Publicação em destaque
Poeta e apenas poeta
Já me olharam espantados quando digo que sou poeta e só poeta. Que não canto, nem danço, nem atuo, nem pinto, nem bordo, que "só" ...
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Lições
Muito brincaram comigo,
até que aprendi a brincar...
Na vida se chicoteia
ou se deixa chicotear!
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
A Fama
Apareci no jornal
e não foi na policial!
Foi nota de rodapé...
mas era trova de pé!
sábado, 9 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Eu
Eu sou a pena do poeta
sou um torto em linha reta
Sou chicote do carrasco
Sou prazer enquanto asco
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Homo imbobile
O velho inventor fascinou-se com aquele humano que se fazia de estátua, ninguém percebia quando levemente respirava. Um olhar mais atento até veria, de relance, o seu sorrateiro piscar de olhos.
Num estalo lhe viera a inspiração, e meses à fio trabalhou em seu mais novo projeto. Moldando-o à imagem e semelhança do homem. Tinha olhos verdes, uma leve barba por fazer, traços suaves e cabelos cacheados. Sua voz era aveludada como o melhor narrador de histórias infantis. Andava com graça e leveza.
Mas seu verdadeiro propósito era ali ficar como uma estátua, deixando de quando em quando parecer que respirava e piscar os olhos quando ninguém mais estivesse vendo. O velho passava oras à fio admirando o seu próprio homem-estátua.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Ecos d'um palhaço trágico
Tudo que se esperava daquele palhaço suicida é que sua última gargalhada, depois do salto, ecoasse cada vez mais distante, até o retumbante soluço final.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
A quanto tempo nao sentia,
calmamente a dor verdadeira esvaindo
Faz tempo, muito tempo...
Mas hoje preciso senti-lo,
Sentir que ainda estou vivo!
Sentir na pele o que me rasga por dentro.
Hoje é dia de sentir.
Sentir tudo que há de mais terrível.
Para que eu possa me esquecer
esquecer de mim mesmo.
Esquecer que existo.
Pois me venham as laminas, os ácidos,
velas, torturas e loucuras.
Se nada opera efeito,
operar-me-ei cada defeito.
Fatais, fatais vaticinios,
frutos desses meus desatinos,
de meus sonhos irrealizados,
de meus porões mal assombrados.
Cercado, por todos os lados...
Será defeito?
Talvez só tenha me restado
um único jeito...
De tornar-me perfeito.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Infância
Eu, pequeno garotinho
tão novo dizia poetar:
"cala boca cachorrinho,
deixa luquinhas passar!"
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
a barca estígia II
remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos restos desprezados
amargando prantos encarcerados
remam em seu rancor plo rio d'orrores
aprisionados pelas mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobr'eterno repouso dos finados
remam mortos, agora penitentes
sofrem por seus viveres indecentes
pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando plos vivos esquecidos
remam sofridos na barca da morte
praguejam por tamanha sua má sorte
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
A Barca Estígia
remam remoendo seus erros e dores
desmortos remorrendo seus terrores
rutilam roucos todos desprezados
amargando prantos encarcerados
rancorosos remam plo rio d'orrores
presos por arreios de mortas flores
rosas, cravos, outrora derramados
sobre o eterno repouso dos finados
morreram e agora remam penitentes
sofrem por seus viveres indecentes
pois remam por seus crimes cometidos
mesmo quando pros vivos esquecidos
remam sofridos na barca da morte
praguejam por sua tamanha má sorte
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Marionete de trapos coloridos II
Pois quando noto seu, de fel, sorriso
Eu me deleito nesse doce apreço...
e de tamanho prazer regojizo,
tanto que ao deleite até me esqueço.
Gargalho por ver este olhar nervoso,
aos pesadelos quando eu lhe apareço
a divertir-me no mais puro gozo
Nessas palavras-linhas lhe enlouqueço
Sem mim teus passos são vagos, perdidos.
Sozinha és sem encanto, faz só dormir.
Jogada em qualquer canto o pó cobrindo
Marionete de trapos coloridos,
és assim tão linda que me faz rir!
Pois agora me dance, estou assistindo...
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Meu brinquedo II
Seu corpo, aroma e traços bem cuidados,
que nessas mãos se fazem maltratados.
Os seus gemidos tão deliciosos...
que aperto, ouvindo-os ardorosos!
Os seios dela são assim delicados,
que não deixo por menos abusados!
Seus lábios, ao felatio, voluptuosos...
que dou-lhe meus humores mais gostosos!
És minha mais perfeita Bonequinha!
foi feita especialmente para mim:
para meu uso, deleite, abuso e trato.
Oh, mas ela realmente é perfeitinha!
Co'ela em mãos me divirto horas sem fim!
Gozando ambos em cada ato e maltrato...
bem ditos
É lícito ao poeta
se apropriar do que foi dito.
por outro qualquer esteta
que não tem estima disto?
terça-feira, 16 de outubro de 2007
boas novas num guardanapo
uma verdade selvagem
batendo na minha porta
chegada d'uma viagem
longa, escura, negra e torta
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Cidade-lua
Menino engenhoso
Vendo pássaros e penas
Fez voar papel
Querendo tão mais:
as núvens todas tocar
era seu intento
De feitura sua
muito bem arrematada
com precisos laços
trabalho ardoroso
feito por noites centenas
colado com mel
Penhasco foi cais
pr'ele para os céus zarpar
ao sabor do vento
Chegou até a lua
Com a sua pipa dourada
maior que seus braços
Malfadado pouso
entre casas tão pequenas
na cidade do céu
Nos tortos beirais
Moradas a se amontoar
sem ordenamento
Caido numa rua
da cidadela aluada
sem de vida rastros
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Uma felicidade para sempre
Foi com os primeiros raios d'aurora que Ela acordou, ainda deitada sobre o peito nú de seu amado. Todos os dias era assim, acordava ao seu lado e admirava-o perdidamente. E suspirava, pois finalmente o tinha ali, como um sonho.
Levantou-se sorrindo por saber que os dias tristes agora eram apenas parte do passado. Os obstáculos e inimigos de sua felicidade foram vencidos um a um. Dirigiu-se para a cozinha, como fazia todas as manhãs, e preparou o desejum de ambos com todo cuidado.
Torradas e um chá de ervas para acompanhas mas, açúcar não colocou e sim duas colheres de cianeto. Em uma bandeja, carregou as torradas e as duas xícaras de chá, para o leito que fora desde sempre o ninho dos enlaces.
Ela o despertou com um beijo delicado e sereno. Ele, após retribui-la sorriu complacente para sua amada, ajeitaram-se à cama e começaram o desejum. Provaram das torradas e juntos levaram as xícaras à boca e quase simultaneamente retorceram os rostos pelo amargo sabor e sorriram cúmplices.
Sem pressa. terminaram o café da manhã e se deixaram deitar novamente entre carícias, beijos e afagos até juntos adormecerem.
sábado, 1 de setembro de 2007
Resoluções
Muito tempo já perdi...
mas hoje me decidi;
se exploda o caráter ético!
Sou, por natureza, herético.
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Era uma vez...
Apesar de tão nova a Felicidade foi a primeira a morrer, dormiu durante uma noite festiva e nunca mais despertou...
O Amor tornou-se taciturno, e obsessivo acabou por ir embora para viver como eremita. Algum tempo depois adoeceu pelo frio da montanha, mas, por seu orgulho lá ficou e se foi sem chamar quem pudesse dele cuidar.
A Sobriedade, que tanto brigava com o Amor, sentindo a saudade mais forte a cada dia que passava após seu exílio. Quando, depois de muito, soube de sua partida, a carência, que abateu sobre si, foi tão grande que cedeu, finalmente, aos constantes galanteios do Desejo e a ele se entregou totalmente, esquecendo-se de quem era... Não demorou e ambos desmedidos se foram após se deixarem cair em sucessivos excessos.
Mas, como nem tudo são males, logo após os primeiros enlaces, foi concebida a Esperança, que logo começou a ser mimada e conforme o enlace dos dois se tornava mais intenso os mimos aumentavam mais e mais. E quando eles se foram, sentiu-se desamparada e sozinha pondo-se, por ser tão nova, a chorar copiosamente.
Quem lhe escutou o choro, foi o malfadado Desespero que encantado se sentiu compadecido e chamando sua esposa, a Morte acolheram-na ao seio do lar.
Não eram, nenhum dos dois, muito afetuosos, o Desespero perdia o controle facilmente e acabava maltratando-a e a Morte já não tinha seu abraço de seda, desde que fora buscar o Amor. Mas a Esperança era uma criança que de muito pouco precisava e conseguiu sobreviver com as migalhas que recebia.
Os súditos de Nero
O Pássaro não vai voar,
quer morrer onde nasceu.
O Grilo não irá saltar,
queimar junto o verde seu...
Tatu não vai pra toca:
não se esconderá da morte!
Hienas numa gargalhada:
juntas pela mesma sorte!
O Urubu foi logo embora:
a carniça já é carvão...
Canguru de bolsa cheia
pro filho quer salvação!
Leão, protetor da floresta,
quis salvar o seu reinado!
Fogo não era seu súdito!
Caiu na chama amargurado...
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Ensaio sobre o caráter estético do erro.
“Prazer de sentir o dedo,
no buraco da meia furada...
Surpresa em ter reparado,
na minha unha mal cortada!”
(Detalhes, Lucas C. Lisboa)
Uma reflexão a respeito da metafísica do nada em sua relação com o trabalho de estruturação de idéias expressas e seu poder de fascinação.
Durante uma aula de Antropologia Filosófica, meu professor, em sua explanação a respeito da metafísica e ontologia em sua evolução e diálogo entre Hegel, Shopenhauer, Nietzche e Heidegger, contou uma metáfora (em minha interpretação evidentemente):
A rede de pesca é composta tanto por suas linhas quanto por seus espaços vazios. Quando seus espaços vazios são grandes por demais (ou há uma falha em seu padrão) deixa vazar o pescado almejado.
Mas, se por outro lado, se não houver espaços vazios, não há braços que tenham força para trazê-la de volta ao barco e mesmo se houver, sem os espaços vazios, não há seleção do que é pescado, trazendo toda a sorte de coisas indistintamente: pedras, peixes, ostras, água...
Traçando um paralelo: O mesmo ocorre com uma estrutura de pensamento, obra literária, teses filosóficas e congêneres (que chamarei a partir de agora simplesmente de obra). Julgo que preencher todas as lacunas não é desejável e, creio eu, até mesmo impossível.
O não-dito é necessário e vital para sua efetividade e interpretatividade. O Poder de impacto de uma obra não está só em sua coerência e concisão, mas também em seus aspectos de prolixidade e contradição.
Não obstante, uma justa medida, entre o ordenamento e a imprecisão também não é algo a ser tão almejado assim. O que importa essencialmente ao dito é sua capacidade de pescar o interlocutor e fazê-lo pensar, digredir, em cada acerto, mas também em cada erro presente ali.
As congruências e validades de um texto decerto que permitem que se interesse por ele, mas, por não poucas vezes, são seus paradoxos e incongruências que causam o fascínio e a paixão por uma obra. E, sem sombra de dúvida, não é o mero interesse que faz alguém se debruçar sob uma obra para desvendá-la e sim a paixão despertada.
Meu brinquedo
Os seios dela são tão delicados...
Que devem ser muito bem maltratados!
Seus gemidos são tão deliciosos...
Que lhe aperto para ouvi-los ardorosos!
Rosto, coxas, dorso... tão bem cuidados,
Que não deixo senão abusados!
Seus lábios, ao felatio, voluptuosos...
Que dou-lhe meus humores mais gostosos!
És minha mais perfeita Bonequinha!
foi feita especialmente para mim:
para meu uso, deleite, abuso e trato.
Oh, mas ela é realmente perfeitinha!
Co'ela em mãos me divirto horas sem fim!
Gozando ambos de maltrato em maltrato...
Detalhes
Prazer de sentir o dedo,
no buraco da meia furada...
Surpresa em ter reparado,
na minha unha mal cortada!
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Poética
Todo dia travo uma luta sem fim;
co'as palavras e o que querem dizer:
pois seja o que elas dizem para mim...
pois seja o que elas dizem pra você!
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Seres tristes
Seres tristes são estranhos
de sofreres tão pequenos
mas também d'outros tamanhos
desejando dias amenos
Tristes seres sem sonhos
tomam em dia seus venenos
seduzem os fáceis ganhos
almas vendidas por menos
Quem são estes tão banais
que choram por uma flor
que sorriem por suas tristezas
São ninguém, nada mais
Estão lá, seja onde for
Sem porquês e sem certezas
domingo, 19 de agosto de 2007
Sistema Integrado de Criação Poética.
Programa 1
Analisa a sintaxe de um texto separando cada palavra segundo sua variável podendo trocar indefinidademente entre elas.
Programa 2
Analisa o resultado do programa um sob o aspecto fonético, ritmico e harmônico de acordo a atingir uma determinada eufonia pré-estabelecida.
Programa 3
Organiza o texto para se encaixar em uma determinada contrução, métrico/poética.
Fase Final
Os três processos são realizados sucessivamente até se encontrar uma forma afinada aos três parâmetros.
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Meu doloroso
Eu jurei: Ser dominada? Nunca! Jamais!
como eu lhe odeio, foi injusto demais!
disse e me lembro como seu riso resoou...
Ele, por um erro menor, me esbofetou!
Mas pior, seduziu-me a pedir por mais...
Sob seu jugo, sofri torturas abissais!
Com seu pulso o controle de mim conquistou;
e pela dor e subjugo por fim me adestrou.
Porque é Ele quem me corta, marca e perfura...
e quem me faz esquecer da dor mais que forte.
É Ele que no fim sempre me deixa confusa...
mas também quem me dá esse tão seguro norte.
A luz útlima da vida insossa e escura...
devo a Ele essa que é a mais desejada sorte.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
O Castigo
à Cruz de Santo André tensa se dirige:
de cabeça baixa, Submissa ao seu Destino...
por Transgredir a minha Norma que vige;
Antegoza e Arrepende de seu desatino!
Presa, o Chicote será sua punicão hoje,
a divertir-me tal brinquedo de menino!
Depois da centésima a contagem lhe foge;
mas gemidos, de Dor ou Prazer, não lastimo...
Gozo ao perceber seu corpo incandescente...
não só quente pelas Marcas e Vergões,
como também pelos orgasmos incontrolados.
Eu sei que de propósito foi Displicente:
pois à Força lhe faço implorar meus perdões
extraindo lamentos muito bem deliciados
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
das largas omoplatas, o mistério
Oh Malakós, Malakós!
que tomastes por almôndegas
as pedras avermelhadas...
grande glutão fostes vós!
sábado, 11 de agosto de 2007
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Doce Garotinha
Ela está tão sozinha que
segura a faca pelo fio
mordendo uma raiva tamanha
machucando seu lábio macio
domingo, 5 de agosto de 2007
Questão de fé
Ele, por anos à fio, pulou de religião em religião buscando a sua iluminação, acabou encontrando sua luz, como homem bomba, nas chamas da explosão.
do Homem
Covardia é sapiência
Nem sempre seguir em frente;
Coragem: pura demência
retroceder é prudente...
segunda-feira, 30 de julho de 2007
Aconteceu
O conta-silabas depois de tanto tempo tecendo linhas e linhas de versos formou seu casulo de palavras, ritmo e rimas. E dentro dele ficou em sua metamorfose lendo livros, ouvindo vozes...
Até que um dia, sem mais nem menos, atinou que não importava quantas palavras lesse, em quanto o som lhe soasse bonito ou forte. Co'a mesma caneta que escreveu tantas linhas, ele, agora Poeta, riscou os versos que nada diziam e não os reescreveu.
Já era tempo de novidades, ousou (uma heresia talvez) e colocou verso ao lado de verso, trilhando, encadeados e continuos, não mais truncados um embaixo d'outro. Sentou-se novamente na mesma escrivaninha e pôs-se a escrever sua prosa.
terça-feira, 24 de julho de 2007
quarta-feira, 18 de julho de 2007
Preâmbulo
O estudo da estética da obra o Capital de Marx se justifica, dentre um meandro de razões, quando se enfoca a sua relação com os estudos comparativos do estudo da estética da obra de Durkheim e o estudo da estética da obra de Weber. Sendo que o segundo, o estudo sob o enfoque estético das obra de Durkheim, serve, essencialmente de sustentáculo especulativo numa análise comparativa entre o primeiro, estudo estético da obra de Marx, e o último, o estudo estético da obra de Weber. Não obstante, temos no estudo desse último, o estético em Max Weber, uma análise profunda de sua interelação comparativa com o estudo das questões estéticas em Karl Marx, e a possibilidade de ponte com esse estudo na obra de Emile Durkheim.
Aos dezesseis anos
Um conselho meu irmão:
em filme que dá tesão,
não vá usar um calção
sem uma cueca não...
domingo, 24 de junho de 2007
Inominável
Qual beijo tem melhor ânsia?
Que mãos tem maior ganância?
Tanto faz o gosto e calor;
basta paladar, ardor.
terça-feira, 12 de junho de 2007
após
Aconteceu, porém o que há de se fazer?
para que, porque ou por onde passa?
num ato não há muito o que perder
além da típica e própria desgraça
Tantos desejos, para que se querer?
falhas e erros por tudo que se faça!
num segundo, inexistência do ser;
uma lágrima desce, o clamor passa.
ambíguo, indefinido e aberto
um vazio que sangra e evidência
Lúcido? Talvez estivesse certo
Viver nem sequer mais um dia
Não dou adeus pois nunca estive perto
mas, pelos deuses! como eu queria...
sexta-feira, 8 de junho de 2007
Em versos
quinta-feira, 7 de junho de 2007
Com afeto
Toda languida, o beija com ternura,
tanta que, apaixonada, sequer
percebe que a faca, em suas mãos,
roça suave a pele do amado...
segunda-feira, 4 de junho de 2007
Por um par de asas
Era uma manhã bem fria, saiu cedo para comprar o que necessitaria para realizar o seu plano. Demorou-se um tanto, ainda tinha dúvidas... Pois resolvido estava que não o faria caso ela acordada já estivesse quando voltasse.
Mas não, quando voltou para casa, lá estava ela ainda ressonando num sonho talvez mais que puro... E deitada de bruços, exatamente como ele há tanto imaginava. Sem sombra de dúvida era um sinal.
Sentou-se ao seu lado e gentilmente lhe amarrou as mãos à cabeceira da cama. Afinal, ele não iria querer que ela se debatesse e assim, por desventura, se ferisse. Ela nem se moveu, apenas suspirou bem baixinho, também esperava por aquele dia.
Primeiro como preparo derramou conhaque sobre seu dorso e com todo cuidado massageou. Quando secou, pegou enfim o guarda-chuva que comprara e dele retirara duas hastes. Com todo cuidado introduziu uma em cada omoplata e costurou pena a pena até que as novas asas ficassem firmes e alinhadas.
Terminado sentiu-se satisfeito podia, finalmente, com propriedade e certeza, chamá-la de "Meu Anjo"... E ela sorria complacente.
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Um jantar à luz de velas
Escarro, escarro viscoso
escorrendo pela taça
cheia de vinho saboroso...
Ela, amarrada, acha graça
Mas dos lábios dele o riso...
e ela sente sua desgraça
é um espécime impetuso,
escrava da melhor raça...
Ele, seguidor de Sade,
a marca com brasa rosa
por sua pele de brancura.
Ela o incitou à crueldade;
Pois serve a quem lhe usa e goza...
e em cada gesto o procura.
segunda-feira, 28 de maio de 2007
quinta-feira, 24 de maio de 2007
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Teogonia
Gente que de nada sabe
aos seus oráculos sobe
com o desejo perverso
das verdades do universo
segunda-feira, 21 de maio de 2007
ART
Certa vez conheci uma poetisa,
fascinou com encanto de Florbela:
Sensivel em flor, técnica imprecisa
e, por fim, também, muitissimo bela
Apaixonei-me pela poetisa
e comecei meu versejar por ela:
Musa, que todo poeta precisa,
concebi, a primeira pensando nela.
Por razões menos nobres não lhe tive...
Amargo, fiz dos versos ferramentas:
Eram tão precisas quanto insensíveis.
De posse delas fui então ourives;
A procurar por matérias quinhentas
para esculpir amores intangíveis!
domingo, 20 de maio de 2007
Bem amarrada
Minha linda bonequinha...
tão deliciosa putinha!
Q'eu uso, abuso e maltrato;
com todo prazer e trato.
quinta-feira, 17 de maio de 2007
segunda-feira, 14 de maio de 2007
dos sentidos baixos
desmerecendo até o tato
Desmandos d'audição:
matam paladar e olfato
Poética e Flagelo
D'uma pura displicência
falhas crassas n'estrutura
mal-acabada indolência
n'uma débil estrutrura
quarta-feira, 9 de maio de 2007
Literatura Crítica
Então Bilac é poeta
mas o Quintana também
Digo, pois nada contesta,
um sinceríssimo amem
quinta-feira, 26 de abril de 2007
do Perfume amado
Um sorriso desabrochou dos lábios de Flëur, não sorria mais assim, pelo menos não desde que voltara para casa. Sorrira pelo perfume do frasco que se espatifara ao chão.
O derrubara do alto da estante quando pegou, para lhe trazer o sono perdido em algum canto da noite naquele quarto, um livro de poesia. Nem se lembrava mais que ele o havia deixado ali, afinal, três longos anos já tinham se passado desde então.
Ajoelhou-se ao chão e, afectuosamente, recolheu todos os cacos, até os mais pequeninos, depositando-os em suas mãos. Recolhidos todos levou a mão ao rosto para tal fragrância melhor sentir.
Os pedaços de vidro beijou, lembrando-se dos dias que beijava o corpo exalando aquele tão caro e doloroso odor... Não sentiu novamente o calor de sua pele, mas, sim o sabor do sangue de seus lábios feridos.
quarta-feira, 25 de abril de 2007
Pois para ele o Sol sempre nascia
Fiel à sua palha, teceu fios d'ouro. Mas quando a agulha lhe espetou o dedo ele quebrou sua roca.
Notou, depois da fúria e da dor, que seu novelo jazia,já de bom tamanho e grossura, ao lado de sua fiadeira agora aos pedaços.
Pegou do chão o novelo e, com agulhas de tricô, fez para si um agasalho aureo. Vestido o sueter perecebeu que ele não o aqueceria... Mas, brilhava como o sol.
segunda-feira, 23 de abril de 2007
Noli me tangere
Descido ao reino dos mortos;
duplamente mortal eu sou:
a descobrir o que já sabia,
me negando o último abraço...
Ela irá não mais me tocar,
essa falta sinto tanto hoje...
quanto quando se deu fato:
três anos que não se apagam.
Atormenta o riso dessas moiras
que venceram o desafio
Ao redor, ninguém mais se lembra
não se vêem vitmas nem vilões
Pois me lembro todos os detalhes
Do que foi tragédia e comédia
quinta-feira, 19 de abril de 2007
domingo, 15 de abril de 2007
Enfim a sua carta
Alice, do corte o sangue pulsa e goteja
formando tantas manchas negras ao carpete
Sabe que sangra apenas porque o deseja
do mesmo modo são as lágrimas que verte
Olhar não desvie, ao menos hoje, me veja!
Sua boca, por obsérquio, não a deixe inerte.
Quando claramente meu semblante esbraveja
algumas mágoas que meus demônios diverte.
Neste momento do mais puro nervosismo
A caneta à mão, por pressionar, estoura
sujando meus dedos, escorrendo ao pulso
Por um sórdido gargalhar vindo do abismo
de sua palma o fino corte d'uma tesoura
que transgrediu à carne num pequeno impulso
Casulo em chamas
O beijo da crisálida infecunda
corrói e fere alguma boca imunda
por essa sua acidez tão febril
vai causar um morticínio senil
Mariposa de aspereza profunda
de cancros e chagas a tez inunda
quelíceras ávidas e olhar vil
provocam dor e pesadelos mil
Arsênico nas páginas da bula
d'um elixir de Ambrósia destilada
Bater de asas ao papel repousou
Esse veneno que aos olhos pula
Morte que faz-se calma e aguardada
Do gargalhar mudo que findou
Bom dia, tarde, noite
Como vai meu caro?
à pé, de trem ou dirigível:
tanto fez ou faz...
quarta-feira, 11 de abril de 2007
Antologia
meus Amores de museu
são Segredos pra Ninguém
são guardados dentro d'Eu
conservados muito bem
terça-feira, 10 de abril de 2007
Estesia
Sou poeta dos prazeres,
exulto mil dos quereres...
Servo fiel de todos ritos:
são minha fé, são meus mitos!
Por quaisquer que sejam eles;
delícias, fortes quereres...
malfadados ou bem quistos
Belos ou mesmo Malditos
Tato meu assaz refinado,
corpo qualquer me tocar.
Mesmo Olfato viciado,
ainda capaz de inebriar...
Paladar mais delicado,
por um sigelo versejar!
sábado, 7 de abril de 2007
Réquiem
Lucas C. Lisboa
O sol, talvez numa desesperada e última tentativa, sangra copiosa e rubramente rajando os céus e avançando sobre as brumas da cidade abaixo.
As brumas, reagindo co'a fria descrença da morte, se limita a deixá-lo passar por pequenos rasgos deixando que as cores dos casarões apareçam pelos instantes de calor.
Sorrindo alcança uma fina caixa metálica à jaqueta, os dedos percorrem a superfície e numa carícia, mais profunda e firme, lhe abre e a leva aos lábios.
Fechando-a busca n'outro bolso a embalagem de madeira, da haste retirada faz surgir o fogo, oferecendo uma singela contribuição ao labor do sol.
Ascende o cigarro de seus lábios e após uma tragada, longa e áspera, por suas narinas aspira em sua contribuição às nebulosas brumas.
terça-feira, 3 de abril de 2007
segunda-feira, 2 de abril de 2007
Enamorado
Fitei o céu d'uma lua quase inexistente
Cogitando estrelas que na mão caberiam
Para entregá-las como singelo presente
Agrado onde diversas cores se veriam
Contigo até comunguei por um deus ausente
Crendo de coração que seus anjos existiam
Por dias a fio teci alegrias habilmente
pensando que outros tão melhores viriam
Hoje encostado ao canto e talvez perdido
em meio à poeira antiga estão teus sentimentos
Eu já sei que tu não tens mais como mentir
Não duvido de teus olhos neste pedido
e na sinceridade de teus argumentos
Apenas já não mais posso teus nãos ouvir
sexta-feira, 30 de março de 2007
Subjugo
Ela, muitissimo bem amarrada, geme
rio quando num arranhão seu seio lhe firo
Do abuso ao corpo, desejo lhe consome
Co'a chama d'uma vela lhe bem eu miro
Ao jugo do meu prazer submissa prefiro
em cada tocar mais rijo seu corpo freme
A cera mui cálida e, sua pele admiro
por minhas levíssimas carícias se treme
O seu suor se mistura às pedras de gelo
Derretidas pelo seu dorso em marcas profundas
Degusto do mais gélido à sua espinha
Seu "não" tenta afastar as culpas mais imundas
Mas minhas mãos lhe apoderam tal erva daninha
Em brasa à pele cravando esse meu selo
sexta-feira, 23 de março de 2007
segunda-feira, 19 de março de 2007
Humanidades
Pois nada é tão errado
que não se possa acertar
Pois nada é tão sagrado
que não se possa gozar
Pois nada é tão acertado
que não se possa errar
Pois nada é tão gozado
que não se possa rezar
quarta-feira, 14 de março de 2007
Luzes da Modernidade
São belos os Anjos
a cavalgar Pedras lustrosas
ao redor da Lâmpada
sexta-feira, 9 de março de 2007
O Convento
Primeiro, a Irmã Cristina, numa madrugada de quinta feira, gritou ecoando por todo o convento de Nossa Senhora dos Peregrinos e desde então se calou de tudo, inclusive do porque fora encontrada desnuda em seu leito.
Na mesma semana, em seu sétimo dia, Irmã Amélia (que chegara ao convento a pouco mais de mês depois que seu marido morrera num trágico acidente de trem) teve febre e delirou por uma noite inteira antes de também se calar.
Irmã Josina, que estava prostrada ao leito desde o inverno passado quando caíra da escada, acordou, mas sequer um gemido ou lamento ressoou.
Pouco a Pouco cada um dos viventes daquele convento se calou e em duas semanas só restara a Madre Superiora e o Padre ainda fazendo uso de suas vozes.
Na sexta feira seguinte, a Madre Superiora, já desesperada com aquela enfermidade, aos berros inutilmente conclamou suas pupilas a falarem, mas foi tão inútil que ela mesma perdeu a sua.
E na manhã seguinte a missa fora rezada pelo Padre, mas seus lábios não se moveram, no entanto todas as freiras se prostraram rezaram e depois comungaram tudo sem que sequer o farfalhar de tantas narinas fosse escutado.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
Obsessão
Não me interesso por nada menos que tudo.
Pois é, mesmo que lhe pareça maior absurdo...
Saiba: de modo algum tal o seria pra mim;
mesmo quando pouco resta raspo até fim.
Quando qualquer grito é vazio ou mudo
e ao som mais refinado se faz tão surdo...
Serão nossos retratos rasgados assim
e a navalha equilibra-se entre não e sim!
Pois eu já mandei jogar minhas cartas fora...
(mas guardo muitas em um suspiro de dor)
Quase ri de mim quando você foi embora...
(e dizia eu:"Pois irei contigo onde for")
Estranho como lhe quero bem mais agora...
(se antes tinha sonhos, hoje tenho horror)
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
Flauta de Porcelana
Do rosto recoberto, saida d'uma tela
encanta, por ser sonho de qualquer quimera
pois mesmo quando só desnudada aos lábios
basta-os ao findar de pesadelos vários
Flauta de Porcelana, muito mais que mera
cantante de belíssimos versos pois ela
compete de igual co'a filosofia dos sábios
e saberes dos magos com seus alfarrábios
As suas palavras: Divina sabedoria
acalmando os exércitos e os Vis compadeçam
luz no peito mais escuro e d'alma perdida
Sua música é muito mais que chula magia
essa notas que entoa até as pedras tocam
vertem lágrimas d'ouro e ganham própria vida
sexta-feira, 12 de janeiro de 2007
quinta-feira, 11 de janeiro de 2007
Carteado
Naquela tênue luz, cartas à mesa posta:
os dedos sobre o Palco marcam o compasso,
por um olhar reluz os punhados da aposta,
de relance o decalco do Arlequim devasso...
Ao lado Imperatriz com seu Bastão em Cruz:
sorri a prima realeza, para de sobressalto
tal uma meretriz ele às cartas faz jus,
gota se esvai, frieza pela face em salto...
Dum trago, tece fio de bruma dançatriz
d'outro lado pigarro de rouca aspereza:
cerra os olhos no fetio da velha cicatriz
na cuspideira escarro dissolve a certeza.
Dedos um tanto tensos esquecem do frio,
finalmente, felinos partem ao bizarro:
são montantes imensos por desvario,
intrépidos ladinos sem temer esbarro...
Sorriso de resposta, olhares intensos:
o passo em falso é trocismo dos destinos!
Na Trapaça exposta: silêncio aos lenços
antes do encalço virão saques alcovinos.
sábado, 6 de janeiro de 2007
terça-feira, 2 de janeiro de 2007
segunda-feira, 1 de janeiro de 2007
Surreal Canibalismo
ao campo prostrados
deitados um aos pés d'outro
de acordo devoram-se
sábado, 23 de dezembro de 2006
terça-feira, 19 de dezembro de 2006
Como quem se dá ao Carrasco
mãos Acorrentadas sobre a cabeça
dorso desnudado Violentos Rasgos
roupas abertas, cuidadosa pressa
causo, por hora, mais medos que estragos
submissa um soluço surdo começa
por sussurros e gemidos mesclados
tudo bem guardado na sua Mordaça
enquanto tem os seios Lacerados
imobilizada com Horror se espanta
tentando inutilmente libertar-se
ao sibilado do Metal que se afia
tal Instrumento causa uma dor tanta
ao penetrar tenra carne desfalece
pois se pudesse agora gritaria
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
quarta-feira, 13 de dezembro de 2006
O Trio que chegou
Iago, Lú e Eu
Iago, Lú e Eu
Um trio da pesada
cabou de chegar
Iago, Lú e Eu
Iago, Lú e Eu
Um trio da pesada
só pra variar
Eu já entediado
Ela bem modesta
Ele bonachão
Eu meio quadrado
Ela já desperta
Ele pancadão
sexta-feira, 8 de dezembro de 2006
Questão de Fé
"e gosta de preces?"
Mais que depressa responde:
"Eu não! Deus me livre!"
sexta-feira, 1 de dezembro de 2006
terça-feira, 21 de novembro de 2006
......Incêndio na Floresta
Enquanto a floresta inteira buscava
co'as bocas, bicos, trombas e suas patas
qualquer tanto d'água para essas matas
que nas chamas do incêndio queimava
O lobo, sentado, o vento tragava
usando de suas habilidades natas
a procurar aquelas almas rotas
que a floresta novamente incendiava
As feras todas caladas o censuravam:
ele parado, sem nada ajudar!
"Que ser mais egoísta!" - murmuravam
não viram-no sorrateiro a circundar...
Pois foi quando as brasas mais crepitavam
que os incendiários se pôs a caçar.