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Poeta e apenas poeta

Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Descontrole

Certa vez uma moça veio em minha casa com uma blusa listrada estávamos morrendo de saudades um do outro, da moça e não da blusa obviamente. Depois de duas garrafas de vinho a blusa se misturou com minhas calças em algum canto do quarto e minhas pernas se misturaram com suas coxas na cama.
Foi uma longa noite que poderia durar uma semana de tão gostosa que estava, mas na manhã seguinte, depois de termos dado uma segunda rodada e tomado café, ela me pergunta: — Tô muito descabelada? — Não até que não está, seu cabelo continua lindo. Eu disse sorrindo, o cabelo dela era incrível continuava perfeito mesmo no dia seguinte. Mas ela parecia contrariada: — Me ajuda a encontrar minha blusa listrada? Procuramos, reviramos, travesseiros, cobertores, tapetes, roupas, toalhas e nada. Nem o menor sinal da blusa listrada. Fomos nos dois derrotados pelos gnomos esconde dores de roupas. E eu emprestei uma camiseta minha de cor amarela que combinava bem com sua pele. Não era como a dela. Mas serviria por enquanto. Ela terminou de se vestir tomou o carro de transporte e foi para sua casa. Chegando a tempo do almoço de família. Voltei para casa, pros meus afazeres sérios de procrastinar meu dia. Até que me dei conta que tinha perdido o controle remoto da televisão e novamente me meti na labuta de revirar o quarto... e não é que nesse momento a blusa listrada ressurge do nada? Estava enroscada junto com as cordas que ela tanto se amarra que eu usei nela. — Achei sua blusa listrada. — Não creio! Como você achou? — Procurando o controle da tv. — Tá foda né! — Vê se você por acaso não vestiu ele ai — Meu Deus!

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Tá achando que esquerda é bagunça?

Tem algo que eu odeio mais que bolsonarista. É o tal do Isentão, isentão que já está jogando o Bolsonaro no colo da esquerda como se fossem a mesma coisa. Como se não tivessem apertado felizes 17 com a esperança do Bozo vender até a última estatal e privatizar até o ar de nossos pulmões. E agora que viram que o Filho duma chocadeira é exatamente como a gente descreveu e como ele próprio dizia que ele era. Estão correndo pra de livrar da culpa e se mostrarem como salvadores da pátria. 

Sinceramente? Quem botou ele lá que tire.  Sim senhora Globo, sim senhor Dória, Witzel, Aécio, Zema e companhia. Quando vocês fizeram a merda de manipular o debate em 89 para botar Collor lá o PT fez das tripas coração pra tirar o playboy de lá. Mas todo desgaste de tirar o bode da sala rendeu louros para o príncipe dos sociólogos o novo queridinho da Vênus Platinada. 

Agora fazer cara de nojinho, dizer-se arrependido, enganado, surpreso só me dá vontade de arrastar a cara de cada um de vocês no asfalto quente. Porquê é muita cara de pau. Os trinta anos desse merda no congresso não deixavam dúvidas de seu sonho dourado Miliciano. Até a porra da sua camisa de campanha era uma imitação barata do pôster do poderoso chefão! E que vontade de xingar quem dizia que eu estava sendo exagerado quando eu apontei isso na campanha, que isso era mera coincidência. Pois até seu condomínio é um condomínio mafioso com assassinos e traficantes de armas como vizinhos! É uma paródia mais que perfeita. 

Não me venha botar mais essa na conta da esquerda. Já tô de saco cheio de arguir os historiadores sobre esses assuntos, assim eles merecerão ganhar adicional de insalubridade para responder perguntas como estas se Bolsonarismo, integralismo e nazismo são de direita ou de esquerda. Porquê anauê é o raio que o parta.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

O que diria Fedro?

Cada deus embriagado
numa arena enluarada
no hipódromo do Olimpo
de mão em mão a sua benção

Por eles agraciado
com a minha biga alada
de chucros cavalos negros
Distraído e Depressão

Não basta vinho de Baco
nem os  beijos de Afrodite
e por mais que Eris me irrite

Pra Apolo não tenho saco
Hera e Zeus? Não sou padre.
quiçá ao Hades se acabe!

sábado, 2 de maio de 2020

Era como se fosse Domingo

Ele já teve uma casa boa para ir em cada capital. Para pernoitar, se deixar ficar e se arrumar. Antes, depois e após cada festa e funeral. E eram muitos os que já fora convidado. Sim, já fora convidado. Não mais. Nunca mais.  Hoje nesse primeiro de maio de ruas desertas e infectadas doía sua barriga de fome, suas víceras de vício. 

Nunca fora por assim dizer um trabalhador. Mas sempre um entusiasmado defensor de suas causas. Suas pernas cansadas pararam, sua respiração pesada por detrás da máscara pediam por um ar fresco inexistente.

Sacou o molho de chaves, ela não trocaria o segredo, não importa o que acontecesse. Era contra seus princípios. Arrastou o portão de ferro que rangeu em protesto como sempre fez nesses trinta e três anos que moravam ali. Ele riu-se havia vinte que já não morava mais. Mas onde ele diria que era sua casa senão ali?  
 
O Primogênito pousou seu pé no primeiro degrau e forçou seu corpo magro ao alto como se o mesmo de repente pesasse muitas arrobas. Vencendo os degraus pouco a pouco viu que o arrombado do seu irmão caçula fora alertado pelo portão escandaloso como acontecia sempre que ele tentava voltar desapercebido das escapadas noturnas. 

Marcelo vestia em seu corpanzil de ex atleta obeso um passeio completo com direito gravata, quem mais faria isso para visitar os próprios pais no feriado no dia do trabalhador, ou como diria o próprio dia do trabalho? Mas não, não usava máscara tinha dinheiro para pagar as vacinas importadas que custavam seu peso em ouro.

- Marcos, Mamãe não vai lhe receber - disse Marcelo em meio a mini floresta que era a entrada da casa após a escadaria - Nós estamos no meio do almoço.
- Mas já são três e quarenta e cinco da tarde - exasperou Marcos de olhos injetados - Ninguém almoça tão tarde. 

O portão lá embaixo bateu, ambos os irmãos ignoraram solenemente. A campainha estava estragada novamente?

- Quinze pras quatro - Marcelo, corrigiu friamente - Você bem sabe como papai se demora para cozinhar nos fins de semana.
- Quem se importa, não vou me demorar - insistiu
- Hoje não Marcos, não comigo aqui. 

O portão bateu novamente, agora ambos se entreolharam e o ar contaminado pesou ainda mais. 

- Você não tem esse direito. - Marcos rosnou por detrás da máscara. 
- Não só tenho como estou fazendo. - sorriu triunfante de orelha a orelha e completou como dá ordens a um subalterno - Já está na hora de ir  vá ver quem está no portão, sua mãe espera por seu filho. Parece que você não conseguiu estragar de todo o garoto.

Fuzilado por aquelas palavras tateou cegamente sem resposta o corrimão da escada, desceu como um cão enxotado da porta da igreja, desceu cambaleante  se apoiando nos espaços vazios que encontrava pelo caminho até se separar com o portão dedo duro que xingou mentalmente pela milionésima vez.  Ao abrir o portão deu-se de cara com o grande clichê, a sua versão mais jovem, melhorada, sem todas as suas burradas, erros e cagadas.

- Pai - Miguel olhou pra ele num misto de espanto e alegria e o abraçou - Não esperava ver você aqui. Vovó deve estar tão feliz! Já faz meses que ela fala que estava preocupada contigo.
- Não pude entrar, Marcelo. - Marcos cortou secamente.
- Filho da Puta! - Gritou Miguel na fúria dos dezoito anos.  - isso não vai ficar assim.
- Não faça isso, não se exalte assim, não compre essa briga. Eu não valho a pena - os olhos de Marcos estavam completamente vazios - escolha melhor do que eu as brigas que vai entrar.
- Então eu vou com você, vamos almoçar juntos! - Miguel disse num estalo -  Abriu um restaurante de comida inuite novo que está todo mundo comentando que adoraria que fosse comigo. 
- Eu já almocei são quinze pras quatro - mentiu Marcelo - quem almoça a essa hora? Além do mais mamãe iria ficar muito triste em não ver seu neto favorito. - completou rindo
- Mas eu sou o único! 
- Justamente!
- Como eu lhe encontro? 
- Meus contatos continuam os mesmos.
- Mas você nunca responde.
- prometo que agora vou responder
- Vamos almoçar juntos essa semana?
- Vamos.
- Promete?
- Prometo.

Marcelo deu um abraço afetuoso em seu filho, o viu subir as escadas, fechou e trancou o portão.
Caminhou sem rumo  ou direção. Sentou numa praça. Sentia fome. Mas pior que isso era o que lhe despedaçava o orgulho. E se pôs a chorar o velório da sua vida de merda.

sexta-feira, 6 de março de 2020

Porquê o mineiro se encanta ao ver o mar

Mineiro tem mais culpa na alma do que tem  minério nas suas montanhas. O minério século após século escavamos, primeiro ouro, depois o conto diamantino, por fim o pesado minério de ferro vermelho, sanguíneo, perene que tudo mancha e não sai. A cada chuva após caprichosa estiagem faz das estradas um rio vermelho, um fluxo menstrual de pó de asfalto, minério e água. Mas, ao menos dessa, vez não há lençol branco para se esconder. O que nunca mudou foi a culpa. A culpa essa estranha a gente entranha cada vez mais. Culpa, matéria prima da Santa Igreja Católica Apostólica Romana que montanha por montanha por suas ordens terceiras ergueu igrejas lindas Barrocas, Rococós, ornamentadas com folhas douradas, meticulosamente entalhadas, esculpidas,  cravejadas, madeira, pedra-sabão e rubi. Vigiar e punir foi lavrado nas bateias de ouro preto bem antes de ser cunhado em terras além-mar, por aqui há muita janela lateral para pouca namoradeira. Culpa, medo, tão fortes são que até tombamento histórico prévio de igrejinha recém inaugurada se faz em minas. Os horizontes são belos mas, que medo que dá saber o que há do lado de lá das montanhas que se vêem na linha do horizonte para todo lado que se olha, estar cercado de montanhas é ter muralhas naturais em cada uma de suas grandes ou pequenas cidadezinhas, que igualmente protegem e sufocam.

quarta-feira, 4 de março de 2020

Paz(tiche)

Encontrei a paz
e já aceito bem
meu vício é ver
um ser qualquer
transpirando
ao talhar a pedra,
ou numa pintura,
fazendo seu verso,
no seu gozo,
numa laje
vira massa,
vira terra,
numa horta,
num pomar,
num jardim,
no canteiro
central da
autopista
numa máquina,
numa troca
de pessoa
ao volante,
que se joga
pro seu canto
reza forte
para Bara
erra o tiro
mas o berro
da polícia
tá chegando;

Minha musa
tão safada
vê beleza
nisso tudo,
bebo um gole
de não sei
também sou
caprichoso
indolente
com meus versos
pasticheando
num sadeano
prazer métrico.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Poliana polivalente

Porquê matar dois coelhos
com uma caixa d'água só
é usar vestido de festa 
junina no carnaval

De saco cheio: Poema x Poesia

Poema é o que você 
rasga, embola, joga fora
e finge que nunca existiu
porque ficou uma merda.

Poesia foi o que você
achou que era motivo 
inspirador o bastante
pra escrever aquela merda.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A RABA DA BUNDA

Olê aí a ô
A raba da bunda
Olê aí a ô

[A raba da bunda
Olê aí a ô]

Nessa raba tem um rego
Ó que rego!
Belo rego!
Ai ai ai que amor de rego
O rego da raba

[REFRÃO]

Nesse rego tem um cu
Ó que cu!
Belo cu!
Ai ai ai que amor de cu
O cu do rego
O rego da raba

[REFRÃO]

Nesse cu tem um fogo
Ó que fogo!
Belo fogo!
Ai Ai Ai que amor de fogo
O fogo do cu
O cu do rego
O rego da raba

[REFRÃO]

Neste fogo tem um tesão
Ó que tesão!
Belo tesão!
Ai ai ai que amor de tesão
O tesão do fogo
O fogo do cu
O cu do rego
O rego da raba

[REFRÃO]

Nesse tesão tem uma pegada
Ó que pegada!
Bela pegada!
Ai ai ai que amor de pegada
A pegada do tesão
O tesão do fogo
O fogo do cu
O cu do rego
O rego da raba

[REFRÃO]

Nessa pegada tem uma tara
Ó que tara!
Bela tara!
Ai ai ai que amor de tara
A tara da pegada
A pegada do tesão
O tesão do fogo
O fogo do cu
O cu do rego
O rego da raba

[REFRÃO]

Nesta tara tem uma cintura
Ó Que cintura!
Bela cintura!
Ai ai ai que amor de cintura
A cintura da tara
A tara da pegada
A pegada do tesão
O tesão do fogo
O fogo do cu
O cu do rego
O rego da raba

[REFRÃO]

Nessa cintura tem uma raba
Ó Que raba!
Bela raba!
Ai ai ai que amor de raba
A raba da cintura
A cintura da tara
A tara da pegada
A pegada do tesão
O tesão do fogo
O fogo do cu
O cu do rego
O rego da raba

[REFRÃO]

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Metafísica

O órgão do prazer
sensual é o cérebro  
restante é acessório
Orgasmo é a mente
trespassando o corpo

Que surge e se sente
em tantas partes
e de tantas formas
quanto se há poros
no seu rosto.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Mediterrâneo

Sei que há quem cultive
amores platônicos...
Mas eu me dou mais
com o beijo grego

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Dissoneto

Eu gosto mesmo de conduzir
sem pressa e trocar marchas
dedilhar com muito carinho
testar limites e fazer absurdos

Levantar sua saia e comer 
seu rabinho no capô do carro 
debaixo do viaduto as duas 
da madrugada num dia de semana

Eu normalmente não fumo
mas você quer um cigarro
tem no porta luvas do carro

Um trago enquanto me refaço
em seu boquete pós sexo
limpando meu falo de seu cu

sábado, 30 de novembro de 2019

Djafu

Teus milicos se metem as mãos nos pés Mas pra fora eu te incendeio Teu votar não me diz exato o que tu queres Mesmo assim eu te incendeio Te venderia a qualquer preço Porque sou ignorante e mereço te incendiaria tal Caetano a Leonardo di Caprio é um milagre Tudo que Deus criou foi via lei rouanet Fez a Ancine, fez o Niemeyer Sem pensar em nada, fez a familicia e deu no que deu

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Das vaidades post mortem

Podem mijar no meu túmulo
quebrar o meu epitáfio
até foder com meu cadáver...

Mas, por obséquio, jamais
coloquem os seus poemas
piegas na minha boca!

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Dos anais contemporâneos da arte moderna

Estávamos saindo de casa cedo e  só fui me atentar quando vi a van dos correios estacionada na porta. E me lembrei da cartinha que tinha encomenda me esperando lá nos correios e eu nem me lembrava do que era. Foi uma aventura buscar. E quando conseguimos pegar e abrir os olhinhos dela brilharam tanto!  Eu me fiz de desentendido quando cheguei do trabalho e o meu banho estava preparado na banheira, me fiz de desentendido quando ela quis buscar não sei o que lá embaixo. 

Foi delicioso torturá-la como se não soubesse da ansiedade dela. Só depois de tomarmos um vinho. Pois é, recomendações médicas. Já não posso mais beber cerveja como bebia, nem destilado e muito menos do outro lado. 

Ao menos as práticas sodomitas contínuo liberado. O que seria de mim sem meus rabinhos servis a disposição? Eu durmo tarde pra caramba. Tô sem um pingo de sono. Amanhã acordo com ela me trazendo o café e levanto pra levá-la na biblioteca pra ela estudar pro seu projeto de pesquisa e depois vou pro trabalho fazer minhas pesquisas pra curadoria. 

Ver ela dormindo deitada no seu colo segurando seu pau e roncando de levinho  toda arrombada,  com o bumbum vermelho e ardido depois de ser usada, abusada e orgasmada de mil maneiras diferentes é um prazer único. fico aqui só olhando pra ela e admirando. 

Tá coberta, tá dormindo tão bonitinho com a mão no meu pau, ainda como um nenê, de vez em quando faço um cafuné.Mas a cabeça vai voltar pra noite onde ela abriu toda feliz os embrulhos dos arreios novinhos que chegaram, os arreios de cintura, coxas, de dorso, seios.. Foi um pedido dela, hoje era o último dia de buscar nos correios e eu tinha me esquecido.

Ela toda amarrada, apertada, empinada, arreada para mim, irresistível com os seios empinados, deliciosos, um convite malicioso que eu eu não poderia negar jamais, me levantei como quem vai avaliar melhor o presente que deu. e cheguei mais perto e apertei as fivelas, uma a uma. ajustando onde estava frouxo, deixando justo, 

Colocando suas carnes já não tão mais magrinhas como quando a conheci na justa medida dos arreios, sim conforme lhe apresentei os prazeres da gula e da bebedeira alguns quilogramas a mais de pura delícia apareceram em seu delicioso corpo. Só para meu prazer. Deslizei minhas mãos pelo seu corpo. passeei pelos seus cabelos, seios, lábios, sexo.  Tudo delicioso. Peguei no baú a varinha mágica, e as fitas expansíveis de esportistas e as posicionei bem colocadas para segurar bem em cima de seu sexo de modo a lhe causar delírios. 

Os quadros novos nas paredes eram uma boa inspiração, me sentia um mecenas de arte contemporâneo, um alguém cheio de virtude e como tal podia e devia brindar e comemorar da maneiras mais dionisíacas nessa noite pois a arte não vive só de momentos apolíneos. E na minha parede de mapas e bordados a prendi as mãos nas coleiras afixadas no tapume de madeira. 

Lhe dei com bastante  carinho cutisanol e bepantol em seu orifício anal enquanto massageava calmamente suas nádegas com um gel dotado de vitamina E. Seu rabinho brilhava no espelho e a varinha mágica fazia seu corpo todo tremer e já era possível ver seu líquido de prazer escorrer na altura dos joelhos.  E para completar o conjunto a pluguei com uma joia de minha cor favorita, o vermelho. 

Retirei um chicote, uma focinheira, uma sineta e instalei a focinheira e a sineta. O jogo era mais divertido assim. Não se tratava apenas da dor pura e simples. Havia um espelho de frente a nós e todos os nossos movimentos eram vistos e revistos, cada gesto, cada segundo nosso era  contado e recontado, ajustado e medido. O menor barulho da sineta faria a punição do chicote ser pior.  E então comecei, o chicote bem de leve, a tensão de não fazer barulho a fazia imóvel, estática, era a pior tortura. não poder esboçar reação. 

Nenhuma reação a varinha mágica, nenhuma reação aos tapas, as carícias, as lambidas, toques, invasões, usos e abusos, e os vermelhos, vergões sofreguidões iam se tornando cada hora mais intensos e ousados.  Até que me dei por satisfeito, ambas as nádegas já estavam da cor que eu queriam de um vermelho bonito, um vermelho lindo. Um vermelho carmim e reconfortante ao toque. 

Retirei com carinho o plug  e meu falo o substituiu com toda fluidez, um suspiro marcou o contato de minha virilha com suas nádegas róseo-rubras e minha penetração foi intensa como ditava a vontade narcísica do espelho que estava ali em frente. Ela amarrada na parede de sisal não cabia outra alternativa senão penetrá-la mais e mais enquanto o estímulo vaginal incessante vindo da varinha mágica lhe mantinha no transe constante. 

A penetração passou ela fases de seu corpo todo arrepiar, de seu corpo todo arquear, de seus arfares, de seu pedido delirante para parar, de sua respiração pesada, de seu tremor delirante, de seu implorar, o tremor intenso e absoluto, de sentir meu falo inteiro sendo devorado durante o orgasmo que apertava e soltava enquanto suas pernas fraquejavam e o corpo tremia  e voltava em um inconfundível deleite, até meu próprio gozo, seguido de uma pequena tortura após.  onde pude deliciar-me  com meu brinquedinho semi desfalecido em seu calvário,  presa pelas mãos sustentada pela minha pica e mãos. a varinha em seu sexo já dormente. E eu calmamente ainda lhe fodendo o rabo como se nada tivesse acontecido, por pura maldade. 

Para só depois soltar mãos, braços, antebraços e tudo mais da parede  dos bordados , coleiras mapas e sisal. a levei pra cama, onde tiramos seus arreios, e seu rosto de menina satisfeita e feliz contrastava com sua exaustão e desejo de quero mais, deitou-se aninhada à minha perna esquerda, querendo mais, mas adormeceu ali, segurando meu pau, como um bebê com seu brinquedo favorito.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Com quantos esqueletos se faz um armário?

"Comunista é o pseudônimo que os
conservadores e saudosistas do fascismo
inventaram para designar todo sujeito
que luta por justiça social."
Érico Veríssimo

Uma decisão do STF, muito teatro, muitas idas e vindas. Se era cláusula pétrea foi só pra tirar o Lula da eleição? Aécio se arrepende de todo o movimento parar tirar a Dilma do poder? Deixar ela sangrando até o fim de 2018 para sair de lá junto com o PT com a (im)popularidade do Temer não era uma opção? Seria ele o presidente hoje se o pais não tivesse pegado fogo com Cunha, Moro e cia? 

Todas essas questões eram tão importantes num passado não tão distante, agora me parecem trivialidades, quase jogo de cena política. Novela das seis que se assiste em família antes do jornal local.  O que me assombra agora é: Haverá uma guerra entre Lula e Bolsonaro? Entre Esquerda e Direita? Entre Civilização e Barbárie? Será política-eleitoral ou as ruas serão tomadas? Se serão tomadas será por flores ou por tanques?

Se por um lado sinto saudades de um tempo onde eu conseguia brincar com meu adversário político, que conseguia enxergar em Serras, Neves e Alckmins, indivíduos que apesar de calhordas alguma forma de civilização ainda existia ali dentro e que se perdesse uma eleição para eles os direitos e garantias individuais estariam "assegurados"  

Eu vejo que tudo isso não passa de uma tremenda ilusão. Esses direitos, essas garantias nunca estiveram assegurados no Brasil, vivemos sob uma guerra surda, muda e abscondida de nós e por nós mesmos com uma boa ajuda da Impressa e da pior parte classe política que comemora toda vez que alguém diz que todos os políticos são iguais. 

Precisamos dessa guerra há décadas. Tivemos um arremedo de anistia que varreu pra debaixo do tapete todas as tensões sociais do país. E o preto, pobre, bicha, favelado, nordestino, etc continuou sendo preterido, morto, perseguido. 

Passamos de 1989 a 2002 sendo governados pelos mesmos políticos que governavam na ditadura mas agora com um verniz de neutralidade, de tecnicidade, e até de viés esquerdista no discurso. 

Finalmente o país está se passando a limpo. O fascismo que matou os meninos da candelária em 1993 nunca deixou de existir, apenas esteve escondido, dissimulado, matando, estuprando, destruindo sonhos e vidas em igual medida.  

Com a ascensão do PT ao governo os mínimos e tímidos progressos que tivemos, em parte por culpa do próprio PT e em parte pelos avanços da sociedade onde os setores marginalizados começaram a se organizar e a fazer valer seu lugar. 

O Fascismo ficou incomodado demais, raivoso demais com a petulância da bicha que não aceitava ficar no armário e queria casar, da  arrogância da filha do porteiro que agora era Doutora, com o descaramento de ver nordestino não no pau-de-arara mas no aeroporto. Os ossos começaram a chacoalhar no armário mais do que deviam.

O fascismo que "só queria dar um susto no mendigo" e acabou matando o Índio Galdino em 1997 sempre esteve ai na surdina, na espreita matando calado enquanto fazíamos vistas grossas. Mas quanto mais gente falava alto como a irmã Dorothy fez até ser calada em 2005 ou Chico Mendes em 1988 menos esse fascismo consegue ficar escondido. 

Mais esse fascismo sonha com os áureos tempos do CCC, não se contentam com o que fizeram em Carajás (1996) ou no Carandiru (1992) é muito pouco sangue para os padrões que estão acostumados quando tinham todos os porões do DOPS para seu bel Prazer. O que são mais esses ossos no armário de quem já colocou um cemitério inteiro?

Hoje precisam engavetar processos usando promotores de (in)justiça como no caso do Amarildo.  E eles não suportam esses entraves do estado democrático de direito. A décima demão de verniz que o DEM recebeu para esconder que já foi PFL/PDS/ARENA/UDN já não estava fazendo bem  pra pele dos fascistas. 

O PSL deu uma lufada de ar fresco, tirou do armário toda essa corja mais abjeta que sempre esteve ali na surdina,  sustentando e sustentados por milicianos em cada esquina.  Deram a cara, vieram dizer um basta para essa balbúrdia, para esse monte de gente que está subvertendo a ordem natural das coisas. 

Sim, subversivos, essa palavra consta no treinamento da PM mineira e foi com ela que o carro de som passou ameaçando os manifestantes no fim de um dia de protesto em 2013 sob o governo Demo-tucano de Minas Gerais.

Eles não saíram da guerra fria, do embate contra o monstro do comunismo. Não adianta botar panos quentes, contemporizar, chegar num acordo, num denominador comum. O Embate é mais do que necessário, o que esse fascismo quer (e sempre quis) é completamente inaceitável e inegociável. 

Agora que eles finalmente dizem as claras ao que vieram ao menos podemos combatê-los diretamente. Lembro-me bem das eleições de 2002, os programas de governo, as propagandas políticas. Um estrangeiro que viesse de fora teria certeza que só concorriam candidatos de esquerda.  O mesmo se repetiu nas eleições subsequentes. 

A despeito do sucesso eleitoral executivo do PT nesse período a falta de clareza da direita com seu discurso confundia e enganava o eleitorado. Mesmo elegendo um presidente à esquerda continuamos elegendo um balaio de gatos pro congresso. Congressistas de 30, 40 anos de casa. Que estavam ali desde sempre fascistando e roubando por lá. Quantos Hildebrandos Pascoais (1999) não tiveram suas motosserras descobertas? É surpresa para alguém que esse Congressista do DEM/PFL/PDS/ARENA/UDN seja um ex-coronel da PM?

Façamos as contas Hildebrando Nasceu em 1952, aos vinte poucos anos estava na PM no auge da carnificina. Onde ele aprendeu a manejar tão habilmente uma motosserra? Acreditamos mesmo que seus padrinhos políticos não tinham pleno conhecimento de suas atividades? Não seriam justamente por essas habilidades que eles se irmanavam no mesmo partido, na mesma famigerada Frente Liberal? Será que nas festas de confraternização do partido iam contemplar um o armário de ossos do outro em suas respectivas e humildes moradas com  cameras e segurança armada?

Hoje esse digníssimo senhor que esquartejava pessoas vivas com uma motosserra encontra-se em prisão domiciliar mesmo tendo violado os termos dessa prisão uma vez. Um santo homem que desde a década de 70 só traz o que há de melhor para o cidadão de Bem desse país.

Hidelbrando é um caso midiático de alguém que foi pego em flagrante após findo o regime, um alguém que caso não fosse seria digno de todos os elogios que já recebeu Ustra, inclusive na tribuna do congresso.

Se a cadela do fascismo, em todo mundo, está sempre no cio, no Brasil,  parece que ela não para de dar numerosas ninhadas. Mesmo com a míngua do DEM/PFL/PDS/ARENA/UDN sua mais nobre raça já está negociando a cruza com o próprio PSL que por sua vez já pensa numa outra cruza com o outro rebento do ARENA o velho PP.  Todos irmanados na saudade dos tempos de outrora onde existia mais respeito. Seja lá o que isso signifique, pois com certeza esse respeito não é para mim ou pra quem não se encaixa no padrão de Bem e de Bens.

Venhamos e convenhamos, não se negocia com milicos, fascistas e milicianos. Eles não estão aqui para negociar, para entrar em acordos, eles só querem impor sua doutrina, sua ideologia e sua forma de enxergar o mundo. Temos que tirar de vez esses ossos do armário, enterrá-los todos após um cortejo fúnebre. São muitos mortos na conta dessa gente.  Tê-los assim desnudados, com a cara a mostra é a oportunidade perfeita para o enfrentamento, em todas as frentes possíveis da praga fascista que está entranhada em nossa sociedade.  
"Se eu dou comida aos pobres,
eles me chamam de santo.
Se eu pergunto porque os pobres não têm
comida, eles me chamam de comunista."
D. Hélder Câmara

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Nunca mais azul

Quente, é verão:
noventa questões
e uma redação;
Ela não me nota

passa sem me ver,
passa se achando:
-a última Caneta
Preta do Enem-

eu nem ligo mais
pois igual a Ela

já perdi a tampa
de mais de cem

levanto a mão banheiro
manchei meu batom

Talhado por Talião

Meço o quanto
eu amo algo
(ou mesmo alguém)

justo pelo ódio
que esse algo
(ou esse alguém)

causa em quem
eu mais odeio
(ou mais amo)

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

QUESTÃO DE LÓGICA

Um pato é bigamo
pois tem duas patas
Dois patos somados
tem quatro patas
Um cavalo também
tem quatro patas
Logo dois patos
formam um cavalo.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

O SALVAMENTO DO GATO NA PONTE DO SABER:

Campis Universitários, Variação Linguística e outras digressões

Como não ter um gato favorito? Quando eu adotei Sodoma e Gomorra na virada do ano de 2018 para 2019 jamais cogitava ter um terceiro gato.

Certa  noite de domingo,  quando fui deixar o  Rodolfo no alojamento da UFRJ na ilha do fundão depois da Feira Literárias de Duque de Caxias na Biblioteca Leonel Brizola. Não posso deixar de comentar que apesar da biblioteca ter os traços concretos do imorrível Niemayer ela pulsava vivamente a Literatura e nos brindou com um fim de semana deveras agradável. Mas voltando o assunto encantado com o evento eu desviei um pouco da minha rota habitual e fui levar o Rodolfo para seu quarto lá no alojamento, mesmo alojamento onde eu mesmo já tinha morado meia década antes, mas isto é outra história.

Deixei o Rodolfo são e salvo e sem ter que perder duas horas no caos dos ônibus Fluminenses, agradeci pelo empenho na feira e fui em direção a Ponte do Saber que a moça do Google tão gentilmente me instruía a ir. Mesmo amando variação linguística. Eu sempre me esqueço de trocar por uma voz masculina me sinto mal em xingar ela quando erro o caminho, se fosse ele seria mais confortável de xingar. Melhor ainda é quando me lembro de colocar em Galego ou em Português de Portugal.

Continua, é claro, perfeitamente inteligível, no caso dos gajo xingo com mais prazer e pelo galego nutro uma estranha xenofilia de um povo que vive ali ao norte de Portugal com um idioma virtualmente idêntico mas sob os domínios da coroa espanhola. Ouvi-lo me guiar pelas ruas brasileiras é uma experiência que me aproxima de uma possibilidade histórica irrealisável.

Largando a História, e voltando a estória, lá ia eu pra Ponte do Saber que por ironia simbólica era uma via de mão única, é apenas uma saída da ilha do fundão. Lugar onde os milicos da ditadura isolaram todos os cursos universitários da UFRJ que conseguiram. Só ficaram acessíveis à população e longe do seu controle explícito aqueles cursos mais fortes como o Direito ou mais organizados politicamente. A ilha do fundão é ao lado da base aérea do Galeão, bem aos olhos vigilantes dos militares.

O mesmo aconteceu com a Ufmg cujo campos fora planejado para ser no coração da cidade. Acessível a toda população e os milicos mandaram pra bem longe ao lado vejam só que coincidência! De uma base militar do exército! E o que foi feito do terreno onde era para ser a universidade? Virou um bairro de mansões conhecido como Cidade Jardim.

Voltando a pretensiosa ponte do saber de onde o conhecimento só sai e nunca retorna. Uma mancha preta e magricela impetuosa parou em frente aos meus faróis num dia que eu estava imbuído de poesia.

Parei de pronto, desci do carro, desse meu carro que parece de funerária de tão grande mas que só carrega caixa de poesia para ser vestida, bebida, encadernada, as vezes lida, repousada a cabeça e constantemente recriada.

Miava muito, mas não fugiu. Pensei comigo o que eu iria fazer, parei pois ia devagar pois já não tinha pressa e já estava cansado de saber onde como eu ia chegar no meu destino.

Eu já não sabia que tipo de conhecimento poderia passar desembestado pela ponte do saber e atropelar aquele  bichano  esperto. Há quem ache que precise passar rápido pelos saberes dessa e de outras vidas.
Pelo sim pelo não coloquei aquele miador no meu carro, não tina caixa não tinha onde botar, porém esperava que como bom gato fosse minimamente desconfiado e se aquietasse em algum canto ou fosse explorar cada recanto daquela banheira de quatro rodas.

Coloquei o sujeito dentro do carro, no porta malas, eu não estava preparado para aquilo, pensei em dirigir devagar e só que tudo iria ficar bem, o miado constante eu poderia abstrair com música alta mas o impetuoso, não ficou nem cinco minutos lá, saltou a barreira dos bancos de 10 vezes o tamanho dele e o meu colo procurou. Tranquilo, estou de cinto vou dirigir mais devagar ainda. Fazendo as curvas da ponte do saber o diabo do menino  batia aquele nada de cabeça  nas minhas mãos no volante.

Eu, marinheiro de primeiríssima viagem em resgate de gatos e semi virgem em tutoria de felinos em geral. Não entendia nada.
Sério, no início do ano eu preferia que me dessem uma neném humano de um mês com a fralda de diarréia que um filhote gato recém nascido.  Eu Sabia lidar muito melhor com humanos. Acho que hoje consigo cuidar dos dois com tranquilidade. Já sei amolecer a ração com água morna pro bebê e preparar leite materno congelado pro gatinho.

Mas voltando. Eu achei que ele queria nos matar, que queria sair do carro, que queria voltar,  que sei lá. Parei o carro.  Abri o porta malas e coloquei ele de volta num vão que tem no carro onde teoricamente ficaria o estepe mas no meu modelo o estepe fica do lado de fora( muito útil quando você vai viajar e seu carro está lotado de caixas e caixas de artigos Literários e só de pensar em tirar o estepe de lá você pensa em chamar o reboque ou em suicídio) nesse vão tem uma cobertura toda vedada de velcro, dali ele não vai escapar! Eu fiquei todo orgulhoso da minha inteligência e voltei a dirigir.

Não andei dois quilômetros, e ele desceu pelo meu cangote, cravando a patinhas com aquelas unhas minúsculas no meu peito e dessa vez não ficava quieto,  no meu colo, na minha perna, na marcha, tentei dirigir com uma mão só segurando ele  no banco do passageiro,  ele achou que era lutinha e se empenhou em derrotar minha mão.

Tive a brilhante ideia de esvaziar o porta luvas, tirei documento, manual, pacote de camisinha, par de óculos noturnos, uns metros de corda,uns livretos de poesia minha uns exemplares do meu livro, uns panfletos aleatórios, umas notas de dinheiro que eu nem sabia que estavam ali. 

Isso tudo com ele fazendo a festa porque era uma mão no volante, outra fazendo isso, daí não sobrava mão. Eu só praguejava e me perguntava porque eu estava fazendo aquilo.
Esvaziado o porta luvas, peguei aquele merdinha miador e com todo carinho taquei ele lá dentro.

Não sei se o porta luvas atuou como uma concha acústica, nem se era possível uma garganta e um pulmão tão pequeninos fazerem tanto barulho.

O som do miado ficou insuportável. E o volume do punk rock dos testiculos de Mary não conseguiam abafar. Abri a janela na auto estrada, não ajudou muito e eu ainda fiquei com medo de alguém ouvir e achar que eu estava matando.

Para meu alívio avistei a feira de São Cristóvão, dei seta pra direita, desci da linha vermelha liberei ele do seu cativeiro, passei em frente do melhor baião de dois do Rio de janeiro com ele trançando de um banco pro outro miando ritmadamente e eu indo calmante a 30km/h numa pilha de nervos.

Estávamos perto. Mais dez minutos.  De novo ele dava cabeçadas na minha mão no volante e como um Eureka eu entendi que ele queria carinho. E comecei a usar uma das mãos para fazer carinho, ele durante um tempo tentou  puxar a outra também, mas depois se contentou com uma só.

Dirigia exausto pelas ruas finais já era tarde, bem tarde devo ter gastado o triplo do tempo que gastaria do fundão até minha casa.  Estava contente, não cagou, não mijou, não me mordeu, uma vitória completa.

Estacionei o carro, deixei ele lá dentro, no segundo que eu larguei abriu o miador. Total e absoluto.

Abri o portão de casa, coloquei Sodoma e Gomorra num quartinho, eram todos do mesmo tamanho mas não convinha mais estresse nesse dia.

Peguei um pote azul e outro vermelho enchi de água e ração. A fome do pequeno de pelo preto mas peito, cara e patas brancas era tanta que eu tinha que segurar o porque senão o pote saia arrastando a cada bocada que ele dava.

E ele dava duas bocadas, olhava pra mim miava e voltava a comer, mais duas bocadas e um miado. Até ficar roliço e o pote vazio. Nesse dia dormiu comigo desfiando minha barba deitado em meu peito. E até hoje, sempre que fico doente, passo mal ou estou triste é o primeiro a vir a se deitar comigo.

Quando levei à veterinária no dia seguinte ela se enganou e cravou que era fêmea, e também prescreveu um monte de remédio que dei com muito zelo. Cuidei melhor dele do que tomo os meus próprios remédios. Se eu cuidasse de mim como cuido dele mina vida seria outra! Meu tdah, minha depressão e ansiedade não seriam bichos de estimação tão ruins de se conviver, poderiam ser  se não uns amores como este preto e branco ao menos pamonhas como Gomorra ou indiferentes como Sodoma.

Eu não disse seu nome ainda? Que distração a minha! Seu nome é Admá. Não Ademar como já quiseram insinuar. E  não, ele não parece um senhor de meia idade, meio calvo, usando uma camisa velha de um candidato a vereador pelo PFL do interior. Nem Admar como escreveram no cartão da Clínica do veterinário. Tudo que eu não sofro com meu nome esse daqui passa. Ao menos ele nunca vai ter na sala dele 8 Admá, nem vai fazer Enem com uma sala só de Admá.

Admá  é uma das cidades do vale do Sidim, o mesmo vale onde ficava as cidades de Sodoma e Gomorra. Sim, das minhas tantas ironias os gatos vistos como deuses cá em casa recebem o nome de cidades vítimas da ira Divina... Mas aqui sou eu a protegê-los e subverter essas e  outras lógicas entretanto por ironia da ironia Admá que escapou da ira divina e também o verdadeiro xodó da casa, tanto que tem até apelido que só os íntimos da casa conhecem.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Em causa própria

As dívidas dos seus lábios
Já incidem juros e mora;
protestadas em cartório.
Pague logo sem demora

Porque o risco já vigora
de se decretar o arresto
de seu corpo, co'a penhora
dos seus lábios em protesto!

Serei porém o mais profícuo
nas lotas dessa almoeda
nos lances e no  arremate

Sei, sou injusto e iníquo
mas eu quero que suceda
de para mim encampar-te

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Omilia da caridade

Tá confundido as coisas irmão
Cristão é que reparte o pão
Comuna faz revolução
e toma os meios de produção

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

terça-feira, 17 de setembro de 2019

"Eu não sabia que você também sangrava"

Refletindo na noite e sonhando de dia. Debati comigo muito. Em como meus relacionamentos sempre são com pessoas neuro atípicas tão extremas quanto eu.  Dois ou mais indivíduos sem nenhuma estrutura psíquica adequada, se relacionando só pode ter um fim trágico. E foi o que aconteceu a minha vida toda. 

Eu sem estrutura nenhuma lidando com pessoas onde muitas vezes eu era visto com a fonte estruturadora. Daí eu, obviamente, não dava conta de sustentar isso tudo e desabava. E frequentemente comigo como culpado, afinal eu era a parte estruturante da relação.  

Cai nesse ciclo vicioso inúmeras vezes. Sem nunca conseguir sair deles. E quando eu saia de maneira intempestiva causava muita dor no processo.
Jamais deveria ter me relacionado com pessoas tão problemáticas quanto eu e muito menos assumido tantas responsabilidades. Fiz esse tipo de escolha de maneira inconscientemente durante boa parte da minha vida. 

Procurando na fragilidade alheia um conforto para a minha própria fragilidade. Mas sempre me fiz de forte e inabalável. Relendo algumas coisas vi uma frase dita por uma garota. "Me desculpa fazer você sofrer mas eu não sabia que você também sangrava." Me faço e sou visto como muito forte, como inabalável. Daí quando essa máscara cai acreditam que tudo que eu fiz em desespero, em descontrole foi feito de maneira pensada e calculada. Porquê eu mesmo me mostrei assim, numa ânsia louca de fazer o bem e ser porto seguro. Acabo sonhando em tornar o conto de fadas de Florbela uma realidade:

"Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor."

Mas eu sempre falho, falho sempre pois eu não sou forte como me fiz parecer. Não sou o ser que personifiquei. Buscando construir o melhor, achando que construindo o outro eu estaria fazendo algo de bom. 

"Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento..."

Eu só crio ilusões que um dia caem por terra pois na verdade sou completamente instável e perigoso. Um indivíduo que deveria estar procurando se tratar e não cuidar do outro, melhorar o outro.

"Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita."

Sou um automato com partes essenciais faltando tentando construir um outro perfeito para que então esse outro possa me reconstruir.

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa de conto: "Era uma vez..."

Pois eu mesmo tenho medo de me reconstruir, sei muito bem o que o outro precisa, quer e pode ser. Mas sou tão míope sobre o meu próprio ser! Tão instável quanto ao que sou, incapaz de controlar e dosar meus impulsos. Desestruturado frente ao primeiro medo, a primeira recusa, ao primeiro olhar de censura. 

No último confronto, na ultima derrota olhei com desespero implorando para que eu não fosse o vilão novamente. Mas eu fui. Por mais desesperado que eu tivesse lutado contra mim para não ser. 

Não fui capaz de ir embora antes que isso acontecesse. Pois me sentia responsável, me sentia como que obrigado a permanecer onde já não cabia mais permanência. Pois já não havia moinhos de vento para enfrentar. Não havia outros bichos papões debaixo da cama. Eu não era útil ali e mesmo ela implorando para eu ficar deveria ter ido. Pois ali nunca tinha sido meu lugar. Só estive ali pela segurança, pelo que eu poderia construir. 

Hoje estou aprendendo a ir embora onde terei que ser por dois, estou indo embora de onde sou o arrimo que se sustenta no ar. Não vou mais me propor a ser o que não sou. A sustentar o peso que não me cabe e nem eu suporto. É mais cômodo se ver como super homem do que como humano, falho e inadequado.

Quadrilha México-Soviética

Diego amava Rivera  que amava Frida
que amava Chavela que amava Kahlo
que amava Trotsky que amava Sheridan
que amava Leon que amava Sedova
que era revolucionária também
Rivera foi pintar nos Estados Unidos, Sheridan foi exilada,
Frida sofreu um desastre, Kahlo casou-se com Diego,
foi amante de Leon e Chavela, que tornou-se alcoolatra,
Sedova casou com Trotsky que foi morto por Mercader
que ainda não tinha entrado pra História.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

DENTROFORA


Se vem 
de fora
Vende 
dentro?

Se vende 
fora
Vem de 
dentro?

Se vem 
de dentro
Vende 
fora?

Se vende 
dentro
Vem de 
fora?

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Mas me ama?

O namoro enamorou
Vem cá amor, vem cá meu bem
Nós somos e eu só não sou
Acabou mas inda tem

Meus/ ver/sos/ sem/ métrica

é redondilha menor:
cinco sílabas poéticas,
formam verso de protesto,
contra a tal  poesia clássica!


sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Eu

Não me importam os seus ismos
pudores, moralismos.
E nem me prendo a você
só ao que me dá prazer.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Sou classe média

Bolsonaro, belo trato,
tá coberto de ração:
video-game mais barato
e mais caro o feijão!

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Fake news das rimas ricas

Foi no zap que espalharo
quem me dera não ser hoax
fuzilaram Bolsonaro
com treze tiros no tórax

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Brilhante questão

-Como que será
que encera a enceradeira?
-Com cera

quarta-feira, 31 de julho de 2019

O filho no colo do pai;

depois de uma história,

novinha ou de memória,

contada ao pé do ouvido:

se aconchega adormecido...

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Deu no jornal em Sergipe

Salão do Simpósio Lotado
de pequenos empresários
desesperados com a nova
Alta do Gás pela Petrobrás

já havia uma Fábrica Falida,
os empregados desempregados, 
a Economia em Recessão,
só Promessa nenhuma solução

levanta para dizer e não consegue;
na frente do Milico Ministro
de Minas e Energia e do Governador
o dono da fábrica comete suicídio.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Fugimos do Hugo Chávez e elegemos Pablo Escobar?

Em seis meses a Milícia já movimentou quase 100 milhões com o narcotráfico internacional desde a eleição presidencial com um único esquema.

O militar co-piloto presidencial  foi pego com 39Kg de cocaína são 39.000 gramas. O grama de cocaína na Espanha custa €78,00 o Euro está valendo no momento R$4,37.

A conta:
39000g×€78,00×R$4,37=R$13.293.540,00
Sim, mais de treze milhões de reais numa única viagem.  Até agora o nosso excelentíssimo presidente já fez 7 viagens internacionais.

Como todo mundo sabe o narcotráfico não é um esquema de uma pessoa só e se articula num mesmo modus operandi ao longo do tempo. Então podemos multiplicar esses 13 milhões por 7.

Totalizando R$93.054.780,00 mais uma viagem e chegaríamos a cem milhões em um único esquema das milícias que sabidamente envolvem militares da ativa e da reserva  da polícia, exército, bombeiros e demais forças armadas.

Claro que isso apenas mais uma coincidência, que não há qualquer relação com o presidente que emprega, é vizinho e tem parentes milicianos ou ligados a Milícia.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Um companheiro indesejado

Um garoto que tinha um bicho de estimação, mas ele próprio não sabia que tinha um! Ninguém jamais contou isso para ele e nem o próprio a educação de se apresentar.

Era um bicho Travessos um humorista de primeira cheio de ideias fervilhantes e até às vezes sem noção.

Em algumas situações pregava peças maldosas e até perigosas para o seu dono e dele não desgrudava um segundo sequer!

Ele se divertia muito escondendo-lhe  as chaves de casa apagando as anotações de sua agenda, marcando como lidas umas mensagens que seu dono sequer tinha lido no celular. 

Seu bicho de estimação fazia seu dono olhar para um pombo branco e se esquecer de atravessar no sinal verde aberto para pedestres e não ver o Fusca azul vindo na esquina... Que perigo!

Chegava ali prender na cama sussurrando: "só mais 5 minutos" por 10 vezes seguidas para então se divertir com seu dono se arrumando apressado e totalmente atrasado para justo nesse momento trocava o par de meias dos sapatos (ou mesmo os próprios sapatos!) e lá ia seu seu dono rua afora com um de cada cor...

O bicho chegava até a fazer seu dono passar por mal educado fazendo ele passar do lado de um colega e não vê-lo porque o bicho mostrou que a cor da luz do sol refletida na vitrine e era muito mais legal e assim o bicho de estimação fazia seu dono olhar para luz e nem ver seu colega.

Seu bicho era particularmente maldoso com seu dano quando o assunto era o pessoas que seu dono sentia vontade de estar perto e pior agia quando seu dono sentia desejo por alguém.

Sempre o distraía  quando aquela pessoa legal lhe fazia um gesto gentil, lhe fazendo esquecer de agradecer ou colocava uma mosca voadora super interessante para que o seu dono não visse que lhe chamaram para se sentar junto no ônibus de volta para casa.

Seu bicho de estimação o fazia  perder o controle dele mesmo pois fazia ele acumular tantos "nãos" tantas frustrações que para todo mundo quando eles explodia de raiva "só por ter perdido a Chaves" era "só por ter perdido as chaves".

Ninguém sabia que seu bicho  já tinha escondido também por pura brincadeira seus cadernos, carteira, celular, documentos, óculos, livros, lápis, estojo, borracha e tudo mais que pudesse por suas mãos artreiras.

E também as mesmas chaves mais dez vezes só só naquele dia e já era, sem exageros, a centésima vez no mês que as escondia e eles ainda estavam no dia quinze...

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Terreno Fértil

Sou jardineiro da última flor do lácio
um coveiro nada culto tampouco belo
que cava com as próprias mãos o seu espaço
não sou ourives, me cai melhor o rastelo

Dessa terra bruta hei de tirar o macio
fruto cultivado e que tanto tanto espero
Pois do campo sou devoto e nele que crio
a fome de juntar sua foice ao martelo

Das cidades onde vivo do meu país
expatriado, apertado e apartado
num apartamento que ainda fala minha língua

Mas que nada me responde ou me diz
e pelas mitomaníacas condenado
sem resposta ou pergunta e sempre à míngua

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Respeitável Público

a trupe mambembe
faz da rua seu melhor palco
e do chapéu seu ventre

Haicai nº5

Paralelepípedo
serpenteando uma cobra
bem pentagonal

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Quaresma

ao sul do equador
para os amantes da rua
sempre é carnaval

Depois da chuva



Um gato de rua
que com sede bebe a poça
lambe a própria lua

terça-feira, 5 de março de 2019

Vontades Barrocas

Que gana danada
de lhe dedilhar
até ouvir seu
arfar e desafinar
em meus ouvidos.

Que fome pesada
de lhe devorar
banquete e apogeu
para me fartar
nos seus gemidos

Que tara ousada
de lhe amarrar
Impio jubileu
para lhe causar
os seus delírios

Eu quero a Cocanha
o festival da carne
em seu corpo macio
Realizar toda a Sanha
que me parte o cio

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Crônica: Império dos Sentidos

Quanto mais eu vivo e experimento, vejo que paladar/olfato são os mais íntimos dos sentidos. Quimicamente, são fragmentos de algo alheio ao nosso corpo que são dissolvidos em nossos órgãos sensoriais que nos fazem sentir aquilo. Trocando em miúdos, o cheiro de uma flor é pedaço minúsculo de uma flor que chegou até a suas narinas, o cheiro da água do mar,  do alho frito na manteiga que desperta a fome, mas também é, para nosso desgosto e repulsa, o de merda.

Numa  noite quente, dessas úmidas que só os trópicos são capazes de produzir quando as terras estão perto de grandes massas d'água, eu acordei com a boca seca pelo ar condicionado, mas, em meus sonhos, chupava sua buceta com sadismo requintado de quem faz gozar e não para de chupar. Essa boca seca me fez buscar água e, no quarto de hotel que estava hospedado, não havia frigobar e a água mineral que tínhamos a disposição era salobra - fora do Brasil a água tem um gosto estranho, mais pesado, quase leitoso. Isso veio me despertar para as coisas da oralidade, minha própria boca seca sendo insultada por aquela água que não era o que devia ser: insípida, inodora e incolor.

A intimidade que tenho com os sentidos seguem a seguinte ordem: visão, tato, audição, olfato/paladar.  Não me incomodo em ver nada, nada ofende minha visão, nudez, feiúra, palavras de ódio, discursos escritos, violência gráfica, fotos e até mesmo o mundo real  consigo usar o pescoço e olhar para o outro lado e evitar o que me desagrada se acaso não puder encarar de frente. Admirar um quadro, fotografia, prédio, pintura rupestre, obras dum mestre da escultura consegue me capturar alguma atenção, mas não por muito tempo, a não ser que sua narrativa me fascine. Se nas artes literárias sou pura forma, é ao conteúdo que me apego nas artes plásticas, isso diz muito sobre o quanto o conhecimento de uma arte molda seu gosto (ou não).

Confesso, minha oralidade é cheia de vícios e cacoetes. Tal qual eu prefiro sonetos do que a prosaica prosa, para me vir contar um conto, preciso de algo que realmente me dê  tesão. Posso dizer o mesmo do beijo e do cunilíngua, que só me apraz quando a inspiração chega-me de jeito. Prefiro um abraço, um chamego, um carinho profundo do que a língua de quem não sei bem se quero e anseio.  E, oras pois, beijo sempre há de ter sabor, pelo menos aquele que desejo. Pois, quando recebo um beijo que não quero, não me causa repulsa, apenas não me causa nada, é como um copo d'água bebido sem sede, é nada, mecânico e vazio.  Eu juro que não entendo o horror homofóbico. O medo e a repulsa. Se não há um desejo recalcado ali, não há sensação a ser despertada. Se um mero abraço a quem desejo me atiça o melhor beijo de quem não me atrai me mantém completamente indiferente. Se isso não acontece contigo, tenho uma boa e uma má notícia pra você...

O tato me é um sentido caro, daqueles prazeres tímidos, íntimos e raros. O prazer de roçar os pés uns nos outros debaixo das cobertas, dos pingos de chuva na pele nua num dia quente, duma ducha fervente num dia frio, o toque do meu corpo noutro corpo macio, dum gato caminhando nas minhas costas de manhã, a crocância de mastigar gelo...  Aliás, amo gelo, ele tem tantas utilidades divertidas, aprendi com meu pai a ter uma enorme caneca em casa, enchê-la d'água até a metade e levá-la ao congelador, depois é só completar e ter água estupidamente gelada por muito tempo. Mas o tato também pode ser incômodo às vezes, porém é fácil de repelir e de se afastar. Afora o calor do Rio, nada mais relacionado a ele me vem reclamar. Mas de fato o calor do Rio de Janeiro me faz  querer arrancar a pele, cortar todas as terminações nervosas que me fazem sentir calor. Daí me lembro que boa parte disso é culpa dessa ideia de jerico de usar a moda europeia num lugar de clima tropical. Faz quinhentos anos que estamos cometendo esse erro de português cá nas terras do Pindorama, os índios devem estar rindo de nós nesses anos todos, suando feito porcos por pudor por causa dum amigo imaginário, censurador e sanguinário.

Ela implorava para eu parar e eu ali continuava. O sonho era uma bricolagem de experiências passadas, de algumas delas, e nessa ela havia me pedido as amarras e estava lá de mãos e pernas abertas, atadas e amarradas, gemia, arfava delirava e eu a chupava enquanto seu corpo tremia e gozava. As amarras entraram na minha vida há mais de uma década, são acessórios de arte, um prolongamento estético que tornam o sexo de minutos para horas, Cada nó, amarra é um deleite, um tesão, uma vontade única feita cuidado e a pedido de quem normalmente é a parte atada. Ela, amarrada ali, sendo chupada, chegava a orgasmos que não se permitiria chegar solta, que pediria para parar antes, que fugiria, que violentamente reagiria. As sensações de prazer alcançadas são fascinantes de se observar ,é muito melhor que qualquer experiência outra, é o melhor instrumento musical que eu poderia querer.

Já com audição o problema fica mais sério. Os sons são extremamente invasivos e é difícil evitá-los. Tenho problemas sério com barulhos desnecessários feitos por capricho ou burrice, como é o caso de foguetes e buzinas. Quanto aos foguetes não gosto mas tem quem goste, xingo só e fico no meu canto. Mas tenho verdadeiro rancor de quem usa buzina, é totalmente inútil, só faz barulho, incomoda e não resolve qualquer problema, se eu fosse rei da porra toda instituiria um tacógrafo em cada veículo que cobraria 0,01% do valor do veículo ao ano por buzinada que o motorista desse. Porque quanto maior e mais caro o carro mais o sujeito se acha dono da rua e no direito de abusar de nossos ouvidos. Quem me dera que os sons só chamassem a atenção com as assonância de um verso, as cacofonias de um poema rude, as rimas encadeadas, interpoladas ou emparelhadas de um soneto, mas a musicalidade é a ponta do universo dos sons e meus ouvidos não são daqueles que ouvem musicalidade em tudo.

Tenho na ponta da língua minha técnica, um esquecer das horas, do tempo e me atento ao meu instrumento musical de suspiros, gemidos, frêmitos, tremores. Descobrindo como, quando e o quanto cada movimento meu de língua, dedos, lábios e dentes causam o melhor resultado. Porque claro, ao contrário do que prega-se por aí, cada buceta é única e o que vale para uma não vale para a outra. Não diria sequer que há no mais das vezes, onde tocar, onde lamber, onde se morder e tudo isso sem adentrar nos anais da questão do cu.  

O olfato, eis um sentido efêmero que costumo relegar e esquecer tantas vezes. Mas o cheiro de Dama da noite não me deixa esquecer da praça da liberdade onde comi meu primeiro cu num terreno baldio, uma tentativa frustrada, é verdade, mas uma tentativa. Estava bêbado demais, deu em cima de mim, me beijou, me levou pra lá, desafivelou meu cinto, abriu o zíper, meu chupou até ficar duro, colocou a camisinha, abaixou as calças e colocou-me dentro. Bombei desajeitado, meu pau escapuliu e o vi sujo de merda, não sei bem como mas senti vontade de mijar e anunciei que gozei. Estava bem bêbado, mijei dentro da camisinha. Não sei bem como mas nós nos despedimos, nunca mais vi depois desse dia de meus dezesseis anos. Mas o cheiro de Dama da Noite já esteve presente em inúmeras ocasiões, um cheiro que adoro e que quero plantar em meu jardim.  O Rio de Janeiro com seu cheiro de maresia e sexo nos recebe como mangue e esgoto mas torna familiar com o tempo como também e não o cheiro do cerrado mineiro que é um no Jequitinhonha e outro na Serra do Curral Del Rey. E dos cheiros, o único que me afasta é o do pequi, fruto do cerrado de cheiro tão intenso que foi capaz de atentar contra meu sentindo favorito e mais ousado, o paladar.

Ela gozou e eu parei pra observar um pouco, conhecia bem aquele corpo e sabia o que viria a seguir. Alguns segundos de respiração descompassada, olhos semicerrados, boca entreaberta e quando parece que ia se acalmar, o corpo todo se irrompe num novo gozo como uma descarga  elétrica lhe percorrendo por inteira. Já vi essa cena inúmeras vezes mas me sinto um expectador privilegiado sempre que atuo a causar tal espetáculo de êxtase. Um orgasmo em três tempos. O primeiro comigo inteiro e que se prolonga na agonia de meus dedos, o segundo tempo de calmaria e terceiro desta combustão espontânea que nunca soube de onde surge ou como surge.

Paladar, sentido apurado, sentido que tenho guardado e do qual só chega até mim o que e como eu permito.  Sou um curioso, um experimentalista. Estou certo que morreria intoxicado se fizer um tour gastronômico pelo interior dos tigres asiáticos.  Será que alguém ainda usa essa arcaica expressão dos livros de geografia dos anos noventa? Os tempos mudaram tanto, as mudanças foram tantas e os tijolos que construíram os BRICS será que vieram de lá? Faço meus próprios experimentos dentro da cozinha. Cama e fogão, meus domínios favoritos, os espaços de minha casa que pensei nos mínimos detalhes para saciar meus prazeres domésticos. Com a mesma desenvoltura que faço um prato novo e introduzo um ingrediente inusitado, eu experimento algo que nunca provei antes. Só o fato de nunca ter provado já me basta para querer. Moqueca de Banana da Terra com Carambola,  Cordão de Filé Mignon Serenado, Sushi no Pau, Uramaki de Damasco e toda sorte de invenções que o paladar aceitar farei. Minha restrição só são os doces, até mesmo para as bebidas: sucos com muito pouco açúcar e, etílicos, prefiro o restrito e malfadado Bloody Mary, extremamente condimentado, que gera inspirações para poemas e fodas.

Quando alguma mulher diz “toda mulher gosta de ser tratada assim ou assado”, é sempre de bom tom tratá-la exatamente como ela demanda, porém convém saber que esse “toda” se refere exclusivamente a ela. A multiplicidade de seres e expressões do desejo é absurdamente maior do que poderia entender um único ente desejante. Se alguma nega, renega ou censura o gozo de outra, ali tem algo sobre o próprio prazer dela. Se há carinho e tesão, pode ser um caminho para ser explorado com cuidado. Muito cuidado!

Como vagueio de bar em bar procurando meu Bloody Mary e raramente encontro, assim também meu paladar restrito me leva naturalmente a pensar que sentir o gosto de outra pessoa é a maior intimidade que eu posso ter com alguém. Foder de camisinha me parece  bem menos íntimo do que um longo e apaixonado beijo onde conheço a fundo o sabor de sua saliva. Sim, eu transaria com bem mais pessoas do que aquelas que eu beijaria, pois o paladar me é um sentindo muitíssimo mais íntimo que o tato, visão ou audição.

Eu lembro agora de um medo das oralidades advindos de sádicas mordidas inoportunas de outrem que já foram resolvidas com pedras de gelo usadas divertidamente. Misturar frio com calor dá um tesão daqueles tanto pra língua quente e o gelo dialogando com a buceta, como também o gelo dentro da buceta e o diálogo do pau entrando na buceta quente e sentindo o gelado gelo lá no fundo. Ambos são um tesão. Essa transa ficou para os anais da história, com o perdão  novamente pelo, desta vez, duplo trocadilho, pois foi esta historiadora que me ensinou também os primeiros passos das práticas sodomitas.