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Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
terça-feira, 6 de maio de 2008
Lições II
Saiba, por que nem tudo são espinhos...
há, sempre, ferrões nos seus bons caminhos!
Porque, afinal, nem tudo é tristeza,
sobra também muita fome e pobreza!
Aprenda: nem tudo são descaminhos
que também há os tantos vícios dos vinhos!
Porque nem tudo no mundo é impureza:
há sortida vilania e malvadeza!
Menina, são mazelas da virtude!
Tão próprias de quem somente o bem faz.
Disto de quem bebe à própria saúde...
Para gozar como melhor lhe apraz!
Dos que infligem tormentos amiúde!
Sem dar sequer um momento de paz!
domingo, 27 de abril de 2008
Alegria
Bom dia luz do dia!
Bom dia raio de sol!
Boníssimo dia...
minha cara mia!
Está assim feliz?
Não, é só lirismo.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Menino mau
Se metade disso fosse verdade...
e largue mão dessa porca vaidade!
Já que você não passa d'um cordeiro,
fingindo ser um ouriço-cacheiro!
Vista suas calças já chegou a idade...
não é nem capaz da menor maldade!
Tema vilania d'um cão perdigueiro,
que depois da sova volta cabreiro!
Sua mordida mais forte é só carinho...
tem na sua boca veneno inocente,
que nem sabe como acertar um bom bote!
Agora vá brincar com seu carrinho...
e deixe para quem sabe realmente,
usar uma lingua como chicote!
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Sonetilho
Lucas C. Lisboa
Quando o sol nascer do norte
e ninguém temer a morte...
Brindaremos às estrelas,
sem o medo de perdê-las!
O veneno fará forte,
no prazer de cada corte!
pintadas nas aquarelas,
feiúras tornadas belas...
serão sanhas revividas
pruma talentosa gralha
que compõe canções queridas!
São roseiras na muralha
de carnes apodrecidas!
(ou qualquer coisa que valha)
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Fétidas Flores
Não são flores d'alma que presto:
são de sangue e carne, eu atesto.
Fazendo dos teus olhos vítimas,
das perversões minhas mais intimas!
Eu vomito verso indigesto,
o pior do lixo e do resto...
a seco engolido co'as lágrimas,
secreções, loucuras e lástimas!
Leitor pois não me leia incauto;
lhe pegarei em sobressalto...
em seu misto d'asco e desejo!
Sei q'estas palavras imundas,
atiçam vontades profundas...
que dentro de ti antevejo!
quinta-feira, 27 de março de 2008
Conto de Fadas
Carrego uma flor entre os dentes
Para saltar a sua janela
de minha doce cinderela
presa na torre por correntes
Algemada fica tão bela
encanta sábios e videntes
aguça os desejos ardentes
coberta co'a cera de vela
Atiça as formas nada esquálidas
os meus ardorosos carinhos
Adorna-lhe as lágrimas cálidas
entre os seios a rosa de espinhos
Ela, rainha das minhas fadas
no calabouço do meu ninho
segunda-feira, 24 de março de 2008
Seriado
minha vida é reprisada
como na televisão
o canal não muda nada
é a mesma programação
quinta-feira, 20 de março de 2008
Enlace perfeito
Caros Augusto e Florbela
são meu par mais que perfeito
para os quais eu não aceito
qualquer que seja a querela
quarta-feira, 19 de março de 2008
O Ritmo
O ritmo é um dos elementos fundamentais para a eufonia (eu=verdadeiro/belo/certo, fonia=som) de um poema. Na poesia clássica o ritmo se "afina" a partir de duas características simples: o metro e a tonicidade.
O metro define de forma geral o tempo dos versos, é através dele que se têm os intervalos regulares de um poema, seria o ritmo geral que se mantém ao longo de todo o poema.
Entende-se por metro o número de sílabas fonéticas de um verso contadas até a última tônica. A sílaba poética (ou fonética) se distingue da sílaba gramatical por se basear não nas regras gramaticais, mas no som das palavras.
Cada sílaba poética corresponde a um som, por isso, ocorrem distinções da gramatical, podendo ocorrer o fenômeno da Elisão quando sílabas, gramaticalmente diferentes, se tornam um mesmo som ou o caso da separação de uma mesma sílaba gramatical em mais de uma sílaba poética por formar mais de um som distinto.
Já a regularidade tônica de um poema, que é definida pela alternância entre as tônicas e as átonas, define o ritmo específico do verso.
Na língua portuguesa o metro prepondera sobre a regularidade tônica. Servindo como auxiliar na hora de definir o poema como de ritmo ascendente (quando o verso começa com sílaba átona) ou descendente (quando o verso começa com silaba tônica).
Exemplo:
EUEu/sou_a/ pe/na/do/po/eta (7 silabas fônicas)
sou/um/tor/to_em/li/nha/reta (7 silabas fônicas)
Sou/chi/co/te/ do/ca/rrasco (7 silabas fônicas)
Sou/ pra/zer/ en/quan/to_um/asco (7 silabas fônicas)
No exemplo acima temos uma trova de metro heptassílabo, pode-se notar a contagem silábica até a última silaba tônica. No primeiro verso vemos tanto o caso da elisão em: “/sou_a/” e também um caso de separação de uma silaba gramatical em duas fonéticas em: “/ po/eta”.Todos os versos são de tonalidade ascendente como se pode perceber pelo negrito que marca as tônicas.
sexta-feira, 7 de março de 2008
meu anjo
eu lhe escrevo este poema
com uma formosa pena
d'um cativo anjo arrancada
que jaz em minha morada
e não há culpa q'eu tema
nem tenho nenhuma pena
da sua asa delicada
pelos versos depenada
suas lágrimas são a tinta
que mancham o meu papel
Seu copioso pranto encanta
tal canto de menestrel
Sua tristeza faz q'eu sinta
um gostoso drink de fel
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Lições
Muito brincaram comigo,
até que aprendi a brincar...
Na vida se chicoteia
ou se deixa chicotear!
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
A Fama
Apareci no jornal
e não foi na policial!
Foi nota de rodapé...
mas era trova de pé!
sábado, 9 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Eu
Eu sou a pena do poeta
sou um torto em linha reta
Sou chicote do carrasco
Sou prazer enquanto asco
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Homo imbobile

O velho inventor fascinou-se com aquele humano que se fazia de estátua, ninguém percebia quando levemente respirava. Um olhar mais atento até veria, de relance, o seu sorrateiro piscar de olhos.
Num estalo lhe viera a inspiração, e meses à fio trabalhou em seu mais novo projeto. Moldando-o à imagem e semelhança do homem. Tinha olhos verdes, uma leve barba por fazer, traços suaves e cabelos cacheados. Sua voz era aveludada como o melhor narrador de histórias infantis. Andava com graça e leveza.
Mas seu verdadeiro propósito era ali ficar como uma estátua, deixando de quando em quando parecer que respirava e piscar os olhos quando ninguém mais estivesse vendo. O velho passava oras à fio admirando o seu próprio homem-estátua.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Ecos d'um palhaço trágico
Tudo que se esperava daquele palhaço suicida é que sua última gargalhada, depois do salto, ecoasse cada vez mais distante, até o retumbante soluço final.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
A quanto tempo nao sentia,
calmamente a dor verdadeira esvaindo
Faz tempo, muito tempo...
Mas hoje preciso senti-lo,
Sentir que ainda estou vivo!
Sentir na pele o que me rasga por dentro.
Hoje é dia de sentir.
Sentir tudo que há de mais terrível.
Para que eu possa me esquecer
esquecer de mim mesmo.
Esquecer que existo.
Pois me venham as laminas, os ácidos,
velas, torturas e loucuras.
Se nada opera efeito,
operar-me-ei cada defeito.
Fatais, fatais vaticinios,
frutos desses meus desatinos,
de meus sonhos irrealizados,
de meus porões mal assombrados.
Cercado, por todos os lados...
Será defeito?
Talvez só tenha me restado
um único jeito...
De tornar-me perfeito.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Infância
Eu, pequeno garotinho
tão novo dizia poetar:
"cala boca cachorrinho,
deixa luquinhas passar!"
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
a barca estígia II
remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos restos desprezados
amargando prantos encarcerados
remam em seu rancor plo rio d'orrores
aprisionados pelas mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobr'eterno repouso dos finados
remam mortos, agora penitentes
sofrem por seus viveres indecentes
pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando plos vivos esquecidos
remam sofridos na barca da morte
praguejam por tamanha sua má sorte
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
A Barca Estígia
remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos todos desprezados
amargando prantos encarcerados
rancorosos remam plo rio d'orrores
presos por arreios de mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobre o eterno repouso dos finados
morreram e agora remam penitentes
sofrem por seus viveres indecentes
pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando pros vivos esquecidos
remam sofridos na barca da morte
praguejam por sua tamanha má sorte
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Marionete de trapos coloridos II
Pois quando noto seu, de fel, sorriso
Eu me deleito nesse doce apreço...
e de tamanho prazer regojizo,
tanto que ao deleite até me esqueço.
Gargalho por ver este olhar nervoso,
aos pesadelos quando eu lhe apareço
a divertir-me no mais puro gozo
Nessas palavras-linhas lhe enlouqueço
Sem mim teus passos são vagos, perdidos.
Sozinha és sem encanto, faz só dormir.
Jogada em qualquer canto o pó cobrindo
Marionete de trapos coloridos,
és assim tão linda que me faz rir!
Pois agora me dance, estou assistindo...
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Meu brinquedo II
Seu corpo, aroma e traços bem cuidados,
que nessas mãos se fazem maltratados.
Os seus gemidos tão deliciosos...
que aperto, ouvindo-os ardorosos!
Os seios dela são assim delicados,
que não deixo por menos abusados!
Seus lábios, ao felatio, voluptuosos...
que dou-lhe meus humores mais gostosos!
És minha mais perfeita Bonequinha!
foi feita especialmente para mim:
para meu uso, deleite, abuso e trato.
Oh, mas ela realmente é perfeitinha!
Co'ela em mãos me divirto horas sem fim!
Gozando ambos em cada ato e maltrato...
bem ditos
É lícito ao poeta
se apropriar do que foi dito.
por outro qualquer esteta
que não tem estima disto?
terça-feira, 16 de outubro de 2007
boas novas num guardanapo
uma verdade selvagem
batendo na minha porta
chegada d'uma viagem
longa, escura, negra e torta
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Cidade-lua
Menino engenhoso
Vendo pássaros e penas
Fez voar papel
Querendo tão mais:
as núvens todas tocar
era seu intento
De feitura sua
muito bem arrematada
com precisos laços
trabalho ardoroso
feito por noites centenas
colado com mel
Penhasco foi cais
pr'ele para os céus zarpar
ao sabor do vento
Chegou até a lua
Com a sua pipa dourada
maior que seus braços
Malfadado pouso
entre casas tão pequenas
na cidade do céu
Nos tortos beirais
Moradas a se amontoar
sem ordenamento
Caido numa rua
da cidadela aluada
sem de vida rastros
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Uma felicidade para sempre
Foi com os primeiros raios d'aurora que Ela acordou, ainda deitada sobre o peito nú de seu amado. Todos os dias era assim, acordava ao seu lado e admirava-o perdidamente. E suspirava, pois finalmente o tinha ali, como um sonho.
Levantou-se sorrindo por saber que os dias tristes agora eram apenas parte do passado. Os obstáculos e inimigos de sua felicidade foram vencidos um a um. Dirigiu-se para a cozinha, como fazia todas as manhãs, e preparou o desejum de ambos com todo cuidado.
Torradas e um chá de ervas para acompanhas mas, açúcar não colocou e sim duas colheres de cianeto. Em uma bandeja, carregou as torradas e as duas xícaras de chá, para o leito que fora desde sempre o ninho dos enlaces.
Ela o despertou com um beijo delicado e sereno. Ele, após retribui-la sorriu complacente para sua amada, ajeitaram-se à cama e começaram o desejum. Provaram das torradas e juntos levaram as xícaras à boca e quase simultaneamente retorceram os rostos pelo amargo sabor e sorriram cúmplices.
Sem pressa. terminaram o café da manhã e se deixaram deitar novamente entre carícias, beijos e afagos até juntos adormecerem.
sábado, 1 de setembro de 2007
Resoluções
Muito tempo já perdi...
mas hoje me decidi;
se exploda o caráter ético!
Sou, por natureza, herético.