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Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
domingo, 31 de agosto de 2008
Pela puta cara
Tudo o que disser
não lhe compromete
Faça o que quiser
mas me compra e mete
Trova
Coitada da poesia,
por favor, deixe-a livre
desses pesados grilhões
de sua falsa liberdade
Ébria composição
Através, da fumaça cinzenta,
do conhaque marrom, lhe contemplo
e ela tão solitária se senta
pra sorver seu café a conta e tempo
Sua presença que já me atormenta
e a fumaça carrega plo vento
as delícias que a pena me intenta
murmurando-lhe meu triste alento
Quando lhe vi deixar eu não pude
de notar sua tez tão mais macia
que a mais doce das notas do alaude
palpitar de seu peito: harmonia
intocável por minha mão rude
incapaz para tal sinfonia
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Apenas por diversão
Pois plante uma bicicleta
e pedale uma floresta!
Tranque chave na gaveta...
e peça o que não se empresta.
Pois desenhe torto a reta:
que Dez a burrice atesta!
Sê roto em roda seleta...
e faça do luto festa!
Apenas por diversão;
roube o doce do ladrão
do senador e da criança!
Desmarque todo o baralho...
Espante até o espantalho,
convidando-o pra esta dança!
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Análise Filosófica do conto “Três Sonhos” do livro: “O Senhor Calvino” de Gonçalo M. Tavares

(clique na imagem para ver o conto legível)
No primeiro conto vemos um Calvino obstinado e perseguidor dos seus objetivos. Encarando seus reveses "sem pensar", ou seja, sem hesitação e com uma certeza de quem está seguro de seus atos. Jogando-se frente uma situação aparentemente absurda que lhe foi imposta com maestria e firmeza. Calvino joga-se pela janela, trinta andares acima do solo, pois através dela foram jogados os objetos constituintes de sua personalidade, seus símbolos de poder. Para Calvino, os sapatos e gravata bem alinhados equivaleriam à capa e espada bem cuidadas de um mosqueteiro ou o chapéu e revólver de um Cowboy no Velho Oeste. São o que o torna preparado para enfrentar seu destino. Mas não se trata apenas de vestir seus trajes, Calvino o faz com maestria e obstinação. Seu nó é um nó de dedos certeiros. Mesmo falhando ao calçar o pé esquerdo, não desiste, e antes de chegar já tem os sapatos com os atacadores bem apertados. Ao fim de sua jornada Calvino chega impecável, realizado.
Com a mesma presteza Calvino age ao se deparar com a Borboleta. Em grego, Borboleta é Psyche, que também significa alma, sendo usada desde muito como símbolo para libertação, transcendência e transmutação. Calvino reconhece nela algo de precioso e por isso mesmo se apressa em fechar a janela para não deixá-la escapar. Da mesma forma com que nos concentramos mais quando um lampejo nos indica o caminho para a resposta de um problema que há muito nos atormenta. Calvino acompanha o vôo da borboleta, observando-a de longe, observando-a tocar seus diferentes desejos e problemas: de seu desejo pela mulher de minissaia, de seu mundano interesse pelos números (números estes que aparecerão mais fortemente no terceiro sonho) e por fim chegando perto do bife cru, da carne que ele espanta com veemência, como se tal pudesse macular a Borboleta-Alma.
Seus esforços são recompensados e a Borboleta adentra por sua orelha esquerda. Sim, pelo lado esquerdo de seu corpo, conhecido pela ciência moderna como o lado responsável pelas sensações e emoções e antigamente associado ao mistério, místico e sinistro. Quando essa alma, que tanto perseguiu, se une à de Calvino ele se sente completo, íntegro e saciado. Com todas as respostas aos seus questionamentos, já pensado, resolvido e realizado. Depois de tamanha perseguição, de passar por provações, finalmente encontrara seu momento derradeiro. Calvino encontrara seu momento de êxtase, seu instante de maior felicidade. Mas desperta por não dar conta de tamanha completude e felicidade que a revelação da verdade proporcionava. No entanto, resta-lhe uma dor de cabeça que não passa como se não passasse para lembrá-lo do que vivera.
Diferentemente dos dois sonhos anteriores, Calvino começa esse de fora da situação que ele mesmo se encontrava, custando a perceber que falavam de números, percentagens da venda de petróleo. A sensação ruim que existia no final do segundo conto persiste, transformada agora na estranheza da sensação de estar dentro do estômago de uma Baleia. Pela primeira vez Calvino começa a se dar conta do mundo, percebe com estranheza como todos falavam de percentagens e percebe como ele, mesmo depois de se afastar da discussão com seu sócio, não conseguiu se desvencilhar desses números. Esse terceiro sonho é um despertar propiciado pela Borboleta. Depois do segundo sonho Calvino percebe a pressa, os números e todo o sistema da cidade dentro dessa grande Baleia.
Os três sonhos mostram momentos distintos da vida de Calvino sendo o primeiro seu quotidiano, o segundo seu rompimento e o terceiro seu novo dia com os questionamentos suscitados pelo rompimento. Calvino sai do primeiro sonho realizado ao conseguir seus objetivos, chega impecável ao chão, preparado para sua labuta diária. Já no segundo, apesar de sua realização ser incrivelmente maior, termina com o mal estar de não ter dado conta de tal. E por fim chega o terceiro conto, onde a revelação se depara com seu quotidiano e o faz perceber o que lhe causa náusea. Os três sonhos juntos formam o conto, a sua evolução pessoal. Não podendo ser lidos isoladamente, mas sim, como um conjunto de instantes particulares e interdependentes.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Elogio
E que nunca experimente,
porque se experimentar
não deixará de querer
aprecia-lo novamente...
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Sonetilho II
Pois todos os dias eu travo
uma batalha sem fim
Sendo às Palavras escravo
do que Elas querem dizer
Sendo sempre torto e bravo
no que dizem para mim
Pois meus dedos nunca cravo
no que dizem pra você
Sendo sempre o mais ávaro
em sabê-los tal qual e assim
pra cada Letra entender
Pois Versos eu ainda gravo
nessa torre de marfim
pra vê-los resplandecer
domingo, 17 de agosto de 2008
Tempestade
Depois de por todo o mundo
soprar numa busca perdida
até no abismo mais fundo
procurara sua querida
Entrou num bosque profundo
de tais belezas escondidas
e pelo vale fecundo
encontrara as esquecidas
O Vento dançou co'as pétalas
inebriado plo perfume
doce e saboroso delas.
Pois eram flores mais belas
que semearam seu gume
na tormenta de quimeras
sábado, 16 de agosto de 2008
Ele
Fabulosamente insípido,
era o seu melhor beijo...
Mas pelo seu olhar, límpido,
atiçava o maior desejo.
E terrivelmente ríspido,
o seu carinhoso ensejo!
Era de todo perdido
mas também tinha vicejo!
Regara pura indolência
nos campos que passara:
puro, descalço e desnudo!
Fizera assim sua indecência
nas mil camas que deitara
num gozo eterno e absurdo!
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
menininha
menininha, menininha
tão inocente a me sorrir
que tu saiba serás minha
muito tenho a lhe bolir
menininha, menininha
vou lhe botar pra dormir
não ficarás mais sozinha
muito tenho a lhe bolir
menininha, menininha
não tens mais porque chorar
menininha, menininha
tens meu colo pra deitar
menininha, menininha
tens toda noite a mamar
terça-feira, 12 de agosto de 2008
sábado, 9 de agosto de 2008
Vaidosa
Ela não sabia, porém que material usaria para tamanho feitio que tanto desejava. Se importadas seriam as sedas das terras que, de tão longínquas, falavam como se sempre cantassem...
Pois sonhara com seu brilho, sua tanta maciez tão fria, que toda lhe arrepiava, mas acordava com dúvidas. Tinha também o velho tecelão que fornecia há muitos e muitos anos um acolhedor veludo. O melhor que já cobrira sua pele alva e macia. Também vestido nobres damas para os bailes da corte.
Depois pensou no couro, dos animais mais exóticos vindos dos reinos do sul, durável e protetor. Que perduraria por tempos, seria a sua obra de arte, que vestiria para encantos de todos os que lhe vissem.
Mas despertara também um ciúmes tão estranho, um medo que o perdesse. Pior quando se ela fosse decerto que herdariam seu trabalho mais valioso, outras tantas vestiriam. seu maior trabalho e seduziriam com sua criação. Pois então não teve mais dúvidas.
E com as mais belas linhas bordou em sua própria pele os mais bonitos detalhes que nunca, jamais, bordara. Foram seus próprios ossos, puxados com toda precisão, que se alinharam para sua nova e perfeita forma.
Nota: É um rascunho, não está do jeito que pretendia, está incompleto, falho precisando de muitos ajustes. Sobrando coisas, faltando outras tantas. Longe de estar sequer aceitável. Agradeço as sugestões
terça-feira, 29 de julho de 2008
Amargo Vazio
Meu rancor é tanto frio quanto cálido
Amargo tal um beijo calculado
e doce como a bela anis roubada
sem riso ou tristeza acalentada
Pouco me importa qual o meu estado
sem pensar quanto é certo ou errado
Eu não lamento tal vida alquebrada
quando se esvai minh'alma acorrentada
Insônia não é mau em companhia
quando bem juntos meu temor se esvai
deixando para trás qualquer cobrança
Insônia não é mau em solidão.
Quando ficar calado nada atrai
e a madrugada passa sem lembrança
Sr. Personna
Desesperado a saber caro amigo!
que passos anda nossa vil vontade?
Tu terias esse tal saber contigo
diga-me, pelo menos por vaidade!
O teu silêncio é algum castigo!
sabes se me ouvem nesta sua cidade?
Diria-me porque teus passos eu sigo?
já não nos restará qualquer verdade...
Sr. Personna, o que trazes pra mim?
traz-me um contento ou pesar sem fim?
Sr. Personna, o que trazes pra mim?
traz mentira ou boato alegre assim?
Sr. Personna, o que trazes pra mim?
traz-me agora um sonho bom ou ruim?
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Tarde de verão
Efebo dos cabelos tão macios
Ninfa desnuda nada pelos Rios.
são companhias dessas melhores graças
após o bosque de apreciadas caças...
Flores e flautas surgem plos Estios,
Carícias com cuidados, muitos brios,
Divinos frutos, suculentas massas...
do odre tão raro três servidas taças
Doçuras d'um hálito juvenil,
tal Brisa do deus Zéfiro aos lábios,
perdem qualquer razão até os mais sábios
dos belos corpos são calores mil,
entre suspiros, relva tão macia...
afinal, cada taça está vazia.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Literatura Potencial
Flerto hoje com o movimento Oulipo
pois não direi que nele eu acredito
mas que talvez tenham a solução
para livrar-me desse vil grilhão
É no seu paradoxo q'eu insisto
num casamento tão perfeito e quisto
abocanhando as normas com paixão
frutos de liberdade nascerão
velho Parnaso até o Sr. Drummond
escolherei o mais afinado som
dos de Concreto até meu fiel Bilac
desonrarei jamais versando araque
luzes eternas da inspiração da vela
serão Augusto e a bela flor Florbela
terça-feira, 22 de julho de 2008
Sátiro
Olhos violaceamente tão injetados
incréu à tal fada que lhe sorri...
Sátiro co'a flauta de mil bordados,
em cada nota um naco da de si!
Vai pelo ar na presteza dos alados:
convida sáfico igual colibri!
Na sedução de ardores, mil cuidados...
pelo rubor da Fada, Ele se ri!
Quando co'a flauta vem seu belo canto,
dando-lhe beijos sem qualquer aviso...
roubados, mui bem dados por vaidade!
Chegando a noite a lhe servir de manto,
pois nela o seu maior pranto é de riso
por actos em ausente sobriedade...
domingo, 6 de julho de 2008
Nobre tecelão
Artesão vem tecendo pensamentos,
tem, pelo fiar, os dedos calejados...
Cada trançar desfia dos mil tormentos,
nos olhos míopes muito fatigados.
Seu tear em sinfonia tocando os ventos;
ao soar, novelos são assim trançados...
os fios serão tingidos nos momentos
pelos desejos bem acalentados.
Numa cortina d'um sutil bordado...
Deita em seu leito envolto na penumbra,
entre lençóis q'outrora pra si fiou.
Tem o seu sonho mais vazio velado,
mas sem que nunca alguém sequer descubra
d'um sol vermelho que num dia sonhou...
sábado, 5 de julho de 2008
Singela Trova
Detrás d'orelha um afago
Com o meu melhor carinho
uma flor e um verso trago
pra ninguém ficar sozinho
quinta-feira, 3 de julho de 2008
A minha adorável turba
São risos e mais risos, todos sorridentes!
Calem-se! Vocês são uns imbecis contentes.
Lágrimas e mais lágrimas, todos aos prantos!
Parem! Sabemos que entre nós já não há santos.
Loucuras e Loucuras mais, todos dementes!
Aquietem-se! Seus juízos estão ausentes.
São Vozes e mais vozes, ecoam pelos cantos!
Falem! E Digam-me os porquês desses encantos
Percam-se! Por entre essas vozes distorcidas.
Seres d'almas vazias e pensamentos pequenos!
São razões iludidas, homens em seus postos.
Esqueçam-se! Destas aspirações decaídas.
Seres de sangue ralo e de sonhos amenos!
Perdidas ilusões, homens apenas mortos.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Sua admirável Loucura
Co'a posse d'uma lâmina tão cega,
vão é ferir suas mãos torpes e frias!
Quando foge da morte e sua luz nega...
sua Louca: dance por vielas vazias!
Esse belo jardim sem flores rega;
criando poças que não secam por dias...
Seu punhado de areias vermelhas pega,
põe-se a gritar por todas cercanias!
Tal quando vai a despetalar espinho;
a lhe ferir o rosto, boca e mãos.
Pois sua dourada chave do moinho
fora roubada por seus vis irmãos!
Seu olhar tão doce quanto o melhor vinho,
causa medo além d'espanto aos mais sãos!
segunda-feira, 23 de junho de 2008
Lições III
Aprenda: nem tudo são descaminhos,
porque também virão viciosos vinhos.
Afinal nem o mundo é só impureza...
também sortida há qualquer malvadeza!
Saiba, pois nem tudo serão espinhos...
há ferrões nos melhores dos caminhos!
Pois que nem tudo é sempre uma tristeza,
sobra também a fome e algoz pobreza!
Pequena, são mazelas da virtude!
assim mui digna de quem só o bem faz...
Contrário a quem bebe por sua saúde...
pra se gozar como melhor lhe apraz!
dos que infligem tormentos amiúde...
sem a piedade d'um segundo em paz!
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Zero-Amor
Ambos Bêbados Caminhavam Desolados
Ainda Baixava o Crepúsculo Dolorido
Embalados Faziam Gracejos Horrorosos
Enciumados Fizeram-se Gratos, Honrados
Insensíveis Jogaram-se à Lama Marrom
Inseparáveis Jaziam Lânguidos, Mordazes
Numa Opulenta Perversão Quotidiana
Naturalmente Ordenada Pelo Querer
Revelaram-lhes, Sensualmente, Taras Últimas
Vorazmente Xoxotas Zunindo Azulmente
Braulios Comedores Deleitados Enfim
Rejeitando Sanhaduras Tão Usuais
Velhacas Xícaras Zelaram Absorvidas
Bebiam-se Carregando Desfrutes Enfáticos
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Valiosa
Ela foi, sem menor dúvida, meu maior sonho já feito e quando terminei sabia que era um trabalho perfeito. Não sei bem porque, mas não lhe convinham olhos de verdade, em sua face de fada incrustei duas pedras de jade.
Tinha lhe feito com as curvas mais delicadas e uma boca tão rubra quanto bem tracejada. Entre os lábios uma língua muitíssimo apurada e a tez ao menor toque ou roçar estava eriçada. Ouvia o bater de meu coração mesmo nos instantes de calma e quando eu nervoso ouvia o gritar de minha alma. Do meu chegar sabia de longe pelo olfato tão apurado e para ela sempre estaria encantadoramente bem perfumado.
Nunca me vira e nem podia sequer admirar a sua própria beleza que fora tecida por mim. Mas seus olhos eram de jade! Como eles lhe caiam perfeitamente com sua profundeza sem fim...
Ela a cada toque mui deliciosamente gemia, soando-me como a mais bela e formidável sinfonia. Sua voz tão doce e delicada foi, por mim, perfeitamente afinada. Dela eram as melhores carícia qu'eu recebia em toda minha vida e também ela rapidamente os pontos mais sensíveis descobria. Por mim cada gesto fora ensinada e nos toques de amor tornou-se requintada.
Adormecida seus olhos beijava, as frias pedras eram nela sempre cálidas. Nos seus olhos de jade nunca havia lágrima ou tristeza, somente a felicidade de Rei e Princesa.
terça-feira, 3 de junho de 2008
Minha Amada Princesa
Seria um crime dizer de sua beleza!
e seus gestos até as fadas encantam!
Nela tenho toda calma e certeza,
lhe contemplo e meus desejos vicejam...
Debaixo do dossel bela princesa,
com seu perfume meus medos se espantam!
Eu lutaria contra toda realeza
e contra todos os que lhe maldigam!
Minha amada sorri como se deita
tão lânguida e suave num suspiro...
é minha musa mais que perfeita!
A beira do seu leito lhe admiro
enquanto o corpo inteiro ela se enfeita,
fitando-me não vivo nem respiro!
segunda-feira, 26 de maio de 2008
O parnaso contra ataca II
Que se exploda o politicamente correto!
enfiar no papa um dedo no seu santo reto!
Já cansei do lirismo assim tão comedido,
que liberto não tem nada mais de atrevido!
Convenhamos que nada de errado ou certo...
há na vã poesia de tal falso liberto!
Nesse seu versejar velho e tão combalido,
falta d'algo mais velho pra ser revivido!
faça-me algum soneto...não és capaz?
versos seus tortos eu faço tão bem e assaz...
mais cuidadosamente sonoro e pungente!
Eu sei, sou dessa vil pretensão tão tamanha...
que sequer vai sonhar sua pequena e má sanha!
Pois acusa retrógrado? Sou exatamente!
sexta-feira, 23 de maio de 2008
O Parnaso contra ataca
Eu digo adeus à poesia de gaveta
com tantos dos seus versos tão disformes
Todo meu versejar não é gorjeta
Para que viva dentro dos conformes
Porque não há metro que lhes perverta
meus sentimentos vívidos e enormes
é natural que nas regras me verta
d'algum pensamento que encha ou entorne
Quero ver se tua tão vã liberdade
me provoca a menor saciedade
ou mesmo umas migalhas d'alegria
Diga-me pois onde está teu prazer
que ali também irei lhe perverter
pelo som da mais bela simetria
domingo, 18 de maio de 2008
Goticismo
Dulcíssima solidão
tão doce como um limão
que cultivo com carinho
no prazer de estar sozinho
terça-feira, 13 de maio de 2008
O Reinado
Tomava notas de todas as suas estratégias num pequeno caderno vermelho: cada movimento de seu exército que conseguisse reunir um destacamento inteiro ou senão uma tropa minguada.
Descreveu como se esconderiam nas montanhas escarpadas ao leste do palácio real, para depois descerem margeando o rio até os portões da cidade ou como atacariam durante a lua nova para que a escuridão lhes servisse de abrigo.
Escreveu também da honra e glória dos vencedores, todo o ouro e títulos que daria aqueles que se continuaram ao seu lado, mas, também descreveu nos pormenores da humilhante vergonha daqueles que derrotara com suas estratégias, inteligência e artimanhas.
Contou como tendo conquistado de volta o castelo; contou dos grandes bailes, onde as damas e cavalheiros do mais alto berço de todo o continente seriam convidadas, e dos festejos, enormes com banquetes de manadas e bandos inteiros abatidos para saciar a fome de todo o reino, em honra de sua vitória (comemorações que seriam repetidas, sempre à data da última batalha de reconquista, ano após ano) e então governou, no caderno vermelho, com justiça fazendo seu reino prosperar e crescer.
A intriga da corte lhe divertiria, jogando com as nobres damas e imponentes cavalheiros seus boatos, amores e influências. Mantendo-se sempre no poder com mão firme e gentil. Mas também seria ele protetor e financiador de poetas, músicos, escultures e pintores que lhe fariam enormes homenagens. Ele teria seu busto esculpido, pintado e descrito em todas as formas de artes.
Mas depois de alguns anos sentiria-se só e tomaria como sua rainha a princesa mais bela do Reino do Oriente e assim forjar uma nova e forte aliança que combateria os povos bárbaros que habitavam as terras ao sul.
Novamente se preparava para a guerra. Já não era mais tão novo para ir à frente de seu exército, mas agora contava com uma vasta experiência e muitos homens e recursos dispostos e leais à sua coroa.
Entre uma conquista e outra, sua rainha lhe daria herdeiros legítimos que seriam educados pelos melhores padres e cavalheiros de toda a corte. Bem versados nas letras, na fé e na espada, com o passar dos anos estariam lá ao seu lado para lhe auxiliar em suas batalhas e em seu governar.
Tão bons filhos que fariam, com sua sabedoria e força, com que o Reino se tornasse enfim um Império temido e respeitado até nas mais longínquas terras. Junto com eles ergueria um novo Palácio com a mais bela vista de todo o novo Império, construído para caber toda a sua grandeza, teria o melhor mármore vindo das terras onde o sol era mais vermelho, as tapeçarias importadas de todo os mares, salões onde mesmo gigantes se sentiriam confortáveis.
Mas ele saberia que os anos não lhe poupariam para sempre e, já idoso, entenderia que seu fim se aproximara passando então seus últimos meses garantindo que todas as conquistas de sua vida vitoriosa não se desfizessem em meio a intrigas e desavenças.
Seria no meio da primavera, sua estação favorita, que daria seu último suspiro e os funerais durariam até as portas do verão. Reis, príncipes, Xeiques, Aristocratas, Poetas e até a Santa Majestade prestariam sobre seu túmulo homenagens e honrarias, pois seria um homem de fé, um aliado valoroso e um inimigo terrível.
As histórias de seu reinado, suas batalhas e festejos jamais seriam esquecidos para sua glória.