Eu queria um soco
na boca do estômago
ao sorriso pouco
de felicidades
Publicação em destaque
Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
domingo, 7 de fevereiro de 2016
Meu caro sanguessuga
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
Sabor semelhante
Ducha molhando meu rosto
E a água que cai nos meus lábios
Não é salobra de mar
Mas dum copioso chorar
O que não vejo
seu falso querer
eu tenho meu medo
medo de você
Seu falso enredo
de me dizer
que lhe trago azedo
no fel de você
desço sem mais lágrimas
e sem mais soluço
do fim ao princípio
entre minhas lástimas
sequer um impulso
para meu precipício
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Dos delírios e deleites
os seios da moça amada
com seu sêmen e saliva
ansioso por sua florada
de lírios e copos de leite
Das coisas
mais fora de hora e de lugar:
-Carne de soja em churrasco
-Retiro espiritual
na sexta de carnaval
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Incêndio
co'as bocas, bicos, trombas e suas patas
um tanto qualquer d'água para essas matas
que nas chamas do incêndio já queimava
O lobo, sentado, seu vento tragava
usando de suas forças mais inatas
a procurar aquelas almas rotas
que tudo novamente incendiava
As feras atarantadas julgavam:
ele parado, sem nada ajudar!
"Que ser mais egoísta!" - murmuravam
não o viram sorrateiro a circundar...
Pois quando as brasas altas crepitavam
com fome de homens se pôs a caçar.
Quadras calculadas
é saber que verso
não é aritmética
mas da prosa o perverso
*
prum ouvido certo
versificação
é medida de metro
sem regulação
*
dentro duma métrica
cabe o não pensado
duma frase cética
num texto sagrado
*
o poeta escande
como alguém que canta
e não como quem conta
moedas e as esconde
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
à luz da Lamparina
O narrador da lamparina, o livro de contos e histórias fantásticas, os romances, as epopeias, e as notícias do jornal impresso cada vez mais são substituídas por narrativas apinhadas de sons e imagens que provam e comprovam sua forma como indissolúvel, pronta e acabada. Quadro a quadro em movimento, narrado e articulado sem deixar espaço para que o receptor inclua ali sua perspectiva, sua ótica. Cada mensagem acompanhada de todo um aparato imagético comprova sua veracidade indiscutível, é pois as imagens não mentem.
Num mundo imagético, onde tudo é movimento, fala, som e imagem. Num mundo onde toda informação é dada como pronta, acabada. O ato da Literatura, per si, sem outro suporte que não a escrita é um ato político. A poesia escrita e lida é avisa rara na contemporaneidade. É uma arte incompleta em sua produção pois depende sempre do leitor para ter seu som e imagem concebidos.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
domingo, 27 de dezembro de 2015
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Tropa Natalina
pelo sertão derradeiro
das muitas minas gerais,
bem longe das capitais
guiando burros em tropa
e com cavalo que trota!
Mula madrinha enfeitada
por muito chão, muita estrada
levava o comércio de ouro
dentro do embornal de couro
dos garimpos até os roçados
era ele muito aguardado
Trocou tropa pelo trem
e ao progresso disse amem
quando a ferrovia chegou
e novamente se inventou
pois dentro do seu vagão
todo, arroz, milho, feijão
Ele mesmo compraria
para vender lá na Bahia
e de lá vinha descendo
com o seu vagão trazendo
perfumes, panos, tecidos,
remédios e mil artigos
Por anos indo e vindo
fez ele seus dividendos
Casado com Terezinha
fizeram na vilazinha
seu comércio e pensão,
a maior da região.
Com a casa logo erguida
já quiseram em seguida
uma professora pra lá
para contas e beabá
ensinar pela primeira
vez para essa vila inteira
Nem tudo foi belo e bom
e num grito fora do tom
vieram os tiros de canhão
e trem, vagão e estação
já não existiam tais
e mudou-se uma vez mais
De Alfredo Graça pegaram
o último trem e pararam
na cidade de Teofilo Otoni
e eles sofreram ali
a triste separação
em nome da educação
De todos os seus filhos
Natalino foi nos trilhos
de volta para a fazenda
de seus pais numa contenda
lá para as margens do Rio
Setúbal num desafio
Feira Natalina
Seu Natalino montava
o seu cavalo Rosi
que já sabia pra onde ir:
de Santa Cruz, sua fazenda
até a feira buscar a renda.
Na vila do Jenipapo
era a feira de trapo,
rapadura, porco, pinga,
panela, couve, moringa,
linguiça, milho, feijão,
gado, queijo e requeijão....
Natalino bom mascate
na feira dava arremate
nas pagas e encomendas
que faziam pra sua moenda
de rapadura e cachaça
enquanto andava na praça.
Anotava, em prosa lenta,
num papel de letra atenta
uma nova e boa encomenda
Parava e resolvia a contenda
dum filho querendo comer
queijo e groselha beber
De passada lenta e aberta
andava como quem acerta
na sorte fazendo o que gosta
vivendo e vendendo a roça
que cuidava com carinho
tal pássaro do seu ninho
Essa vila orgulho lhe dava
quem dissesse não errava
do mercado até a Igreja
tinha da sua bemfazeja
cada rua cada calçada
fez com esmero de morada
Mas não fez sozinho é certo
tinha amigos bem diletos
com quem andava e proseava
e até versos declamava
histórias de assombração
e também de lampião
De boa prosa e jeito calmo
foi delegado da região
de Araçuai, Jenipapo,
de Machados, Badaró,
até Córrego das Velhas,
Berilo e também Chapada
Era um delegado diferente
desses tipos boa gente
não mandava prender
se dava pra resolver
com conversa, com conselho
via no outro sempre um espelho
Seus olhos azuis sérios
de contador de mistérios
de troças, de escalabros
de piadas e de causos
um mundo se emocionavam
quando seus filhos chegavam
Pois estudavam bem longe
Araçuai, Teofilo Otoni
e também Belo Horizonte
mas nas férias iam pra feira
nos burros e na traseira
do seu cavalo Rosi
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Flâmula
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Lama
De vida, de morte
de jornada breve
Com acaso, sorte
e meu peso leve
De fome, banquete
natural, urbano,
selva, palacete,
animal e humano
Sou chama sou brisa
pra tudo que me
refresca e atiça
Sou terra sou água
pra tudo que me
soterra e deságua
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Ela
Nos enredos já se atira
nos medos sequer respira
pois me inspira seus segredos
quando pira em meus dedos
sábado, 28 de novembro de 2015
Carnavalescer
Pois se nós, reles mortais
ainda estamos em janeiro,
dezembro, junho ou mais
tristes por um ano inteiro
entre seus risos e ais
Ele bem tá em fevereiro
e vive seus carnavais
roda de samba e pandeiro
cariocando muito mais
que eu ou outro brasileiro
Pois se nós, reles mortais
vamos depois dum dia inteiro
contentes pros triviais
botecos de bom mineiro
dessas e doutras gerais
Ele, samba derradeiro
em tão doces festivais
pois no Rio de Janeiro
se carnavalece mais
de março até fevereiro
puxando papo
pedindo ixqueiro
numa ixquina
fazendo ixcola
ficando em paix
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Lágrima
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Before Honeymoon
It's very good
I'ts very fun
We have a new mood
to eat bubble gum
It's very good
I'ts very fun
He is my favorite food
and my sauce is his cum
In the last afternoon
with kisses and bites
me and my husband
play hard in bedrom
and it sounds like
the best house band
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
Oitava do Regojizo
Gorgogeando galante
a grande glande de Glad
se degladia co'a garganta
gulosa da gorda Glória
se golfando nos galopes
da grande glande de Glad
que ginga gostosamente
e goza grosso e gostoso
domingo, 11 de outubro de 2015
Oitava do Verso da Moeda
de tão sorridentes moças
Antes esquecido nos bolsos
de tão sonhadores moços
O metal, enfileirado,
bem contado e recontado
Guarda verdade secreta:
pois paga o pão do poeta.
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Coronel
Guarda com muito orgulho sua farda do lado
da cama, paga com soldo, mas sem o saldo
de sangue, do vil golpe de sessenta e quatro.
Mineiro, nasceu negro, no ano vinte e cinco
do século passado, soube que era odiado:
pela pele, tamanho e pela cara dura
de defender o voto colocado na urna!
Vê com desgosto, quase que com um desdém,
o jovem cabo, malfa(r)dado que enganado
de joelhos, ao golpe, reza seu amem...
Mal sabe ele que é só dormente para o trem
de empresários e generais endinheirados
e seu soldo... é pouco, amargo e não cai bem.
terça-feira, 6 de outubro de 2015
Modernice
Seus pequenos pensamentos
Levemente filosóficos
Por si só já não fazem
Um belo ou denso poema
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
terça-feira, 8 de setembro de 2015
domingo, 6 de setembro de 2015
Libertino
pelo que quero muito tanto ou talvez
Eu me faço e desfaço num doce delírio
pelo que trago, bebo e tomo duma vez
Eu que me corto, sangro mas também lhe firo
numa inocência pura vista nos bebês
mostro os dentes caninos dum velho vampiro
lhe rompendo pudores por toda sua tez
muito prazer sou seu satânico desejo
seu sexo mais ardente que todos pecados
de Sodoma, Gomorra e terras além-mar
Não me tema nem trema diante do meu beijo
sou fome, sou paixão de peito perfumado
pois em sua pouca carne vim para ficar
sábado, 5 de setembro de 2015
Ruazinha
a se por no fim da tarde
Quer ver os guri endiabrado
brincando com bola que arde
Quer ver o homem tão cansado
quando seu Fiat Uno invade
O campinho demarcado
com chinelos e com alarde
Gritam logo "Contra Mão"
A rua é arena da Bola
e o carro maior vilão
O homem desce desenrola
"Tem como passá aqui não"
"Eta vida! Vou embora..."
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
terça-feira, 11 de agosto de 2015
Dos moinhos de vento
Eu acho tão engraçado quando poetas contemporâneos exaltam que seus versos não tem métrica ou rima.
Falam de um jeito como se isso fosse uma particularidade, um feito, algo que distinguisse sua poética das demais que o cercam, como se fosse algo muito diferente do que é feito hoje.
Mal percebem que o verso livre já virou arroz de festa, completamente hegemônico e dentro do manual da boa poesia contemporânea.
Meu caro poeta contemporâneo, você pode fazer seus versos livres à vontade, mas, por favor, não acredito que isso seja um feito revolucionário ou digno de ser exaltado.
Essa revolução já aconteceu no início do século passado e o monstro parnasiano que diz hoje combater tem tanto poder quanto os gigantes de Dom Quixote.
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
Sou o que sou
Eu não viveria no céu;
Gosto do cheiro da terra,
do suor de gente que erra,
acerta e faz escarceu.
Eu não viveria no céu;
Gosto do cheiro de vida
de cutucar a ferida.
Bolero lambada e créu!
Eu sou do tipo atrevido,
que nunca tá resolvido;
como sujeito normal.
Eu sou o que sou e posso
no que faço, vou e aposto
botando pimenta e sal
quinta-feira, 30 de julho de 2015
Boca Suja
"Pu/ta/ que/ pa/riu/ xe/reca
ti/nha/ á/gua/ ne/ssa/ merda"
Pois é, xingando com métrica
quarta-feira, 29 de julho de 2015
Recontagem
A volta do voto impresso
um baita dum retrocesso!
Quem for ficar de malgrado
Chama o melhor advogado...
sábado, 25 de julho de 2015
quinta-feira, 23 de julho de 2015
quarta-feira, 8 de julho de 2015
Estrela
Esse país cada dia
me da mais orgulho
Estamos pouco a pouco
Limpado todo o entulho
Deixados pelos ridículos
E sanguinários milícos.
Cada dia muito menos
gente passa fome
E mais gente pode ter
O seu sonhado iphone
E temos faculdades instaladas
nas cidades mais afastadas
Pouco em 12 anos
mas muito mais do que em 38
O Brasil volta a crescer
depois de 50 anos parado.
38 estragando e 12 consertando
o malfeito de tanto deputado.
Há uma estrela de esperança
Vermelha como o coração
Se você desistiu de nossas crianças
Eu ainda não.
sábado, 4 de julho de 2015
Pragmática
Sim, eu sou de esquerda
pois o problema da fome
é muito mais importante
que o preço do seu iphone
quinta-feira, 2 de julho de 2015
Moça do vestido azul
Quero dedilhar meus dedos
quero-os em ti mergulhados
Nadando dum lado ao outro
em suas carnes envoltos
E sentir-me abocanhado
pouco a pouco cravado
pelos seus labios revoltos
provando-me mil gostos
De falo rijo te faço
esse poema devasso
tal uma canção perversa
Pois me inspira quando pira
quando arfa, goza, delira,
devora (ou vice e versa)
terça-feira, 23 de junho de 2015
Inflação
reclama da seda mais cara.
Porém, se a Musa lhe der,
um tapa, sequer repara...
sexta-feira, 12 de junho de 2015
terça-feira, 5 de maio de 2015
quinta-feira, 16 de abril de 2015
Sordidez Carioca
entre um Baseado e outro
eles planejam a Revolução
Entre um e outro tapa
o Nego da Rocinha
tem medo do B.O. de
Desacato, Conflito e Resistência
E com muito pó na cabeça
numa cobertura no Leblon
Ele planeja com cuidado
como deixar as coisas como estão
Redondilha maior ou menor?
"Cinco sílabas poéticas"
Formam um verso de sete
sílabas poéticas contadas
Até a última das tônicas
quinta-feira, 2 de abril de 2015
quarta-feira, 1 de abril de 2015
Com quantas becas se faz um poema?
Leve você em qualquer laje
versos sem assinatura
dum nome de d'douro traje
que apenas será loucura
Bote num museu de mármore
um penico na moldura
que cada macaco na árvore
em coro dirá:" arte pura"
Vai tenta arrisca petisca
de banquete a quem tem gula
faz sua arte visceral
Tome cuidado caro artista
que arte não cai bem com bula
e nem vem com manual
sexta-feira, 27 de março de 2015
Podorastia di versos
bem no pé do verso
sibila uma língua
que lânguida lambe
o metro e sua tônica
Em saliva imerso
o lábio à míngua
deixa que se game
na orgia polifônica
segunda-feira, 16 de março de 2015
Bom mocinho
Baixinha de peitos grandes
dona dum bumbum durinho
Rebola assim aos galopes
que engole meu pau todinho
Me chupa do talo à glande
com fome e com carinho
Num tesão rude que range
quando lhe dedo o rabinho
Pulsa e repulsa meu sangue
deixando meu pau durinho
Minha saliva vai longe
melando seu anelzinho
São meus dedos que lhe expande
aos poucos seu buraquinho
Até que se torne grande
pra que eu entre de mansinho
Seu doce gemido me unge
no papel de malvadinho
Que com vigor lhe inflige
um gozo pelo cuzinho
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Filosofices
Não sou Pedro
Não sou pedra
A minha lavra
De mil palavras
É de poesia
Na minha igreja
Não tem pecado
Não tem culpa
E muito menos
A tal sacristia
Não sou senhor
Não sou escravo
Todos dias travo
Um doce trago
De melancolia
No meu terreiro
Na minha terra
Certo é quem erra
Quem de tão torto
Acerta a alegria
Capitão do mato século XXI
Um negro vestindo preto
faz papel de autoridade
à mando dum branco que
traja terno e faculdade
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
SE ESSA RUA FOSSE MINHA
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava já plantar
Muita árvore
Muita árvore sombreante
Para o meu
Para o meu calor passar
Nessa rua tá tão quente
Que se frita
Que se frita ovo no chão
Dentro dela
Dentro dela mora um sol
Que roubou
Que roubou meu tesão
Se eu roubei teu tesão
Tu roubaste
Tu roubaste o meu também
Se eu roubei
Se eu roubei teu tesão
É porque
É porque te quero sem
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
Madame Baderna
Me despetala em trapos, fitas, pétalas
de bem e mal me quer que mais me quer
que desdenha, destrata, mas me quer
como porta-bandeiras e abre-alas
Pois Eu me apego e até pago pra ver
dentro do porta-luvas levo as mágoas
e encho com alegria o porta-malas
sou da escola do samba e bem querer
Eu, Madame Baderna com prazer
tomo da tina e latrina de restos
essas babas e beijos dos amores
Eu sou essa Arlequina com as cores
que não se cabem nos pincéis modestos
desses caras sem cara pra bater
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
NO FIM DO CORREDOR
tinha um banheiro
no fim do corredor tinha um banheiro.
na vida de minhas calças tão respingadas
Nunca me esquecerei que no fim do corredor
tinha um banheiro
tinha um banheiro no fim do corredor
no fim do corredor tinha um banheiro.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Salada Etílico-Poética
não seu Olavo, num é chacota não
é verso sáfico de metro dado
aos meus poetas sem rima e solução
Eu conto sílabas num dedo a dedo
nesta veloz prestidigitação
que engana versos bem mal remendados
sendo meu velho truque de salão
Dez sílabas safadas que dos Anjos,
com maestria de quem Espanca sem
nos causar marcas, causou mais que medo
Dez sílabas heroicas são arranjos
pra Cisne Negro e Passarinho dizerem
a pior das verdades e um segredo.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Depois do Brinde
havia uma fome atrevida
De lhe fazer mais cativa
em vontade bem vivida
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Desgosto do Cavalo Branco
e nunca fui o primeiro da turma,
faço-me feio, torto e até manco:
sou mau agouro d'alma mais soturna...
Eu que carrego meu talento franco
de vaguear numa insônia noturna,
recuso-me a seguir por mais um tanto
de tédio e labor da vida curta!
Eu jamais seguirei num galopante
corcel alado tal conto de fadas.
Eu que sempre serei fidel amante
das moças e mulheres mais erradas...
Eu, nem príncipe nem bobo ou infante,
sou poeta de rimas espalhadas!
terça-feira, 16 de setembro de 2014
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Pragmática
que insiste em dizer que dois
e dois só é e só pode ser
o rigoroso de um quatro
Sendo que nós precisamos
pra fazer o bem de todos
e da nação que então seja
ao menos cinco ou seis
O conservador tortura
e conserva a dor de um três
querendo menos que dois
E o radical queima o palanque,
rasga a tabela exigindo
nada menos que seu dez
sexta-feira, 6 de junho de 2014
ÁGUA VIVA: O JARDIM METAFÍSICO
O JARDIM
O Jardim aparece como alegoria a multiplicidade do universo segundo a metafísica de Clarice Linspector em Água Viva. É um elemento cuja a metáfora abarca em si todo o universo da Natureza Espinosiana, "Deus ou seja Natureza" é uma expressão que define bem a concepção de Clarrice em seu panteismo feito em prosa poética dotado de uma polissemia própria e pungente.
Em uma honesta tentativa de decifrar Clarice Linspector e seu feérico livro Água Viva para uma árida metafísica resolvi por bem não abrir mão do lirismo absurdamente indissociável dessa obra e fazer uma análise mito-poética de sua especificidade universalizante.
"Neste instante-já estou envolvida por um vagueante desejo difuso de maravilhamento e milhares de reflexos do sol na água que corre da bica na relva de um jardim todo maduro de perfumes, jardim e sombras que invento já e agora e que são o meio concreto de falar neste meu instante de vida. Meu estado é o de jardim com água correndo. Descrevendo - o tento misturar palavras para que o tempo se faça. O que te digo deve ser lido rapidamente como quando se olha."
Jardim é o instante-já onde a Natureza se revela ao leitor em toda a sua compreensão possível de mundo é a forma inteligível que o conhecer humano concebe para ascender ao divino e ao transcendental. Vale dizer que por seu caráter mito poético O Jardim não é mera metáfora do universo em sua totalidade é ele de fato in natura. O olhar rápido e a imediaticidade revelam o primeiro e mais direto contato com a Verdade que o Jardim representa, a natureza é tautológica per si é “Uma rosa é uma rosa é uma rosa”.
O verso de Gertrude Stein seduz ao um entendimento imediato que apenas a Natureza quando vista pelos olhos poéticos consegue traduzir-se, traduzir-se não. Apreender, pois é um processo que não se prende aos intelectualismos semânticos e sim um processo que se dá por transcendência do conceito em ato de si.
“Sei da história de uma rosa. Parece -te estranho falar em rosa quando estou me ocupando com bichos? Mas ela agiu de um modo tal que lembra os mistérios animais. De dois em dois dias eu comprava uma rosa e colocava-a na água dentro da jarra feita especialmente para abrigar o longo talo de uma só flor. De dois em dois dias a rosa murchava e eu a trocava por outra. Até que houve determinada rosa. Cor-de-rosa sem corante ou enxerto porém do mais vivo rosa pela natureza mesmo. Sua beleza alargava o coração em amplidões.”
Rosa, a máxima flor, presentifica-se em meio ao natural reino dos bichos, os próprios reinos são criação do humano em sua tentativa vã de classificar, nomear e dar significado à poética do Jardim. O cor-de-rosa é uma perfeita representação do estado aparentemente indistinto do real pela ótica humana, mas pela Natureza é representação máxima de um estado que é vivo e verdadeiro. Mesmo que não alcançado pela dialética de olho e mente de quem observa a Rosa.
A prisão da rosa no cárcere doméstico é uma alegoria forte da linguagem que tenta a todo custo dar conta do real sacrificando-o, murchando-o em prol de sua domabilidade, de sua domesticação ao espaço da mente humana. Nomear o Ser é restringí-lo à uma pálida expressão de si mesmo. A linguagem humana aponta, sugere, faz-se uma sombra sob a Verdade e não a compreede, assim é esperar que a água do jarro nutra eternamente a Rosa que ornamenta a mesa da sala de jantar.
"Para me refazer e te refazer volto a meu estado de jardim e sombra, fresca realidade, mal existo e se existo é com delicado cuidado. Em redor da sombra faz calor de suor abundante. Estou viva. Mas sinto que ainda não alcancei os meus limites, fronteiras com o quê? sem fronteiras, a aventura da liberdade perigosa. Mas arrisco, vivo arriscando. Estou cheia de acácias balançando amarelas, e eu que mal e mal comecei a minha jornada, começo-a com um senso de tragédia, adivinhando para que oceano perdido vão os meus passos de vida."
A compreensão de si que se insere no contemplamento do Jardim é de uma total indentificação entre o eu e o mundo. Uma indissocialidade tântrica que permeia o pensamento Clariceano de tal forma que não há espaço para a metáfora morta o que há é uma absoluta multiplicidade que dissolve o Eu entre as acácias amarelas, entre o espírito da liberdade e as raizes da realidade.
O Suor, elemento tragicamente humano, contrasta como resíduo indesejável da tentaiva humana de lançar luzes sobre a Verdade. A realidade em seu frescor está nos limites fronteiriços das possibilidades do entendimento racional e apenas a poética é capaz de tomar para si um vislumbre momentâneo dessa totalidade panteística.
"Agora vou falar da dolência das flores para sentir mais o que existe. Antes te dou com prazer o néctar, suco doce que muitas flores contém e que os insetos buscam com avidez. Pistilo é órgão feminino da flor que geralmente ocupa o centro e contém o rudimento da semente. Pólen é pó fecundante produzido nos estames e contido nas anteras. Estame é o órgão masculino da flor. É composto por estilete e pela antera na parte inferior contornando o pistilo. Fecundação é a união de dois elementos de geração - masculino e feminino - da qual resulta o fruto fértil. "E plantou Javé Deus um jardim no Éden que fica no Oriente e colocou nele o homem que formara" (Gen. 11, 8)."
Em Água Viva Lispector partilha com Espinoza de um panteismo cristão que torna Natureza o divino, indissocia e funde num universalismo, aqui simbolizado pelo Jardim, todo o Amor que há enquanto Verdade. E é nessa fusão que se encontra a narrativa de Clarice que sendo uma narradora também é personagem e narrada de sua própria obra. O eu-lirico dessa prosa profundamente poética imiscui-se do Divino para ter em si o initeligível que é próprio da existência que é mesmo quando não dita ou não significada.
A dolência das flores, elemento-símbolo do jardim. contrasta a primeira vista com o Desejo de um Criador e numa descrição absolutamente profana da Flor enquanto sexo e geradora de vida. Clarice inverte a concepção de Criador unindo no Éden todo o humano presentificado no néctar da Natureza. O suco doce das Flores é buscado com avidez pelo inseto mas também pelo próprio homem que sendo parte da Natureza tenta negar que é uno ao Todo nesse Jardim.
"Mas conheço também outra vida ainda. Conheço e quero-a e devoro-a truculentamente. É uma vida de violência mágica. É misteriosa e enfeitiçante. Nela as cobras se enlaçam enquanto as estrelas tremem. Gotas de água pingam na obscuridade fosforescente da gruta. Nesse escuro as flores se entrelaçam em jardim feérico e úmido."
A gruta com suas sombras é uma caverna onde o homem contemplas as suas sombras sob a pálida luz fosforescente. É um indicativo do espaço humano dentro desse universo polissemântico, de apenas perceber as sombras, o obscuro. Um leve contorno daquilo que é de fato.
A avidez descrita por Lispector é parte da ânsia humana que se desvela num mundo onde o homem não participa mais. O Jardim Feérico vai para além da compreensão humana pois é o espaço onde cobras dialogam com as estrelas, onde a virulência da realidade não tenta impor seu domínio por completo, onde a Vida e a Verdade coexistem em plena harmonia sem mediações artificiais e onde o mistério é aceito como tal.
" No Jardim Botânico, então, fico exaurida. Tenho que tomar conta com o olhar de milhares de plantas e árvores e sobretudo da vitória-régia. Ela está lá. E eu a olho."
A contemplação da vitória-régia é uma sintese perfeita da postura da autora frente ao Real. Um simples Ser-em-si. O olhar precedido da existência e nada mais. O Real enquanto presentificação do Ser garante ao olhar do Jardim um êxtase místico. Uma verdadeira existência que esgota o ser humano, a contemplação do Real, exaure o indivíduo pois o mesmo não é capaz de abarcar toda sua infinitude. E a contemplação per si deve bastar pois a linguagem não pode mais do que sugerí-lo Indicar a Natureza é máximo que a mente finita do homem pode fazer em sua comunicabilidade desprovida da universalidade contida no Ser.
A recorrência do Jardim na prosa de Clarice denota o eterno desejo humano de domesticar a Natureza, de tê-la sob sua capacidade intelectiva e de vontade. Seja por preces ou tubos de ensaio é o homem com sua linguagem tentando cada vez mais dar conta dessa infinitude que o ultrapassa mas que mesmo assim o fascina. A poética de Clarice é uma ode ao humano que conta grãos de areia imaginando-se colecionador de estrelas.
terça-feira, 3 de junho de 2014
Saudades?
é a mesmíssima dum par
de pesos presos aos pés
quando me ponho a nadar
segunda-feira, 5 de maio de 2014
domingo, 30 de março de 2014
sexta-feira, 14 de março de 2014
Dizer que:
todo político é ladrão.
É o melhor salvo conduto
pra manter as coisas como estão.
Deixando todos enlameados
os que tem culpa e os que não
favorece os mais emporcalhados
que de sujeira entendem de montão.
O coronel engravatado
reina na sujeira do sertão
O midiático cooptado
domina fácil a televisão
E todo mundo é enganado
por esse velho chavão
quarta-feira, 12 de março de 2014
Pois os conta-sílabas ainda não estão extintos.
Escolhido o nome pensamos na identidade visual e nas futuras ações poéticas que executaríamos ao longo do ano a volta das oficinas, as interferências e as apresentações... A reunião se estendeu para depois das dez da noite e quando peguei o vagão do metrô já estava mais vazio. Só para não perder o costume saquei meus livretos de dentro da bolsa.
Distribui por todo vagão com um sorriso no rosto mas poucas pegavam e na volta menos ainda pagaram pelo prazer de ler poesia. Mas no fim do vagão uma senhora me chamou a atenção, ela estava compenetrada em meus versos e seus dedos se mexiam freneticamente contando as sílabas dos meus versos!
Encontrar outra conta-sílabas é cada vez mais raro com essa ditadura do verso livre. Foi um enorme prazer sentar ao lado dela e partilhar desse prazer que é a escansão, vê-la contando à moda espanhola que conta todas as sílabas do verso e me justificar dizendo que sigo a moda francesa de se contar somente até a última tônica.Acertado os termos ela conferiu que todos os versos estavam mesmo em redondilha maior. Era um sonetilho que agora tinha sido contado e revisado dentro do vagão. É bom encontrar com quem eu posso conversar na mesma língua.
E pensar que semanas antes uma revisora de oportunidade veio me corrigir a gramática sacrificando o ritmo e a oralidade de outro poema... O verso "lhe tomo num trago" tem um ritmo e uma melodia que "tomo-lhe em um trago" perde totalmente! Foi triste ser corrigido assim por alguém letrado, que faz da revisão o seu ganha pão, mas que ignora os conceitos mais básicos do que é poesia.
Por essas e por outras que eu elegi os vagões do metrô e seus personagens como meu melhor público no lugar daqueles acadêmicos com seus artigos e teses modernas debaixo do braço.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
Poema Botequeiro
57 são amassados antes de serem lidos
Nos bares do Brasil
a cada 100 recados de guardanapo
57 são amassados antes de serem lidos
Nos bares do Brasil
a cada 100 recados
de guardanapo
57 são amassados
antes
de serem lidos
antes de serem lidos
antes de serem lidos
antes de serem lidos
antes de serem lidos
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Redondilha Maior
e acredito que me expresso
dum jeito mais verdadeiro
se pelo verso me meço
Sou do tipo poeteiro
que mesmo quando converso
vou escandindo o letreiro
poético que estou imerso
São minhas métricas escravas
as cartas dum palacete
São palavras pouco sábias
que poeto pra cacete
São minhas sete sílabas
o mais redondo banquete
sábado, 11 de janeiro de 2014
A Menina Mariposa
só vê num verso qualquer
um espelho que desposa
sua vaidade de mulher
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Menina-raposa
seu corpo de flor
espinho e rosa
em perfume e cor
Menina-raposa
lhe sorvo o suor
de garoa nova
em tom sonhador
Menina-raposa
lhe provo o sabor
que tanto nos goza
em prazer e dor
Menina-raposa
sou seu caçador
de verso e de prosa
pecado e pudor
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Balada
de doce absinto
é forte o afago
da fome que sinto.
Lhe traço num rasgo
do quarto bonito
e quero num rastro
sorver o seu grito
Lhe faço calada
na palma da mão
e ponho de quatro
por puro tesão
Sou doce cilada
pro seu coração
um belo retrato
de vil perversão
Eu não peço nada
nem mesmo perdão,
lhe pego num ato
e devoro então
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Maresia
Imagina se eu fosse um pirata
e seu quarto navio todo cheio
de riquezas bem mais que ouro e prata
por apenas ter você no meio
lhe darei cantos e serenatas
se for minha sereia de cachos
com perfume do oceano e fragatas
entre os mastros as velas e laços
pelas cordas içadas ao vento
com seu corpo sutilmente preso
minha bela que faço de porto
para todos desejos imensos
que transborda até o mar onde rezo
o meu terço e cântico torto
sábado, 19 de outubro de 2013
Pescador de Palavras
subia pra pescar
no alto amazonas
Sonhava eu co'as águas
negras e barrentas
que não misturavam
ao se encontrar
Você prometia
que ia me levar
junto se eu ficasse
maior que você
Mas não me levou
até o solimões
e nem mesmo no
baixo Pantanal
Foi no Velho Chico
e no Rio das Velhas
que pescamos juntos
Me esquecia do anzol
confundia as linhas
mas tinha bem sorte
de principiante
Paciência nunca
tive muita e o papo
valia sempre o barco
Moro hoje no Rio
de Janeiro mas na
minha poesia
cabem versos mil
Até mesmo aqueles
de amor guardados
bem na sua gaveta
Eu pesco palavras
tal pescou jaús
com sabor de estórias
e algo de aventura
Paciente deixo
o verso chegar
mordendo meu metro
Puxando forte a linha
perfazendo rimas
embolando estrofes
na poesia turva
Ainda quero ouvir
o esturro duma onça
no meio do mato
Pra saber se o medo
que eu sentia quando
pequeno lhe ouvia
contar é esse mesmo
Mas quero também
ver todo seus versos
sairem da gaveta
Tal fossem cardume
grande de curimbas
tomando o rio todo
em versos e prosas
Pai, vamos pescar
peixes e palavras
nessa mesma linha?
Azul
e mais onze nos gramados
juntos, o time perfeito
que nem todo céu estrelado
brilha mais e desse jeito
pelos estádios e estados
ofuscam velhos eleitos
já depostos no relvado
Meu cruzeiro cruza os campos
dos mais belos horizontes
das minhas minas gerais
O Brasil de canto a canto
já nos vê como gigantes
destronando até os globais!
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
do caráter poético das ruas.
é sempre e sempre
foi do tipo vadia
E se estende bem em
qualquer corda de varal
e até no fio do fio dental
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
de caráter
dos frascos e comprimidos
comunista , feminista
e também botafoguense
Sobre trilhos
são só cereja no bolo
os sorrisos e as moedas
é que dão vida ao poeta
Não era como se dizia
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Urbanização Infantil
-Mas mãe, eu quero brincar aqui fora.
-Desce! Desce agora! - respondeu ela sem a menor paciência.
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Com quantos pau-brasil se faz uma vanguarda?
um gole de vinho escocês
uma taça de cerveja russa
só não me abusa
do azeite francês
ou da comida inglesa
Experimenta urucum na cara
tapioca na tigela
Te quero mameluca
filha do boto
minha meretriz cabocla
Oh musa Liberdade
se deita comigo
não como espelho italiano
mas como olho d'água
que reflete o canto de Iara
Quero ser vitória régia
e não só a última flor do Lácio
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou vontade louca
da cor do marfim
que a fome desfruta
tal suave cetim
vem beber comigo
um gole de vinho
serei pão e trigo
em cada cadinho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou menina pura
vem fazer-me assim
presa mas com luta
de querer-lhe enfim
vem correr perigo
sem luz no caminho
sou seu mais antigo
desejo quentinho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou doce sou fruta
vem provar de mim
em suave labuta
de não dizer sim
vem beber comigo
um gole de vinho
serei pão e trigo
em cada cadinho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
sou quem sempre escuta
Vem contar pra mim
toda vida injusta
que não tem mais fim
vem ser meu amigo
não fique sozinho
sou seu novo abrigo
um seguro ninho
meu pássaro meu
não sou julieta
nem você romeu
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Deu na televisão
irão falar do banco quebrado
Se não for do banco quebrado,
irão falar do trânsito parado,
Se não for do trânsito parado
irão falar do lixo deixado
Se não for do lixo deixado
irão falar do festejo estragado
Se não for do festejo estragado
irão falar do vizinho incomodado...
Se não incomodar a ninguém
não é protesto não é nada
é só um bando dizendo seu amém
uma matilha pela mídia amestrada!
domingo, 14 de julho de 2013
Baratas de Copacabana
pra essa festa ja tenho meu par:
levo cara de pau e as mãos nuas
pra dizer Não pras suas falcatruas!
Vinte centavos ou Caviar?
escolha o lado que vai ficar
são centenas que tomam as ruas
gritam verdades óbvias e cruas.
Você pode me atirar dinheiro
com o qual suborna os militares
mas ele não cala o mundo inteiro!
Você pode me atirar cinzeiro
o sangue de um mexe com milhares
porque de fumaça já estou cheio!
terça-feira, 9 de julho de 2013
Insônia
nas últimas décadas
não pôde fechar
os olhos pra quem
não tinha pão cama
remédio e escola
Agora se assusta
sendo eles de vândalos
pichados em rede
nacional em prol
do transnacional
capital que explora
Quem esteve insône
vigiou o sono
dos micro burgueses
que por seu conforto
em berço esplêndido
nunca se mexeram
Agora se assusta
com esses sonâmbulos
que gritam facismos
e queimam bandeiras
querendo escrever
leis sem saber ler
Quem sempre lutou
não pelo pais
mas pelo seu povo
queria ficar
feliz co'esse novo
e forte aliado
Agora vê cordas
que de novo tentam
manipular todos
com a mesma velha
mídia com suas cartas
marcadas e arcaicas
Quem nunca fechou
olhos não será
por spray, bombas,
manipulações
logo adormecido
por vinte centavos
Vândalo
subverter essas medidas
e brincar de cabra-cega
com as normas esquecidas
Quero brindar com as pregas
das verdades carcomidas
dum modernismo que afaga
ideias pré concebidas
O metro não é vilão
nem mata a criatividade
dum poeta verdadeiro
É desafio de montão
pra quem tem necessidade
de inovar o tempo inteiro
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Vidraças valem mais que Vidas
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Poeticamente sádico
e tolho cada palavra
que avulsa vira escrava
de meus desejos perversos
gosto quando a rima crava
na carne ímpetos imersos
em tara, desvios diversos
e doce perversão rara
com voz doce e macia
teço bem uma ilusão
de que a corda acaricia
pelas linhas da escansão
geme cada poesia
e se encadeia o tesão
terça-feira, 18 de junho de 2013
Protesto com Vinagre e Lágrimas
ou "só" pelo direito de ir e vir
É por tudo que nos faz os escravos
duma seleta elite ainda a sorrir
Oito horas de trabalho por salários
que se fossem piada fariam rir
Enlatados, viajamos num calvário
diário pro sustento garantir
Sabe quanto que vale meu vintém?
Vale muito mais do que seu valor
corrente, monetário e absoluto...
Vale o dever de não dizer amém
prum bando de bandido sem pudor
que trajando ternos mentem absurdos!
segunda-feira, 3 de junho de 2013
cabelos, roupas e unhas de feriado em casa
não quando é com meu comum leitor
Livretos somente entrego e recolho
Mantendo meu sorriso de olho a olho
Vagos vagões e céu de malumor
mas tinha ela num sorriso encantador
e tímido que obrigou meu desfolho
dos meus livretos com pesar e orgulho
Eu ouso - posso sentar? - Ela ri
esquecido falamos de livros
dos cursos, quadrinhos e poesia
Se dos nomes na língua esqueci
não me apagou os seus modos tão vivos,
seu doce desleixo que seduzia...