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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

domingo, 22 de dezembro de 2024

sobre a brevidade da vida

Vá se foder Sêneca
a vida é uma vadia
uma vadia escrota
que para a punheta
que você não pediu
antes de você gozar

sábado, 21 de dezembro de 2024

Defeso, denegado e dissuadido

Da cobertura do arranha-céu, entre cédulas, títulos e debêntures, o CEO, abatido, caiu direto na calçada. 

De terno e gravata, causou espanto estatelado no chão.  Sirenes, viaturas, cordão de isolamento e fechamento do ano fiscal.

Dispensado o socorro, estava morto e aferido o lucro e o dividendo, afinal, óbito também é alta.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Vaidade

melhor um fracasso
retumbante do que 
sucesso qualquer
só e silencioso?

terça-feira, 12 de novembro de 2024

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Aldravia Baudeleriana

Igualmente 
Embriagam
Vinho
Vício
Verso
Virtude

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

QUADRILHA MEXICO-SOVIETICA

Diego amava Rivera
que amava Kahlo
que amava Chavela 
que amava Frida
que amava Trotsky 
que amava Sheridan
que amava Leon 
que amava Sedova
que era revolucionária também.

Rivera foi para os Estados Unidos, 
Sheridan foi exilada,
Frida sofreu de desastre, 
Kahlo casou-se com Diego,
foi amante de Leon e Chavela, 
que tornou-se alcoólatra,
Sedova casou com Trotsky 
morto por J. Ramón Mercader
que ainda não tinha entrado pra história.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Tropicália concreta

cintilava a lua
quando o cão caetaneava
o guarda de mijo

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

riacho

satisfeita a velha

lava o lençol da donzela

sangue e primavera 

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Veneno antigo

Esse frasco de cicuta

são as promessas que fiz

pra mim mesmo sem saber

que matariam devagar 

meu eu, meu sonho e sentido

pouco bem pouco por vez


Não sei se sei dizer quantas 

promessas ainda carrego

por zelo como amuletos.

   Quebro com carinho,

   dos cacos faço um mosaico 

   pra luz entrar sem perigo 


Não sei dizer porquê ainda honro

e prossigo na vingança

silenciosa contra meu passado

   Quebro, enfim, a caixa preta

   e hasteio bandeira branca

   pra mim pois não há inimigos


Eu sei bem daquelas tantas,

que jurei só com meu pranto,

por dores hoje esquecidas

   Quebro em silêncio e grito 

   o que me prende ou afasta 

   do meu sonho e meu sentido


Dos crimes sem ser culpado 

carrego essas juras cúmplice

e penitente as mantenho

   Quebro essas minhas correntes

   Com o formão e o martelo

   pra esculpir a liberdade 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Sinto

o gosto o cheiro das uvas
o tonteio e o embaraço 
Ah! como lhe quero rubra
e nua dentre meus braços

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Prelúdio

Remido fasol mido
Remido sol famido 
Resolmi do lafami
do lafami resolmi

Si solre do famisol
Si solre do mifasol
Remido fa ladomi
Refado mi soldomi

A pianista dizia
no mifasol domi todo
amor ladomi que sentia 

e o poeta remido 
Solfejava em redondilha 
de do re mi até do

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Poeta Sobre Trilhos

sim senhor doutor 
minha terapia
é ir pro metrô 
vender poesia

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Haicai Xadrez Zoológico

ocaso ecocida

morrem os grandes felinos

de gripe aviária

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

História dos livretos Poeta Sobre Trilhos

São 31 edições, trinta e um livretos do Poeta Sobre Trilhos. São livretos que produzo desde 2011 e levo nos vagões de trens e metrôs do Brasil. Comecei, é verdade, no Rio de Janeiro, saindo de Caxias até Bonsucesso, onde pegava o expresso para a Ilha do Fundão, mas já fiz incursões no metrô paulistano, saindo da estação Tietê até baldear na estação da Luz e ir para São Cristóvão. Hoje, de volta aos meus belos horizontes, vou da Vilarinho até o Eldorado.

São muitos os caminhos que já percorri sobre trilhos, levando poesia, levando meus versos para tanta gente que não sabia que gostava do prazer que um poema pode nos dar. Minhas primeiras edições se chamavam "Sr. Personna, o que trazes pra mim?" Eu imprimia, xerocava, dobrava e grampeava um por um, fazendo em levas de 20, depois 50, depois 100, depois 200, até que comecei a mandar para a gráfica fazer seus 1.000, depois 2.000, ainda em preto e branco e papel sulfite.

Mas dei um salto quando consegui um lugar para fazer mais barato, colorido e com tiragem de 2.500 exemplares na edição 13, que então em seguida foi rebatizado de Poeta Sobre Trilhos, já no ano de 2012. Com esse novo formato, fiquei por muitas e muitas edições coloridas, em papel couchê e produção industrial. Até a edição 28, em 2016, quando caí em depressão e diminui meu ritmo, fazendo a edição 29 em 2017 e a edição 30 em 2019.

Veio então a pandemia, e com ela deixei definitivamente o Rio de Janeiro. Voltei aos belos horizontes em 2020 e toquei meus dias longe dos trilhos por quatro anos.

Em 2024, sentia um vazio no peito, sentia falta de algo, e esse algo não era só escrever, pois continuei nesses anos todos alimentando meu blog srpersonna.com.br com poemas, crônicas, contos e ensaios. Esse algo era o prazer de ver o leitor me lendo à minha frente, mostrando seu poema favorito para outro leitor ao seu lado, declamando meus versos para a namorada e até se emocionando com o que lia.

Fiz então a edição número 31, que, 13 anos após a primeira, me deu um sopro de vida e propósito, me encheu o depósito de lirismo e esperança que andava tão vazio em mim. Ter de volta esse contato íntimo com o leitor me fez mais vivo, me inspirou e conseguiu me tirar de um luto que parecia não ter fim.

Sinto que o bem que eu faço para os leitores não é maior do que o bem que eles fazem por mim. O importante não é o dinheiro, é essa troca íntima e confidente que poucos artistas têm acesso, entre o público real e o poeta. Só quero agradecer por estar de volta como Poeta Sobre Trilhos; esse é meu lugar, de onde eu nunca deveria ter saído.

domingo, 6 de outubro de 2024

Haiquase carente

Sem seu cabelo

amadrugada é longa

como travesseiro

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

segunda sem motivo


SEGUNDA SEM MOTIVO
ME MOVO MEIO MANCO
E TRISTE TOMO CAFÉ
SEM AÇÚCAR SEM SAL
O PÃO ME ACOMPANHA
MURCHO SEM RECHEIO
E NO MEIO ME FALTA
UM POUCO BEM POUCO
DE TUDO QUE ME RIO
DOU ADEUS PRA CAMA
LONGUÍSSIMA SEMANA
NUMA MESMA CAPITAL
DONDE NASCI E IREI
MORRER DIA DE CADA
VEZ QUE PASSO NUMA
PRESSA SEM PROSEAR
SEM NEM SEQUER VER
QUE RAIA NOSSO SOL
ENTRE FUMAÇA PRETA
E TRÂNSITO CAÓTICO
TRABALHO E ESPALHO
MEU RESTO DE FORÇA
QUE ME RENEGA ESSA
SEGUNDA SEM MOTIVO

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

O belo como moldura da violência

A arte deixou de ter seu sentido latino de técnica; porém, ainda é comum vermos todo artista e sua obra como um exemplar indissociável da Areté grega, como um exemplo do ápice do humano. Os padrões rígidos do que é arte se dissolveram e, hoje, Arte é a moldura na qual canonizamos o artista.

A arte é moldura, ou seja, aquilo que, através do uso discursivo, classificamos como produção artística, a despeito da técnica. É na moldura que consideramos a intencionalidade do sujeito quando o mesmo se enquadra em nosso construto de sujeito ocidental, branco, neurotípico e cristão, e o ignoramos quando desviante.

A moldura da arte cai bem para os quadros em série feitos sob encomenda para as galerias, os livros em série para serem bestsellers, a escultura sob subvenção pública a despeito do público. E também é arte o que consideramos belo, a despeito do que o sujeito desviante pensa sobre seu próprio trabalho.

Porém, o belo não é monopólio da arte, e muito menos seu objeto central. Quando, atraídos pelo belo, chamamos de arte o sagrado dos povos originários ou a profissão de fé de um homem preso por sua própria mente e também pelo Estado, estamos cometendo uma violência contra a autonomia desses sujeitos, cujas obras de inegável beleza não possuem a intencionalidade de serem arte. É uma violência simbólica dissociar esses objetos de seu uso para atender a um discurso alheio aos sujeitos e assim emoldurá-los como arte.

Ademais, desprezamos a arte que não possui o predicado de belo quando concebida pelos sujeitos à margem da moldura discursiva padrão. Quando o desviante ofende o senso estético de quem dita ao que se deve conceder a moldura de arte, temos outra violência, que nega novamente a autonomia do sujeito e de seu entorno, que percebem como arte o que fazem e vivem.

Entretanto, a moldura de arte é apressadamente posta em um objeto que, mesmo carecendo de técnica ou empenho estético, é produzido por um sujeito elencado como digno da Areté para o nosso discurso ocidental contemporâneo. Há aqui uma culpa de séculos, pois essa cultura chamou de lixo a arte de Van Gogh e, por isso, hoje chama de arte qualquer lixo produzido pelo sujeito adequado, para não se comprometer com as gerações futuras.

O zine de poesia "independente", a música "experimental" e o quadro "indecifrável" são obras igualmente criticáveis, independentemente de seu autor ser do morro ou do asfalto. Criticar um poema, ou pior, criticar um poeta tornou-se uma espécie de pecado capital. Não entender um poema ou deixar de aplaudir uma produção medíocre idem. Não há espaço para se preocupar com a forma, com o estilo; somente importa o que se faz sentir, o que provoca e encanta.

Parafraseando Gertrude Stein: um lixo é um lixo é um lixo é um lixo, e é preciso ter coragem de dizê-lo. É preciso ferir o Narciso de cada artista emoldurado, assim como é necessário quebrar a moldura que violenta o sujeito e sua obra, que são autônomos ao próprio conceito de arte ocidental, ou roubar as molduras para as artes que são marginalizadas.

Devolvamos as açoiabas aos Tupinambás, devolvamos os estandartes do Bispo do Rosário e botemos toda a arte para reciclar suas obras, artistas, molduras e conceitos, pois a arte merece mais que ser crivada como comércio ou desculpa para culpas passadas.

domingo, 15 de setembro de 2024

Xepa


Sempre fui da xepa da promoção e da pechincha, comprei meu coração na barraca de um e noventa e nove.

Porém meu peito e pulmão, pobres e expropriados, fizeram fiado.   Eles penduraram a conta pra minha garganta pagar sob protestos.

Por solidariedade a boca fez greve não queria o novo e vermelho inquilino: piquete montado, dentes  trincados...

Mas a mão furou, pelega, não era de esquerda. Furado o piquete o coração caiu na barriga, burguesa, de tão gorda se fez de sonsa e não quis devolver, foi briga das feias, minhas velhas veias tiveram que intervir:

GREVE GERAL e o general da cabeça, prefeito não eleito do meu corpo, entrou em febre, uma convulsão social. Reintegração de posse, biles, vômito e rebordose, mitocôndrias em pânico ouviam a internacional!

Eu feito latifúndio improdutivo, fui numa noite  tomado por uma princesa  socialista, que encampou meu corpo, pôs meu coração no peito, deu um jeito nos grevistas e botou de regime minha barriga.

E todos, em todas as partes, pedaços, ossos,    órgãos,     células,   culturas    bacterianas   e   tártaros superbacanas  puseram abaixo a superestrutura.

Era a revolução e de agora em diante. Todos, todos, teriam o direito Inalienável ao pão,  à poesia e, é claro, aos beijos dela.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

domingo, 8 de setembro de 2024

Écfrase Alexandrina

Eu tô com cara de poeta vagabundo?
Justo! Não quero jamais confundir meu público:
cabelo bagunçado e cavanhaque inculto
aro redondo pros olhos e peito impúdico.

Pelo espelho destaca o gosto tatuando
em minha perna eis coxa eis ninfa e sátiro
dançando na gravura indecente prum culto 
a Dionísio que logo acima sobe ao púlpito 

No braço como num abraço meus asseclas
sacerdotes se brindam num banquete eterno 
Glauco, Hilst, Leminski, Augusto, Rosa e Siba

Colasanti, Matos, Lee, Quintana, Sergio, Sade
e o satírico Raul completam num bom termo
a volta feita na foto deste poeta 

sábado, 31 de agosto de 2024

Coreto liberdade

sussurra a voz rouca
não fique sozinha, 
com essas garrafas, 
de vinhos sem safras. 

sua linda boca, 
que não é só minha, 
beija o corpo meu, 
que não é só seu.


Belo Horizonte, Julho de 2002

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Cyberpunk em 5 palavras:

I)
Implantaram um coração num Bilionário 

II)
Porcos corporativos dão melhores hambúrgueres 

III)
Televangelista enforcado nas tripas corporativas

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Vestido azul

 Quero dedilhar meus dedos
quero-os em ti mergulhados
Nadando dum lado ao outro 
no seu mar e rio revoltos

Quero ser abocanhado
pouco a pouco degustado
pelos seus lábios a postos
pra provar-me todos gostos

Em riste rijo te rasgo 
esse poema devasso
essa cantiga perversa 

Pois me inspira quando pira
quando arfa, rosna, delira,
devora (ou vice e versa)

domingo, 25 de agosto de 2024

Poeta,

por favor,

só empilhar

palavras

não se faz

poesia.


sua prosa,

na vertical,

não se vira

um poema

só por isso.


não só leia,

ouça a voz

fale escute

o seu ritmo

verso é som


por favor,

só empilhar

palavras

não se faz

poesia.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Sci-fi em 5 palavras:

I)

no céu a terra cintilava


II)

pálido ponto azul, nunca mais 


III)

Rápido, siga aquele táxi voador! 

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Dos delírios e deleites

paciente pela florada,
de lírios e copos de leite,
ele, dia a dia, regava,
gentil, os seios da amada
com o seu sêmen e saliva...

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Quarenta e sete segundos

Pro inferno no mais baixo dos seus círculos
é o ponto exato que eu ia se nisso

eu de fato pudesse crer tranqüilo

sem chance de galhofas ou de risos


Tranço e destranço as cordas do suicídio

como quem reza as contas de seu terço

num vício mui macabro e bem ridículo

e cada nó me vale um pé de verso


Pois não vou me orgulhar de ser ateu

você que tem um deus é mais astuto

co'amigo imaginário pra brincar


O que vai me esperar é qualquer breu

um grão-nada tão calmo, absoluto

que da música não posso reclamar

quarta-feira, 31 de julho de 2024

Prece para ti

Quero o descalabro
De ter cada canto
De ti devastado
Numa fome e espanto

Quero ungir seu rabo
Com meu óleo santo
Pra levar a cabo
Seu orgasmo e pranto

Quero lhe causar
Deliciosas dores
Com prazer imundo

Posta em meu altar
De amarras e flores
Num jardim fecundo

quarta-feira, 24 de julho de 2024

O papel aceita tudo

É poesia! Liberdade!
Lirismo em flor e cio?
Não! não passa de vaidade...
feita de verso vazio.

O papel aceita tudo
do soneto mais profundo
ao poema mais capenga
e tem quem se surpreenda
co'a má vontade ou esforço
que quem rima rumo ao poço
dessas metáforas mortas
de tantos clichês e cartas
piegas que sem quê nem
pra quê canta pois convém
ao mau gosto o pior verso
que sem risco sai direto
da boca para a latrina
dos ouvidos e alucina:

É poesia! Liberdade!
Lirismo em flor e cio?
Não! não passa de vaidade...
feita de verso vazio.
 
O papel aceita tudo
não importa o absurdo
passa recibo e atesta
é um gênio, é poeta
a nova Creta e Parnaso 
a Ilíada de um asno
é calamidade pública
um púbis de tão impúbica
e quem publica concorda
é aplauso de claque e corda
e embebeda o ego, mata
esfola, rasga e maltrata
sua musa torturada
em rima malacabada:

É poesia! Liberdade!
Lirismo em flor e cio?
Não! não passa de vaidade...
feita de verso vazio

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Poeme-se

Poesia nas praças,
becos e avenidas.
Poesia pra ser
cantada e vestida!

Poeme-se a rua
de pedras floridas
Poeme-se os trilhos
em lenta corrida

Poema é um nada
lotado de tudo
Poema é piada
de choro profundo

Poema é queimada
inundando o mundo