Lucas C. Lisboa
Sorria e me beije
as suas lágrimas são belas
mas seus lábios mais
Apenas deseje
d'um jeito mais do que aquelas
putas do meu cais
Publicação em destaque
Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Desabafo
Com a desculpa que estou bêbado sem de fato estar cá estou eu me travestindo de velho safado. Numa pífia desventura de imitar o fracasso de Bukowski. Sem seu gênio ébrio, sem sua podridão e amoralidade habitual estou eu. Preso numa cidade do interior do interior que é o estado de minas gerais. Estou, ao menos, sólido. Consciente de mim, ou pelo menos em parte. O bastante para saber de meu fracasso nessa noite, onde sequer consegui ficar bêbado de verdade. Não sei dançar e muito menos me dou bem em conhecer desconhecidos. Solto nessa cidadezinha em sua maior festa não tenho o benefício de ser cara nova, pois caras novas nessas épocas pipocam de todos os lados. Me é mais farta a entressafra do que a colheita, sou melhor na escassez. Sou singularíssimo em gostos e defeitos, ou pelo menos, gosto de pensar que sou assim ao menos. Gosto de ignorar que meus dramas e defeitos são iguais a outros tantos seres viventes. Aliás, compreender o outro, que ele existe de fato, tem sentimentos, medos e receios é uma verdade que tomei consciência à pouco mas que ainda não soube aplicar com a devida competência. Dancei com minha sombra como sempre fiz mas agora à base de cavalos voadores e cereais fermentados e depois destilados. O resultado etílico é o que no fim das contas o que realmente importa uma vez que o gosto forte do energético supera todos os outros. Supera inclusive minha tendência ao torpor ao primeiros sinais de embriaguez. Que resulta nisto, eu aqui escrevendo para absolutamente ninguém. Que leitores lerão essa pieguice sem fim? Tomara que nenhum mesmo. Tenho vergonha de ser humano. Nada aqui tem de novidade, nenhum sentimento desses já não passou com outrem com força avassaladora. Carrego no dedo anular da mão direita a marca de sol da presença dela. Sim, a presença dela que ausente causa tanto disso daqui. Ausência causada por mim por não suportar não ter as rédeas da situação. Não me dou bem com mares revoltos dos quais não tenho o prumo necessário para combatê-lo de peito. Bastou uma mentira narrando ser pior que sou para deixar a situação desse jeito. Dessa maneira lastimável. Quinze vezes já estive assim ou até mais por essa mesma mulher. Sentimentos teem dessas coisas, não se explicam e não se acabam pelo mero desejo após se constatar sua contra producência absoluta. Que faço eu, um ególatra assumido, com alguém que apesar da paixão avassaladora não me cultua como eu me cultuo? Mas diabos! Como posso me comparar com o gênio de Bukowski se sequer consigo me manter num linguajar simples e inteligível! Sou apenas uma palavroso cheio de palavras que dizem exatamente tudo para mim mas absolutamente nada para meu leitor. Ah, leitor, quem é você que perde tempo comigo? Que me visita em meu sitio virtual sem se identificar deixando apenas seu número no contador de visitas? Quem é você que visita e lê impassível minhas confidências em versos apenas, quando tenho sorte, votando como péssimos ou perfeitos? Mas tomando de volta. Cá estou em depois de fumar um derby para matar cinco minutos de uma noite morta. Depois de relembrar e marcar todos os momentos terríveis que já vivi com ela. Depois de relembrar todas aquelas que me fizeram me sentir rei mas sem me sentir recompensado pelos súditos que tinha. Odeio ser a merda de mais um ser humano que teme os cavalos mais bravios mas se entedia com a sela arriada do alazão domado por outrem. Eu quero conquistar o mundo de possibilidades mas que cada dificuldade venha à medida para minha superação. Como um jogo de video game com fases de níveis progressivos. Quero o orgulhos do hardcore e a segurança do easy mode. E olha que engraçado, que tempos são esses que metrifico um poema e depois venho cá falar de virtualidade, computadores, games e toda a modernidade? Sou anacrônico, velas me iluminam enquanto digito. Sou eu pulando de assunto em assunto, misturando o meio de campo, jogando futebol como técnico no computador e ao mesmo compondo sonetos à minha amada que terminou comigo por causa de uma provocação através de um SMS. E estar no interior me traz cenas hilárias. Estou numa varanda escutando o galo cantar logo após uma banda tocar com guitarras distorcidas, me lembrar do travesti que se apresentou no mesmo palco na noite de ontem e rir-me de estar dormindo numa cama na varanda usando a tomada do banheiro, que fica do lado de fora da casa, para alimentar o meu computador de sobre as pernas, meu laptop. Eu queria ser poeta mas trabalho com computadores. E no fundo não sei o que faço pior. Boa noite manhã de quarta-feira pós independência do Brasil.
domingo, 5 de setembro de 2010
Enamorados
Lucas C. Lisboa
É belo, fugaz e sutíl:
o flerte cheio de ardil:
"Se você bater eu sangro"
Se você sangrar eu gamo
É belo, fugaz e sutíl:
o flerte cheio de ardil:
"Se você bater eu sangro"
Se você sangrar eu gamo
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Versificação Voraz
Lucas C. Lisboa
Vermelhos, vis, violentos
versos vicejam veementes
violam vossas virtudes
versejando verdades
Vermelhos, vis, violentos
versos vicejam veementes
violam vossas virtudes
versejando verdades
Proposta
Lucas C. Lisboa
Você gosta de cultura,
e também duma aventura
pensa que bela cena
seu boquete no cinema
Você gosta de cultura,
e também duma aventura
pensa que bela cena
seu boquete no cinema
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
A cicatriz do Palhaço
Lucas / Ataualpa
A Dor é um aviso que nos diz
ao sofrer pele adentro forte talho
enrijecerá ali uma Cicatriz
deixando espaço para sempre falho
Porém, depois de tudo que ja fiz
não posso dar às dores qualquer ralho
sem posar de mal paga meretriz
que fora descartada do baralho
Minhas malgradas dores são terrenas
as marcas ferem muito mais meu ego
sou puro santo tal arqueiro cego
Nesse reino de mentiras pequenas
vero é que meu riso esconde o medo
que tenho de ser velho ainda cedo
A Dor é um aviso que nos diz
ao sofrer pele adentro forte talho
enrijecerá ali uma Cicatriz
deixando espaço para sempre falho
Porém, depois de tudo que ja fiz
não posso dar às dores qualquer ralho
sem posar de mal paga meretriz
que fora descartada do baralho
Minhas malgradas dores são terrenas
as marcas ferem muito mais meu ego
sou puro santo tal arqueiro cego
Nesse reino de mentiras pequenas
vero é que meu riso esconde o medo
que tenho de ser velho ainda cedo
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Do Desvario Delirante
Lucas C. Lisboa
de desgoto em desgosto
degusto dulce dolor
dulcíssimas delícias
deliciosíssimas dores
de desgoto em desgosto
degusto dulce dolor
dulcíssimas delícias
deliciosíssimas dores
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Vaso de flor
Lucas C. Lisboa
Provocar os sentidos evocando
sonhos, ódios, paixões ou muita dor?
Desafio co'a palavra anil pintando
um vaso singelíssimo e sua flor
Enquanto passam pelas ruas cantando
a perda d'algum veraneio amor...
Eu Revelo mil gozos delineando
quadros com perfeição luz de pintor!
São detalhes que não deixam ao acaso
ou fortuito d'espelhos quebrados
para criar mosaicos dessas vidas
É nos jardins e bosques do Parnaso
nos montes de arvoredos bem cuidados
que pendem frutas pelas mãos cerzidas
Provocar os sentidos evocando
sonhos, ódios, paixões ou muita dor?
Desafio co'a palavra anil pintando
um vaso singelíssimo e sua flor
Enquanto passam pelas ruas cantando
a perda d'algum veraneio amor...
Eu Revelo mil gozos delineando
quadros com perfeição luz de pintor!
São detalhes que não deixam ao acaso
ou fortuito d'espelhos quebrados
para criar mosaicos dessas vidas
É nos jardins e bosques do Parnaso
nos montes de arvoredos bem cuidados
que pendem frutas pelas mãos cerzidas
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Sonetilho sem tema
Lucas C. Lisboa
Tira teu cabelo
da cara, moleque
não pode esconê-lo
do erro que comete
Tira gata o novelo
desfia e te tece
fitas pra prendê-lo
n'algo que não preste
Termina com zelo
a mesura preste
que se faz sem sê-lo
Tira deste leque
teu bom pesadelo
e medos que mete
Tira teu cabelo
da cara, moleque
não pode esconê-lo
do erro que comete
Tira gata o novelo
desfia e te tece
fitas pra prendê-lo
n'algo que não preste
Termina com zelo
a mesura preste
que se faz sem sê-lo
Tira deste leque
teu bom pesadelo
e medos que mete
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Pois eram um belo par
Lucas C. Lisboa
Elas por zelo eram aças
e a maciez vicejava
de tão castas e intocadas
nas peças que trajava
Luvas Ele sempre usava
e ela sua maior das graças
quando que ele lhe sovava
às nádegas co'as mãos nuas
Seu deleite era segui-las
com longo e languido olhar
por seu espelho de canto
Albas, puras e enfim belas
quando vinham a ressoar
nas carnes de serva ao santo

Elas por zelo eram aças
e a maciez vicejava
de tão castas e intocadas
nas peças que trajava
Luvas Ele sempre usava
e ela sua maior das graças
quando que ele lhe sovava
às nádegas co'as mãos nuas
Seu deleite era segui-las
com longo e languido olhar
por seu espelho de canto
Albas, puras e enfim belas
quando vinham a ressoar
nas carnes de serva ao santo

quinta-feira, 29 de julho de 2010
Amor
Lucas C. Lisboa
Se amo não tenho certeza
mas quero o que há na mesa
e degustar prato a prato
do gordo boi e seu mato
Se amo não tenho certeza
mas quero o que há na mesa
e degustar prato a prato
do gordo boi e seu mato
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Lição
Lucas C. Lisboa
quando o metro você aprende
nada mais lhe surpreende
fica fácil de ser feito
o poema mais perfeito
quando o metro você aprende
nada mais lhe surpreende
fica fácil de ser feito
o poema mais perfeito
terça-feira, 13 de julho de 2010
domingo, 4 de julho de 2010
Xeque-mate
Lucas C. Lisboa
Sabe, no xadrez da vida
todo mundo é peão
só dependendo querida
do tamanho de qual mão
que mexe no tabuleiro
e comanda o pardieiro
Sabe, no xadrez da vida
todo mundo é peão
só dependendo querida
do tamanho de qual mão
que mexe no tabuleiro
e comanda o pardieiro
Membro superior
Lucas C. Lisboa
Mão esta, senil e rota!
Sufoca por um momento!
De todo e puro tormento!
Mão esta, bela e cálida...
Carícia por um momento...
De todo e puro alento...
Mão esta, forte e gentil.
Segura por um momento.
De todo e puro pensamento.
Mão esta, senil e rota!
Sufoca por um momento!
De todo e puro tormento!
Mão esta, bela e cálida...
Carícia por um momento...
De todo e puro alento...
Mão esta, forte e gentil.
Segura por um momento.
De todo e puro pensamento.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Mas nós estávamos sós
Lucas C. Lisboa/ Larissa Teixeira
Nisso nós estávamos nus
nus sob os olhos de nós
e nos nós nos prediam nus
nos deixando junto a nós
Nisso nós estávamos nus
nus sob os olhos de nós
e nos nós nos prediam nus
nos deixando junto a nós
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Micro conto em 140 caracteres
Era perfecionista mas também manco e por isso corria em sentido horário pois sua perna esquerda teimava sempre em tentar alcançar a direita.
terça-feira, 29 de junho de 2010
Ninfeta
terça-feira, 22 de junho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
quarta-feira, 16 de junho de 2010
e nem é carnaval
Lucas C. Lisboa
noite cai, O vento sopra
e fica a moça na janela
em sua paciente espera
do rapaz que brinda a copa
noite cai, O vento sopra
e fica a moça na janela
em sua paciente espera
do rapaz que brinda a copa
Eu, Desejo
Lucas C. Lisboa
Qual o encanto da cultura
esquecida sem valor?
Qual o pranto que me cura
com muita vida e vigor?
Qual o canto que tortura
somando prazer e dor?
Qual o santo que procura
noite e dia sem pudor?
Me faço em forma nenhuma
traço a reta da curva
e lhe lanço o desafio
Me pegue antes que eu suma
nas águas da fonte turva
dum labirinto sem fio
Qual o encanto da cultura
esquecida sem valor?
Qual o pranto que me cura
com muita vida e vigor?
Qual o canto que tortura
somando prazer e dor?
Qual o santo que procura
noite e dia sem pudor?
Me faço em forma nenhuma
traço a reta da curva
e lhe lanço o desafio
Me pegue antes que eu suma
nas águas da fonte turva
dum labirinto sem fio
quinta-feira, 3 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Manifesto
Lucas C. Lisboa
Estudo na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e por esse nome fica bem claro que a filosofia não faz parte das ciências humanas e duvido muito que se encaixe bem como qualquer outra ciência. Sim, isso parece piada, mas me leva a pensar no porque de nosso curso ser tão engessado pelas normas dessas ciências que, de certo modo, não deixam nada a dever à Escolástica Medieval! Com normas, métodos, restrições e mil barreiras ao livre questionamento e livre pensamento que, inocentemente, achei que eram fundamentos da Filosofia.
Cheguei para o curso de filosofia com vários nomes e idéias, lidos em livros de história, vistos em documentários e até mesmo citados em mesas de bar. Tive a ilusão de que esses nomes fossem importantes e que eu os estudaria no curso de Filosofia. Fui, entretanto, surpreendido por uma porção de nomes que nunca tinha ouvido falar na minha vida, nomes que foram esmiuçados aos mínimos detalhes sob a justificativa que eram os percussores ou os herdeiros de um daqueles nomes importantes.
Durante muito tempo me culpei, pois, por desleixo meu, eu saí do ensino médio sem conhecer a fundo nomes como Nietzsche, Marx, Maquiavel, Jean Bodin, Rousseau, Montesquieu, Sartre e outros tantos mais que, dentro de sala, eram apenas citados como se todos ali já tivessem lido e relido cada obra e assim fosse necessário ir aos autores periféricos para um maior aprofundamento daqueles temas que eu já devia saber a fundo desde o primeiro dia de faculdade! Os anos de graduação se sucederam e minha esperança se renovava a cada semestre. De quando em vez um ou outro aparecia, mas em seu texto mais obscuro e árido, aquele mesmo que ele nunca completara, lançado postumamente, em língua estrangeira ou de sorte um texto com dúvidas de sua autoria.
Com o tempo percebi que aqueles textos e filósofos obscuros eram o nicho de pesquisa de meus professores. Não duvido que fossem eles fascinantes de se pesquisar, afinal, não estavam saturados como os cânones! Porém, eram fascinantes para quem dominava bem os fundamentos, as idéias principais daqueles filósofos sobre os quais orbitavam os demais. Tive um espanto ao ser apresentado a conceitos profundamente formulados, que meu professor havia desenvolvido com primor. Mas novamente não havia nenhuma preocupação em sedimentar as bases da compreensão daquele conceito. Sentia-me como se no colégio estivessem tentando me ensinar a multiplicar antes de aprender a somar (e confesso que às vezes alguns professores já chegavam direto com a raiz quadrada).
Felizmente, nem todos os professores queriam que eu lesse Guimarães Rosa antes de aprender o alfabeto, tais professores que realmente tinham o dom do ensino conseguiam me levar de um ponto ao outro, começando dos conceitos mais básicos, para depois reconstruí-los em conceitos mais sólidos.
Tais professores eram poucos, na maioria das aulas eu me sentia como um rato de laboratório, um claque obrigado a prestar atenção nos detalhes da última pesquisa do professor. Eu via uma inversão perversa, os autores fundamentais apareciam em disciplinas esporádicas, optativas, enquanto que nas disciplinas obrigatórias me deixavam frente a trabalhos restritos em seu conteúdo e abrangência. Comecei a enxergar nisso um descaso de determinados professores, um desinteresse total pelos alunos. Como se não importasse para eles o aprendizado, a formação geral de cada um apenas, quando muito, querendo-os para suas próprias escolas filosóficas, como se desejosos de um coro para reafirmar suas idéias.
Tanto descaso ficou muito claro quando um professor ao criticar o método de "outros professores" comparou as notas que cada um dava a um mesmo aluno, dizendo que era impossível que aquelas notas tão altas fossem condizentes com a capacidade do aluno. Em nenhum momento questionou quanto a sua própria capacidade de lecionar, de fazer o aluno se interessar por seu tema e muito menos que fatores acadêmicos e extra-acadêmicos levaram àquele aluno aos resultados que ele observava.
Ao longo do curso de filosofia testemunhei o abandono de muitos colegas, muitas crises pessoais e muitos trancamentos repentinos. Como nenhum professor tomou uma atitude depois de tantos casos graves de suicídio e de tentativas se tornou um mistério para mim. Quando questionados simplesmente respondiam que não foram procurados, não lhes pediram ajuda. Tal pode muito bem ser uma desculpa perfeita se esqueço é claro que quem tem problemas muitas vezes não sabe ou não consegue pedir ajuda e sequer sabe dos meios que poderia recorrer para pedir ajuda.
Tais questionamentos me fazem pensar se os professores sabem quais são seus deveres para com os alunos. Percebi logo que a universidade é um mar de burocracia onde os professores se resguardam fechando os olhos para os direitos do aluno. Vi muito professor forçar a data de um exame especial para dois dias depois da prova final, sem tempo para se estudar minimamente. Não é dito que o professor só pode marcar um exame especial para antes da data prevista em calendário se todos os alunos concordarem.
São tantas as frustrações ao longo do curso que não entendo como essa filosofia que aprendi durante esses anos todos um dia influenciou revoluções, mudou a forma que o homem pensava a si mesmo. E tenho mais dificuldade em como foi possível que no Maio em Paris houvesse professores-filósofos juntos com os estudantes! Há uma falta de Empatia que me sufoca nesse curso, é esse o maior problema da filosofia: Como se libertar do engessamento, do rigor, do distanciamento academicista, como tornar a filosofia viva e fértil para os seus e também para a sociedade.
Estudo na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e por esse nome fica bem claro que a filosofia não faz parte das ciências humanas e duvido muito que se encaixe bem como qualquer outra ciência. Sim, isso parece piada, mas me leva a pensar no porque de nosso curso ser tão engessado pelas normas dessas ciências que, de certo modo, não deixam nada a dever à Escolástica Medieval! Com normas, métodos, restrições e mil barreiras ao livre questionamento e livre pensamento que, inocentemente, achei que eram fundamentos da Filosofia.
Cheguei para o curso de filosofia com vários nomes e idéias, lidos em livros de história, vistos em documentários e até mesmo citados em mesas de bar. Tive a ilusão de que esses nomes fossem importantes e que eu os estudaria no curso de Filosofia. Fui, entretanto, surpreendido por uma porção de nomes que nunca tinha ouvido falar na minha vida, nomes que foram esmiuçados aos mínimos detalhes sob a justificativa que eram os percussores ou os herdeiros de um daqueles nomes importantes.
Durante muito tempo me culpei, pois, por desleixo meu, eu saí do ensino médio sem conhecer a fundo nomes como Nietzsche, Marx, Maquiavel, Jean Bodin, Rousseau, Montesquieu, Sartre e outros tantos mais que, dentro de sala, eram apenas citados como se todos ali já tivessem lido e relido cada obra e assim fosse necessário ir aos autores periféricos para um maior aprofundamento daqueles temas que eu já devia saber a fundo desde o primeiro dia de faculdade! Os anos de graduação se sucederam e minha esperança se renovava a cada semestre. De quando em vez um ou outro aparecia, mas em seu texto mais obscuro e árido, aquele mesmo que ele nunca completara, lançado postumamente, em língua estrangeira ou de sorte um texto com dúvidas de sua autoria.
Com o tempo percebi que aqueles textos e filósofos obscuros eram o nicho de pesquisa de meus professores. Não duvido que fossem eles fascinantes de se pesquisar, afinal, não estavam saturados como os cânones! Porém, eram fascinantes para quem dominava bem os fundamentos, as idéias principais daqueles filósofos sobre os quais orbitavam os demais. Tive um espanto ao ser apresentado a conceitos profundamente formulados, que meu professor havia desenvolvido com primor. Mas novamente não havia nenhuma preocupação em sedimentar as bases da compreensão daquele conceito. Sentia-me como se no colégio estivessem tentando me ensinar a multiplicar antes de aprender a somar (e confesso que às vezes alguns professores já chegavam direto com a raiz quadrada).
Felizmente, nem todos os professores queriam que eu lesse Guimarães Rosa antes de aprender o alfabeto, tais professores que realmente tinham o dom do ensino conseguiam me levar de um ponto ao outro, começando dos conceitos mais básicos, para depois reconstruí-los em conceitos mais sólidos.
Tais professores eram poucos, na maioria das aulas eu me sentia como um rato de laboratório, um claque obrigado a prestar atenção nos detalhes da última pesquisa do professor. Eu via uma inversão perversa, os autores fundamentais apareciam em disciplinas esporádicas, optativas, enquanto que nas disciplinas obrigatórias me deixavam frente a trabalhos restritos em seu conteúdo e abrangência. Comecei a enxergar nisso um descaso de determinados professores, um desinteresse total pelos alunos. Como se não importasse para eles o aprendizado, a formação geral de cada um apenas, quando muito, querendo-os para suas próprias escolas filosóficas, como se desejosos de um coro para reafirmar suas idéias.
Tanto descaso ficou muito claro quando um professor ao criticar o método de "outros professores" comparou as notas que cada um dava a um mesmo aluno, dizendo que era impossível que aquelas notas tão altas fossem condizentes com a capacidade do aluno. Em nenhum momento questionou quanto a sua própria capacidade de lecionar, de fazer o aluno se interessar por seu tema e muito menos que fatores acadêmicos e extra-acadêmicos levaram àquele aluno aos resultados que ele observava.
Ao longo do curso de filosofia testemunhei o abandono de muitos colegas, muitas crises pessoais e muitos trancamentos repentinos. Como nenhum professor tomou uma atitude depois de tantos casos graves de suicídio e de tentativas se tornou um mistério para mim. Quando questionados simplesmente respondiam que não foram procurados, não lhes pediram ajuda. Tal pode muito bem ser uma desculpa perfeita se esqueço é claro que quem tem problemas muitas vezes não sabe ou não consegue pedir ajuda e sequer sabe dos meios que poderia recorrer para pedir ajuda.
Tais questionamentos me fazem pensar se os professores sabem quais são seus deveres para com os alunos. Percebi logo que a universidade é um mar de burocracia onde os professores se resguardam fechando os olhos para os direitos do aluno. Vi muito professor forçar a data de um exame especial para dois dias depois da prova final, sem tempo para se estudar minimamente. Não é dito que o professor só pode marcar um exame especial para antes da data prevista em calendário se todos os alunos concordarem.
São tantas as frustrações ao longo do curso que não entendo como essa filosofia que aprendi durante esses anos todos um dia influenciou revoluções, mudou a forma que o homem pensava a si mesmo. E tenho mais dificuldade em como foi possível que no Maio em Paris houvesse professores-filósofos juntos com os estudantes! Há uma falta de Empatia que me sufoca nesse curso, é esse o maior problema da filosofia: Como se libertar do engessamento, do rigor, do distanciamento academicista, como tornar a filosofia viva e fértil para os seus e também para a sociedade.
domingo, 30 de maio de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Confessionário
Lucas C. Lisboa
Ontem, um copo de leite
mamãe me deu em seu ninho
Hoje um seio nú em deleite
mamo com todo carinho
Não há gula q'eu não aceite
se oferecida com jeitinho
gosto de carne, mel e azeite
junto dum odre de vinho
Eu lembro da prima bruna
de pele macia e escura
com mamilos tão gostosos
Responsável por alguma
ou várias de minhas taras
juvenis e outros gozos
Ontem, um copo de leite
mamãe me deu em seu ninho
Hoje um seio nú em deleite
mamo com todo carinho
Não há gula q'eu não aceite
se oferecida com jeitinho
gosto de carne, mel e azeite
junto dum odre de vinho
Eu lembro da prima bruna
de pele macia e escura
com mamilos tão gostosos
Responsável por alguma
ou várias de minhas taras
juvenis e outros gozos
terça-feira, 25 de maio de 2010
sexta-feira, 21 de maio de 2010
A forma da racionalidade
Lucas C. Lisboa
O Século das luzes não viu nascer apenas a Indústria têxtil inglêsa e o protestantismo de Calvino como sucita Weber em seu livro célebre. O mesmo fio condutor que o autor aponta como germe de ambos os processos também pode ser visto nas artes seja na música onde surge a notação musical tal qual é utilizada, com suas regras, medidas e formas bem estabelecidas ou seja na literatura onde surge o movimento árcade. Todos esses eventos marcam uma ascenção de uma racionalide pragmática que busca os melhores meios para seus fins.
O arcadismo surgiu como uma proposta literária que se primou pela forma, estrtuturada e com uma definição dos meios para se alcançar uma poesia perfeita. Definima não só a forma como também seu conteúdo. Os temas, os metros, as regras foram todas estabelecidas rejeitando o obscuro Barroco e adota principios norteadores como "inutilia truncat" e " "aurea mediocritas" onde o primeiro dizia para se cortar os excessos e rebuscamentos desnecessários à arte e o segundo estabelecia o diálogo direto com o quotidiano e racional em detrimento do irracionalismo sagrado e profano.
Tal processo racionalizando da vida humana tem seu ápice no século XIX onde a industrialização da Inglaterra já deixou o reduto têxtil e avançou para uma complexa máquina fabril e mercatil em uma forma consolidada de capitalismo que possibilitou o surgimento do império que nunca dorme. A França além de ter lançado os ares da revolução também propagou o Parnasianismo que, depois de um aparente recuo romântico na segunda metade do século anterior, surge com uma proposta ainda mais profunda que a dos Árcades.
Os Parnasianos se protaram como cientistas dos versos começam a dissecá-los em sua anatomia, prestando o trabalho de definir a sonoridade de cada vogal, de classificar palavras e versos quanto ao seu sexo e tonicidade. O tratado de Olavo Bilac sobre versificação explicita elementos da poesia nunca antes explorados, categorizados e aplicados com tamanha precisão e cuidado. O título de ourives das palavras é mais que adequado àqueles que aprenderam num processo cuidadoso e racional a extrair a máxima expressividade da forma.
Contudo tal processo não se encerra e se cristaliza com o parnaso, pois a ascenção da racionalidade ganha contornos de outra dimensão no século seguinte. A morte de deus é decretada e o homem passa a ter a si como único responsável, racional e absoluto dos seus atos. Mesmo os horrores das guerras não fazem mais que reafirmar a responsabilidade do homem para consigo. Esse deslocamento também se nota na esfera econômica onde a própria lógica, a própria economia passa a valer por si mesma sem que seus rumos sejam ditados por outrem que a própria lógica do capitalismo financeiro.
Com a virada do século a poesia se devora num processo antropofágico dos valores estéticos vigentes por seu caráter profundamente racional. Pois se aparentemnte o verso dito livre é uma reijeição à racionalidade instrumental o mesmo não deixa de ser uma complexificação da estética anterior numa conciliação racionalizadora dos conflitos e questionamentos dessa época. Soa o modernismo como uma rejeição da racionalidade tal qual o capitalismo de sua época foi dito como selvagem, mas ambos são um processo extremo de racionalismo onde o indivíduo comum perde a referencia dos processos internos.
As novas experiências modernistas são de tal maneira profundas e inovadoras que o público médio só pode enxergar nela uma iconoclastia, uma ausência de parâmetros e normas. Mas tal visão é tão errônea quanto se um medieval que ao ver um avião em pleno vôo acreditasse que se trata de um feito mágico. Só que a magia modernista funciona como a apresentação de um mago de palco. Onde se troca a assistente linda que desvia o olhar do público enquanto o truque se passa do outro lado por um discurso de liberdade absoluta da forma como um engodo para que seus leitores não vejam os usos formais que se escamoteiam em suas obras. A sutileza do poeta que declara que seus poemas surgem num rompante e depois afirma que sas palavras mentem?
Os seguidores destes porém tentam imitar os seus feitos levando-os ao pé da letra acreditando que a magia do versos está nas palavras do mago, em seu "ocus pocus" , pois foram completamente seduzidos pela assistente. Os modernosos imitam a aparência da poesia modernista mas engoliram o embuste estético e sequer têm consciência da busca pela primazia estética dos versos pois não lhes foi dito o truque secreto que se passou bem debaixo dos seus olhos.
Contra o ataque infundando contra a forma há a proposta oulipista que não se propõe uma mera revalorização da forma trazendo-a para o uso afinal a mesma nunca deixou de fato o verso apenas foi ocultada magistralmente pelos modernistas. O OULIPO pretende explorar os limites da palavra sem depender de um obscurecimento da forma para fazer belas as letras mas sim tornar a própria engenharia da escrita bela.
O arcadismo surgiu como uma proposta literária que se primou pela forma, estrtuturada e com uma definição dos meios para se alcançar uma poesia perfeita. Definima não só a forma como também seu conteúdo. Os temas, os metros, as regras foram todas estabelecidas rejeitando o obscuro Barroco e adota principios norteadores como "inutilia truncat" e " "aurea mediocritas" onde o primeiro dizia para se cortar os excessos e rebuscamentos desnecessários à arte e o segundo estabelecia o diálogo direto com o quotidiano e racional em detrimento do irracionalismo sagrado e profano.
Tal processo racionalizando da vida humana tem seu ápice no século XIX onde a industrialização da Inglaterra já deixou o reduto têxtil e avançou para uma complexa máquina fabril e mercatil em uma forma consolidada de capitalismo que possibilitou o surgimento do império que nunca dorme. A França além de ter lançado os ares da revolução também propagou o Parnasianismo que, depois de um aparente recuo romântico na segunda metade do século anterior, surge com uma proposta ainda mais profunda que a dos Árcades.
Os Parnasianos se protaram como cientistas dos versos começam a dissecá-los em sua anatomia, prestando o trabalho de definir a sonoridade de cada vogal, de classificar palavras e versos quanto ao seu sexo e tonicidade. O tratado de Olavo Bilac sobre versificação explicita elementos da poesia nunca antes explorados, categorizados e aplicados com tamanha precisão e cuidado. O título de ourives das palavras é mais que adequado àqueles que aprenderam num processo cuidadoso e racional a extrair a máxima expressividade da forma.
Contudo tal processo não se encerra e se cristaliza com o parnaso, pois a ascenção da racionalidade ganha contornos de outra dimensão no século seguinte. A morte de deus é decretada e o homem passa a ter a si como único responsável, racional e absoluto dos seus atos. Mesmo os horrores das guerras não fazem mais que reafirmar a responsabilidade do homem para consigo. Esse deslocamento também se nota na esfera econômica onde a própria lógica, a própria economia passa a valer por si mesma sem que seus rumos sejam ditados por outrem que a própria lógica do capitalismo financeiro.
Com a virada do século a poesia se devora num processo antropofágico dos valores estéticos vigentes por seu caráter profundamente racional. Pois se aparentemnte o verso dito livre é uma reijeição à racionalidade instrumental o mesmo não deixa de ser uma complexificação da estética anterior numa conciliação racionalizadora dos conflitos e questionamentos dessa época. Soa o modernismo como uma rejeição da racionalidade tal qual o capitalismo de sua época foi dito como selvagem, mas ambos são um processo extremo de racionalismo onde o indivíduo comum perde a referencia dos processos internos.
As novas experiências modernistas são de tal maneira profundas e inovadoras que o público médio só pode enxergar nela uma iconoclastia, uma ausência de parâmetros e normas. Mas tal visão é tão errônea quanto se um medieval que ao ver um avião em pleno vôo acreditasse que se trata de um feito mágico. Só que a magia modernista funciona como a apresentação de um mago de palco. Onde se troca a assistente linda que desvia o olhar do público enquanto o truque se passa do outro lado por um discurso de liberdade absoluta da forma como um engodo para que seus leitores não vejam os usos formais que se escamoteiam em suas obras. A sutileza do poeta que declara que seus poemas surgem num rompante e depois afirma que sas palavras mentem?
Os seguidores destes porém tentam imitar os seus feitos levando-os ao pé da letra acreditando que a magia do versos está nas palavras do mago, em seu "ocus pocus" , pois foram completamente seduzidos pela assistente. Os modernosos imitam a aparência da poesia modernista mas engoliram o embuste estético e sequer têm consciência da busca pela primazia estética dos versos pois não lhes foi dito o truque secreto que se passou bem debaixo dos seus olhos.
Contra o ataque infundando contra a forma há a proposta oulipista que não se propõe uma mera revalorização da forma trazendo-a para o uso afinal a mesma nunca deixou de fato o verso apenas foi ocultada magistralmente pelos modernistas. O OULIPO pretende explorar os limites da palavra sem depender de um obscurecimento da forma para fazer belas as letras mas sim tornar a própria engenharia da escrita bela.
Subscrever:
Mensagens (Atom)