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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Canto do Labirinto

Quanta fantasia
dos seus sussuros
guarda em ti, Cecília
quantos os delírios
ditos nos ouvidos
tais doces pecados
guarda em ti, Cecília
Hoje, no meu sonho,
curto entrecortado
sou eu quem delira

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

4lg0r1t1m0

Eu tenho uma enorme, 
GIGANTESCA, R4iv4 
de ter que censur4r 
as palavras para que 
o 4lg0r1t1m0 não me p3rsiga. 

Me sinto numa época 
completamente vigiad4 puritan4. 
É sufoc4nt3! É dit4dvr4. 
É infantil ter que censur4r pal4vrão, 
od3io ter que ler cool.

Eu quero a beleza 
do c e do u juntinhos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Trova T

Tortura tua timidez 
todo tato torturado
tem telúrica tristeza
traceja treme termina 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Em resumo (prolixo) quem sou eu?

Eu posso dizer que tenho uma imensa sorte, com 4 anos tem foto minha num piquete com minha avó protestando contra a interrupção das obras no vale do jequitinhonha. Mais tarde um pouco lá estava eu acompanhando meu pai na greve dos Bancários em BH. 

Já cortei dedo em estilete fazendo molde em radiografia pra silkar bandeiras, cartazes e camisas pra campanha no interior quando minha vó saiu candidata a prefeita numa chapa de mulheres quando a cidade dela ainda era distrito e ela teve a cara de pau de concorrer a prefeitura da cidade maior. Perdemos, também fizemos campanha pro Lula desde sempre e meu primeiro voto aos 16 foi no Lula em 2002. 

Cresci tomando guaraná no bar enquanto meu pai conversava com meu tio e com o garçom que já tinha sido do MST e era daqueles que tinha decorado o manifesto comunista. O garçom também sabia de cor todas as letras de Raul Seixas e apostava comigo quem sabia mais e ora eu tinha que cantar um trecho e ele falava o nome da música e noutra falava a música e eu tinha que mandar um trecho.

Acho que esse foi meu primeiro contato com a poesia misturado com política mas nem sempre política diretamente, ele me mostrou como as letras aparentemente inocentes podiam ter os conteúdos mais politizados mesmo falando de amor.

Um pouco antes de votar pela primeira vez com os mesmos  16 escrevia meus versos e brigava na escola defendendo o Lula e o PT. Levei a bandeira vermelha e fui parar na diretoria. Se meu pai não falasse comigo pra guardar a bandeira estava preparado pra ser expulso pois por mim eu não guardaria. 

Como era de se esperar não fiz muitos amigos na escola e também estudei em várias. Não tendo mais que um colega com quem conversava mais frequentemente dentro de toda a sala. Nunca socializei em eventos héteros, apesar de ser. E também ser o único entre meus amigos que fiz fora da escola, na liberdade da praça da liberdade em Belo Horizonte. O único menino que se interessava por meninas de toda a turma era eu, mas não era nada demais, as meninas também só se interessavam por meninas e assim eu ia levando num grupo onde eu me sentia bem acolhido e feliz. 

Minha poesia tinha política mas a vocação de ser subversivo era mais arraigada em mim. E por ironias mil nas aulas de literatura a professora exaltava o modernismo e a semana de 22.  Na minha cabeça só martelava a questão do que diabos era a métrica que eles estavam se libertando. O que se contrapunha ao verso livre que a autoridade da sala de aula tanto exaltava foi o que me chamou a atenção. 

Da mesma forma que fuçava no computador pra formatar o windows e instalar os jogos que só rodavam no meu PC herdado do escritório na base gambiarra eu fui atrás do outro lado da história, conhecer os tais malditos parnasianos cujos versos estéreis o modernismo parecia querer queimar.

Acabei encontrando ali uma trincheira, minha própria ditadura pela qual lutar, a do verso livre. Porque só se podia  escrever dessa maneira, porquê não havia espaço pros sonetos de Florbela ou do meu primeiro poeta Augusto dos Anjos. Foi por rebeldia que resolvi fazer sonetos. Quanta ironia.  E eu tomei gosto pela forma fixa com conteúdo subversivo.

E na mesma toada de conhecer as regras para poder quebra-las fui tortamente fazer Direito em Ouro Preto mas fui traído pela sedutora filosofia e por mais que me desse bem entre códigos e comentadores fui lá prestar outro vestibular pra Filosofia.  E decerto que foi aí minha alcova. 

Mas antes disso conheci o CA de Direito, fiz meus próprios piquetes contra a reitoria, até me estafar da luta estudantil ao mesmo tempo que eu me desiludia com o governo Lula. Tudo que eu achava que entendia era pouco ainda. Votava no PSTU como protesto sem saber exatamente qual o pretesto que eu estava apoiando no momento.

A filosofia era muito mais desafiante, instigantes e dificílima para minha pouca concentração. E lá fui eu pra biblioteca da UFMG pesquisar sobre mim mesmo e meio por acaso e a esmo encontrei sobre o que era o déficit de atenção. Que eu prefiro dizer que atenção eu tenho muita, só não controlo ela. Minha mente vai e vem pra onde ela quer. Se interessa quando lhe convém. 

Na UFMG o movimento estudantil me tinha como apoiador, era um calouro não calouro. Que se achava experiente e maduro demais. Mas já não fazia mais sentido gritar contra ALCA e FMI. Nem as propostas de reuni me pareciam tão erradas assim. O curso de medicina não aumentava suas vagas desde a época que meu tio mais velho se formou há meio século.

Voltando a descoberta do TDAH, descoberto esse conjunto de explicações eu fiz testes, fiz enquetes, usei meus amigos de grupo controle e cheguei numa consulta com um neurologista com uma farta documentação, quase que um laudo pronto na mão.  Era a melhor explicação pras minhas inquietudes, minha constante vontade de contraposição. A Rita não me levou o sorriso, aliás graças a ritalina consegui ganhar um pouco de controle da minha vida.  

Mas não deixei de flertar com o desafio, com as intensidades, foi uma doce calamidade conhecer o bdsm, o universo fetichista.  Explorar novas transgressões, sentir novos tesões e provocar tensões com novos temas pros meus versos que já não se prendiam aos decassilabos. Eu inocente e arrogante fui logo me meter a fazer decassilabos, heróicos, sáficos... O martelo agalopado venceu minha arrogância pois na época não consegui jamais fazer um.  Meus versos perversos foram pras singelas redondilhas, muitíssimo macias aos ouvidos.

Eu simplesmente amava (e ainda amo) adocicar os ouvidos do leitor com versos confortáveis para que a temática mais suja ou revolucionária lhe pegue no contrapé. Foram bons tempos na filosofia mas minha eterna insatisfação levou meu tesão pra longe da sala de aula. E graças ao ENEM fui atrás da poesia em terras cariocas.

Letras na UFRJ era minha desculpa, eu só queria sair das montanhas de minas mudar de horizontes pois os de BH já não me pareciam tão belos.  Levei uma poupança miúda, um colchonete e uns livretos de poesia. Sim, livretos moro no Brasil, falo português e jamais fiz um zine sequer.

Nos bares de BH eu sentava pedia uma cerveja tomava o primeiro copo, levantava e distribuía pelas mesas ao redor minha poesia. Muito tímido deixava que as pessoas mesmo lessem meus versos em paz, eu não ficava por detrás fiscalizando. Distribuía nas mesas e voltava pra minha cerveja. Depois de finda a primeira cerveja passava de mesa em mesa recolhendo os livretos desprezados, conversando com os leitores mais animados e recolhendo os trocados  dos que tinham apreciado os meus versos. Não era muita grana, pagava a conta do bar, o tiragosto e as vezes sobrava um pouco. 

No Rio conheci a bela Balbúrdia chamada Supervia, o sistema de trens urbanos carioca que era um verdadeiro shopping sobre trilhos onde de tudo comprava e também vendia.  Adaptei meu esquema do bar para o vagão e me surpreendi com o resultado. Se antes eu fazia vinte livretos para levar pro bar e sabia que ia sobrar, agora se eu levasse menos de cem ficava com medo de acabar.

Eu nem acreditava que minha professora estava errada, que ainda havia espaço pra poesia com forma e rima.  E a poesia se tornou meu ganha-pão. Vivia, bebia, vestida, comia e morava graças a ela, de vagão em vagão que eu vagava levando meus versos e comecei a me sentir seguro de me chamar de Poeta. Lancei meus dois livros em 2012 e depois 14.   Ambos com o apoio exclusivo dos meus leitores e amigos. O primeiro através da lei Rouanet de pessoas físicas que não sabiam que podiam doar e abater 100% do valor no IR. E segundo exclusivamente com dinheiro dos vagões.

Lancei ambos com o apoio de uma empresa com quem namoro desde que cheguei ao Rio, a Poeme-se.  Foi nos estandes dela que fiz o lançamento de ambos.  Contando com a presença de quem me conhecia e sabia desse projeto de poesia sobre trilhos. Mas Como o bicho de estimação ( meu querido TDAh) que carrego comigo não me deixa parado durante esses anos criei minha anti editora, a Prensa Mínima e publicava a preço de custo livretos de novos poetas que queriam se aventurar no universo literário. Foram mais de 20 nomes lançados.  Poesia sobre trilhos saiu pelas minhas mãos em 30 edições comuns, 1 infantil e outra erótica totalizando 60 mil livretos postos em circulação só por mim.

Com o tempo descobri outros nomes contemporâneos afeitos a métrica como o genial Glauco Mattoso que por coincidência também publicava seus poemas independentes ainda na época da máquina de escrever, fazendo incríveis poemas concretos  antes de se tornar cego quando então se voltou aos sonetos. Somos tão semelhantes mas também simetricamente opostos!  No amor pelo fetiche, pelo verso em suas formas. Mas ele gay, podolatra e masoquista.  Vamos dizer que ele é meu grande mestre vivo. Um poeta sem igual. 

Depois de tanto tempo de namoro aceitei o desafio e entrei pra Poeme-se onde hoje sou o curador das estampas, trabalhando em sua concepção, pesquisando e encontrando novas maneiras de colocar a poesia em Movimento.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Haicai de Orvalho

a língua em curva
lambe e lateja seu sexo
molhado de chuva

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Balada para um espelho

Ipê florido do meu cerrado
vaidosa cor roxa que atrai
o olhar cobiçoso e cobiçado
sendo seu filho, irmão e pai
É você espelho casto de mim
que do meu fogo compartilha
balada desse bandolim
meu amor meu, minha Cecília

Em cada toque dos meus dedos
em nota, num suspiro, num ai
rezando por todos os credos
pecados que nos tanto atrai
A fome que une nosso fim
nosso parnaso, nossa idília 
nossos nãos feito nosso sim
meu amor meu, minha Cecília

Por tanto tempo os Segredos
guardamos como alguém que cai
numa armadilha de brinquedo
agora diz, como a gente sai?
Sacros segredos em latim
com medos na coleira e guia
ganindo no nosso festim
meu amor meu, minha Cecília

Ouro manchado de carmim
somos nós Dirceu e Marília
na poesia entre seus rins
meu amor meu, minha Cecília

espelho

É você espelho casto de mim
que do meu fogo compartilha
na balada dum bandolim
meu amor meu, minha Cecília

Em cada toque dos meus dedos
uma nota, um suspiro, um ai
rezando por todos os credos
e pecados que tanto atrai

a fome que une nosso fim
nosso parnaso, nossa idília 
nossos nãos e no nosso sim
somos nós Dirceu e Marília

Por tanto tempo os Segredos
guardamos como alguém que cai
numa armadilha de brinquedo
agora diz, como a gente sai?

Caminhos

Entre a stairway to heaven 
e a highway to hell
Prefiro apanhar 
um táxi lunar

domingo, 19 de setembro de 2021

Triolé para Cecília

Penso em ti Cecília, Cecília
em cada sonho ou vigília
em cada suspiro ou transpiro
Penso em ti Cecília, Cecília
entre nossos mares de morros
entre pecados e capelas
Penso em ti Cecília, Cecília
em cada sonho ou vigília 

sábado, 28 de agosto de 2021

Em lá maior

Ligo o rádio e só toca
sempre o velho do re mi
mas meu coração coloca
meus ouvidos só pra ti
eufônica de tão bela
minha menina Mirela

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Rondó para Cecília

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Da nossa própria canção
nos passos e nos compassos
feita em verso, linha e traços
que nos ressoa o clamor

Medidas pela escansão
nos contempla tal crianças
de nossas secretas danças
pois sou seu versejador

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Nos diverte a discussão
que o Neoclássico acelera
e Barroco essa quimera
embala o fio sonhador

Fazemos da arte a lição
nosso pathos tão levado
e o rococó com cuidado
tecendo gotas de dor

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Pois quando acerto a mão
por nossas fomes aflitas
corro cordas tranço fitas 
lhe ato e desato em louvor

Nos céus eis constelação:
Psices et Virgo juntos
em nós somos sonhos mútuos
num destino bem maior

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Alvorece na nova estação
deste adolescer amável
um par óbvio e improvável
Insatisfeito fulgor

Narcisos, mútua visão
somos eternos infantes
pelo amanhã, no hoje e dantes
eis musa e compositor

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Com Caetano e um violão
numa cantinga de roda
lhe dou toda, toda corda
com ganas de amarrador

E me confessa a paixão
num soneto de bocage
convite pruma viagem
prima minha meu amor

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

Canta comigo essa ilusão
sê meu querubim rebelde
de puro desejo e sede
nave, altar e confessor

És minha religião
minha musa, minha deusa
sem ti sou eu, só tristeza
de sonhar sem qualquer cor

É, Cecília, meu amor
sigo seu passo onde for
rodeado por semelhanças
Iguais sem tirar nem por

sábado, 21 de agosto de 2021

Sinal Fechado

Certa vez eu entrei no metrô para vender poesia como sempre fazia todos os dias, porém havia algo de estranho. Pois as pessoas estavam com uma cara tão triste mas tão triste que eu pensei que tinha morrido alguma figura muito querida e popular. Estava todo mundo com cara de enterro, de luto mesmo. Procurei saber, quem tinha morrido era o sol que não aparecia a uma semana. Cariocas não sabem lidar com dias de chuva, cariocas não gostam de dias nublados.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Bonjour, Happy hour

Sede de saliva cannabis sativa
Vem, se achegue e aconchege-se
Sex to you, sextou my baby
Vem você de vinho, vem

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Micro conto em 140 caracteres

Era perfecionista, mas também manco e sua perna esquerda teimava em alcançar a direita.  Caminhava sempre, pontualmente, em sentido horário.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

porquê a verdade não vence a mentira

Não há argumentação possível contra negacionistas ou revisionistas históricos. É uma questão de economia básica. Enquanto a ciência prescinde de pesquisa, estudo e elaboração para corroborar suas teses o revisionismo precisa só de criatividade, retórica e imaginação. 

Ou seja: O tempo que eu gastaria comprovando que esse texto é uma bosta é muito maior que o tempo que gastou quem escreveu esse espantalho.  E mesmo se eu refuta-lo o autor pode simplesmente inventar outro argumento tirado da bunda sem qualquer trabalho. 

Por isso só dá pra discutir com quem está usando os mesmos paramentos técnicos, o mesmo rigor científico. Fora disso é pura perda de tempo.

Para combater notícias falsas não basta  jornalismo competente ou esclarecimento científico. É preciso de força política e econômica. Por isso iniciativas que cortam o financiamento dos propagadores de mentiras são muito mais eficientes que sites de checagem de fatos.  Checar fatos é um instrumental que legítima as ações de combate às mentiras. Mas sozinho, esse instrumento, não é capaz de mudar a propaganda de mentiras.