Publicação em destaque
Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
O mito do talento artístico e a valorização do artista.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Diálogos que a gente vê por ai:
- Claro! O bicho não é burro o bastante pra jogar no homem!
domingo, 2 de dezembro de 2012
Ela, no espelho, sou eu
Pequenina e magricela
porém faminta como eu
tem um jeito de aquarela
que no pincel se perdeu
Pinta co's dedos a tela
dum jeito bem meu e seu
Assim bruta e singela
uma musa prum ateu
Sou narciso enamorado
por essa doce mocinha
que as vezes morre de medo
de ter o peito apaixonado
pela poesia daninha
que guardamos em segredo
terça-feira, 27 de novembro de 2012
O novo livro: Poeta Sobre Trilhos
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Na foto: As 14 edições dos meus livretos (incluindo edição erótica) o primeiro livro: Sobre Máscaras e Espelhos, o livreto do Fora de Área, do Zuza Zapata e do Josué Carlos |
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Poetas percorrem as ruas de BH e vendem seus livros diretamente
Divulgação

Ter um produto em mãos e sair por aí vendendo pode ser algo comum pra muitos empreendedores, mas quando esse "produto" é a poesia e o empreendedor é um artista, a coisa muda de figura. Para eles, o senso comum de que o Brasil não se interessa tanto pelos textos em versos não existe. Prova disso é que alguns destes trabalhadores autônomos das letras já chegaram a vender 35 mil livros em menos de dois anos. Uma prova de que eles conseguem, sim, viver de sua arte.
Há exatos 30 anos, o poeta Rogério Salgado, 58 anos, traça roteiros de caminhadas em Belo Horizonte e na Região Metropolitana para vender os livros que faz. Dessa vez, o bairro escolhido para esta entrevista foi o Padre Eustáquio, onde o autor já cultiva leitores. A tática dele é simples: abordar apenas comerciantes nas lojas. A explicação também é: "Eles já estão ali para atender o público. Ao bater na porta, a dona de casa pode estar ocupada, fazendo o almoço. Incomoda".
Na primeira loja, uma distribuidora de doces, o poeta vende o primeiro livro, sempre a R$ 10. Surpresas aparecem ao longo do caminho. Uma mini-biblioteca nos fundos de uma relojoaria é uma delas. "Aqui aparece todo tipo de pessoa vendendo coisas, obra de arte, essas bicicletinhas de arame para enfeite. Esse é um produto mais intelectual", pondera o proprietário da Relojoaria e Joalheria Tinkan, Osvaldo Lino. Ele compra o livro de Salgado e o posiciona na estante, entre um exemplar de Malba Tahan e um livro espírita.
Mais adiante, mais vendas, na ótica, na loja de roupas... "Ser poeta é a minha profissão. É o meu trabalho e eu acredito nele", resume Rogério Salgado. O autor calcula que já tenha vendido mais de 20 mil livros. O ano inicial dessa contagem é 1982, quando publicou "Tontinho", seu livro de estreia.
Outro exemplo de autor que se encarrega da produção e comercialização de seus livros é Lucas Lisboa, 26 anos, conhecido como "O Poeta Sobre Trilhos". No blog www.srpersonna.com.br ele expõe sua crença de que a poesia não pode ficar restrita somente às bibliotecas, aos saraus e livrarias.
Antes de publicar "O Poeta Sobre Trilhos" estudava filosofia e trabalhava como professor, em BH. Hoje, vive no Rio. "Tudo começou quando ia de Duque de Caxias até a universidade, de trem. Nesse percurso, tem venda de tudo nos vagões: ferramentas, CD, sabonete, meia ortopédica. Aí eu pensei, por que não poesia?".
Desvalorização mercadológica prejudica poesia
O autor faz livretos que já totalizam 14 números – cada tiragem é de 2.500. Ou seja, 35 mil livros vendidos em dois anos de atuação no trabalho. Quase um autor best-seller, se comparado com a vendagem convencional de títulos.
"Consegui furar a fila do mercado editorial. É um público que eu nunca teria na internet", constata Lisboa que se apropriou do formato de livreto – que tantos poetas como Glauco Mattoso, Chacal e Waly Salomão já utilizaram – e o adaptou para a grande escala do público dos vagões: "São cerca de cem livretos vendidos por saída para os vagões do metrô".
Mercado pode faltar, mas a criatividade para distribuir poesia, não. Há seis anos, o projeto "Pão e Poesia" estampa versos em pacotes de pão em BH e SP. "Até agora, foram distribuídas quase 1 milhão de embalagens", observa o idealizador do projeto Diovani Mendonça. "A partir do século 20, houve uma espécie de desvalorização mercadológica da poesia, afirma a pesquisadora em Poéticas Contemporâneas Vera Casa Nova. Ela diz que as publicações de autores novos também é rara. O que vende são os chamados "canônicos", autores como Drummond e Cecília Meireles. "Isso é grave, é uma diminuição da capacidade de pensar", lamenta Vera.
Há autores que apostam nas performances ou veem a internet como alternativa para a distribuição de sua obra. "O jeito é fazer isso mesmo. Muitos outros poetas, hoje com nomes consagrados, pagaram para serem publicados. Hoje isso continua".
Autoria: Elemara Duarte - Do Hoje em Dia
Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/pop-hd/literatura/poetas-percorrem-as-ruas-de-bh-e-vendem-seus-livros-diretamente-1.61006
Romântico III
ele estende a mão e ela acha
que é pra lhe fazer carinho
mas ele só diz: me passa
minha garrafa de vinho
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Poeta
Lucas C. Lisboa
Eu passo partindo pratos
e durmo rangendo dentes
Eu peco sem celibatos
quando me quebro as correntes
Mato e me roem os ratos
Morro e me cremam os crentes
Pois vivo rifo recatos
para meus doces dementes
Nos muros mando recados
se me rasgam os bilhetes
Pois espalho arcos alados
purpurinas e confetes
Eu falo pelos calados
e berro pelos falantes
Faço versos cravejados
de ouro, de prata e de amantes
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Banal
em folhetim revista ou jornal
nem caio bem na coluna social
e nem no diário de coração
eu sou poeta do dia mais banal
da coisa já sem brilho ou razão
do instante mínimo além do tesão
típico do caderno marginal
falo da menina quase sem graça
que acha graça da minha cantada
falo dos belos mendigos da praça
que transam na fonte de madrugada
falo da minha poesia de raça
impura e filosofia renegada
Tour monetário e a mecenas de cabelos vermelhos
Além de ganhar chicletes de canela de lindas meninas, chocolates de doces senhoras, coca-cola e pururuca dos vendedores do trem e poesia dos poetas que encontro ao vender meus versos nos trilhos. Há uma outra coisa que sempre é divertido quando acontece. Que é quando recebo moedas estrangeiras! Sim, eu já estou fazendo um tour monetário com os diferentes trocados que recebo em troca dos livretos.
Tem moeda do peru que ganhei de um mochileiro que estava cruzando o pais, um dólar americano que ganhei de um casal que estava falando em inglês mas eram brasileiros, um dólar octogonal canadense que não sei quem me deu... É... eu não sei quem me deu pois tenho o costume de agradecer pelo livreto comprado mas não olhar o valor recebido. Gosto de poder tratar com a mesma simpatia o leitor que me dá centavos e o que me enche de notas.
Normalmente não conto o dinheiro até o fim do dia. Apenas retiro as moedas do bolso quando começa a ficar pesado demais e jogo dentro da bolsa de moedas. Após horas vendendo poesia ali nos trilhos essa bolsa fica parecendo uma algibeira medieval. E costuma fazer a alegria dos caixas de supermercado e bares que eu vou. Não são raras as vezes que eu escuto um: Acabou nosso problema de troco!
Falando em fazer a alegria, uma jovem mulher de cabelos curtos e pintados de vermelho realmente acreditou em meu sonho de levar a poesia a lugares onde ela nunca esteve. Já era tarde e eu tinha acabado de chegar até a Pavuna e me sentei distraído num dos bancos para arrumar minha bolsa e voltar a vender na volta.
Ela chegou toda tímida e me perguntou se eu ainda tinha dos livrinhos, acostumado com as pessoas que mudam de ideia na última hora e querem levar pra casa o livreto acabei abrindo a bolsa e peguei um livreto e entreguei para ela com um sorriso cansado. Ela pegou o livreto, guardou na bolsa e colocando minha mão entre as dela deixou uma nota muito dobrada dizendo para que eu não desistisse do meu sonho. E foi embora muito apressada sem me dar tempo de agradecer ou dizer nada. Foi o maior valor que eu já recebi por um livreto mais que o dobro do maior anterior.
Trabalhei contente não só pelo valor mas também porque vi que de norte a sul do Rio de Janeiro havia quem se encantasse por poesia, havia quem valorizasse o que eu faço contribuindo cada um a sua maneira para a poesia continue a viajar sobre os trilhos dessa cidade que acolhe os artistas com tanta alegria.
sábado, 17 de novembro de 2012
Para "A queda" um band-aid
que meu prazer é um mal
censura se me lambuzo
com delícias sem igual
Se rejeito tal abuso
é pecado capital
me acusa d'outro desuso
de ser crente do infernal
Pois eu rejeito esse intruso
não me cabe culpa e moral
E sem fé bem que lhe acuso
de ser anti-natural
Pois vestir calças é russo
no meu pais tropical
Me deixe que não lhe fuço
na sua vidinha sem sal
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Dia de chuva
pra alinhar todo meu mundo
como se ele fosse um terno
que se molhou num dia frio
Tentei consertar meu erro
encher de nada o vazio
jurando que seria eterno
só por mais esse segundo
Eu queria ter no meu peito
um algo que desse jeito
de chamar de coração
Tenho é um vazio perfeito
um belo sonho desfeito
que me canta a solidão
Ramalhete de palavras
são tudo que tenho a lhe oferecer
pra provar, pulo muros e janelas
espalho doces versos pra você
Cândidos cravos junto a rosas belas
eu trago pois se fosse seu querer
pintaria nas mais vivas aquarelas
só prum riso de seus lábios nascer
tenho duas mãos e a mente apaixonada
singro mares de morros, cruzo montes
quebro prantos e medos mais medonhos
eu simplesmente sei que é minha amada
pois em toda a arte somos amantes
nosso castelo é de pedras de sonho
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Diálogo entre o Dândi e o Trapeiro
-Você é um imbecil meu caro. Olhe essa cor vistosa! É um verde rubi de mais fina estirpe. Que importa se suas mangas estão poidas e seu acabamento não é mais o mesmo. Nas ruas escuras seu verde reluz o vermelho das lamparinas.
-Que me importa o quão reluzente seja? Me importo é com seu tamanho, ganho pelos palmos de pano que levo ao artesão. E esse casaco, tem forros internos, externos... É trapo que não acaba mais!
-Não o chame de trapos! É um design moderno, arrojado que acaba de cair em desuso na corte. Mas com os ajustes certos, a postura certa me faço em estilo e nobreza. O refinamento está na alma e em saber encontrar ouro onde os outros só vêem lixo.
-Chama de lixo meu trabalho? Seu verme vagabundo! Ganho com essas tralhas que ajunto o meu sustento. Melhor que você que escreve poemas e declama em troca de uma moeda ou uma caneca de vinho. Pelo menos meu trabalho não depende da caridade de ninguém.
-Meu caro amigo, não é isso que eu quero dizer. Mas a verdade é que dá para se viver no luxo só com o que se acha na porta da casa dos homens e mulheres direitos. São as melhores indumentárias, descartadas no afã da moda, os melhores adereços por terem sido ganhos do amante ousado e é claro até um quadro ou outro que fora dado por um parente que insiste em mecenar certos fracassados como nós.
-Não se iluda seu almofadinhas, essas roupa que usa, essa bengala, nada disso lhe faz parecer um dos que moram nas casas da avenida principal. Continua reles proletário, longe dos salões burgueses. Quando muito a Boemia pode abraçar. Somos de outra espécie de homem, bem mais baixos na cadeia alimentar.
-Vidrados no dinheiro, eles e você, não podem aproveitar a vida e nem o perfume da rosa. Veja aquela bela dama que atravessa a rua apressada, vê como é formosa!
-Pensa que me engana? Não levara meu trapo assim tão fácil. É tecido meu achado primeiro.
-Se o que queres é papel, tome cá esse livro. Pode vendê-lo ao artesão e ganhar mais moedas que ganharia com esse casaco.
-Me parece uma boa troca... Você deve ser louco! Trocar papel caro por um casaco sem valor.
-Cada um sabe o valor que dá ao que estima, esse casaco com certeza me ajudará a adentrar debaixo d'uma saia feminina.
-Seu lascivo! Isso lá é coisa que se diga na rua?
-Deixe disso, pare de me julgar pois agora vou-me indo atrás de um novo par.
-Mas espere ai! Isso aqui é uma bíblia! Como imagina que eu possa vender isso? É pecado!
-Pecado nada meu bom amigo, quando a fome a aperta Deus sempre está do nosso lado!
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Cego
canta bem melhor
no escuro perfeito
lhe feito sem dó
O saci do gueto
pula na maior
dum barraco pro outro
cuma perna só
mal não se renega
pois é desatino
não levar sua cruz
mariposa cega
tem no som do sino
seu facho de luz
domingo, 21 de outubro de 2012
Acelerado
num gozo raro
e quero raso
num riso solto
Não sei se passo
ou não do ponto
no que eu aposto
sem um centavo
Eu quero à vista
do sonho cego
e quero à prazo
desregulado
Não sei se fico
num beijo morno
ou se me vazo
como um cachorro
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Primavera de Ocasião
verdes araras urbanas
colorem um céu cinzento
num tchau pro fim de semana
Adorável Canalha
Caminhando pela rua ele veio em direção contrária a minha, olhou-me nos olhos, passeou pelos meus cabelos, desceu por meus lábios e enquanto sorria seus olhos secaram meu decote. Passou por mim, mas eu pude escutar seu telefone tocando:
-Oi amor, não paro de pensar em você!
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Livreto colorido, a gentileza dos seguranças e um recado pela janela do ônibus
Chegaram meus livretos novos! É a primeira edição colorida! Consegui encontrar uma gráfica graças ao Zuza que faz o trabalho por um preço mui acessível, acabou ficando a cópia mais barata que seria no xerox que eu costumava ir. E o melhor, posso pagar com cartão de crédito e só pagar os livretos muito depois de vendê-los.
Eu gosto do requinte que é usar as próprias engrenagens do sistema para subvertê-lo. Tento todo dia encontrar novos meios de usar a nossa querida industria capitalista que explora igualmente meios de transporte, graficas e cultura contra a sua própria estrutura.
Os novos livretos ficaram muito chamativos! Os leitores adoraram e foi um dia de intenso movimento nas estações. Acabei sendo pego em Cantagalo mas foi tranquilo, achei que ia dar algum problema mas os seguranças foram muito educados comigo e só me tiraram do sistema. O grande problema é que eu estava em Cantagalo e ali é longe demais das duas estações mais próximas.
Acabei optando por caminhar pela Rua Barata Ribeiro até chegar a estação Siqueira Campos onde voltei ao meu trabalho habitual de espalhar a poesia pelos trilhos do metrô. Nesse vai e vem cheguei até a Saens Peña e voltei vendendo vagão a vagão. Não é que dentro de um desses, na altura da Carioca, não encontro um amigo que bati bons papos na praça São Salvador?
Ele me convidou para a São Salvador, para beber um pouco e papear. Um chorinho aqui, uma conversa de cá, algumas latas de cerveja depois era hora de ir embora. Caminhei até o Largo do Machado onde pus em prática um truque carioca que acho o máximo.
No rio o transporte público é caótico e muitas vezes as empresas de ônibus lhe obrigam a pegar duas conduções para chegar a um destino cuja distância não é lá tão grande para justificar duas passagens. Com isso surge o Surf de ônibus que consiste em entrar no primeiro ônibus que vai na direção que você quer e perguntar se vai para onde você quer. Se for, que maravilha! Tá chegando em casa rapidinho, se não. Você desce e está um pouco mais perto de casa...
Já tive que surfar umas três vezes para sair do Largo do Machado e chegar na Lapa, mas dessa vez o motorista foi bonzinho comigo e me deixou na lapa. Uma gentileza que deixou minha noite mais feliz. Entrando no ônibus perguntei ao motorista se ele parava no ponto onde eu teria que descer para chegar em casa. Antes do motorista responder uma moça simpática me respondeu que sim, que ele passava por lá e então ela girou a roleta e foi se sentar.
Encantado por essa gentileza dela, passei pela roleta e ao passar por ela entreguei um livreto de poesia e agradeci pela informação. Sentei lá atrás do ônibus e continuei minha viagem pensando no dia seguinte, nos livretos que teria de dobrar e grampear para encarar mais um dia de poesia sobre trilhos e tudo mais. Mas a hora de descer ela me jogou pela janela do ônibus um recado muito singelo que dizia assim: "Obrigada! A arte ainda vai salvar o mundo!" E tinha um monte de beijos de batom naquele bilhete. Num dos cantos um rabisco, que eu acho que era seu telefone que ela rabiscou por algum motivo que nunca vou saber.
sábado, 15 de setembro de 2012
Eu-miragem
se sempre acham que poetas
não sentem fome nem sede
de mil maneiras diversas?
que faço se sou medonho
no mesmo reino de quimeras
que também me fazem príncipe
sem perguntar meu querer?
Sou o cavaleiro que amada
sonha mas não quer que volte
pra sempre poder amar
Eu sinto que sou miragem
que querem nunca alcançar
mas contentam em estar lá
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Chuva, Luto e Recital sobre trilhos
Nem todo dia é dia de poesia. E o Rio de Janeiro não cansa de me surpreender. Jamais vou compreender o porquê exato do luto sempre que chove na cidade maravilhosa. Entrei dentro do metrô e me choquei com as caras mal-humoradas de todos. Sério, tava todo mundo com cara de enterro. E tudo porque caia uma leve chuva que para mim só tinha aliviado o calor estranho que se abateu na cidade em pleno inverno.
Caras de enterro, pessoas mal humoradas e eu parecia ser uma presença errada e feliz num ambiente onde todos estavam celebrando o enterro do sol. E assim eu fui de Saens Peña até Gal. Osório (alguém já reparou na quantidade de penha que tem aqui no rio? É Penha, Penha Circular, Alto da Penha, Saens Peña... Depois eu tenho que pesquisar e descobrir de onde vem esse nome). Foi uma viagem daquelas de poucos amigos, mas encontrei alguns rostos conhecidos, alguns clientes habituais que já fazem coleção dos meus livretos e tudo mais. Mas a esmagadora maioria tava mesmo afim de só voltar pra casa e se recostava nos bancos de olhos fechados.
Na volta de Gal. Osório para Saens Peña tudo seguia no mesmo ritmo até que uma senhora, de cabelos loiros pintados, que estava de pé pegou um livreto meu e começou a lê-lo em voz alta para os amigos e tudo virou uma farra naquele grupo. Todos rindo felizes e contentes a poesia viva na voz dela. Foi um lampejo de felicidade num dia tão cinzento. Colocou cor no dia e mostrou que a poesia pode vencer as nuvens mais carregadas.
Eu fiquei ali curtindo aquele momento espontâneo de poesia no metrô, foi delicioso e me deu uma revigorada daquelas. Tão envaidecido que perdi o tempo das estações e quando vi paramos na Uruguaiana e o vagão ficou apinhado de gente, completamente lotado! Pois é, paguei o preço pela minha vaidade e foi com muita dificuldade que consegui pegar os livretos de uns poucos que queriam devolver e de muitos que animados pelo recital iam levar pra casa os livretos.
Sai do vagão depois de dar um livreto de outra edição para a simpática senhora e quando sai ela voltava a ler os poemas em voz alta para seus amigos. Chegando no vagão seguinte senti o cansaço por ter trafegado pelo vagão lotado e a despeito da alegria do vagão anterior esse estava morto novamente, com caras mal humoradas. É, eu desanimei e aproveitando a deixa que o vagão estava chegando na minha estação desci e fui para casa.
sábado, 8 de setembro de 2012
Para uma poetisa de mão cheia
e um ralhar mais severo não só irrita:
deprime e propicia males piores...
mas elogio vão nem cai bem na fita!
Linguagem rebuscada, rimas pobres
pois escreve sonetos como se imita
poetas mui antigos por uns cobres
não vê que cega, tolhe e se limita?
Queria ver mais esmero na escansão
mais sabor, tino e crítica na rima
e um versejar mais solto com sua pena
Aprenda no repente e na canção
a amar como mulher e tal menina
brincar com os mil sons desde pequena
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Quando a leitora persegue o poeta
Quarta-feira, fim de mês mas meu ânimo estava inquieto pois já havia alguns dias que eu não saia de casa e nem escrevia nada. Ficava ali vendo filmes, lendo um pouco e namorando um bocado. Eu precisava sair, entrar num metrô e atiçar com poesia um monte de gente diferente.
Escolhi o itinerário da Pavuna pois era durante o dia e os vagões estavam menos cheios. Mas como era de se esperar estava todo mundo duro e a quantidade de moedas era muito maior que das notas. Assim os livretos até que estavam ganhando donos rapidamente mas os livros nem tanto.
Terminei mais um vagão e mudei para o próximo, passou mais uma estação e uma mão me puxou a camisa. A mão pertencia a uma menina morena de óculos e cabelos cacheados que me disse que eu havia esquecido dela no vagão anterior. Sim, ela mudou de vagão para pagar pelo livreto! E o mais inacreditável é que ela estava sentada no vagão e agora teria que viajar em pé.
Para compensá-la minimamente lhe dei um livreto extra afinal sempre carrego pelos menos alguns livretos das duas edições anteriores para completar a coleção de alguns compradores habituais. Entretanto a dedicação e o esforço dela não me foram uma recompensa muito maior que as moedas em si. O resultado foi um sorriso bobo em meu rosto pelo resto do dia.
Esse foi o ponto alto da tarde que me aguçou mais a vontade de trabalhar nesse período . É um público diferente do noturno que estou mais acostumado. Um público que vale à pena cativar. Foi bom saber que não só os homens de preto podem me perseguir de vagão em vagão mas que os leitores que desperto também!
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Doutor Adevogado
pasta de couro e relógio
no bolso nada de cobre
só notas de valor régio
Papéis que lhe versam sobre
assuntos e bens valiosos
que ameaça contra o pobre
e deixa ricos charmosos
tem no peito seu inimigo
que canta na madrugada
tal um bêbado risonho
mas sei que há muito mendigo
trajando terno e gravata
pedindo um pedaço de sonho
sábado, 18 de agosto de 2012
Código de Barras
um reles papel comprova:
eles sabem meu endereço!
Tem meu nome, CPF
CEP e código de barras
tudo isso pra me cobrar
Cada conta vencida é praga
que faz tocar telefone
bater porta e campainha
tira o sono e me arranca
os cabelos da cabeça
incomoda sem parar
Sabe, cada conta paga
eu trato como troféu
que guardo com muito zelo
É tipo meu amuleto
um espanta-cobrador
por pelo menos um mês
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
"ô da poesia"
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
3-6-9
pela boca da moça que ginga
pelo som feito samba pra lua
e pro sol no cabelo e na rua
ela passa sem pressa ao léu
e devora sem pressa seu réu
em um crime bem feito e traçado
pra pisar noutro peito amado
forte e amargo pigarro de pinga
pela boça do moço que xinga
pelo tom pelo som pele nua
numa fome da carne mais crua
ele passa seu dia no bordel
devorando na noite sem véu
seu passado presente e futuro
feito verso bem claro no escuro
Certeza Universal
de mim, dele ou de tu
nem é uma vontade imposta
por deus ou por belzebu
Pois eu lhe faço uma aposta
Caralho, buceta ou cu
sei que todo mundo gosta
e quer pelo menos um
Mas passa mês, dia ou semana
com o tesão contrafeito
quer qualquer um no seu leito
Tara é coisa muito humana
que todo e qualquer sujeito
estará sempre sujeito