Ducha molhando meu rosto
E a água que cai nos meus lábios
Não é salobra de mar
Mas dum copioso chorar
Publicação em destaque
Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
Sabor semelhante
O que não vejo
Nem tardo nem cedo
seu falso querer
eu tenho meu medo
medo de você
Seu falso enredo
de me dizer
que lhe trago azedo
no fel de você
desço sem mais lágrimas
e sem mais soluço
do fim ao princípio
entre minhas lástimas
sequer um impulso
para meu precipício
seu falso querer
eu tenho meu medo
medo de você
Seu falso enredo
de me dizer
que lhe trago azedo
no fel de você
desço sem mais lágrimas
e sem mais soluço
do fim ao princípio
entre minhas lástimas
sequer um impulso
para meu precipício
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Dos delírios e deleites
Ele todo dia regava
os seios da moça amada
com seu sêmen e saliva
ansioso por sua florada
de lírios e copos de leite
os seios da moça amada
com seu sêmen e saliva
ansioso por sua florada
de lírios e copos de leite
Das coisas
mais fora de hora e de lugar:
-Carne de soja em churrasco
-Retiro espiritual
na sexta de carnaval
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Incêndio
Enquanto na floresta se buscava
co'as bocas, bicos, trombas e suas patas
um tanto qualquer d'água para essas matas
que nas chamas do incêndio já queimava
O lobo, sentado, seu vento tragava
usando de suas forças mais inatas
a procurar aquelas almas rotas
que tudo novamente incendiava
As feras atarantadas julgavam:
ele parado, sem nada ajudar!
"Que ser mais egoísta!" - murmuravam
não o viram sorrateiro a circundar...
Pois quando as brasas altas crepitavam
com fome de homens se pôs a caçar.
co'as bocas, bicos, trombas e suas patas
um tanto qualquer d'água para essas matas
que nas chamas do incêndio já queimava
O lobo, sentado, seu vento tragava
usando de suas forças mais inatas
a procurar aquelas almas rotas
que tudo novamente incendiava
As feras atarantadas julgavam:
ele parado, sem nada ajudar!
"Que ser mais egoísta!" - murmuravam
não o viram sorrateiro a circundar...
Pois quando as brasas altas crepitavam
com fome de homens se pôs a caçar.
Quadras calculadas
sílaba poética
é saber que verso
não é aritmética
mas da prosa o perverso
*
prum ouvido certo
versificação
é medida de metro
sem regulação
*
dentro duma métrica
cabe o não pensado
duma frase cética
num texto sagrado
*
o poeta escande
como alguém que canta
e não como quem conta
moedas e as esconde
é saber que verso
não é aritmética
mas da prosa o perverso
*
prum ouvido certo
versificação
é medida de metro
sem regulação
*
dentro duma métrica
cabe o não pensado
duma frase cética
num texto sagrado
*
o poeta escande
como alguém que canta
e não como quem conta
moedas e as esconde
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
à luz da Lamparina
Meu pai criava em sua mente todas as formas, luzes, gestos, olhares
e sombras das assombrações que meu avô lhe narrava à luz da lamparina,
os filhos da minha geração recebem todos os mínimos detalhes de seus
monstros narrados através das telas de seus tablets. Não há mais
qualquer espaço para que o espectador do tablet crie em sua mente as
feições que recebe das luzes do tablet. Cada monstro, cada personagem
já tem impressa sua cor, forma e tamanho de maneira indissociável, sem
qualquer espaço ou possibilidade de liberdade para o espectador.
O narrador da lamparina, o livro de contos e histórias fantásticas, os romances, as epopeias, e as notícias do jornal impresso cada vez mais são substituídas por narrativas apinhadas de sons e imagens que provam e comprovam sua forma como indissolúvel, pronta e acabada. Quadro a quadro em movimento, narrado e articulado sem deixar espaço para que o receptor inclua ali sua perspectiva, sua ótica. Cada mensagem acompanhada de todo um aparato imagético comprova sua veracidade indiscutível, é pois as imagens não mentem.
Num mundo imagético, onde tudo é movimento, fala, som e imagem. Num mundo onde toda informação é dada como pronta, acabada. O ato da Literatura, per si, sem outro suporte que não a escrita é um ato político. A poesia escrita e lida é avisa rara na contemporaneidade. É uma arte incompleta em sua produção pois depende sempre do leitor para ter seu som e imagem concebidos.
No momento em que o
leitor inicia a leitura é o exato momento que ele se implica no texto
pois e forçado a preencher as lacunas do que lê consigo mesmo, com suas
experiências, com suas memórias, tendo como argamassa sua imaginação
fresca e, pro vezes, nunca antes utilizada. E nesse despertar da
imaginação nasce a capacidade de criar novas narrativas para o que já
recebe de antemão como dado.
Um livreto de poesia
dentro dos vagões do metrô caem, por vezes, no colo desse espectador
televisivo, de seu filho empolgado pelo novo jogo em seu tablet. E
aquela leitura de poucas páginas, de amor, de piada, de política e até
metalinguagem pode despertar o gosto, o desejo por atiçar a parte
imaginativa tão esquecida, tão oculta e guardada num quotidiano que não
dá mais espaço para seu exercício.
Uma mente capaz de imaginar os olhos, boca e nariz da amada do poeta
também é capaz de usar dessa mesma imaginação para descortinar as
sombras veladas que os flashes das câmeras não alcançam. Cada dobra de
página, cada personagem que é construído gera a dúvida salutar de que se
Capitu traiu ou não Bentinho. Se a narrativa do jornal das 10 condiz ou
não com a verdade, se a perspectiva é mesmo a única possível, se outras
imagens não existem e contradizem aquela posta ao ar em rede nacional. Um poema de amor, num mundo onde a própria imaginação não tem mais vez, é um ato político. Um ato político de despertar pois " a poesia torna possível o que já se tornou impossível na prosa da realidade.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
domingo, 27 de dezembro de 2015
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Tropa Natalina
Começou como tropeiro
pelo sertão derradeiro
das muitas minas gerais,
bem longe das capitais
guiando burros em tropa
e com cavalo que trota!
Mula madrinha enfeitada
por muito chão, muita estrada
levava o comércio de ouro
dentro do embornal de couro
dos garimpos até os roçados
era ele muito aguardado
Trocou tropa pelo trem
e ao progresso disse amem
quando a ferrovia chegou
e novamente se inventou
pois dentro do seu vagão
todo, arroz, milho, feijão
Ele mesmo compraria
para vender lá na Bahia
e de lá vinha descendo
com o seu vagão trazendo
perfumes, panos, tecidos,
remédios e mil artigos
Por anos indo e vindo
fez ele seus dividendos
Casado com Terezinha
fizeram na vilazinha
seu comércio e pensão,
a maior da região.
Com a casa logo erguida
já quiseram em seguida
uma professora pra lá
para contas e beabá
ensinar pela primeira
vez para essa vila inteira
Nem tudo foi belo e bom
e num grito fora do tom
vieram os tiros de canhão
e trem, vagão e estação
já não existiam tais
e mudou-se uma vez mais
De Alfredo Graça pegaram
o último trem e pararam
na cidade de Teofilo Otoni
e eles sofreram ali
a triste separação
em nome da educação
De todos os seus filhos
Natalino foi nos trilhos
de volta para a fazenda
de seus pais numa contenda
lá para as margens do Rio
Setúbal num desafio
pelo sertão derradeiro
das muitas minas gerais,
bem longe das capitais
guiando burros em tropa
e com cavalo que trota!
Mula madrinha enfeitada
por muito chão, muita estrada
levava o comércio de ouro
dentro do embornal de couro
dos garimpos até os roçados
era ele muito aguardado
Trocou tropa pelo trem
e ao progresso disse amem
quando a ferrovia chegou
e novamente se inventou
pois dentro do seu vagão
todo, arroz, milho, feijão
Ele mesmo compraria
para vender lá na Bahia
e de lá vinha descendo
com o seu vagão trazendo
perfumes, panos, tecidos,
remédios e mil artigos
Por anos indo e vindo
fez ele seus dividendos
Casado com Terezinha
fizeram na vilazinha
seu comércio e pensão,
a maior da região.
Com a casa logo erguida
já quiseram em seguida
uma professora pra lá
para contas e beabá
ensinar pela primeira
vez para essa vila inteira
Nem tudo foi belo e bom
e num grito fora do tom
vieram os tiros de canhão
e trem, vagão e estação
já não existiam tais
e mudou-se uma vez mais
De Alfredo Graça pegaram
o último trem e pararam
na cidade de Teofilo Otoni
e eles sofreram ali
a triste separação
em nome da educação
De todos os seus filhos
Natalino foi nos trilhos
de volta para a fazenda
de seus pais numa contenda
lá para as margens do Rio
Setúbal num desafio
Feira Natalina
Quando sábado chegava
Seu Natalino montava
o seu cavalo Rosi
que já sabia pra onde ir:
de Santa Cruz, sua fazenda
até a feira buscar a renda.
Na vila do Jenipapo
era a feira de trapo,
rapadura, porco, pinga,
panela, couve, moringa,
linguiça, milho, feijão,
gado, queijo e requeijão....
Natalino bom mascate
na feira dava arremate
nas pagas e encomendas
que faziam pra sua moenda
de rapadura e cachaça
enquanto andava na praça.
Anotava, em prosa lenta,
num papel de letra atenta
uma nova e boa encomenda
Parava e resolvia a contenda
dum filho querendo comer
queijo e groselha beber
De passada lenta e aberta
andava como quem acerta
na sorte fazendo o que gosta
vivendo e vendendo a roça
que cuidava com carinho
tal pássaro do seu ninho
Essa vila orgulho lhe dava
quem dissesse não errava
do mercado até a Igreja
tinha da sua bemfazeja
cada rua cada calçada
fez com esmero de morada
Mas não fez sozinho é certo
tinha amigos bem diletos
com quem andava e proseava
e até versos declamava
histórias de assombração
e também de lampião
De boa prosa e jeito calmo
foi delegado da região
de Araçuai, Jenipapo,
de Machados, Badaró,
até Córrego das Velhas,
Berilo e também Chapada
Era um delegado diferente
desses tipos boa gente
não mandava prender
se dava pra resolver
com conversa, com conselho
via no outro sempre um espelho
Seus olhos azuis sérios
de contador de mistérios
de troças, de escalabros
de piadas e de causos
um mundo se emocionavam
quando seus filhos chegavam
Pois estudavam bem longe
Araçuai, Teofilo Otoni
e também Belo Horizonte
mas nas férias iam pra feira
nos burros e na traseira
do seu cavalo Rosi
Seu Natalino montava
o seu cavalo Rosi
que já sabia pra onde ir:
de Santa Cruz, sua fazenda
até a feira buscar a renda.
Na vila do Jenipapo
era a feira de trapo,
rapadura, porco, pinga,
panela, couve, moringa,
linguiça, milho, feijão,
gado, queijo e requeijão....
Natalino bom mascate
na feira dava arremate
nas pagas e encomendas
que faziam pra sua moenda
de rapadura e cachaça
enquanto andava na praça.
Anotava, em prosa lenta,
num papel de letra atenta
uma nova e boa encomenda
Parava e resolvia a contenda
dum filho querendo comer
queijo e groselha beber
De passada lenta e aberta
andava como quem acerta
na sorte fazendo o que gosta
vivendo e vendendo a roça
que cuidava com carinho
tal pássaro do seu ninho
Essa vila orgulho lhe dava
quem dissesse não errava
do mercado até a Igreja
tinha da sua bemfazeja
cada rua cada calçada
fez com esmero de morada
Mas não fez sozinho é certo
tinha amigos bem diletos
com quem andava e proseava
e até versos declamava
histórias de assombração
e também de lampião
De boa prosa e jeito calmo
foi delegado da região
de Araçuai, Jenipapo,
de Machados, Badaró,
até Córrego das Velhas,
Berilo e também Chapada
Era um delegado diferente
desses tipos boa gente
não mandava prender
se dava pra resolver
com conversa, com conselho
via no outro sempre um espelho
Seus olhos azuis sérios
de contador de mistérios
de troças, de escalabros
de piadas e de causos
um mundo se emocionavam
quando seus filhos chegavam
Pois estudavam bem longe
Araçuai, Teofilo Otoni
e também Belo Horizonte
mas nas férias iam pra feira
nos burros e na traseira
do seu cavalo Rosi
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Flâmula
Em seu talo eu me embalo
sua menina meretriz
e se diz: ‘‘ fela me o falo’’
seu falo felo feliz
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Lama
De vida, de morte
de jornada breve
Com acaso, sorte
e meu peso leve
De fome, banquete
natural, urbano,
selva, palacete,
animal e humano
Sou chama sou brisa
pra tudo que me
refresca e atiça
Sou terra sou água
pra tudo que me
soterra e deságua
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
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