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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

domingo, 30 de maio de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Confessionário

Lucas C. Lisboa

Ontem, um copo de leite
mamãe me deu em seu ninho
Hoje um seio nú em deleite
mamo com todo carinho

Não há gula q'eu não aceite
se oferecida com jeitinho
gosto de carne, mel e azeite
junto dum odre de vinho

Eu lembro da prima bruna
de pele macia e escura
com mamilos tão gostosos

Responsável por alguma
ou várias de minhas taras
juvenis e outros gozos

terça-feira, 25 de maio de 2010

Silogismo

Lucas C. Lisboa

Se me for noite
eu lhe fodia
e meu açoite
se lhe for dia

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A forma da racionalidade

Lucas C. Lisboa

O Século das luzes não viu nascer apenas a Indústria têxtil inglêsa e o protestantismo de Calvino como sucita Weber em seu livro célebre. O mesmo fio condutor  que o autor aponta como germe de ambos os processos também pode ser visto nas artes seja na música onde surge a notação musical tal qual é utilizada, com suas regras, medidas e formas bem estabelecidas ou seja na literatura onde surge o movimento árcade.  Todos esses eventos marcam uma ascenção de uma racionalide pragmática que busca os melhores meios para seus fins.

O arcadismo surgiu como uma proposta literária que se primou pela forma, estrtuturada e com uma definição dos meios para se alcançar uma poesia perfeita. Definima não só a forma como também seu conteúdo. Os temas, os metros, as regras foram todas estabelecidas rejeitando o obscuro Barroco e adota principios norteadores como "inutilia truncat" e " "aurea mediocritas" onde o primeiro dizia para se cortar os excessos e rebuscamentos desnecessários à arte e o segundo estabelecia o diálogo direto com o quotidiano e racional em detrimento do irracionalismo  sagrado e profano.

Tal processo racionalizando da vida humana tem seu ápice no século XIX onde a industrialização da Inglaterra já deixou o reduto têxtil e avançou para uma complexa máquina fabril e  mercatil em uma forma consolidada de capitalismo que possibilitou o surgimento do império que nunca dorme. A França além de ter lançado os ares da revolução  também propagou o Parnasianismo que, depois de um aparente recuo romântico na segunda metade do século anterior, surge com uma proposta ainda mais profunda que a dos Árcades.

Os Parnasianos se protaram como cientistas dos versos começam a dissecá-los em sua anatomia, prestando o trabalho de definir a sonoridade de cada vogal, de classificar palavras e versos quanto ao seu sexo e tonicidade. O tratado de Olavo Bilac sobre versificação explicita elementos da poesia nunca antes explorados, categorizados e aplicados com tamanha precisão e cuidado. O título de ourives das palavras é mais que adequado àqueles que aprenderam num processo cuidadoso e racional a extrair a máxima expressividade da forma.

Contudo tal processo não se encerra e se cristaliza com o parnaso, pois a ascenção da racionalidade ganha contornos de outra dimensão no século seguinte. A morte de deus é decretada e o homem passa a ter a si como único responsável, racional e absoluto dos seus atos. Mesmo os horrores das guerras não  fazem mais que reafirmar a responsabilidade do homem para consigo. Esse deslocamento também se nota na esfera econômica onde a própria lógica, a própria economia passa a valer por si mesma sem que seus rumos sejam ditados por outrem que a própria lógica do capitalismo financeiro.

Com a virada do século a poesia se devora num processo antropofágico dos valores estéticos vigentes por seu caráter profundamente racional. Pois se aparentemnte o verso dito livre é uma reijeição à racionalidade instrumental o mesmo não deixa de ser uma complexificação  da estética anterior numa conciliação racionalizadora dos conflitos e questionamentos dessa época.  Soa o modernismo como uma rejeição da racionalidade tal qual o capitalismo de sua época foi dito como selvagem, mas ambos são um processo extremo de racionalismo onde o indivíduo comum perde a referencia dos processos internos.

As novas experiências modernistas são de tal maneira profundas e inovadoras que o público médio só pode enxergar nela uma iconoclastia, uma ausência de parâmetros e normas. Mas tal visão é tão errônea quanto se um medieval que ao ver um avião em pleno vôo acreditasse que se trata de um feito mágico. Só que a magia modernista funciona como a apresentação de um mago de palco. Onde se troca a assistente linda que desvia o olhar do público enquanto o truque se passa do outro lado por  um discurso de liberdade absoluta da forma como um engodo para que seus leitores não vejam os usos formais que se escamoteiam em suas obras. A sutileza do poeta que declara que seus poemas surgem num rompante e depois afirma que sas palavras mentem?

Os seguidores destes porém tentam imitar os seus feitos levando-os ao pé da letra acreditando que a magia do versos está nas palavras do mago, em seu "ocus pocus" , pois foram completamente seduzidos pela assistente. Os modernosos imitam a aparência da poesia modernista mas engoliram o embuste estético e sequer têm consciência da busca pela primazia estética dos versos pois não lhes foi dito o truque secreto que se passou bem debaixo dos seus olhos.

Contra o ataque infundando contra a forma há a proposta oulipista que não se propõe uma mera revalorização  da forma trazendo-a para o uso afinal a mesma nunca deixou de fato o verso apenas foi ocultada magistralmente pelos modernistas. O OULIPO pretende explorar os limites da palavra  sem depender de um obscurecimento da forma para fazer belas as letras mas sim tornar a própria engenharia da escrita bela.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Romântico

Lucas C. Lisboa

E tomarei mais um porre
pelo finissimo trato
do que no seu peito morre
e dentro de mim eu mato

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Eferma

Lucas C. Lisboa

Quanto vale o honorário
do verme tão solitário
que malgrada toda sina
e não cura a medicina?

Ele recebe seu salário
pelo labor de operário
come carne pequenina
da já eferma menina

com seu pijama de seda
passa o dia deitada ao leito
se distraindo na leitura

dos versos que bem lhe enreda
desejos e no seu peito
quer d'um homem a ternura

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Pueteiro Filosófico

Lucas C. Lisboa

Eu, de núvens e relógios
nada pretendo saber
se ao metro faço elogios
é só para meu prazer

O verso me diz verdades
que jamais viria a ter
refutando mil vaidades
e mentiras sobre o ser

Com chicote na mão
dialética do senhor
e do escravo me apraz

A minha revolução
é perversa em seu furor
e declara guerra à paz

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Primavera

Lucas C. Lisboa


Docuras do mel
da amada trazem abelhas
colorindo a casa




quinta-feira, 15 de abril de 2010

Belíssima Fera

Lucas C. Lisboa

Sim, eu não nego, sou a reles fera
de gestos rudes, feios, mas de gostos
refinados demais numa triste era
de maus hábitos, púdicos nos rostos

Que escodem seus desejos e quimeras
tantas que reconheço tão contidos
entre seus lençóis d'uma primavera
esquecida em calores coloridos

Sim, sou fera, mas não quero qualquer
Bela sem sonhos ou ensejos puros
em vontade faminta entrelaçados

Sim, com ela, me vem tudo que quer
os meus prazeres sórdidos e escuros
que torno nossos sendo saciados


terça-feira, 13 de abril de 2010

Nadapédia

Lucas C. Lisboa

Qual malogro de seu logro
e seu malfadado fado?
Será uma inversão do togo
ou só um cavalo calado?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Se faz penumbra

Lucas C. Lisboa

e a vela se apaga
envergonhada pelo
flerte dos amantes

Cego pelas Musas

Lucas C. Lisboa

velho assum-preto Poeta
alegremente arquiteta
seus tantos versos de Dor
cantado aos Pés seu amor

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Trova para Sara

Lucas C. Lisboa


Sedenta de vara
vem aquela tara
conhece de cara
a pica tão rara

terça-feira, 30 de março de 2010

Trova travada

Lucas C. Lisboa

Ocaso de quem não Nasceu
é a Aurora da Velhice
a Fé profunda do Ateu
e o Santo em peraltice!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Visionário

Lucas C. Lisboa

muito vale tal órbita concreta
desse seu cego olhar Glauco Mattoso
que fez em fôrma e forma audaz poeta
de soneto em soneto primoroso

nada vale seguir a mesma meta
fadado a versador tão modernoso
pois na rima e no metro se arquiteta
o poema que é puro e vigoroso

à providencial cegueira um brinde
que com seus versos bem nos banqueteia
com palavras lascívas e requinte

de quem sabe tecer bem a sua teia
com palavras sutís e doce acinte
à pudica moral que nos rodeia

PS: eis minha homenagem ao poeta vivo que mais admiro, que mais tenho em conta como parâmetro estético e valor poético. Glauco Mattoso é seu novo nome, conheçam seus milhares de Sonetos perfeitos.