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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

ERRATA

Lucas C. Lisboa

Quem for ler não se deslinha
É lá na segunda linha
onde lê-se "vou poeta"
entenda bem: "sou pateta"

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Alma de Poeta?

Lucas C. Lisboa

Faz muito que escuto essa história, essa balela pseudo-romantica e modernosa. Um poeta nasce poeta? É preciso graça divina e nenhum esforço para verter lindas palavras?

Francamente! Dizer isso não me soa como nenhum elogio! Eu não passo dias treinando, estudando, aprendendo sobre as possibilidades estéticas da lingua portuguesa para que todo meu esforço seja creditado a "minha alma de poeta".

Tal qual um músico aprende a tocar seu instrumento precisando muito treino para dominá-lo inteiramente. Um poeta deve aprender a dominar o metro, aguçar sua capacidade de criar rimas e eufonias, aprender a trabalhar concormitantemente linguagem e som. Qualquer um escreveria divinamente com o devido tempo, contanto que dedicasse o devido tempo de estudo e persistisse no seu intento.

Discordo que a mera inspiração seja capaz de criar um poema perfeito. Há uma sensível diferença entre um autor que rabisca as primeiras linhas, o autor que já escreveu cem sonetos e o autor que é versado em divesas formas e metros.

Não que o caminho clássico seja o único capaz, evidentemente é possível se atingir expressividade plásticas, sonoras e líricas para além do classicismo. Porém tal não se dá também num rompante, um poeta transpira ao fazer seu poema e dizer que ele sai numa vertente única e divina...

Francamente! Nenhuma arte funciona assim! E deixar que acreditem que tal é verdade só desmerece o trabalho do poeta, do artista. Dizer que qualquer um faz de qualquer jeito uma obra maravilhosa faz com que toda a obra perca seu valor.

"Porque do metro?" me perguntam frequentemente. A Versificação é todo um conjunto de estudos que lhe ensina a compreender melhor a relação intrincada entre linguagem, ritmo e som. Ela permite que se identifique com maior clareza e habilidade os melhores momentos e as melhores posições que as palavras irão assumir num verso de modo a causar a maior extesia possível.

Com o estudo e treino da arte versificatória o escritor adquire flexibilidade e dominio léxico, amplia enormemente seu próprio vocabulário e não é pego com tanta facilidade num abismo onde nenhuma palavra se encaixa.

Decerto que a versificação não pode ajudar o poeta no que ele vai dizer, no conteúdo intrinsceco de seu discurso, mas vai, sem a menor sombra de dúvida, auxiliá-lo na melhor forma de dizê-lo.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Vermelho de Chão, Vermelho de Bucha

Lucas C. Lisboa

Joelho ralado e vermelho,
não de meu sangue aos montes...
mas do mesmo barro velho
cá dos belos horizontes!

Choro e escuto o conselho:
"Banho fim-de-férias antes!¨
Retruco mas me aponta o bedelho:
que tem barro até nas frontes!

E diz a vó, no fogareiro,
quentando ao pé da serra:

"que apenas caminha quem erra
quem tropeça na montanha

de terra rubra e estranha
do ferroso formigueiro!"

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Comunidade Científica Adverte

Para se caracterizar enquanto milharal precisa-se de pés de milho. Portanto, é imprescindível, que se plante milho no milharal.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Galanteio

Lucas C. Lisboa

Quero voce nesse frio
com duas garrafas de vinho
Com céu limpo, lua ao cio
e nas nuvens nosso ninho

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Filho Pródigo

Lucas C. Lisboa

Digo: Saudades não tenho.
Sou, ao menos, orgulhoso
demais pra dizer que tenho
de outro tempo saudoso!

Mas eu nem sei se eu convenho
em dizer que sou desgostoso
da terra que digo e venho
praguejando por troça e gozo!

Cidadezinha pacata;
é dessas que ninguém morre
e dessas que ninguém mata!

Cidadezinha de porre;
se o fim-do-mundo desata...
eu quero ver quem socorre!

terça-feira, 16 de junho de 2009

O seu engenho amado

Lucas C. Lisboa

Solitário como era não tinha amigos muito próximos, não era convidado para as festas e era alérgico a animais. Seu apartamento cheio de livros e ferramentas lhe acolhia com resignação e indiferença.

Viveria assim durante tantos anos sem se incomodar com aquela suave paz de sua morada mas um dia quando a consulta ao dentista atrasara mais do que o costume pegou um romance açucarado com a secretária tornando sua espera menos tediosa.

De volta a seu apartamento sem os cisos e com uma semana de licença se pôs a colocar seus estudos em dia: Todos aqueles livros que devia ter lido, todos aqueles artigos para revisar e todos aqueles protótipos ainda por terminar.

Cheio de ânimo estudou por dois dias naqueles silêncio tão propício a máxima concentração. Mas, no terceiro, incomodou-lhe todo aquele ambiente sepulcral, cansou-lhe seus assuntos tão sérios que tratava.

Quis então se distrair, ocupar-lhe a mente com algo mas todos os seus livros, papeis,ada fitas eram sérios demais. Nada havia ali sequer parecido como aquele banal romance da secretária, que julgara tão bobo, simples e pueril.

Não podendo ler o romance que devolvera crítico e desdenhoso. E sem coragem de ir até a banca mais próxima e passar pelo vexame de ser visto comprando literatura barata. Decidiu-se por viver ele próprio seu romance.

De tão inteligente, científico e hábil que era decidira que construiria sua amada com seus protótipos inacabados.: um braço mecânico, um modulador, olhos de lentes digitais e uma sorte de pequenos inventos, de funcionalidade duvidosa, que adornavam com seu peculiar gosto toda sua morada.

Tudo foi perfeitamente arquitetado a partir de um livro de anatomia humana (que comprara por engano certa vez). A construção fora bem simples, após concluso o projeto, seu intelecto formidável lhe enchia de orgulho a cada pequeno progresso. Terminara todo o processo em menos de quarenta e oito horas de trabalho ardoroso e frenético.

Quando terminada, não se continha de excitação frente sua amada construta com quem viveria o seu maior e mais perfeito romance. Um último ajuste precedeu o toque ligeiro em seu interruptor bem escondido atrás da orelha.

O corpo dela inteiro tremeu, sinal da inicialização do delicado sistema programado em seu interior, e ao abrir os olhos seus lábios esculpidos em látex abriram um enorme sorriso e disse olhando nos olhos dele: Papai.

Metafísica

Lucas C. Lisboa

Refuta-me e me desvela
pinta-me para sua tela
sem a tinta nem carvão
sua puta sem coração!

Trova pseudo-filosófica e pseudo-poética

Lucas C. Lisboa

Pois o Hades não é geográfico
nem Alma um corpo sutil
nada cabe o verso Sáfico
nem é Heróico seu ardil

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Minha querida

Lucas C. Lisboa

não sou bom, não sou herói -
se é para ferir eu bato,
sem pudores ou recato,
na ferida que lhe dói.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

I kant

fundamentação
no fundo, lamentação
de verdade ou não

sábado, 9 de maio de 2009

da morte amada

Darei vivas à sua morte
minha querida e ingrata
porém lasciva consorte
que tão suave me mata

Poeta

dou Salve ao Poeta
de palavra tão salgada
d'alma faminta e inquieta
só nos odres saciada

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Biga

Minha biga tem
Dois cavalos bem distintos
um forte outro fraco

Lago III

À beira do lago
ele sorri amargurado
fintando sua musa