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Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
Bobagem
Eu queria poder gritar,
mas dizem que não convém
Eu queria poder berrar,
mas não me vale um vintém
Não tenho peito de mar
sequer sei dizer amém
Não tenho olhos de ar
pelo tanto quanto além
Cabisbaixo quem procura
no bem claro o que perdeu
no mais que profundo breu
Não é poema, é loucura
reza forte dum ateu
que incrédulo se benzeu
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
segunda-feira, 25 de julho de 2016
delicado equilibrio
Há pobres com seus milhões
e ricos que vivem de esmola
doutores tendo lições
com sabidos sem escola
Há machos bem grandalhões
mostrando como rebola
E moças com mais culhões
que deixam homens na sola
Pois nessa vida nessa terra
veja bem, nada parece
com o que realmente se é
Quando acerta que se erra
na clara luz que anoitece
na mais puro cabaré
sábado, 9 de julho de 2016
Bilhete
em meu quarto cento e sete
o desejo de seu carinho
que mais e mais se repete
Cárcere
que me segura do malfeito pronto
do desatino em forma e conteúdo
riso e choro alternados em seu tanto
Eu tenho cá comigo um mal profundo
que não se cura com reza nem canto
sou, em suma, sujeito mais imundo
que jamais pisou em qualquer recanto
Eu queria meu fim finalmente
mas tenho apenas muros que me cercam
cuidadores amáveis que torturam
Trancado, louco ou demente
Dopado, rijo, frio que me secam
então morro com que os outros se curam
sexta-feira, 8 de julho de 2016
Sanatório
São vinte horas, é troca de turno
e a enfermeira Bela, seu jaleco
despe enquanto no quarto soturno
ele lhe tira mais c'o intelecto
Nua na cama tem um sonho noturno
do poeta que lhe queima e molha o nexo
e lhe leva de Vênus a Saturno
entre dor e gemido no mesmo eco
Com seu nome aos lábios assustada
acorda como se um beijo profundo
houvessem lhe roubado essa noite
Mas o beijo veio por Morgana a fada
que compadeceu do poeta imundo
de coração bom entre um e outro açoite
domingo, 3 de julho de 2016
Sextilha para FLIP
Pois queria eu estar em Paraty
mas demasiado cedo é para mim
ir onde as pedras lembram-me de ti
dos dias felizes que agora, enfim,
me doem por ser verão curto no inverno
que hoje aqui me abraça como eterno
quarta-feira, 29 de junho de 2016
Ressaca de mar
e depois tento
uma vez mais
guardo meus ais
Então lamento
o meu rebento
morto sem paz
navio sem cais
Eu nunca soube
me dar um fim
como um presente
Ou que me roube
meu camarim
de peça ausente
domingo, 26 de junho de 2016
sábado, 25 de junho de 2016
Virtuosismo
Eu sou tão viciado nisso
que mesmo no nosso chat
meu rimar eu não enguiço
numa salada de abacate
sexta-feira, 24 de junho de 2016
Adeus ,
como quem pede socorro
mas é por muito orgulhoso
de pedir um gesto morno
pra paz d'eu desventuroso
como quem diz num sussurro
do amor que grita estrondoso
em seu coração escuro
que teme seu próprio gozo
meu pé esquerdo ainda dói
pelo pulo da janela
do meu quarto num domingo
tanta culpa me corrói
pela lambança e esparrela
que fiz com tudo que sinto
quinta-feira, 23 de junho de 2016
Biográfico trinta
Sou, eu, verme inconformado
contrafeito querubim
d'arco e flecha despojado
maçã de gosto ruim
Mão perna e pé aprisionado
sob a pena de Aladim
de querer certo e errado
pelo não é pelo sim
Meu peito despedaçado
sem pó de pirim pim pim
tecido grosso rasgado
costurado com cetim
Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim
quarta-feira, 22 de junho de 2016
Trova quarenta e cinco para meia noite
Deixo meu grito calado
quero ir embora de mim
não me quero nem assado
e muito menos assim
sexta-feira, 17 de junho de 2016
Iminente
Então você anima
Fazer poema-repente
Um gole por rima
de fina aguardente
Não se subestima
a língua vidente
Que se desatina
no verso excelente
Vamos num clima
pra lá de excelente
Que não subestima
esse desejo latente
Parte masculina
que jaz eloquente
Parte feminina
faminta, saliente