram elas delicadas
e trançadas com esmero
duas estrelas de brio
quente de macio toque
do meu bodoque, da lira
que delira de tão doida
poesia pura e vadia
 
duas estrelas e a quinta
estrofe em septilha cai
sem tema sem trema sem
nem ao menos respirar
é só mofo de gaveta
com gorjeta guardada
pro velho verso garçom 

sobe o tom e tira o pó
dessa poesia branca
asséptica que se lê
só com os olhos e nunca
com os ouvidos ou peito
abaixo o verso mental
quero fluxo do meu grito

meu doce agito termina
e sem rima não se manca
mas marca com fogo a língua
que repenteia meus versos
serpenteia minha boca
que surpreso ouve estrelas
e ri de encanto no lacio

sábado, 15 de junho de 2024

Virtuosa

Como um anjo estralou seus dedos, moveu de um lado ao outro seu pescoço, relaxou seus ombros e de frente ao piano pôs-se a tocar com o público às suas costas. 

Ela era virtuosa, parecia uma só com o piano, mas desde as primeiras notas, a platéia inteira hipnotizada por sua música e seu jeito de princesa sequer percebia os movimentos de seus quadris. 

Seu amor, numa hipnose dupla, sabia que aquela sinfonia sobre o banquinho era para si, o instrumento esfíncter, tocava uma melodia, leve e doce, a cada contrair e relaxar ao redor do plug. 

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Treze estrofes sobre trilhos

Sim, lhes confesso, eu sou o que sou
sou poeta, poeta sobre trilhos
pois toda poesia não pode nunca
estar presa, trancada na gaveta

Poesia não se cabe bem guardada
escondida em biblioteca pública ou
particular nem só merecida por
quem pode pagar numa livraria

Poema é meu caminho, é meu trilho
pródigo filho feito o pai rebelde
Poema faz do riso mais que um alento
dá forças pro seu choro e canta o grito

Sim, bem atento, eu sou o que sou
sou poeta, poeta sobre trilhos
um passageiro? meu novo leitor
o vagão? livraria e biblioteca

Poesia leve levo nos vagões
do metro, do metrô ou qualquer comboio
do trem pois o poeta tira de onde
não tem para por onde não se cabe

Poema é a colher da sopa rala
do mendigo ou grossa do grã-fino
Poema vem e mata minha sede
e dá mais fome dum lirismo solto

Sim, atrevido, eu sou o que sou
sou poeta, poeta sobre trilhos
nos livretos de versos e poemas
eu me entrego sem pressa ao leitor

Poesia feito amor arde sem se ver
que até nos descontenta tão contente
e eloquente sussurra travessuras
pecados e delitos saborosos

Poema é pro dia a dia e também
para qualquer um ou para um qualquer
Poema faz seu bem querer com quem
conta seus pix, moedas ou estrelas

Sim, eu respiro, eu sou o que sou
sou poeta, poeta sobre trilhos
meu alvo? desalento passageiro 
vidrado na janela ou celular

Poesia assim tão branca como a noite
tão negra que de dia labuta versos
pintada de arco-íris ri e se oculta
num pote sempre dado de bom grado 

Poema que nos bebe quente feito
licor vermelho, rum douro ou cachaça
Poema feito faca corta a carne
do poeta, do leitor, que juntos sangram

Sim, lhes convido, eu sou o que sou
sou poeta, poeta sobre trilhos
me deito com a musa que bem me abusa 
pra dar o meu melhor e pior verso 

sábado, 8 de junho de 2024

Meu Doce

Confesso que lembrei-me com carinho
dessa forma faminta com que me toma,
que faz dessa faceira o seu cãozinho 
só seu laço e coleira que me doma

suspiro entre meu sonho e meu soninho
eu deliro e dedilho-me: me coma,
me machuca, me morda meu corpinho
eu quero ser prendada de hematomas 

Me sonho: suas mãos de doces garras
me envolvem, me atam, são fortes amarras
são tudo que desejo e que pressinto 

Sou presa por seu rosto, seu sorriso,
seu belo pinto tira meu juizo
é meu formoso e doce pirulito 

quinta-feira, 6 de junho de 2024

trova horizontina

Os mais belos horizontes 
das minhas minas gerais 
guardam suspiros aos montes 
salpicados por mil ais

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Vês???

No alto do penhasco
cravou a Pantera
sem pressa ou asco,
garras na Quimera

No alto do penhasco
olhou a Pantera
feita de carrasco
cair a Quimera

Viu cair ingrata
o doce doce sonho 
que vil embalou

Na tristeza exata
no cigarro fez ranho
na boca escarrou

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Poeticamente sádico

amarro bem os meus versos
e tolho cada palavra
que avulsa me vira escrava
de meus desejos perversos

gosto quando a rima crava
na carne ímpetos imersos
em taras, gozos diversos
e toda perversão rara

numa voz doce e macia
teço bem uma ilusão
de que a corda acaricia

pelas linhas da escansão
geme cada poesia
que encadeia de tesão

terça-feira, 7 de maio de 2024

Adeus Vó Cici

Nunca mais ouvirei
o canto duma cigarra
sem pensar em ti

terça-feira, 30 de abril de 2024

Coroa de Sonetos de Amor XV

moça bonita me faz seu amor
sabendo onde estão sem sequer lhes ver
nesses sonhos que são da nossa cor
o que nunca jamais vamos perder

eternidades são de um só calor
minha face na sua padecer
quero seu beijo com fogo e fulgor
tão forte que me faz quase morrer

linda não fale só faça a promessa
não! não diga mais nada só o seu sim!
é minha por inteiro tal lhe sou

não quero que se assuste nem esqueça
quero que saiba bem que como a mim
Moça bonita, nunca alguém lhe amou

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Coroa de Sonetos de Amor XIV

moça bonita, nunca alguém lhe amou...
do tamanho do espaço sideral
digo mais, que jamais alguém beijou
seus lábios com paixão tanta ou igual

moça bonita veja bem como sou
as minhas asas são do carnaval
passado e  minha auréola apagou
não passo duma nota de três real

sou malandro nadinha de perfeito
lhe compro flor na banca duma praça
se meu atraso for mais que um horror

lhe falo sou sincero desse jeito
me xingue não, nem ligue pra essas graças
moça bonita me faz seu amor


[mo]ça bo/ni/ta, [nun]ca al/guém/ lhe a[mou...]
[do] ta/ma/nho/ do es[pa]ço/ si/de[ral]
[di]go/ mais/, que/ ja[mais] al/guém/ bei[jou]
seus [lá]bios/ com/ pai[xão] tan/ta ou/ i[gual]

[mo]ça/ bo/ni/ta [ve]ja/ bem/ co/mo [sou]
as [mi]nhas/ a/sas [são] do/ car/na[val]
pa[ssa]do e/  mi/nha au[ré]o/la a/pa[gou]
não [pa]sso/ du/ma [no]ta/ de/ três [real]

[sou] ma/lan/dro/ na[di]nha/ de/ per[feito]
lhe [com]pro/ flor/ na [ban]ca/ du/ma [praça]
se [meu] a/tra/so [for] mais/ que um/ ho[rror]

lhe [fa]lo/ sou/ sin[ce]ro/ de/sse [jeito]
me [xin]gue/ não/, nem [li]gue/ pra e/ssas [graças]
[mo]ça/ bo/ni/ta [me] faz/ seu/ a[mor]

domingo, 21 de abril de 2024

Coroa de Sonetos de Amor XIII

quero que saiba bem, tal é pra mim
só quero lhe comer. Mais? não tô afim
não podemos pular todo esse flerte
vem logo me pagar-me esse boquete?

não, não que eu seja tal pessoa ruim
mulher bonita trato bem assim
se não sabe ela nem pintar o sete
e na cama sequer rebola ou mexe

você se faz de sonsa feito porta,
espera que eu me dê todo trabalho
de desvendar aquilo que calou?

Não se faça de tonta, foi sim carta,
desde o começo, fora do baralho
moça bonita, nunca alguém lhe amou...

[que]ro/ que/ sai/ba/ [bem], tal/ é/ pra [mim]
[só] que/ro/ lhe/ co[mer.] Mais?/ não/ tô a[fim]
[não] po/de/mos/ pu[lar] to/do e/sse [flerte]
[vem] lo/go me/ pa[gar]-me e/sse/ bo[quete?]

não, [não] que eu/ se/ja [tal] pe/ssoa/ ru[im]
mu[lher] bo/ni/ta [tra]to /bem/ a[ssim]
se [não] sa/be e/la [nem] pin/tar/ o [se]te
e [na] ca/ma/ se[quer] re/bo/la ou [mexe]

vo[cê] se/ faz/ de [son]sa/ fei/to [porta,]
es[pe]ra/ que eu/ me [dê] to/do/ tra[balho]
de [des]ven/dar/ a[qui]lo/ que/ ca[lou?]

[Não] se/ fa/ça/ de [ton]ta,/ foi/ sim [carta,]
[des]de o/ co/me/ço, [fo]ra /do/ ba[ralho]
[mo]ça bo/ni/ta, [nun]ca al/guém/ lhe a[mou...] 

sábado, 20 de abril de 2024

Coroa de Sonetos de Amor XII

não quero que se assuste nem esqueça
pois com meus gesto cheios de rudeza
eu quero lhe dizer que minha pressa
é o tanto que minh'alma lhe deseja

antes que nessa mente os medos teça
sente e beba comigo um vinho à mesa
sinta o sabor do aroma nessa taça
cada gota é toda uma represa

você, meu vinho mais inebriante
sabor macio, com toque de carvalho
delícia de não ter começo ou fim

mais uma taça, brinde dos amantes
desse amor eu lhe quero, eu me embalo
quero que saiba bem, tal é pra mim


não [que]ro /que/ se a[ssus]te/ nem/ es[queça]
pois [com] meus/ ges/to [chei]os/ de/ ru[deza]
eu [que]ro/ lhe/ di[zer] que/ mi/nha [pressa]
é o [tan]to/ que/ min[h'al]ma /lhe/ de/[seja]

[an]tes/ que/ ne/ssa [men]te os/ me/dos [teça]
[sen]te e /be/ba/ co[mi]go um/ vin/ho à/ [mesa]
[sin]ta o/ sa/bor/ do a[ro]ma/ ne/ssa [taça]
[ca]da/ go/ta/ é [to]da u/ma/ re[presa]

vo[cê], meu/ vi/nho [mais] i/ne/bri[ante]
sa[bor] ma/cio,/ com [to]que/ de/ car[valho]
de[lí]cia /de /não [ter] co/me/ço ou [fim]

[mais] u/ma/ ta/ça, [brin]de/ dos/ a[mantes]
[de]sse a/mor/ eu lhe [que]ro, eu me em[balo]
[que]ro/ que/ sai/ba/ [bem], tal/ é/ pra [mim]

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Coroa de Sonetos de Amor XI

é minha por inteiro tal lhe sou
e desde que meu lábio lhe provou
jamais esqueci dessa tecitura
faminta e forte feita de tortura

a pele sua marca um deus que errou
tecendo-lhe asas de anjo em pleno vôo
zelando por seu corpo com doçura
cantando-me por toda mente impura

farei-lhe, dos meus reinos, a princesa
terá tudo que sonha apenas peça
será banquete em farta e bela mesa

o sonho enamorado, essa promessa,
do seu lado se faz nossa certeza
não quero que se assuste nem esqueça


é [mi]nha/ por/ in[tei]ro/ tal/ lhe [sou]
e [des]de/ que/ meu [lá]bio/ lhe/ pro[vou]
ja[mais] es/que/ci [de]ssa /te/ci[tura]
fa[min]ta e/ for/te [fei]ta/ de/ tor[tura]

a [pe]le/ su/a [mar]ca um/ deus/ que e[rrou]
te[cen]do/-lhe a/sas [de an]jo em/ ple/no [vôo]
ze[lan]do/ por/ seu [cor]po/ com/ do[çura]
can[tan]do/-me /por [to]da/ men/te im[pura]

fa[rei]-lhe/, dos/ meus [rei]nos,/ a /prin[cesa]
te[rá] tu/do/ que [so]nha a/pe/nas [peça]
se[rá] ban/que/te em [far]ta e/ be/la [mesa]

o [so]nho e/na/mo[ra]do, e/ssa/ pro[messa],
do [seu] la/do /se [faz] no/ssa/ cer[teza]
não [que]ro /que/ se a[ssus]te/ nem/ es[queça]

quarta-feira, 27 de março de 2024

Coroa de Sonetos de Amor X

não! não diga mais nada só o seu sim!
sua boca velada, seu suspiro
são respostas que quero para mim
a mais doce miragem que prefiro

não! não conto os segundos para o fim
mas você bem que sabe que sou Sátiro
e sou apenas sonho sem cetim
pois eu que tanto curo também firo.

nos marco, uno, nos faço por completo
e vejo você espelho, minha igual
com quem de olhos fechados sempre vou

fazemos esse par mais que seleto
ninfa e fauno de todo carnaval
é minha por inteiro tal lhe sou

[não!] não/ di/ga/ mais [na]da/ só o/ seu [sim!]
su[a] bo/ca/ ve[la]da,/ seu/ sus[piro]
[são] res/pos/tas/ que [que]ro/ pa/ra [mim]
a [mais] do/ce/ mi[ra]gem/ que/ pre[firo]

[não!] não/ con/to os/ se[gun]dos/ pa/ra o [fim]
[mas] vo/cê/ bem/ que [sa]be/ que/ sou [Sátiro]
e [sou] a/pe/nas/ [so]nho /sem/ ce[tim]
pois [eu] que/ tan/to/ [cu]ro tam/bém [firo.]

nos [mar]co, u/no,/ nos [fa]ço/ por/ com[pleto]
e [ve]jo/ vo/cê es[pe]lho,/ mi/nha i[gual]
com [quem] de o/lhos/ fe[cha]dos/ sem/pre [vou]

fa[ze]mos/ e/sse [par] mais/que/ se[leto]
[nin]fa e/ fau/no/ de/ [to]do carna[val]
é [mi]nha/ por/ in[tei]ro/ tal/ lhe [sou]

terça-feira, 26 de março de 2024

Coroa de Sonetos de Amor IX

linda não fale só faça a promessa
porquê agora será minha cadela
fará cada vontade mais possessa
de tornar puta minha Cinderela

ajoelhe-se, mas sem qualquer pressa
Eu quero que meu falo seja a vela
que concentrará toda a sua reza
enquanto minha mão lhe descabela

não para agora e muito menos pensa
como é que ousa servir-me só metade?
abra a boca pra benção do seu fim.

sim, Eu lhe invado e nem peço licença.
Seu sonho satisfaz sua vaidade?
não! não diga mais nada só o seu sim!

segunda-feira, 25 de março de 2024

Coroa de Sonetos de Amor VIII

que me aquece e me faz até esquecer?
é memória de quando era criança
e nós dois inventamos de correr
até depois da igreja pela praça

Eu cai e não parava de doer
como Doía! Ficou essa lembrança
de você branca quando foi me ver
todo sujo no chão uma lambança!

chegou me dando beijos pra sarar
me prometendo já que ia passar
toda dor com carinhos na cabeça

pois veio essa saudade de lhe amar
será que nós daríamos um par?
linda não fale só faça a promessa

que [me a]que/ce e/ me [faz] a/té es/que[cer]?
[é] me/mó/ria/ de [quan]do e/ra/ cri[ança]
e [nós] dois/ in/ven[ta]mos/ de/ co[rrer]
a[té] de/pois/ da i[gre]ja/ pe/la [praça]

[Eu] ca/i e/ não/ pa[ra]va/ de/ do[er]
[co]mo/ Do/ía!/ Fi[cou] e/ssa/ lem[brança]
[de] vo/cê/ bran/ca [quan]do/ foi/ me [ver]
[to]do /su/jo/ no [chão] u/ma/ lam[bança!]

che[gou] me/ dan/do [bei]jos/ pra/ sa[rar]
[me] pro/me/ten/do [já] que i/a /pa[ssar]
[to]da/ dor/ com/ ca[ri]nhos/ na/ ca[beça]

pois/ [vei]o e/ssa/ sau[da]de/ de/ lhe a[mar]
se[rá] que/ nós/ da[rí]a/mos/ um/ [par?]
[lin]da/ não/ fa/le/ [só] fa/ça a/ pro[messa]

domingo, 24 de março de 2024

Coroa de Sonetos de Amor VII

quero seu beijo com fogo e fulgor
de você meu amigo mais querido
amante e confidente dessa dor
causada pela vida e seu perigo

Me abraça forte e dá assim seu amor
que apenas desse jeito Eu consigo
voar, passar do Cristo Redentor
pra lhe contar venturas e perigos

E se hoje estamos juntos depois talvez
distância nem importa pro carinho
somos cúmplices mesmo sem nos ver

o meu amigo amante toda vez
com seu riso, seu cheiro faz meu ninho
que me aquece e me faz até esquecer


[que]ro/ seu/ bei/jo/ [com] fo/go e/ ful[gor]
[de] vo/cê/ meu/ a[mi]go/ mais/ que[rido]
a[man]te e/ con/fi[den]te dessa [dor]
cau[sa]da /pe/la [vi]da e/ seu/ pe[rigo]

Me a[bra]ça/ for/te e [dá a]ssim/ seu/ a[mor]
que a[pe]nas/ de/sse [jei]to /Eu/ con[sigo]
vo[ar], pa/ssar/ do [Cris]to/ Re/den[tor]
pra [lhe] con/tar/ ven[tu]ras e pe[rigos]

[E] se ho/je es/ta/mos [jun]tos /de/pois/ tal[vez]
dis[tân]cia/ nem/ im[por]ta/ pro/ ca[ri]nho
[so]mos/ cúm/pli/ces/ [mes]mo/ sem/ nos [ver]

o [meu] a/mi/go a[man]te/ to/da [vez]
com [seu] ri/so,/ seu [chei]ro /faz/ meu [ninho]
que [me a]que/ce e/ me [faz] a/té es/que[cer]

sábado, 23 de março de 2024

Coroa de Sonetos de Amor VI

minha face na sua padecer
o sorriso de nossos tão felizes
dias, não é o que clama meu querer
que fincou em você longas raízes

exatamente opostos no viver
nossas brigas e fodas tem matizes
nosso amor clama a cama pode ver
mesmo sendo um Apolo e outro Isis

Odeio nosso amor que me controla
pouco a pouco consome  algo de mim
Não lhe quero mais, mas vou pra onde for

Corpo: sim! Mente: não! e o peito chora
não, não me abraça quero um basta!, fim...
quero seu beijo com fogo e fulgor 

[mi]nha/ fa/ce/ na [su]a/ pa/de[cer]
[o] so/rri/so/ de [no]ssos/ tão/ fe[lizes]
[di]as,/ não /é o/ que/ [cla]ma/ meu/ que[rer]
[que] fin/cou/ em/ vo[cê] lon/gas/ ra[ízes]

e[xa]ta/men/te o[pos]tos/ no/ vi[ver]
no/ssas/ bri/gas/ e [fo]das/ tem/ ma[tizes]
[no]sso a/mor/ cla/ma a [ca]ma/ po/de [ver]
[mes]mo/ sen/do um/ A[po]/lo e/ ou/tro/ [I]sis

O[dei]o/ no/sso a[mor] que/ me/ con[trola]
[po]uco a pouco con[so]me  al/go/ de [mim]
[Não] lhe/ que/ro/ mais, [mas] vou/ pra on/de [for]

[Cor]po:/ sim!/ Men/te: [não!] e o/ pei/to/ [chora]
não, [não] me a/bra/ça [que]ro um/ bas/ta!,/ fim...
[que]ro/ seu/ bei/jo/ [com] fo/go e/ ful[gor]

sexta-feira, 22 de março de 2024

Coroa de Sonetos de Amor V

eternidades são de um só calor
que marcam, sutilmente, nossa pele
nos lábios, pelos olhos, no sabor
que me prova na força que me fere

Inebria-me todo esse rubor
de quando seu chicote bem adere
na carne num prazer de doce dor
fazendo com que o gozo se rebele

Mas se depois do gozo vem meu pranto
não será de tristeza meu doce amo
mas sim de assim poder sempre viver

Senhor meu, belo, amado, todo encanto
permite até o deleite que mais amo
minha face na sua padecer

e[ter]ni/da/des [são] de um/ só/ ca[lor]
que [marc]am,/ su/til[men]te, no/ssa/ [pele]
nos [lá]bios,/ pe/los [o]lhos,/ no/ sa[bor]
[que] me /pro/va/ na [for]ça/ que/ me [fere]

[I]ne/bri/a/-me [to]do e/sse/ ru[bor]
de[ quan]do/ seu/ chi[co]te/ bem/ a[dere]
na [car]ne /num/ pra[zer] de/ do/ce [dor]
fa[zen]do/ com/ que o [go]zo se/ re[bele]

[Mas] se/ de/pois/ do [go]zo/ vem/ meu [pranto]
[não] se/rá/ de/ tris[te]za/ meu/ do/ce [amo]
mas [sim] de a/ssim/ po[der] sem/pre/ vi[ver]

Se[nhor] meu,/ be/lo, a[ma]do,/ to/do en[canto]
per[mi]te a/té o/ de[lei]te/ que/ mais [amo]
[mi]nha/ fa/ce/ na [su]a/ pa/de[cer] 

terça-feira, 19 de março de 2024

Coroa de Sonetos de Amor IV

o que nunca, jamais vamos perder
são as nossas lembranças que guardamos
dos momentos de doce padecer
entre os lençóis que juntos nos amamos

lembre também que já fomos foder
pra isso nossos pais nós enganamos
dois jovens toda tarde pra meter
e mentir por dizer: sim, estudamos

"Menina tão ciosa" o pai dizia
e nós dois explorando a anatomia
de nossos corpos: puro despudor!

latim, derivações das matemáticas
entalpia na física, gramáticas 
eternidades são de um só calor

o [que] nun/ca,/ ja[mais] va/mos/ per[der]
[são] as/ no/ssas/ lem[bran]ças/ que/ guar[damos]
[dos] mo/men/tos/ de [do]ce/ pa/de[cer]
[en]tre os/ len/çóis/ que/ jun/tos/ nos/ a[ma]mos

[lem]bre/ tam/bém/ que [já] fo/mos fo[der]
pra [i]sso/ no/ssos [pais] nós/ en/ga[namos]
dois [jo]vens/ to/da [tar]de /pra/ me[ter]
[e] men/tir/ por/ di[zer]: sim,/ es/tu[damos]

"Me[ni]na tão ci[o]sa" o/ pai/ di[zia]
e [nós] dois/ ex/plo[ran]do /a a/na/to[mia]
de [no]ssos/ cor/pos: [pu]ro/ des/pu[dor!]

la[tim], de/ri/va[ções] das/ ma/te[máticas]
[en]tal/pi/a/ na [fí]si/ca,/ gra[máticas] 
e[ter]ni/da/des [são] de um/ só/ ca[lor]
 

quarta-feira, 6 de março de 2024

Coroa de Sonetos de Amor III

nesses sonhos que são da nossa cor
eu branquelo você essa preta linda
seu beijo caramelo o meu quitanda
você alvorada, eu só sol-se-pôr

na minha a sua boca é bem vinda
sua suavidade meu vigor
na sede suculenta meu fulgor
é suor e saliva que nos brinda 

rasteja seus cabelos em meu peito
tal cobras que deslizam pela presa
e dão seu rastro pra me enlouquecer

num mapa de serpente e fortaleza
nós navegamos juntos num só leito
o que nunca, jamais vamos perder

[ne]sses/ so/nhos/ que [são] da/ no/ssa [cor]
[eu] bran/que/lo/ vo[cê e]ssa/ pre/ta [linda]
seu [bei]jo/ ca/ra[me]lo o/ meu/ qui[tanda]
vo[cê al]vo/ra/da, [eu] só/ sol/-se-[pôr]

na [mi]nha a/ su/a [bo]ca/ é/ bem [vin]da
su[a] su/a/vi[da]de meu vi[gor]
na [se]de/ su/cu[len]ta/ meu/ ful[gor]
[é] su/or/ e/ sa[li]va /que /nos [brinda] 

ras[te]ja/ seus/ ca[be]los/ em/ meu/ [peito]
tal [co]bras/ que/ des[li]zam pe/la/ [presa]
e/ [dão] seu/ ras/tro [pra] me enlouque[cer]

num [ma]pa/ de/ ser[pen]te e/ for/ta[leza]
[nós] navegamos [jun]tos/ num/ só [leito]
o [que] nun/ca,/ ja[mais] va/mos/ per[der]

terça-feira, 5 de março de 2024

Coroa de Sonetos de Amor II

sabendo onde estão sem sequer lhes ver
é assim que lido com todos meus medos
e nesse doce ofício de escrever
sem revelar desvelo meus segredos

regojizo do sol em seu nascer
brindo pois me desnudo desde cedo
para o primeiro amor do adolescer
do qual sou eu a casa e o degredo

estamos nós fadados: paraíso
eis o nome da cela de nós dois
cujo caminho descaminha amor

estamos cá sem antes nem depois
eis feito nosso fim o nosso guizo
nesses sonhos que são da nossa cor



sa[ben]do on/de es/tão [sem] se/quer/ lhes [ver]
[é a]ssim/ que/ li/do [com] to/dos/ meus [medos]
e [ne]sse/ do/ce o[fí]cio/ de es/cre[ver]
[sem] re/ve/lar/ des[ve]lo/ meus/ se[gredos]

[re]go/ji/zo/ do [sol] em/ seu/ nas[cer]
[brin]do/ pois/ me/ des[nu]do/ des/de [cedo]
[pa]ra o/ pri/mei/ro a[mor] do a/do/les[cer]
do [qual] sou/ eu/ a [ca]sa/ e o/ de[gredo]

es[ta]mos/ nós/ fa[da]dos:/ pa/ra[íso]
[eis] o/ no/me/ da [ce]la/ de/ nós/ [dois]
[cu]jo/ ca/mi/nho [des]ca/mi/nha a[mor]

es[ta]mos/ cá/ sem [an]tes/ nem/ de[pois]
[eis] fei/to/ no/sso [fim] o/ no/sso [guizo]
[ne]sses/ so/nhos/ que [são] da/ no/ssa [cor]

segunda-feira, 4 de março de 2024

Coroa de Sonetos de Amor I

Moça bonita me faz seu amor
com seu beijo todinho para mim
mas não fique vermelha de pudor
pois daí minha fome não tem fim

Quero sua saliva e seu suor
vem na língua, na boca bem assim
sabe como ficar mais que melhor?
se me amar também cada pedacim!

Eu quero é suas mãos tão famintas
ávidas, curiosas, atrevidas
me tocando, mostrando seu querer

Beije vai, uma a uma de minhas pintas
de meu corpo, lhes chame de queridas
sabendo onde estão sem sequer lhes ver


[Mo]ça/ bo/ni/ta [me] faz/ seu/ a[mor]
[com] seu/ bei/jo/ to[di]nho/ pa/ra/ [mim]
mas [não] fi/que/ ver[me]lha/ de/ pu[dor]
[pois] da/í/ mi/nha [fo]me/ não/ tem [fim]

[Que]ro su/a sa[li]va e/ seu/ su[or]
[vem] na/ lín/gua,/ na [bo]ca /bem/ a[ssim]
[sa]be/ co/mo/ fi[car] mais/ que/ me[lhor]?
[se] me a/mar/ também [ca]da peda[cim!]

[Eu] que/ro/ é/ su/as/ mãos/ tão/ fa[mintas]
[á]vi/das,/ cur/i[o]sas,/ a/tre[vidas]
[me] to/can/do,/ mos[tran]do/ seu/ que[rer]

[Bei]je/ vai/, u/ma a/[u]ma/ de/ mi/nhas/ [pintas]
[de] meu/ cor/po,/ lhes [cha]me/ de/ que[ridas]
sa[ben]do on/de es/tão [sem] se/quer/ lhes [ver]

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Hai-quase 26/02



Segunda de sol

sem nuvens, garganta seca

vai uma cerveja?

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Reflexões Privadas

 ANÚBIS É 
UM DEUS 
QUE LADRA

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

ré médio

Você é o meu remédio
é a cura do meu tédio
meu gesso de pé quebrado 
o meu soneto emendado

Eu fiz pra você amor
a cantiga mais bonita
a música tema 
da nossa vida

Sou sim desse jeito
sou seu par perfeito
batom bem vermelho
que mancha e lhe chama
de pé e de joelho
que é assim que se ama

Eu fiz pra você amor
a cantiga mais bonita
a música tema 
da nossa vida

Sol de prometeu
todo todo meu
vem, queima comigo 
me põe a perigo
e me faz de mim
a sua mulher

Eu fiz pra você amor
a cantiga mais bonita
a música tema 
da nossa vida

Me olho no espelho 
faminta de briga
confesso o conselho
da minha barriga
capricha no estilo
vem nosso filho

Eu fiz pra você amor
a cantiga mais bonita
a música tema 
da nossa vida

Escuto ajeito escrevo
gravo antes de dormir
boto na rádio e me atrevo
só pra você me ouvir

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

deixa pra lá

Eu confio e me fio 
em todas tuas mentiras 
Porque cá dentro faz frio 
Sem você pra me aquecer

Por toda a minha vida

Guardo lágrimas de mar

segredos de mal me quer

qualquer um pode ver

que só sou ser sem estar 


Eu esqueci de te amar

não mais que um segundo

fui vil, roto, fui imundo 

fiquei sem ti, sem meu par


Guardo lágrimas de mar

só sou o que já passou

eco, apito de navio

praia de se naufragar


Eu esqueci de te amar 

por apenas um instante,

mas isso foi o bastante 

pro meu lamento chorar...

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Devoro




Devoro devoro
devoro você!
Devoro devoro
devoro você!

Provo e como de colher
toda sua sanidade!
mastigo-te mulher
cada naco de vaidade.

E se um dia me vier
nesses ais e piedades...
só vou lhe remoer 
culpas e calamidades!

Devoro devoro
devoro você!
Devoro devoro
devoro você!

Quem tenta me benzer
com respingos de bondade...
erra, pois sou mau fazer
sou pura perversidade!

Escarneço com prazer
do perdão do padre
madre, freira ou bem-dizer... 
fodo com gosto o abade!

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

entre

Entre o trago 
e o estrago 
muda o porre 
muda a dose