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Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
domingo, 21 de outubro de 2012
Acelerado
num gozo raro
e quero raso
num riso solto
Não sei se passo
ou não do ponto
no que eu aposto
sem um centavo
Eu quero à vista
do sonho cego
e quero à prazo
desregulado
Não sei se fico
num beijo morno
ou se me vazo
como um cachorro
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Primavera de Ocasião
verdes araras urbanas
colorem um céu cinzento
num tchau pro fim de semana
Adorável Canalha
Caminhando pela rua ele veio em direção contrária a minha, olhou-me nos olhos, passeou pelos meus cabelos, desceu por meus lábios e enquanto sorria seus olhos secaram meu decote. Passou por mim, mas eu pude escutar seu telefone tocando:
-Oi amor, não paro de pensar em você!
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Livreto colorido, a gentileza dos seguranças e um recado pela janela do ônibus
Chegaram meus livretos novos! É a primeira edição colorida! Consegui encontrar uma gráfica graças ao Zuza que faz o trabalho por um preço mui acessível, acabou ficando a cópia mais barata que seria no xerox que eu costumava ir. E o melhor, posso pagar com cartão de crédito e só pagar os livretos muito depois de vendê-los.
Eu gosto do requinte que é usar as próprias engrenagens do sistema para subvertê-lo. Tento todo dia encontrar novos meios de usar a nossa querida industria capitalista que explora igualmente meios de transporte, graficas e cultura contra a sua própria estrutura.
Os novos livretos ficaram muito chamativos! Os leitores adoraram e foi um dia de intenso movimento nas estações. Acabei sendo pego em Cantagalo mas foi tranquilo, achei que ia dar algum problema mas os seguranças foram muito educados comigo e só me tiraram do sistema. O grande problema é que eu estava em Cantagalo e ali é longe demais das duas estações mais próximas.
Acabei optando por caminhar pela Rua Barata Ribeiro até chegar a estação Siqueira Campos onde voltei ao meu trabalho habitual de espalhar a poesia pelos trilhos do metrô. Nesse vai e vem cheguei até a Saens Peña e voltei vendendo vagão a vagão. Não é que dentro de um desses, na altura da Carioca, não encontro um amigo que bati bons papos na praça São Salvador?
Ele me convidou para a São Salvador, para beber um pouco e papear. Um chorinho aqui, uma conversa de cá, algumas latas de cerveja depois era hora de ir embora. Caminhei até o Largo do Machado onde pus em prática um truque carioca que acho o máximo.
No rio o transporte público é caótico e muitas vezes as empresas de ônibus lhe obrigam a pegar duas conduções para chegar a um destino cuja distância não é lá tão grande para justificar duas passagens. Com isso surge o Surf de ônibus que consiste em entrar no primeiro ônibus que vai na direção que você quer e perguntar se vai para onde você quer. Se for, que maravilha! Tá chegando em casa rapidinho, se não. Você desce e está um pouco mais perto de casa...
Já tive que surfar umas três vezes para sair do Largo do Machado e chegar na Lapa, mas dessa vez o motorista foi bonzinho comigo e me deixou na lapa. Uma gentileza que deixou minha noite mais feliz. Entrando no ônibus perguntei ao motorista se ele parava no ponto onde eu teria que descer para chegar em casa. Antes do motorista responder uma moça simpática me respondeu que sim, que ele passava por lá e então ela girou a roleta e foi se sentar.
Encantado por essa gentileza dela, passei pela roleta e ao passar por ela entreguei um livreto de poesia e agradeci pela informação. Sentei lá atrás do ônibus e continuei minha viagem pensando no dia seguinte, nos livretos que teria de dobrar e grampear para encarar mais um dia de poesia sobre trilhos e tudo mais. Mas a hora de descer ela me jogou pela janela do ônibus um recado muito singelo que dizia assim: "Obrigada! A arte ainda vai salvar o mundo!" E tinha um monte de beijos de batom naquele bilhete. Num dos cantos um rabisco, que eu acho que era seu telefone que ela rabiscou por algum motivo que nunca vou saber.
sábado, 15 de setembro de 2012
Eu-miragem
se sempre acham que poetas
não sentem fome nem sede
de mil maneiras diversas?
que faço se sou medonho
no mesmo reino de quimeras
que também me fazem príncipe
sem perguntar meu querer?
Sou o cavaleiro que amada
sonha mas não quer que volte
pra sempre poder amar
Eu sinto que sou miragem
que querem nunca alcançar
mas contentam em estar lá
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Chuva, Luto e Recital sobre trilhos
Nem todo dia é dia de poesia. E o Rio de Janeiro não cansa de me surpreender. Jamais vou compreender o porquê exato do luto sempre que chove na cidade maravilhosa. Entrei dentro do metrô e me choquei com as caras mal-humoradas de todos. Sério, tava todo mundo com cara de enterro. E tudo porque caia uma leve chuva que para mim só tinha aliviado o calor estranho que se abateu na cidade em pleno inverno.
Caras de enterro, pessoas mal humoradas e eu parecia ser uma presença errada e feliz num ambiente onde todos estavam celebrando o enterro do sol. E assim eu fui de Saens Peña até Gal. Osório (alguém já reparou na quantidade de penha que tem aqui no rio? É Penha, Penha Circular, Alto da Penha, Saens Peña... Depois eu tenho que pesquisar e descobrir de onde vem esse nome). Foi uma viagem daquelas de poucos amigos, mas encontrei alguns rostos conhecidos, alguns clientes habituais que já fazem coleção dos meus livretos e tudo mais. Mas a esmagadora maioria tava mesmo afim de só voltar pra casa e se recostava nos bancos de olhos fechados.
Na volta de Gal. Osório para Saens Peña tudo seguia no mesmo ritmo até que uma senhora, de cabelos loiros pintados, que estava de pé pegou um livreto meu e começou a lê-lo em voz alta para os amigos e tudo virou uma farra naquele grupo. Todos rindo felizes e contentes a poesia viva na voz dela. Foi um lampejo de felicidade num dia tão cinzento. Colocou cor no dia e mostrou que a poesia pode vencer as nuvens mais carregadas.
Eu fiquei ali curtindo aquele momento espontâneo de poesia no metrô, foi delicioso e me deu uma revigorada daquelas. Tão envaidecido que perdi o tempo das estações e quando vi paramos na Uruguaiana e o vagão ficou apinhado de gente, completamente lotado! Pois é, paguei o preço pela minha vaidade e foi com muita dificuldade que consegui pegar os livretos de uns poucos que queriam devolver e de muitos que animados pelo recital iam levar pra casa os livretos.
Sai do vagão depois de dar um livreto de outra edição para a simpática senhora e quando sai ela voltava a ler os poemas em voz alta para seus amigos. Chegando no vagão seguinte senti o cansaço por ter trafegado pelo vagão lotado e a despeito da alegria do vagão anterior esse estava morto novamente, com caras mal humoradas. É, eu desanimei e aproveitando a deixa que o vagão estava chegando na minha estação desci e fui para casa.
sábado, 8 de setembro de 2012
Para uma poetisa de mão cheia
e um ralhar mais severo não só irrita:
deprime e propicia males piores...
mas elogio vão nem cai bem na fita!
Linguagem rebuscada, rimas pobres
pois escreve sonetos como se imita
poetas mui antigos por uns cobres
não vê que cega, tolhe e se limita?
Queria ver mais esmero na escansão
mais sabor, tino e crítica na rima
e um versejar mais solto com sua pena
Aprenda no repente e na canção
a amar como mulher e tal menina
brincar com os mil sons desde pequena
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Quando a leitora persegue o poeta
Quarta-feira, fim de mês mas meu ânimo estava inquieto pois já havia alguns dias que eu não saia de casa e nem escrevia nada. Ficava ali vendo filmes, lendo um pouco e namorando um bocado. Eu precisava sair, entrar num metrô e atiçar com poesia um monte de gente diferente.
Escolhi o itinerário da Pavuna pois era durante o dia e os vagões estavam menos cheios. Mas como era de se esperar estava todo mundo duro e a quantidade de moedas era muito maior que das notas. Assim os livretos até que estavam ganhando donos rapidamente mas os livros nem tanto.
Terminei mais um vagão e mudei para o próximo, passou mais uma estação e uma mão me puxou a camisa. A mão pertencia a uma menina morena de óculos e cabelos cacheados que me disse que eu havia esquecido dela no vagão anterior. Sim, ela mudou de vagão para pagar pelo livreto! E o mais inacreditável é que ela estava sentada no vagão e agora teria que viajar em pé.
Para compensá-la minimamente lhe dei um livreto extra afinal sempre carrego pelos menos alguns livretos das duas edições anteriores para completar a coleção de alguns compradores habituais. Entretanto a dedicação e o esforço dela não me foram uma recompensa muito maior que as moedas em si. O resultado foi um sorriso bobo em meu rosto pelo resto do dia.
Esse foi o ponto alto da tarde que me aguçou mais a vontade de trabalhar nesse período . É um público diferente do noturno que estou mais acostumado. Um público que vale à pena cativar. Foi bom saber que não só os homens de preto podem me perseguir de vagão em vagão mas que os leitores que desperto também!
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Doutor Adevogado
pasta de couro e relógio
no bolso nada de cobre
só notas de valor régio
Papéis que lhe versam sobre
assuntos e bens valiosos
que ameaça contra o pobre
e deixa ricos charmosos
tem no peito seu inimigo
que canta na madrugada
tal um bêbado risonho
mas sei que há muito mendigo
trajando terno e gravata
pedindo um pedaço de sonho
sábado, 18 de agosto de 2012
Código de Barras
um reles papel comprova:
eles sabem meu endereço!
Tem meu nome, CPF
CEP e código de barras
tudo isso pra me cobrar
Cada conta vencida é praga
que faz tocar telefone
bater porta e campainha
tira o sono e me arranca
os cabelos da cabeça
incomoda sem parar
Sabe, cada conta paga
eu trato como troféu
que guardo com muito zelo
É tipo meu amuleto
um espanta-cobrador
por pelo menos um mês
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
"ô da poesia"
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
3-6-9
pela boca da moça que ginga
pelo som feito samba pra lua
e pro sol no cabelo e na rua
ela passa sem pressa ao léu
e devora sem pressa seu réu
em um crime bem feito e traçado
pra pisar noutro peito amado
forte e amargo pigarro de pinga
pela boça do moço que xinga
pelo tom pelo som pele nua
numa fome da carne mais crua
ele passa seu dia no bordel
devorando na noite sem véu
seu passado presente e futuro
feito verso bem claro no escuro
Certeza Universal
de mim, dele ou de tu
nem é uma vontade imposta
por deus ou por belzebu
Pois eu lhe faço uma aposta
Caralho, buceta ou cu
sei que todo mundo gosta
e quer pelo menos um
Mas passa mês, dia ou semana
com o tesão contrafeito
quer qualquer um no seu leito
Tara é coisa muito humana
que todo e qualquer sujeito
estará sempre sujeito
domingo, 29 de julho de 2012
Abençoada e ungida
de olhos azuis
e de pele branca
que rubra reluz
moça que me encanta
com sua doce cruz
que bem me levanta
e pra fé faz jus
eu vou lhe abrir
todas as marés
com louvor e pranto
eu quero lhe ungir
da cabeça aos pés
com meu óleo santo