Eu do alto dos meus dezesseis
e melhor aluna da sala
estava toda decidida
venci cada degrau com pressa
rumo ao amor de minha vida
de frente à porta eu toquei
João abriu, mas olhei pra ela
olhei pra ele, olhei pros dois
e depois pra porta fechada
chorei só na escada, humilhada
Eu formei na escola passei
no curso que eu queria mas
rancor guardei na geladeira
bem entre meu primeiro zero
e a morte de avião dos Mamonas
tinha mais de vinte na festa
João abriu seus braços, mas eu
passei por debaixo não dei
a ele o gosto de me abraçar
sorri sozinha, alma lavada
Eu cresci, graduei, mudei
e me mudei pra Portugal
fui morar numa casa que antes
já foi um cabaré e lá subiam
homens velhos atrás de moças
mulheres atrás dos maridos
Abri a porta,mas olhei pra Pedro
olhei pro terno, olhei pras flores
sufocado pela gola e medo
não tinha Júlia, ofereci café
Nós sentados, mesmo degrau
eu brasileira, ele caboverdiano
na mesma terra estrangeira
João puto, Júlia portuguesa
meu passado e seu presente
choramos juntos na escada
Abri a água, molhei as flores,
mas duraram só mais uma semana,
tirei o terno, não lhe caía
bem e na gola abri três botões
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