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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

domingo, 3 de julho de 2016

Instante vermelho

Na foto do  Sol
Aninhado nas montanhas
Nasce ou se põe?

Sextilha para FLIP

Pois queria eu estar em  Paraty
mas demasiado cedo é para mim
ir onde as pedras lembram-me de ti
dos dias felizes que agora,  enfim,
me doem por ser verão  curto no inverno
que  hoje aqui me abraça como eterno

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Ressaca de mar

Eu tento tento
e depois tento
uma vez mais
guardo meus ais

Então lamento
o meu rebento
morto sem paz
navio sem cais

Eu nunca soube
me dar um fim
como um presente

Ou que me roube
meu camarim
de peça ausente

domingo, 26 de junho de 2016

"Belo!"

O espelho concorda
Terno de madeira
Gravata de corda

sábado, 25 de junho de 2016

Virtuosismo

Eu sou tão viciado nisso
que mesmo no nosso chat
meu rimar eu não enguiço
numa salada de abacate

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Adeus ,

como quem pede socorro
mas é por muito orgulhoso
de pedir um gesto morno
pra paz d'eu desventuroso

como quem diz num sussurro
do amor que grita estrondoso
em seu coração escuro
que teme seu próprio gozo

meu pé esquerdo ainda dói
pelo pulo da janela
do meu quarto num domingo

tanta culpa me corrói
pela lambança e esparrela
que fiz com tudo que sinto

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Biográfico trinta

Sou, eu, verme inconformado
contrafeito querubim
d'arco e flecha despojado
maçã de gosto ruim

Mão perna e pé aprisionado
sob a pena de Aladim
de querer certo e errado
pelo não é pelo sim

Meu peito despedaçado
sem pó de pirim pim pim
tecido grosso rasgado
costurado com cetim

Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Trova quarenta e cinco para meia noite

Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Iminente

Então você anima
Fazer poema-repente
Um gole por rima
de fina aguardente

Não se subestima
a língua vidente
Que se desatina
no verso excelente

Vamos num clima
pra lá de excelente
Que não subestima
esse desejo latente

Parte masculina
que jaz eloquente
Parte feminina
faminta, saliente

terça-feira, 7 de junho de 2016

Quarenta e sete minutos

Pro inferno do mais baixo dos círculos
é o ponto exato que eu iria se nisso
eu de fato pudesse crer tranqüilo
sem chance de galhofas ou mil risos

Tranço e destranço as cordas do suicídio
como quem reza as contas de seu terço
que é, até pra ele, macabro e bem ridículo
e cada nó me vale um pé de verso

Pois não vou me orgulhar de ser ateu
você que tem um deus é mais astuto
tem um ser imaginário pra brincar

O que vai me esperar é só um breu
Em um nada tão calmo, absoluto
que da música não posso reclamar

domingo, 5 de junho de 2016

Sinto

"Meus amigos, Amigos, quem serão?"
segurando firme na alça do caixão
cada um vai segurando do seu jeito
conforme dói a culpa do seu peito

"Meus amigos, Amigos, pronde vão?"
bebê-lo tristes pois fomos em vão
cada qual tem nas lágrimas ao leito
seu conforto cruel e contrafeito

Que vai na paz das pás de terra fria
descem, caem, escorrem tantas lágrimas
bem guardadas da chuva e seu clichê

Mas as nuvens são hoje fugidias
com Sol e Rouxinol na mesma lama
e na aba do caixão gruda o chiclete

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Fortuna

Tudo que brilha é sagrado
olhe meus olhos brilhantes
Tudo que fez é passado
mil lábios são o bastante?

Nem carinho nem cuidado
são segundos prum instante
Nem vinho nem destilado
calariam esse amante

Por gosto faço-me torto
de toda sorte me livro
troco verso por concreto

Nem sei se quero teu corpo
e menos quero teu crivo
não, não sou o que deu certo

terça-feira, 26 de abril de 2016

Para fins de registro e catalogação

Quero desler nosso livro
derreter até o tipográfico
que imprimiu no nosso sexo
e traficou nosso gozo

Quero rasurar a nota
onde gravei meus segredos
e a ficha catalográfica
hei de sumir nas estantes

Quero que reste só pó
da poesia que matamos
sem rima ou chave de ouro

Ser praga de biblioteca
comer, devorar, tal traça
capa, miolo e contra capa

Fiel

você me deu o que eu nunca
quis ou de você pedi
pelo tempo de hora longa
que não contei ou medi

terça-feira, 12 de abril de 2016

Delivery

se sua morte cobra
Cem reais no moto táxi
pague, tá barato

terça-feira, 5 de abril de 2016

#SaraPintado

com meus olhos tristes
e livreto leve
a poesia segue
entre tantos mestres
que são aprendizes
pra dias mais felizes

segunda-feira, 28 de março de 2016

Cinco ou seis badaladas

Ducha fria de manhã
pode espantar pesadelos?
Até que  me revigora
mas não me faz esquecê-los

segunda-feira, 14 de março de 2016

Pornochanchada para

Lhe digo, não é cilada
ela quer tapa na cara
quer na goela esporrada
É tão pura e doce Lara
quando tá muito inspirada
cheia de sanha e tara

Lhe faço logo a charada
me diga com quanta vara
pica, pau ou caralhada
se satisfaz uma Sara
pois só goza com porrada
que começa e nunca para

Lhe digo, não é errada
quando ela repete, fala
quer muito mais pirocada
que tem muita fome a Clara
na cama nua depilada
geme, grita e escancara

Lhe faço logo a piada
sobre o que será que sara
depois duma chicotada
na bela bunda de Nara
fica roxa, avermelhada
que de quatro se prepara

sexta-feira, 11 de março de 2016

Quanto?

o livreto é livre
contribua se puder
leve se quiser

quinta-feira, 10 de março de 2016

Celerado

Os meus versos desgraçados
não surgem dum elogio
duma alegria em seu cio
mas do choro derramado

Eu que jamais me sacio
tenho um peito carregado
de desejos afogados
nas lágrimas quando rio

Cada verso desalmado
é chuva no meu estio
mamilo que acaricio
num momento emprazerado

Sou errado, vil e vadio
um pedaço mal calculado
perverso desmascarado
que faz dos erros seu fetio

Do mais feio, torto ou errado
ganho um abraço macio
pois deles sou fogo e frio
sou príncipe dos celerados

quarta-feira, 9 de março de 2016

Venenos noturnos

Tem certas coisas
que não terminam
quando se acabam

Tem velharias
que ficam noivas
das agonias

tem os seus fins
no meio do começo
Maltratando os rins

Tem culpa de berço
erva no jardim
E salgado preço

sábado, 5 de março de 2016

Não

Não sei se quero
conversar sério
um tema amargo
tomando trago

Não sei se devo
acordar cedo
depois da insônia
e da vergonha

Não sei se posso
por no pescoço
a mesma corda
que não me acorda

Não sei se dura
minha tortura
no mesmo prego
que bem me esfrego

quarta-feira, 2 de março de 2016

De vestido

Tapa, gemido, escarcéu
lembranças duma conquista.
Serão roxos o troféu
para uma boa masoquista?

terça-feira, 1 de março de 2016

Primeiro de março

Rio de Janeiro em festa
para meu aniversário
na janela pela fresta
vejo apenas o operário
pela chuva castigado
justo nesse feriado

Conserta o que os salafrários
que tão bem tem estragado
com seus régios honorários
e cargos comissionados
fazendo a gente de besta
de segunda até na sexta

Então anoitece sábado
e já não há quem resista
a dançar junto colado
patrão e empregado na pista
sem ver pompa ou salário
domingo é dia de baralho

Feliz idades

bom e sem demora
comi três cus nessas últimas
vinte e quatro horas

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Feliz idades

Sabe como é,
aos primeiro de março
fez de minha vida
Triste cabaré

Atropelamento e fuga

Não me pergunte porquê
Recuse limitações
Venha vamos dar rolê
Nas rodas dos caminhões

Mata ciliar

Descendo lenta em meu rosto
a lágrima veja só
faz dos meus labios um poço

Mentira

Eu queria um soco
na boca do estômago
ao sorriso pouco
de felicidades

Parabéns

Daqui uma semana...
Um dia triste virá
pois a morte engana