e um poema na gaveta
perde a poesia
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
Eu acho tão engraçado quando poetas contemporâneos exaltam que seus versos não tem métrica ou rima.
Falam de um jeito como se isso fosse uma particularidade, um feito, algo que distinguisse sua poética das demais que o cercam, como se fosse algo muito diferente do que é feito hoje.
Mal percebem que o verso livre já virou arroz de festa, completamente hegemônico e dentro do manual da boa poesia contemporânea.
Meu caro poeta contemporâneo, você pode fazer seus versos livres à vontade, mas, por favor, não acredito que isso seja um feito revolucionário ou digno de ser exaltado.
Essa revolução já aconteceu no início do século passado e o monstro parnasiano que diz hoje combater tem tanto poder quanto os gigantes de Dom Quixote.
Eu não viveria no céu;
Gosto do cheiro da terra,
do suor de gente que erra,
acerta e faz escarceu.
Eu não viveria no céu;
Gosto do cheiro de vida
de cutucar a ferida.
Bolero lambada e créu!
Eu sou do tipo atrevido,
que nunca tá resolvido;
como sujeito normal.
Eu sou o que sou e posso
no que faço, vou e aposto
botando pimenta e sal
A volta do voto impresso
um baita dum retrocesso!
Quem for ficar de malgrado
Chama o melhor advogado...
Esse país cada dia
me da mais orgulho
Estamos pouco a pouco
Limpado todo o entulho
Deixados pelos ridículos
E sanguinários milícos.
Cada dia muito menos
gente passa fome
E mais gente pode ter
O seu sonhado iphone
E temos faculdades instaladas
nas cidades mais afastadas
Pouco em 12 anos
mas muito mais do que em 38
O Brasil volta a crescer
depois de 50 anos parado.
38 estragando e 12 consertando
o malfeito de tanto deputado.
Há uma estrela de esperança
Vermelha como o coração
Se você desistiu de nossas crianças
Eu ainda não.
Sim, eu sou de esquerda
pois o problema da fome
é muito mais importante
que o preço do seu iphone
Quero dedilhar meus dedos
quero-os em ti mergulhados
Nadando dum lado ao outro
em suas carnes envoltos
E sentir-me abocanhado
pouco a pouco cravado
pelos seus labios revoltos
provando-me mil gostos
De falo rijo te faço
esse poema devasso
tal uma canção perversa
Pois me inspira quando pira
quando arfa, goza, delira,
devora (ou vice e versa)
"Cinco sílabas poéticas"
Formam um verso de sete
sílabas poéticas contadas
Até a última das tônicas
Leve você em qualquer laje
versos sem assinatura
dum nome de d'douro traje
que apenas será loucura
Bote num museu de mármore
um penico na moldura
que cada macaco na árvore
em coro dirá:" arte pura"
Vai tenta arrisca petisca
de banquete a quem tem gula
faz sua arte visceral
Tome cuidado caro artista
que arte não cai bem com bula
e nem vem com manual
bem no pé do verso
sibila uma língua
que lânguida lambe
o metro e sua tônica
Em saliva imerso
o lábio à míngua
deixa que se game
na orgia polifônica
Baixinha de peitos grandes
dona dum bumbum durinho
Rebola assim aos galopes
que engole meu pau todinho
Me chupa do talo à glande
com fome e com carinho
Num tesão rude que range
quando lhe dedo o rabinho
Pulsa e repulsa meu sangue
deixando meu pau durinho
Minha saliva vai longe
melando seu anelzinho
São meus dedos que lhe expande
aos poucos seu buraquinho
Até que se torne grande
pra que eu entre de mansinho
Seu doce gemido me unge
no papel de malvadinho
Que com vigor lhe inflige
um gozo pelo cuzinho
Não sou Pedro
Não sou pedra
A minha lavra
De mil palavras
É de poesia
Na minha igreja
Não tem pecado
Não tem culpa
E muito menos
A tal sacristia
Não sou senhor
Não sou escravo
Todos dias travo
Um doce trago
De melancolia
No meu terreiro
Na minha terra
Certo é quem erra
Quem de tão torto
Acerta a alegria
Um negro vestindo preto
faz papel de autoridade
à mando dum branco que
traja terno e faculdade
Me despetala em trapos, fitas, pétalas
de bem e mal me quer que mais me quer
que desdenha, destrata, mas me quer
como porta-bandeiras e abre-alas
Pois Eu me apego e até pago pra ver
dentro do porta-luvas levo as mágoas
e encho com alegria o porta-malas
sou da escola do samba e bem querer
Eu, Madame Baderna com prazer
tomo da tina e latrina de restos
essas babas e beijos dos amores
Eu sou essa Arlequina com as cores
que não se cabem nos pincéis modestos
desses caras sem cara pra bater