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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

domingo, 31 de agosto de 2008

Pela puta cara

Lucas C. Lisboa

Tudo o que disser
não lhe compromete
Faça o que quiser
mas me compra e mete

Trova

Lucas C. Lisboa

Coitada da poesia,
por favor, deixe-a livre
desses pesados grilhões
de sua falsa liberdade

Ébria composição

Lucas C. Lisboa

Através, da fumaça cinzenta,
do conhaque marrom, lhe contemplo
e ela tão solitária se senta
pra sorver seu café a conta e tempo

Sua presença que já me atormenta
e a fumaça carrega plo vento
as delícias que a pena me intenta
murmurando-lhe meu triste alento

Quando lhe vi deixar eu não pude
de notar sua tez tão mais macia
que a mais doce das notas do alaude

palpitar de seu peito: harmonia
intocável por minha mão rude
incapaz para tal sinfonia

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Apenas por diversão

Lucas C. Lisboa

Pois plante uma bicicleta
e pedale uma floresta!
Tranque chave na gaveta...
e peça o que não se empresta.

Pois desenhe torto a reta:
que Dez a burrice atesta!
Sê roto em roda seleta...
e faça do luto festa!

Apenas por diversão;
roube o doce do ladrão
do senador e da criança!

Desmarque todo o baralho...
Espante até o espantalho,
convidando-o pra esta dança!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Análise Filosófica do conto “Três Sonhos” do livro: “O Senhor Calvino” de Gonçalo M. Tavares


(clique na imagem para ver o conto legível)


Os três sonhos de Calvino formam um conjunto de representações de distintos momentos da vida do personagem. São todos sonhos centrados em seu único personagem nominado: Calvino. Não sendo somente o personagem principal, mas também o centro da perspectiva e de onde sai toda a percepção e relação com o ambiente que o cerca, assim sendo, se altera totalmente tal percepção, conforme Calvino muda sua consciência.

No primeiro conto vemos um Calvino obstinado e perseguidor dos seus objetivos. Encarando seus reveses "sem pensar", ou seja, sem hesitação e com uma certeza de quem está seguro de seus atos. Jogando-se frente uma situação aparentemente absurda que lhe foi imposta com maestria e firmeza. Calvino joga-se pela janela, trinta andares acima do solo, pois através dela foram jogados os objetos constituintes de sua personalidade, seus símbolos de poder. Para Calvino, os sapatos e gravata bem alinhados equivaleriam à capa e espada bem cuidadas de um mosqueteiro ou o chapéu e revólver de um Cowboy no Velho Oeste. São o que o torna preparado para enfrentar seu destino. Mas não se trata apenas de vestir seus trajes, Calvino o faz com maestria e obstinação. Seu nó é um nó de dedos certeiros. Mesmo falhando ao calçar o pé esquerdo, não desiste, e antes de chegar já tem os sapatos com os atacadores bem apertados. Ao fim de sua jornada Calvino chega impecável, realizado.

Com a mesma presteza Calvino age ao se deparar com a Borboleta. Em grego, Borboleta é Psyche, que também significa alma, sendo usada desde muito como símbolo para libertação, transcendência e transmutação. Calvino reconhece nela algo de precioso e por isso mesmo se apressa em fechar a janela para não deixá-la escapar. Da mesma forma com que nos concentramos mais quando um lampejo nos indica o caminho para a resposta de um problema que há muito nos atormenta. Calvino acompanha o vôo da borboleta, observando-a de longe, observando-a tocar seus diferentes desejos e problemas: de seu desejo pela mulher de minissaia, de seu mundano interesse pelos números (números estes que aparecerão mais fortemente no terceiro sonho) e por fim chegando perto do bife cru, da carne que ele espanta com veemência, como se tal pudesse macular a Borboleta-Alma.

Seus esforços são recompensados e a Borboleta adentra por sua orelha esquerda. Sim, pelo lado esquerdo de seu corpo, conhecido pela ciência moderna como o lado responsável pelas sensações e emoções e antigamente associado ao mistério, místico e sinistro. Quando essa alma, que tanto perseguiu, se une à de Calvino ele se sente completo, íntegro e saciado. Com todas as respostas aos seus questionamentos, já pensado, resolvido e realizado. Depois de tamanha perseguição, de passar por provações, finalmente encontrara seu momento derradeiro. Calvino encontrara seu momento de êxtase, seu instante de maior felicidade. Mas desperta por não dar conta de tamanha completude e felicidade que a revelação da verdade proporcionava. No entanto, resta-lhe uma dor de cabeça que não passa como se não passasse para lembrá-lo do que vivera.

Diferentemente dos dois sonhos anteriores, Calvino começa esse de fora da situação que ele mesmo se encontrava, custando a perceber que falavam de números, percentagens da venda de petróleo. A sensação ruim que existia no final do segundo conto persiste, transformada agora na estranheza da sensação de estar dentro do estômago de uma Baleia. Pela primeira vez Calvino começa a se dar conta do mundo, percebe com estranheza como todos falavam de percentagens e percebe como ele, mesmo depois de se afastar da discussão com seu sócio, não conseguiu se desvencilhar desses números. Esse terceiro sonho é um despertar propiciado pela Borboleta. Depois do segundo sonho Calvino percebe a pressa, os números e todo o sistema da cidade dentro dessa grande Baleia.

Os três sonhos mostram momentos distintos da vida de Calvino sendo o primeiro seu quotidiano, o segundo seu rompimento e o terceiro seu novo dia com os questionamentos suscitados pelo rompimento. Calvino sai do primeiro sonho realizado ao conseguir seus objetivos, chega impecável ao chão, preparado para sua labuta diária. Já no segundo, apesar de sua realização ser incrivelmente maior, termina com o mal estar de não ter dado conta de tal. E por fim chega o terceiro conto, onde a revelação se depara com seu quotidiano e o faz perceber o que lhe causa náusea. Os três sonhos juntos formam o conto, a sua evolução pessoal. Não podendo ser lidos isoladamente, mas sim, como um conjunto de instantes particulares e interdependentes.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Elogio

Lucas C. Lisboa

E que nunca experimente,
porque se experimentar
não deixará de querer
aprecia-lo novamente...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Sonetilho II

Lucas C. Lisboa

Pois todos os dias eu travo
uma batalha sem fim
Sendo às Palavras escravo
do que Elas querem dizer

Sendo sempre torto e bravo
no que dizem para mim
Pois meus dedos nunca cravo
no que dizem pra você

Sendo sempre o mais ávaro
em sabê-los tal qual e assim
pra cada Letra entender

Pois Versos eu ainda gravo
nessa torre de marfim
pra vê-los resplandecer

domingo, 17 de agosto de 2008

Tempestade

Lucas C. Lisboa

Depois de por todo o mundo
soprar numa busca perdida
até no abismo mais fundo
procurara sua querida

Entrou num bosque profundo
de tais belezas escondidas
e pelo vale fecundo
encontrara as esquecidas

O Vento dançou co'as pétalas
inebriado plo perfume
doce e saboroso delas.

Pois eram flores mais belas
que semearam seu gume
na tormenta de quimeras

sábado, 16 de agosto de 2008

Ele

Lucas C. Lisboa

Fabulosamente insípido,
era o seu melhor beijo...
Mas pelo seu olhar, límpido,
atiçava o maior desejo.

E terrivelmente ríspido,
o seu carinhoso ensejo!
Era de todo perdido
mas também tinha vicejo!

Regara pura indolência
nos campos que passara:
puro, descalço e desnudo!

Fizera assim sua indecência
nas mil camas que deitara
num gozo eterno e absurdo!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

menininha

Ataualpa S. Pereira/ Lucas C. Lisboa

menininha, menininha
tão inocente a me sorrir
que tu saiba serás minha
muito tenho a lhe bolir

menininha, menininha
vou lhe botar pra dormir
não ficarás mais sozinha
muito tenho a lhe bolir

menininha, menininha
não tens mais porque chorar

menininha, menininha
tens meu colo pra deitar

menininha, menininha
tens toda noite a mamar

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Modernosos

Lucas C. Lisboa

Pois me deu vontade
de ler um poema
mas um de verdade
que se valha a pena...

sábado, 9 de agosto de 2008

Vaidosa

Lucas C. Lisboa

A princesa queria ter o mais belo corselete. Todo vermelho com os seus detalhes todos negros. Daqueles à mão bordados, dos feitos com mil cuidados pelos os dedos mais ágeis e precisos de artesã. Mas sem dúvida era ela a melhor de todo o reino, talvez até mesmo de todo o grande continente.

Ela não sabia, porém que material usaria para tamanho feitio que tanto desejava. Se importadas seriam as sedas das terras que, de tão longínquas, falavam como se sempre cantassem...

Pois sonhara com seu brilho, sua tanta maciez tão fria, que toda lhe arrepiava, mas acordava com dúvidas. Tinha também o velho tecelão que fornecia há muitos e muitos anos um acolhedor veludo. O melhor que já cobrira sua pele alva e macia. Também vestido nobres damas para os bailes da corte.

Depois pensou no couro, dos animais mais exóticos vindos dos reinos do sul, durável e protetor. Que perduraria por tempos, seria a sua obra de arte, que vestiria para encantos de todos os que lhe vissem.

Mas despertara também um ciúmes tão estranho, um medo que o perdesse. Pior quando se ela fosse decerto que herdariam seu trabalho mais valioso, outras tantas vestiriam. seu maior trabalho e seduziriam com sua criação. Pois então não teve mais dúvidas.

E com as mais belas linhas bordou em sua própria pele os mais bonitos detalhes que nunca, jamais, bordara. Foram seus próprios ossos, puxados com toda precisão, que se alinharam para sua nova e perfeita forma.





Nota: É um rascunho, não está do jeito que pretendia, está incompleto, falho precisando de muitos ajustes. Sobrando coisas, faltando outras tantas. Longe de estar sequer aceitável. Agradeço as sugestões